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Tempo de Rojões

Aqui, no Ribatejo, também a matança do porco desprovida dos normativos de Bruxelas é revestida da carga simbólica da convivialidade familiar e dos amigos, no entanto, o semblante da festa é outro, embora a garridice das falas jocosas e vernáculas seja forte nas intonações e entoações.
Só que estou agarrado às variações imanentes dos prelúdios e da festa que eram as matanças nas aldeias da Terra Fria deleito-me a evoca-las num consolo de doçura a apaziguar a ausência da fruição directa e empenhada. As matanças são uma bela parte da construção dos ritos e rituais onde o porco assumia a tripla condição de agregador dos parentes e vizinhos chegados, a de se constituir reserva alimentar de sedosas gorduras na maior parte do ano e a no dia do seu finamento proporcionar pitanças preciosas pela natureza sápida, logo prenhas de sapidez. Encontram-se nessa categoria os rojões.
Estamos em tempo de rojões. Estamos em tempo de ver os porcos atados por correias a traves que suportam telhados, os recos esventrados a pingarem gotas de sangue para um barrenhão. Estamos, devia escrever estávamos, a usura do tempo e as consequentes transformações nas usanças assim o determinam.
No pote de cântaro os bocados de carne coziam lentamente na sua própria gordura, uma colher comprida de pau, um colheroto, não os deixava descansar evitando o agarrarem-se, lentamente, ganhavam a cor dourada/acastanhada até estarem prontos a saírem do assanhado calor que não os devia esturricar. Noutro pote, um potinho ladino dos ladinos, afeito a dar consistência a canjas, caldos de unto, côdeas guisadas com cebola, papas e arrozes, rechinavam os rojões do balho, outros nomes têm como torresmos do entretinho, do rissol, e por aí adiante que Portugal não é tão pequeno assim.
Numa travessa grande repousavam os rojões maiores, alguns dos intervenientes na matança, normalmente o sangrador atrevia-se a pedir um já a noite crescia. Dava salivada inveja e refinado gozo ver o homem da faca pontiaguda, após ter colocado o rojão (rijão) sob uma fatia de pão trigo (naquele dia comia-se níveo pão desse cereal), auxiliado por uma navalha de meia-lua o feliz contemplado fatiar em finas fatias aquele carne magra entremeada com gordura leitosa que se derretia na boca retirada do animal mais amigo do homem porque se come da ponta da cabeça ao fim do rabo.
Os rojões do balho no dia imediato, exibindo impecável fritura – dourada, estaladiça e seca –, comiam-se frios, trazendo agarradas partículas de gordura branca só por si a proporcionar sensações de excelsa agradabilidade palatal tão difícil de explicar quão intensa foi no momento da degustação.
Sim, estas notas de felicidade colhi-as em casa da minha avó materna, sim estou a cometer o mesmo erro de todos quantos a propósito de tudo, a propósito de nada, só sabem elogiar os comeres da lavra das suas avós e mães, na ausência da minha mãe prematuramente falecida trago a terreiro a Avó figura tutelar, mas podem acreditar sem farroncas disparatadas, ela cozinhava primorosamente no quadro da cozinha oral e rural. E, eu conheço bem do que opino neste campo.
Os rojões constituíam uma reserva alimentar de enorme importância, conservavam-se durante bastante tempo imersos na sua própria gordura, os do balho amenizavam a primeira refeição do dia e do espaço intervalar chamado o taco, os d maior dimensão, da cobiçada febra, emprestavam consistência a uma dieta alimentar monótona devida à falta de outras matérias-primas num quadro de forçada parcimónia rodeada de penúria e fome a atingirem larga fatia das comunidades.
Aquando da Norcaça edição deste ano passei fugazmente pelo certame devido à apresentação de um livro da minha autoria, dada a hora do acontecimento jantei na nave do Nerba, no restaurante Javali, o jovem Fábio Gonçalves ao modo de entretém de boca enquanto não surgiu sobre a mesa uma excelente lebre já não saltarilha, serviu-me rojões de graciosa catadura. Amenizou a saudade dos rojões, todavia a hora não era a mais propícia para os honrar como mereciam.
Ser possível é, se é negócio rentável não sei, no entanto, seria cliente fiel se encontrasse à venda rojões de porco bísaro enlatados ou enfrascados da mesma forma que encontro perdizes e outros mimos nas casas de venda de delicadezas gastronómicas. Os galegos exportam grelos medidos nos frascos, os da Cantábria ovas, filetes de anchova, manteiga e queijos, os de Múrcia as aludidas perdizes, não vale a pena continuar senão obrigava-me a deter-me nos patés, nos peixes fumado e tutti-quanti das especialidades de toda a Europa. E os rojões?
Não sei responder à interrogação, sei, isso sim, clamar no deserto a recordar os rojões louros, de febra magra, prenhos de filamentos destinados a nos concederem momentos de felicidade neste vale de lágrimas caídas em terras sedentas que as chuvas recentes não apaziguaram a sede.
Escrevo interesseiramente, na esperança do meu amigo Alberto Fernandes estudar a possibilidade de apresentar rojões fora do seu restaurante, certamente, outras pessoas pesarosas pela ausência de rojões originários do terrunho transmontano também os incluiriam no seu cesto de compras satisfazendo desejos não provindos de gravidez uterina, sim plasmados no hipotálamo recebedor dos estímulos cerebrais. O casal Damásio explica agudamente tal tipo de sentimentos, suas raízes e ramos.

