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Pioneiros sem pontaria e concentração

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Qua, 29/11/2017 - 09:33


A derrota caseira com o Âncora Praia colocou os Pioneiros na penúltima posição concluída que está a primeira ronda do campeonato.
Os brigantinos continuam a falhar na finalização e a pecar em termos defensivos. Aos locais faltou ainda alguma concentração.

Brigantinos arrecadam 12 medalhas em Torres Vedras

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Qua, 29/11/2017 - 09:31


Doze pódios é o saldo da participação da Associação de Desportos de Combate de Macedo de Cavaleiros (ADCMC) e Clube de Combate do Nordeste (CCN), no passado fim-de-semana, na Taça de Portugal de Kickboxing, em, Torres Vedras.

Apoios Comunitários ao Património Cultural na Região Norte

A Assembleia Geral das Nações Unidas, quando da comemoração do septuagésimo aniversário, aprovou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Designou o ano de 2017 como Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, visando uma melhor compreensão de valores subjacentes às diferentes culturas, a salvaguarda do legado de civilizações, a sustentabilidade económica, social e ambiental e a paz entre os povos.
A Organização Mundial do Turismo reconhece a importância crescente do turismo na economia global, considerando-o uma oportunidade para a prosperidade dos povos e dos territórios. Os seus efeitos fazem-se sentir no alojamento, na restauração, nos serviços de transporte, na animação turística, e de forma indireta em diversas outras atividades económicas. Estima que um em cada dez empregos a nível mundial esteja diretamente ligado ao setor do turismo.
Hoje em dia, com a globalização, a redução de preços, a maior facilidade nas fronteiras, viajar passou a ser encarado como essencial à promoção dos negócios e da qualidade de vida. Em 1950 o número de turistas era de 50 milhões, no ano de 2016 foram contabilizados 1,24 mil milhões e prevê-se 1,8 mil milhões para o ano de 2030. 
O Fórum Económico Mundial, na análise de tendências para o turismo global, acentua que as preferências dos turistas se alteram, que novos produtos e destinos turísticos competem no mercado global, no qual emergem mercados fortes como a India, a China, a América Latina e a Rússia. A oferta turística e os turistas estão cada dia mais alinhados com questões essenciais como, a sustentabilidade ambiental e o respeito pelos hábitos das diversas culturas e religiões.
Portugal beneficia desde o ano de 2014 do crescimento da atividade turística, aumentam as taxas de ocupação dos quartos, o número de dormidas, o rendimento médio por quarto disponível, a redução da sazonalidade e o emprego. No ano de 2016 foi registado o valor de 55 milhões de dormidas e 19,1 milhões de hóspedes.
A atratividade e competitividade do País tem estimulado a procura turística, Portugal tem boas infraestruturas e acessibilidades, bons equipamentos e serviços, espaços urbanos e naturais atrativos, boas praias marítimas, percursos e praias fluviais atrativos, alojamento e serviços de apoio ao turismo com crescente qualidade. Por sua vez a procura turística está a dar impulso a novos desafios para o desenvolvimento, podendo todas as regiões do País beneficiar desta conjugação entre a melhoria da oferta e do aumento da procura, ainda que com impactos muito distintos.
Em Portugal, a Estratégia Turismo 2027, aposta num cenário médio de crescimento anual de 4,7%, o que se estima permita atingir 80 milhões de dormidas. É um objetivo de crescimento muito significativo, que aposta no alargamento da atividade turística a todo o ano, reduzindo a sazonalidade.
Do referencial estratégico para o turismo na próxima década, não consta nenhum indicador relativo à coesão territorial, no sentido de fixar metas que contribuam de forma objetiva para a redução das assimetrias regionais, nomeadamente o da concentração maciça do turismo no litoral, que atualmente recebe mais de 90% das dormidas. O pilar da coesão territorial volta a ser esquecido, o grave problema do despovoamento, o abandono e consequente desqualificação do território continuam a não ser assumidos como uma questão nacional prioritária.
Portugal tem como principais portas de entrada, Lisboa, Porto e Faro, no entanto outras soluções tem que ser desenvolvidas para assegurar que todo o território nacional beneficia das vantagens do forte crescimento turístico que se verifica no litoral.
