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III PonTua acontece sexta e sábado

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Qua, 12/09/2018 - 12:23


Ao longo destes dois dias, nesta edição vão abordar-se os novos caminhos da Europa, a mutação dos padrões ideológicos reflectidos no sistema político europeu e na orientação de voto dos cidadãos, a relevância da descentralização e dos municípios no desenvolvimento europeu, e a alternativa de pode

Descarga eléctrica durante trovoada fere homem em Vilarinho, Bragança

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Qua, 12/09/2018 - 12:20


“Nós se calhar temos aqui uma bomba e não sabemos quando vai explodir!”, é assim que Luís Manuel Fernandes descreve o poste de transformação de electricidade que tem ao lado do terreno onde tem quase duas dezenas de vacas, em Vilarinho, no concelho de Bragança, e que há dias lhe valeu um susto. 

Descarga eléctrica durante trovoada fere homem em Vilarinho, Bragança

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Qua, 12/09/2018 - 12:20


“Nós se calhar temos aqui uma bomba e não sabemos quando vai explodir!”, é assim que Luís Manuel Fernandes descreve o poste de transformação de electricidade que tem ao lado do terreno onde tem quase duas dezenas de vacas, em Vilarinho, no concelho de Bragança, e que há dias lhe valeu um susto. 

Vendavais - De portas abertas

Quando pensamos que as férias são para usufruir de um descanso merecido e até poderão ser, o certo é que para outros elas são um tempo de ocupação, mais ou menos séria, que acaba por dar alguns frutos. Lógica do objetivo laboral.

Esgotado agosto e pensando em fechar a porta do lazer, eis que se abrem outras portas que nos deixam entrar em compartimentos menos estanques e revelam pormenores menos lógicos de azáfamas igualmente menos lícitas.

Embora se soubesse ou desconfiasse do que se passava lá para as bandas da Luz, inesperadamente abriu-se uma porta imensa que revelou pormenores de manobras menos lícitas que poderão levar a sanções terríveis, pelo menos em termos desportivos. O que veio a lume recentemente, trouxe-nos uma teia de corrupção, que não pára somente na Luz. As possíveis sanções, em termos desportivos, com base nas declarações já pronunciadas pela comunicação social, arrasta para a lama a verdade desportiva e os clubes que a ela faltaram, manchando completamente o que de melhor ainda tínhamos no país.

Quando damos por nós a pensar que existem pessoas que se dedicam a comprar favores para adulterar completamente os jogos e com conhecimento dos dirigentes máximos desses clubes, sabendo que a verdade virá sempre ao cimo, como o azeite, indignamo-nos e começamos a desacreditar no que conseguia arrastar multidões para ver jogar os seus atletas preferidos em defesa dos clubes em palco. Mentira! Jogos de mentirinha.

O que se está a passar no Benfica é o descalabro completo se tudo se provar devidamente. É uma tristeza. Imaginemos que realmente o Benfica fica castigado de participar no campeonato nacional durante 6 meses ou mais, já que pode ir até três anos. Se forem seis meses, perde a possibilidade de lutar pelo campeonato, se for um ano ou dois ou mais, o Benfica vai completamente ao charco. Desaparece! Os jogadores terão de sair e ir para outros clubes e o Benfica não vai comprar nenhum jogador e pagar-lhe para estar sem jogar. Fica inanimado. Uma desgraça para o futebol nacional e para o clube, já para não falar dos adeptos e sócios. Como é possível correr riscos destes em nome de vantagens desportivas ilícitas?

Não está aqui em questão ser deste ou daquele clube. Não, nada disso. Está em causa a verdade desportiva de que tanto nos gabamos, da veracidade dos nossos clubes, da paixão que nos movimenta quando vamos a um estádio. O que fica depois disto tudo? Uma vergonha imensa e um desânimo atroz. Dá-nos vontade de castigar cada um dos culpados de modo a que nunca mais se pudessem esquecer que andaram a brincar com os sentimentos dos que os apoiam, com o dinheiro de quem lhes paga e até com a justiça como se ela fosse efetivamente cega. Mas não é. Nem deve ser.

Quando Bruno de Carvalho veio a lume com os vouchers do Benfica, todos o criticaram e, embora provado, não foi objeto de sanções, mas no ar ficou a desconfiança e nem Vieira conseguiu apagar esse sentimento. Apesar de conhecermos as razões de Bruno de Carvalho e o modo arruaceiro de se pronunciar, além do ódio figadal que nutre pelo rival da segunda circular, ele tinha alguma razão no que revelou. Foi uma porta aberta, na ocasião, que acabou por levar a outros corredores que por sua vez desvendaram salas maiores. Infelizmente.

De toda esta panóplia de acontecimentos, de diz e que não disse, a justiça tirará as suas conclusões e dará o castigo ajustado, ou não, a tudo o que se provar. É com muito pesar que vejo a possibilidade de o Benfica ser afastado do campeonato nacional durante algum tempo. A ser assim, os sócios e adeptos deveriam castigar fortemente este tipo de atitudes e quem as levou a cabo. É inadmissível.