Vendavais - Os Homens do leme

Nas voltas que o mundo dá e no dia-a-dia de cada um de nós, sucede de tudo um pouco. Sucessos e desastres, vitórias e derrotas.
As derrotas não são muito lembradas embora algumas sirvam de exemplos para que outros as não imitem pelo menos no que elas têm de menos bom. As vitórias, essas são mais saborosas, mas nem todos as consideram assim tão dignas de serem referenciadas.
Na verdade, as vitórias apesar de serem sempre vitórias, são vistas quase sempre com olhos críticos e mesmo até acusadores. Tudo depende de quem vê e o que pretende ver. Os olhos de um político não vêm o mesmo que os olhos do vencedor, especialmente se ao político não interessar esse tipo de vitória ou se esta for contrária ao seu objetivo político. Do mesmo modo, se a vitória ou o sucesso for de índole diferente da económica, os olhos que a vêm podem não gostar da vertente em análise e que é considerada um sucesso.
Há pois, deste modo, quem analise tanto os sucessos como as derrotas de um modo diferente. Mas tudo isto tem uma outra análise bem mais profunda quando o derrotado ou o vitorioso deixa o mundo dos críticos e se vai juntar aos que nada têm a dizer. Nessa altura são referenciados pelo que fizeram, pelo que deixaram, pelo que viveram, enfim, pela sua obra. E é esta obra que passa a ser analisada e discutida. Diz o povo que todos depois de morrer se tornam boas pessoas. Pois é. Infelizmente é assim mesmo, com algumas exceções como é óbvio.
Durante muitos anos ouvimos falar, com mais ou menos críticas, de Belmiro de Azevedo. Muitos o elogiaram pelo que fez e pelo modo como o fez. Homem simples, que subiu a pulso toda a sua vida e que conseguiu ajudar milhares de pessoas e foi um dos maiores empregadores deste país nos últimos trinta anos. É verdade que era um homem muito rico, mas soube sê-lo e soube usar essa sua capacidade com toda a imparcialidade política que todos lhe reconheceram. Aqui residia a sua maior riqueza. Não estava nem nunca esteve refém de nenhuma política nem de nenhum governo. Soube ser isento e deu disso exemplo. Era um homem de negócios e ao longo da sua vida também teve algumas derrotas, mas foi afinal um vencedor nato. Morreu novo, mas deixou uma obra extraordinária em termos económicos por todo o país, obra essa que emprega milhares de pessoas. Exigente, mas reconhecedor do esforço e do trabalho dos seus empregados. Afinal quem critica este homem? Quem critica a sua obra? Evidentemente só o poderiam fazer os políticos de esquerda ou extrema-esquerda que vêm a riqueza como o submundo das vivências humanas, como o lamaçal da vida que proporcionam a quem se cruza por essas bandas. Mas não tem de ser assim e não foi assim. Depois da sua morte, quase todos reconhecem o homem íntegro, trabalhador, direto e imparcial que foi. Resta agora à família, continuar a sua obra com a dignidade e o reconhecimento que ele merece. Afinal de contas ele foi um dos homens do leme da economia deste país!