É preciso criar condições institucionais ao nível politico, no plano interno e na cooperação transfronteiriça, para que a extensa faixa de fronteira entre Portugal e Espanha, que representa 20% da Península Ibérica, beneficie da grande capacidade de atração turística dos dois país, para trazer turistas para o Interior, onde também é necessário criar portas de entrada e de saída. O Aeroporto Regional de Bragança tem que assegurar essa função e servir de infraestrutura complementar ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e ao corredor de turismo fluvial no rio Douro, que este ano se prevê seja visitado por mais de 1 milhão de turistas. 
Portugal e Espanha são dois países com posição relevante no turismo a nível mundial. Portugal é, segundo a Organização Mundial de Turismo, o 26.º país em receitas turísticas, ocupa a 15.ª posição como destino competitivo, o país vizinho ocupa a 3.ª posição em termos de receitas e nos anos de 2015 e 2016 conseguiu atingir a 1.ª posição como destino turístico mais competitivo do mundo, sucesso atribuído à oferta cultural e natural em combinação com o serviço de apoio aos turistas. O turismo pode contribuir para a correção de assimetrias regionais, se existir vontade política e capacidade dos atores regionais para contrariar as políticas centralistas. 
O Turismo Religioso movimenta segundo a Associação Mundial do Turismo Religioso, cerca de 300 milhões de pessoas por ano. Tem como principal motivação a fé, a vontade de conhecer e de compreender. Os turistas percorrem continentes, peregrinando pelos principais santuários do mundo. Também em Portugal assim acontece, desde Fátima ao Bom Jesus do Monte e do Sameiro, ao santuário de São Bento da Porta Aberta que, apesar de isolado na serra do Gerês, atrai um milhão de turistas por ano. 
O turismo religioso deve contribui para o desenvolvimento sustentável das comunidades e territórios de peregrinação, para melhorar a economia e a coesão regional. Não podemos, no âmbito da estratégia turística da Região Norte, deixar de valorizar a oferta turística cultural e nesta valorizar os caminhos de peregrinação, nomeadamente os mais emblemáticos como Fátima, Santiago de Compostela, valorizar o patrimónios religiosos em geral, o roteiro das judiarias. Ou seja todo o conjunto de bens patrimoniais com dimensão histórica, identitária e de religiosidade.
A Região Norte é de entre as Regiões NUT II do País, a que dispõe de maior número de monumentos nacionais (272) e de imóveis de interesse público (961). Dispõe de um vasto património cultural e natural onde se incluem quatro bens inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO (Porto, Guimarães, Douro e Vale do Côa), o Gerês/Xurês e a Meseta Ibérica, espaços que integram a Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO, um Parque Nacional, quatro Parques Naturais e várias Paisagens Protegidas de interesse nacional e local, dezanove Sítios de Interesse Comunitário e seis zonas de proteção especial integradas na Rede Natura 2000. 
A estratégia da Região Norte no domínio das infraestruturas culturais, em termos de apoios comunitários, foi estabelecida em documento designado de “mapeamento de investimentos em infraestruturas culturais”, elaborado no segundo trimestre de 2015, como exercício de planeamento e de definição de prioridades de investimento, realizado entre a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte, a Direção Regional de Cultura do Norte, as Comunidades Intermunicipais e a Área Metropolitana do Porto, aprovado a 10 de dezembro de 2015.
Considera a salvaguarda do património cultural como um grande desafio, fator de desenvolvimento da economia, da qualidade de vida e de valorização ambiental e paisagística. Considera que a estruturação da oferta cultural e turística deve ser feita com escala organizativa, fomentando a sustentabilidade e potenciando a procura turística. O financiamento infraestrutural considerou prioritária, a intervenção em imóveis classificados ou equipamentos culturais relevantes, a criação ou consolidação de redes e itinerários culturais e territoriais, tendo por objetivo imediato fortalecer a dimensão do produto “turismo cultural”.
Define como princípios orientadores: a requalificação, valorização e promoção do património material classificado; a requalificação, valorização, e promoção de museus e outros equipamentos culturais, a promoção da criação e da criatividade; a valorização do património cultural imaterial; a dinamização cultural, através da programação em rede, de itinerâncias e da criação cultural e criativa.

Como orientação prioritária, foram definidas sete redes patrimoniais, citando como exemplos: a Rota das Catedrais, criada por acordo de cooperação assinado em 2009 entre a Conferência Episcopal Portuguesa e o Ministério da Cultura e que se propõe partilhar o património como oferta cultural de excelência envolvendo, espaços musealizados, arquivos e bibliotecas, programação cultural capaz de descentralizar e dar a conhecer de forma mais ampla o vasto património religioso existente em todo o território da Região, contribuindo para a valorização da oferta turística e consequentemente para o desenvolvimento regional.
A Rota do Românico, como projeto estruturante do território de maior expressão, as regiões NUT III do Tâmega e Sousa, Cávado, Ave e Alto Minho, criada no ano de 1998 pela Associação de Municípios do Vale do Sousa, como projeto supramunicipal, integra 58 monumentos de grande valor, legado histórico, cultural e religioso que atualmente integrada por 12 municípios do Vale do Sousa, Douro e Tâmega, em fase de expansão e aglutinação de novos municípios.
Divulga e promove a história e a arte românica, através de centros de interpretação e de espaços museológicos, promove a conservação, valorização e promoção do património edificado de estilo românico, igrejas, mosteiros, apoia-se em termos territoriais em percursos devidamente organizados, assumindo-se como fator de desenvolvimento e notoriedade do território, designadamente no turismo cultural, paisagístico e religioso.
A Região conta igualmente com um importante património imaterial distintivo em termos de tradições, de identidade. Itinerários culturais, como os Caminhos de Santiago, consagrados como Primeiro Itinerário Cultural do Conselho da Europa (ano de 1987), que em França e Espanha foram classificados como Património Mundial da UNESCO, são caminhos a preservar e valorizar, seja pela função histórica, de religiosidade, pela autenticidade do património associado, mosteiros, igrejas, paisagem natural, festividades religiosas, lendas e tradições.
O Caminho Português da Costa, caminho que se faz junto à costa atlântica, envolve 10 municípios costeiros, do Norte de Portugal, é já o segundo mais percorrido dos sete principais Caminhos de Santiago, com mais de 50 000 peregrinos entre janeiro e final de setembro de 2017 (20% do total), surgindo a seguir ao Caminho Francês que representa cerca de 60% dos peregrinos que percorrem os Caminhos de Santiago.  
Foi aprovado um projeto para a estruturação do Caminho de Fátima, o Caminho do Norte, de Santiago a Fátima, com 468 Km de extensão, caminho que desde o Porto a Santiago se sobrepõe ao Caminho de Santiago. O Norte e o Centro decidiram assumir um projeto conjunto, através da ACF- Associação dos Caminhos de Fátima, que inclui a beneficiação, segurança e promoção do itinerário desde Vila Nova de Gaia a Ourém, numa extensão de 225,6 Km. Na Região Norte estão envolvidos 4 municípios, responsáveis pelas intervenções a realizar em 51,63 Km de extensão do itinerário. 
Os Castelos e Fortalezas são estruturas amuralhadas, características dos tempos medievais, particularmente da reconquista, serviram como guarnições militares de segurança e de proteção do território. O valor patrimonial, histórico e cultural, é um ativo importante para a promoção turística integrada do território, que pode ser valorizado através da estruturação e promoção da Rota dos Castelos.
Nos avisos abertos no âmbito do Programa Operacional da Região Norte para a área do património cultural, foram consideradas três prioridades: a promoção dos bens inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO; a consolidação territorial e temática das redes do património material; a qualificação e densificação da rede de equipamentos e infraestruturas culturais.
A estas prioridades associaram-se outras de caracter transversal: estimular as intervenções conjuntas; dinamizar as itinerâncias e a programação cultural em rede; assegurar o alinhamento dos projetos com a estratégia de promoção turística da Região, nomeadamente o turismo cultural; articular investimentos imateriais com ações de natureza infraestrutural tendo em vista o aumento da visitação e o acréscimo da atividade turística em número de hóspedes, de taxas de ocupação das unidades hoteleiras e do aumento dos proveitos.