Mas não foi o único. Deixou-nos e partiu para sempre outro homem do leme. Zé Pedro deu um Xuto na vida e neste mundo e, com a imensa mágoa que recordamos esse momento, ele morreu. Não era homem de negócios. Não era homem de arrebanhar derrotas. Não era criticado pelo que fazia ou deixava de fazer. Era um homem de consensos. Era um homem que navegava no meio de colcheias e semifusas. Foi o fundador, ou um dos fundadores do grupo que ao fim de tantos anos no meio musical português ainda se mantém ativo. Agora com menos um elemento. O rock português perdeu um músico fantástico. A sua viola calou-se. As notas com que marcou canções como o Homem do Leme, acompanharam-no na despedida. Ele foi de facto, o homem do leme dos Xutos e Pontapés. Mas não foi o único. Claro que não. Que diríamos hoje se em vez dele tivesse partido um outro elemento do grupo? Seria outro homem do leme certamente, que perderíamos.
Tanto na despedida de um como de outro, esteve um outro Homem do Leme. Talvez porque era muito importante que estivesse nessa despedida e em comunhão com a dor sentida por todo o país, Marcelo, o Presidente da República disse presente. Outros não tiveram essa coragem! Os interesses pessoais ou intenções políticas, impediram-nos de fazer jus à importância dos Homens do Leme! Paciência.
No meio de toda esta azáfama política e social, resta agora ver quem se tornará o próximo Homem do Leme. Novamente por razões políticas, há quem concorde e quem discorde de ver que a possibilidade de Mário Centeno ser eleito para o Eurogrupo. E quem discorda? Quem são os que não lhes diz nada que tal aconteça? Sempre os mesmos. Os partidos de extrema-esquerda. Porquê? A Europa não lhes diz nada! Como é possível? Que ignomínia! Afinal, o que mais necessitamos são Homens do Leme neste país à deriva.

Está no tempo de as bater, bem batidas!...

Ter, 05/12/2017 - 10:41


Olá familiazinha!
Somos chegados ao último mês do ano, o mês do Natal.
As geadas marcam presença assídua nas madrugadas frias, o que faz com que muita gente da família já comece a pensar na matança do seu cevado, embora uns por problemas de saúde e outros por falta de tempo, cada vez haja menos quem possa criar porcos, pois dá muito trabalho e despesa.
No dia 30 de Novembro quem fez anos foi o nosso ministro dos parabéns, nomeado assim por ser ele que, durante todo o ano, canta os parabéns a quem está de aniversário.
É ele o meu João André: João porque eu não sou e André por ter nascido no dia deste santo.No dia do seu aniversário não lhe faltaram muitos miminhos de toda a família.
Na semana passada também esteve de parabéns a nossa avó Laurinda, de Bragança, que festejou a sua juventude dos 90 anos, a matriarca dos Farruquinhos; também a tia Otília, de Coelhoso (Bragança), a tal ‘riquíssima’ que tem sete casais de filhos, completou 78 anos e o tio Mendonça, de Canavezes (Valpaços) fez 82 anos de vida. Parabéns a todos e que tenham muita saúde.
Para a semana trago-vos o almoço de natal da família do tio João, mas por agora vamos à azeitona!...