No âmbito do Programa Operacional da Região Norte 2014-2020, aos avisos abertos no âmbito do património cultural foram apresentadas dezenas de candidaturas com mérito, foram aprovadas 53 candidaturas com investimento total de 62 milhões de euros e apoio comunitário de 46,5 milhões, sendo o investimento total nas tipologias de património religioso de 23,8 milhões de euros. A qualidade dos projetos é elevada, muitos dos projetos foram apresentados envolvendo diversas intervenções e entidades do território fortalecendo a cooperação, a escala territorial e a distribuição regional, bem patente em muitos dos mais significativos projetos.
As operações aprovadas irão contribuir para a valorização e salvaguarda de elementos patrimoniais de elevado valor, contribuir para o desenvolvimento económico da Região, fortalecendo a dimensão turística cultural.
De seguida identificam-se algumas intervenções, sendo que todas poderiam ser citadas por se tratar de operações com elevado mérito. No âmbito dos museus: a musealização das ruinas do castelo de Torre de Moncorvo; o museu de História e da Ciência da Universidade do Porto; a Casa de cinema Manuel Oliveira; o Núcleo Museológico Ferroviário de Bragança; a valorização e modernização dos museus municipais do Porto (museu romântico, casa museu Guerra Junqueiro, casa museu Marta Ortigão Sampaio, centro de interpretação Caminhos do Romântico), Museu Nacional Soares dos Reis; musealização das Termas Romanas de Chaves.
Na rede de Castelos, a intervenção integrada nos castelos de Montalegre; Monforte em Chaves; de Outeiro em Bragança; em Mogadouro e em Miranda do Douro. Em operação isolada, a musealização e valorização do castelo de Freixo de Espada à Cinta.
Ao nível da Rede de Mosteiros, incluindo os previstos nas candidaturas da Rota do Românico, está previsto o apoio a 14 mosteiros, citando a título de exemplo: Mosteiro de S. Salvador de Paço de Sousa em Penafiel; Mosteiro de Vilar de Frades em Barcelos; Mosteiro de Refojos em Cabeceiras de Basto; Mosteiro Salvador de Freixo de Baixo, em Amarante; Mosteiro de S. João de Tarouca, todos classificados como monumentos nacionais.
No âmbito do património religioso, igrejas, está aprovado o apoia à intervenção em 18 igrejas, património relevante de que se referem: Igreja de Santa Clara no Porto; Igreja da Misericórdia de Penafiel; Valorização do património religioso do Centro Histórico do Porto, (inclui 7 igrejas e 1 capela); Igreja dos Terceiros em Braga; Igreja do Espirito Santo em Arcos de Valdevez; Templo-Monumento de Santa Luzia em Viana do Castelo; Igreja Matriz de Vimioso.
Ao nível dos eventos e da programação cultural podem destacar-se ações como: Festival internacional de artes performativas, em Vila Nova de Famalicão, Braga e Guimarães; Dias do Património a Norte, projeto que se desenvolve em catedrais e mosteiros (Braga, Bragança, Miranda do Douro, Lamego, Arouca, Grijó, Tibães e Vila de Frades); algures a Nordeste, programação conjunta dos teatros de Vila Real e Bragança; Alto Minho 4D, Viagem no tempo; Quintas do Barroco, no Tâmega e Sousa; Festival Internacional de Circo, Coliseu do Porto, na comemoração dos 75 anos; o mundo em Serralves:
Analisada a distribuição territorial das dotações de operações aprovadas, constata-se existir equilíbrio, no sentido que nas NUT III foram aprovados projetos em valor que reflete preocupação com a equidade e coesão territorial, ponderados quer a representatividade no contexto regional, quer em termos patrimoniais, de economia e de população. 
Os apoios aprovados no atual Quadro Comunitário de Apoio incidem sobre imóveis classificados ou equipamentos culturais relevantes e a consolidação ou lançamento de redes e itinerários culturais no território, contribuem para a preservação e valorização patrimonial e para o enriquecimento da oferta turística da Região Norte.  
Colaboração: Secretariado Técnico da Sustentabilidade dos Territórios do PO Norte 2020.
Antonio Jorge Nunes

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - João Rodrigues Espinosa (n. V. Real, 1553)

Nasceu em Vila Real por 1553, sendo filho de Manuel Dias Catela, (1) advogado e de Esmeralda Rodrigues, de S. João da Pesqueira. Em Vila Real terá feito os primeiros estudos, de modo que, aos 12 anos foi enviado para a cidade de Braga a aprender Latim. Seguiu depois para Salamanca a estudar artes e medicina. (2)
Concluída a formatura, residiu 3 ou 4 anos no reino de Leão, na localidade de Vila Franca. E terá exercido o cargo de “médico do partido” em uma vila da Galiza, onde terá sido contactado para casar com uma filha de Lopo Dias, de uma poderosa família cristã-nova do Porto, o que ele recusaria.
Viria casar no Porto, sim, com Branca Cardoso, filha de Manuel Fernandes Videira e Beatriz Cardosa (Baeça), sendo portanto, cunhado de António Videira e Afonso Cardoso. O casal começou por dividir a morada entre Vila Real e Fontelonga, terra de Ansiães, assentando finalmente no Porto. Aí o vamos encontrar, em agosto de 1614, assinando um contrato com 16 chefes de família que se comprometem a pagar mil réis cada ano e “ele se obriga a curar nossas casas, filhos e famílias e criados, de todas as enfermidades tocantes à medicina que sucederem em nossas casas…”
A medicina, porém, não era a sua exclusiva e principal atividade. Antes seria o comércio e a cobrança de impostos. Assim o vemos a arrematar a cobrança de rendas em terras de Ansiães e na aldeia de Fontelonga estaria pelo ano de 1592, data em que nasceu o filho mais velho, ali batizado com o nome de Manuel Dias. O crisma recebeu-o em Vila Real e, por 1612, já a família viveria no Porto.
Para além de rendeiro, o nosso médico era mercador, um mercador de grosso, que recebia fazendas do estrangeiro e para ali remetia açúcares que mandava comprar no Brasil. E assim, em fevereiro de 1613, mandou o seu filho mais velho, então de 21 anos, com um carregamento de fazendas e ordem para empregar o produto da venda na compra de caixas de açúcar.
Corria o ano de 1614 e andava o Manuel pela cidade de S. Salvador da Baía, com “o trato e maneio e negociação, assim de seu pai como de outras pessoas”, quando ali chegou o seu irmão Gonçalo, de uns 13 anos, para o ajudar no negócio e fazer o seu “estágio profissional”.
Em 1615, tendo os negócios arrumados, Manuel regressou ao Porto, deixando na Baía o irmão Gonçalo, em casa do seu amigo Simão Mendes, que tinha um armazém junto à praia, armazém que alugava aos mercadores para depósito e local de venda de caixas de açúcar, junto ao cais de embarque. Nesse armazém ficava muitas vezes o jovem Gonçalo. E desaparecendo duas caixas de açúcar, Simão culpou-o de ser conivente no roubo, não revelando o autor do furto. Ou seria o Simão que as fez desaparecer, culpando o miúdo e outros, para se desculpar perante os donos? A insinuação foi feita anos depois por Manuel Dias, acrescentando que Simão Mendes “era um velhaco que furtara dinheiro das caixas aos donos delas (…) costumado a vender as caixas que tem em seu poder por uns preços e dar a seus donos outros menos, dizendo que não vendera por mais”.
Facto é que o miúdo regressou ao Porto e à casa paterna logo no ano seguinte. E agora aproveitamos para dizer que o Dr. João Espinosa tinha mais 4 filhos e 2 filhas, todos solteiros. Um dos filhos, o António, era advogado e outro, o Diogo, andava a estudar medicina na universidade de Coimbra.
No mês de julho de 1617, Manuel e Gonçalo voltaram a embarcar para a Baía com nova remessa de fazendas e encomendas de açúcar. Meses depois, a cidade do Porto foi varrida por um vendaval de prisões lançado pela inquisição. E foram dezenas e dezenas de grandes mercadores, num verdadeiro arraso da burguesia Portuense.
E depois de ver prender umas 40 pessoas, muitas delas das suas relações sociais e comerciais, o Dr. João Rodrigues Espinosa meteu-se a caminho da Galiza, acompanhado do seu filho António, de “um seu negrinho e um almocreve castelhano”. No seu encalço seguiu um familiar do santo ofício, chamado Sebastião Pacheco, que acabou por alcançá-lo e prendê-lo à entrada de Baiona, uma localidade da Galiza. Levado para a cadeia da inquisição de Coimbra, (3) o médico diria que viajava para Santiago de Compostela. Certamente que os inquisidores não aceitavam a explicação, antes se convenciam de que ele ia fugido para não ser preso.
Mas isso pouco importava. Mais cedo ou mais tarde, ele acabaria por confessar. Importante era o sequestro dos bens, neles incluindo “mercadorias e encomendas para o Brasil e outras partes e eram de grandes quantias”.
E então foi dada ordem para o Fisco da cidade da Baía, sequestrar o dinheiro e mercadorias que estavam com seu filho Manuel, pois ele era filho-família e tudo pertencia a seu pai. Possivelmente haveria mercadorias contratadas e outras vendidas e por pagar e o processo de confisco não seria fácil…
Obviamente que Manuel andava revoltado e soltava alguns desabafos com pessoas amigas, e de confiança. Pensaria ele que o eram. Como um tal Domingos Fernandes, mestre do navio Nª Sª do Rosário, que antes o transportara e então acostou à Baía e lhe foi “dar os pêsames” pela prisão do pai. Manuel deixou então cair o seguinte comentário:
- Disse que muitos homens que saíam a queimar que morriam mártires, por quererem sustentar a sua honra e serem homens honrados e não quererem confessar e os que confessavam eram baixos e gente sem honra, e que por confessarem lhe perdoavam. (4)
Aconteceu então chegar à Baía o inquisidor Marcos Teixeira, em visitação. E perante ele logo apareceu o dito Domingos Fernandes a denunciar. E apareceram outros, nomeadamente um António Carvalho, natural de Vila Franca, junto a Bragança, feitor da alfândega de S. Salvador da Baía e um Manuel Fernandes que há 8 meses servia como criado a Manuel e Gonçalo Espinosa. E além daquele desabafo, outras afirmações lhe imputaram. Como esta:
- Disse que Sua Majestade devia ter alguma grande necessidade de dinheiro pois prendia todos os homens da nação.
E foi quanto bastou para o inquisidor Marcos Teixeira mandar prender Manuel Espinosa, em fevereiro de 1619. E o pior é que parece ter-se esquecido do prisioneiro, regressando ele ao Reino. E ao cabo de 2 anos, estando já em liberdade o seu pai e outros mercadores do Porto, o prisioneiro fez uma exposição para o conselho geral da inquisição, expondo o seu caso. E faltando a resposta, um ano depois, fez nova exposição. O conselho geral pediu explicações a Marcos Teixeira que disse lembrar-se de que, por culpas da visitação, por ser filho de outro prisioneiro e por “passar às partes do Brasil sem licença, o mandei pôr em custódia, por ele jurar não ter quem o fiasse, e como a custódia era larga, me pareceu que era de pouco prejuízo para o suplicante ficar nela…”
A cínica declaração de Marcos Teixeira tem data de 31.1.1622. E então, sim, começou a ser organizado o processo contra Manuel Dias Espinosa, que, em 30 abril seguinte, foi embarcado na Baía e em julho entregue na inquisição de Lisboa. Para além das culpas pessoais, os inquisidores acrescentaram uma outra:
- Além de que o réu é da cidade do Porto, terra tão infecionada e filho de João Rodrigues, que foi preso em Coimbra.
Foram mais 2 anos de calvário para Manuel Dias. Posto a tormento, ficou tão maltratado que tiveram de o curar. Saiu do auto da fé (de 5.5.1624) estropiado a ponto de nas escolas gerais ficar “enfermo de cama (…) e haver mister com brevidade de xaropes, purgas e suadouros que não pode tomar nestas escolas” – conforme relataram os médicos. Foi autorizado, por 2 meses, a ir para casa de uma pessoa amiga a curar-se. Ao fim daquele tempo e continuando enfermo, “os médicos lhe dizem que será bom ir convalescer a natureza”. Autorizaram-no a ir 4 meses para o Porto. Mas “trará sempre seu hábito penitencial”. E assim termina o seu processo, sem qualquer outro despacho.

Notas e Bibliografia:
1-Os outros filhos de Manuel e Esmeralda foram: Henrique Rodrigues Catela, casado e morador em Vila Real; Gonçalo da Mesquita, que foi casar e morar em Murça e Beatriz da Mesquita, casada em Vila Real com Gonçalo Lobo.
2-Nos livros de matrícula da universidade de Salamanca aparece um João Rodrigues de Vila Real, matriculado entre 1563 e 1569. Será o nosso biografado? Nesse caso terá nascido alguns anos antes da data referida, o que não será muito anormal.
3-ANTT, inq. Coimbra, pº 1328, de João Rodrigues Espinosa.
4-IDEM,inq. Lisboa, pº 3508, de Manuel Dias Espinosa.

SOLIDARIEDADE SEM PRESSUPOSTOS

Na sequência da minha crónica anterior “Pequeno demais para crescer, pobre demais para enriquecer” acabei por abordar este tema com pessoas amigas e conhecedoras do tema e que partilham total ou criticamente a minha tese. Curiosamente, o jornal Expresso de 11 de novembro deste ano dedicava um generoso espaço à batalha contra o cancro, dando especial destaque às contribuições lusitanas nesta áreao. Afirmava o articulista, a este respeito, que quem conseguir parar o cancro irá diretamente à Suécia buscar o Nobel. Sendo um sonho, se fosse um português a consegui-lo, nem seria inédito. Mas esse não é o meu ponto de partida. Aos que afirmam convictamente que Portugal é pequeno e pobre demais para se dedicar à investigação fundamental e que tentei refutar no meu último texto, nste jornal, não posso deixar de lhes colocar algumas questões. Admitamos o evidente: há países muito maiores, muito mais ricos, com muito mais recursos humanos e técnicos que nós para poderem desenvolver todas as investigações que antecedem as possíveis soluções para combater adequadamente as várias doenças e males dos tempos atuais. Nem vou realçar o facto de que se houver esse conhecimento, obviamente que será usado, se não exclusivamente, pelo menos preferencialmente e em primeira mão, por quem o detiver (e se não fazemos investigação fundamental e não tivermos acesso, por isso, à investigação aplicada, ficamos arredados de qualquer tipo de conhecimento efetivo e contemporâneo e, logo, excluídos do mundo desenvolvido). Vou limitar-me a colocar algumas questões simples para provar que o que não faz qualquer sentido é deixar de apostar na investigação fundamental.
Nada nos garante que não seja um investigador português a descobrir a cura para o cancro. Muitos dos que já se dedicam a esta atividade contam-se entre os melhores do mundo. Por que razão haveriam de parar os seus estudos e trabalhos? Só porque, se existir uma cura e estiver acessível, ela poderá ser encontrada por investigadores, nos próximos tempos? Mesmo que fosse no próximo ano? Ou mesmo no mês que vem? Ou sequer com um único dia de atraso? Porquê dispensar o talento do Miguel Godinho Ferreira ou da Raquel Oliveira, para citar apenas dois dos referenciados pelo jornal Expresso? Mesmo que o troféu vá na quase totalidade para uma qualquer equipa estrangeira com quem colaboram e partilham experiências e conhecimentos, a simples inclusão de um nome português na placa que celebrará esse feito, é de uma relevância enormíssima. Muito superior a qualquer festa de verão, ou de inverno, ou medieval, ou futurista, ou de todas elas juntas!
E porque não se há-de fazer uso do talento da Isabel Gordo, várias vezes reconhecido e premiado em instâncias europeias, para apressar a urgente e necessária resposta às bactérias multi-resistentes? Ninguém entenderia que o financiamento da sua atividade fosse diminuído para construir e inaugurar uma qualquer rotunda ou centro interpretativo. Até porque, no que diz respeito ao dinheiro europeu que é o que quase exclusivamente suporta os trabalhos do seu grupo, a sua consignação à ciência impede que seja aplicado em qualquer outra atividade.
Que moral temos nós, que reclamamos dos nossos parceiros europeus a natural solidariedade, para negarmos aos países africanos, muito mais pobres que nós, a contribuição genial da Maria Mota e do Miguel Soares para a possível erradicação da malária? É bom lembrar que estes investigadores estão devidamente “credenciados” e suportados não só por fundos públicos do Conselho Europeu, como igualmente de vários recursos privados destacando a conhecida Fundação Bill & Melinda Gates.
Para terminar e do conhecimento pessoal e direto que tenho, posso testemunhar que os cientistas referidos trouxeram diretamente para o nosso país, “apenas” para se dedicarem á investigação fundamental das áreas a que se dedicam, financiamentos estrangeiros de vários milhões de euros. Duvido que os que criticam, com tanta ligeireza, a opção por determinada linha científica de investigação, tenham currículo semelhante para ostentar.

 

E porque não mudar o Infarmed para Boticas?

Qualquer observador minimamente atento, ainda que se limitasse ao acompanhamento do processo através dos órgãos da comunicação social, desde logo ficava com a sensação de que ninguém acreditava, talvez nem mesmo os seus proponentes, no sucesso da candidatura da cidade do Porto à importante Agência Europeia do Medicamento que, já se sabe, deixará Londres em consequência do Brexit e será reinstalada em Amesterdão, na Holanda.
Ainda assim, este insucesso da "antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade” não é dramático nem desonroso e muito menos deslustra o esforço empenhado do autarca Rui Moreira que ousou arrebatar a candidatura portuguesa à “mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa" que já foi cabeça de um secular império colonial mas que agora pouco mais é que a capital do fado e, que tem em António Costa, seu filho extremoso, um hábil executante de um penoso fadário.
Como é óbvio, o processo rendeu pingues proventos eleitorais a Rui Moreia e não tantos a António Costa, pese embora o enorme sucesso deste nas últimas eleições autárquicas. Quanto ao futuro logo se verá quem mais fica a lucrar.
Surpresa grande, isso sim, que deixou muito boa gente boquiaberta porque ninguém estava a contar com tão estapafúrdia notícia, foi o anúncio da transferência do Infarmed, entidade que em Portugal representa a Agência Europeia do Medicamento, de Lisboa para o Porto, que assim ganha importante prémio de consolação.
A seguir a um doloroso período de tragédias e comédias o Governo parece agora apostado em divertir os portugueses com um novo ciclo de embaraçantes anedotas e chistes, tal a leveza, populismo e amadorismo com que a “geringonça” governa o país, trate-se do Orçamento de Estado ou, como é o caso, de transferir um organismo público complexo e volumoso como o Infarmed, da sua localização actual para outra a mais de 300Km e sem que se vislumbre o menor interesse nacional na operação.
Que ninguém se afoite, porém, porque, no dizer do primeiro-ministro tudo se resume a uma questão de descentralização, sendo que descentralizar, para o insigne governante, significa apenas desconcentrar, isto é, reduzir o país a Lisboa e ao Porto, tornando Portugal bipolar, portanto.
Só que bipolar já Portugal o é há muito tempo dado que alterna entre estados depressivos e estados de excitação eufórica por obra dos seus inefáveis governantes.
Mas se a ideia for mesmo de descentralização então porque não mudar o Infarmed para Boticas que, além do mais, tem nome afim com o negócio dos remédios? E a sede do governo para Mirandela, por exemplo, cidade em que o PS acaba de alcançar uma vitória estrondosa, não menos sonante que a alcançada no Porto pelo independente Rui Moreira?
E, já agora, porque não há-de a presidência da República instalar-se no Castelo de Monforte que está devoluto, e já foi sede do heroico concelho de Monforte de Rio Livre, para lá de que possui melhores ares e águas que a capital do reino republicano que mantém a corte em Lisboa?
Ora, aqui está uma causa bem interessante e digna para os políticos transmontanos embandeirarem. Sobretudo os nossos mal-amados deputados que, quando no poder, se limitam a tecer loas ao governo e, se na oposição, só de vez em quando fazem umas perguntas de chacha aos ministros que, porque são pessoas educadas e politicamente correctas, sempre respondem, mal seria que o não fizessem, com palavras de circunstância que, para bom entendedor, equivalem a mandar os perguntadores abaixo de Braga.
Falando mais claro: à badamerda, com vossa licença, que é o que todos os governantes por norma fazem aos transmontanos e seus afins. Melhor seria que pura e simplesmente os ignorassem.