Mas também outra porta se abriu. O Moreirense está metido em igual lamaçal. Compraram a verdade desportiva. E o que lhe pode acontecer? Já foi proclamado culpado e o tribunal já decretou a sua suspensão por um ano, do campeonato nacional. E agora? A suspensão só fará sentido no próximo ano, já que este ano seria difícil continuar o campeonato depois de se terem jogado alguns dos jogos do campeonato onde se envolveram todas as equipas que dele fazem parte. Mas como vão jogar os atletas sabendo que estão a jogar a feijões? Como vão jogar sabendo que no próximo ano estão de fora do campeonato e do clube? No próximo ano, o que fazer aos jogadores que têm assinado contratos por alguns anos? Pagar-lhes sem jogar? Mandá-los embora e ressarci-los de acordo com o que for negociado? E como preparar o clube para um próximo campeonato? De onde vem o dinheiro para comprar jogadores?

Por favor fechem a porta da corrupção o mais depressa possível. Assim, ninguém aguenta.

Setembro chegou…

Setembro chegou, o Verão terminou …cantava Sérgio Borges do conjunto João Paulo, a canção animava as verbenas pindéricas versão rural espanhola sem chistes e muito desejo recalcado. Estávamos nos anos sessenta do século passado, as bailações intercalavam jogos sobre rodas de patins na ringue de piso cimentado no Jardim António José de Almeida,

As verbenas concitavam o interesse de boa parte da população de Bragança, os programas desenvolviam-se num sinédrio de vaidades de vários elementos das denominadas forças vivas da cidade acolitados por mangas-de-alpaca de várias proveniências e funções. Tudo compostinho, os descompostos pura e simplesmente eram arredados das imediações porque sim e porque não. Episódios e actores numa próxima crónica.

Trago à colacção as verbenas convencido de as mesmas virem ao encontro por um lado das profundas aspirações do Homem necessitarem de divertimento mesmo se aperreado por uma Ditadura, por outro o desejo de diminuir as pulsões energéticas tão bem descritas por Norbert Elias na obra Em Busca da Excitação.

Manda a verdade escrever que as verbenas surgiram na minha mente após ter lido nos jornais e visto nos canais televisivos a profusão de festivais e festas aproximadas ocorridas um pouco ao modo de estalinhos e bichas de rabiar do tempo carnavalesco, estabelecendo o contraste temporal entre a tal imposição do referido compostinho (roupa, sapatos, penteados e acessórios colocados no corpo) e a liberdade de costumes; soberanos ou quase num ímpeto a retroceder aos bacanais romanos.

Não estou a exagerar, se o leitor duvidar faça o exercício de ler os programas de muitos desses ajuntamentos tendo como pano de fundo músicas de violenta batida, fumos inebriadores e cerveja ao preço da uva mijona. Leram notícias do ocorrido em Idanha-a-Nova?

O revivalismo do da canção – Setembro chegou –, serve-me não no sentido saudosista, sim na justa medida de também no confronto sazonal o mês das vindimas significar o corte da folia estival enquanto agora o fluxo festivaleiro preencher programações durante todo o ano. Seria absurdo procurar adnumerar tantos e tantos festejos, no entanto, julgo não ter surgido até agora o Festival da Murinheira como bem merece. Recordo na meninice ouvir a murinheira ser tocada e dançada nos dias de festa, para lá de Júlio Iglésias a recordar num canto à terra do seu pai, a Galiza.

Nas verbenas ganhavam as músicas propícias ao colanço corporal, dançar em cima de um tijolo constituía desafio muito tentado, uma formosa costureira bragançana demonstrava a maestria nessa execução nos bailes ditos particulares ou quase clandestinos.

O espartilho circundante das verbenas faz-nos rir quando o mesmo é colocado nas conversas dominadas por punções de apoio às revisões memorialistas umas vezes a colorirem faustos passados, outras vezes a encobrirem infaustos de má…memória. Ao invés o culto da crueza na linguagem e do quanto mais destapado melhor, tão estridentes nas redes sociais desbaratam completamente os carroceiros acusados de serem bocas sujas e as comadres zangadas em disputa do melhor espaço de secagem da roupa após ser desencardia nos lavadouros públicos. Se tivermos paciência na audição dos dichotes e insultos desenrolados e soltos nos Festivais colhemos uma boa amostra do extraordinário aumento lexical do mais virulento calão rico em condimentos estrangeiros. Às vezes tenho paciência!

Antes de Setembro chegar mantive conversas com dois jovens de trinta e tal anos cuja profissão é a de serem professores de viagens em cima de pranchas na crista das ondas do mar. Abandonaram os estudos escolares, um na área da sociologia, outro das ciências agrárias. As lições decorrem de oito a quinze dias, os alunos são estrangeiros, cada sessão dura no máximo duas horas. As alunas e os alunos carregam as pranchas, executam breves meneios do tronco e braços, logo de seguida entram na água e é a jiga-joga do tentar surfar a onda e do deslizar de barriga na areia. O negócio é rendoso, nos últimos anos a costa portuguesa deixou de exibir mostruários de peixe a secar, passou a suportar lojas de venda de equipamentos das modalidades praticadas e toda a quinquilharia adjacente, incluindo casas de comes e bebes, os bebes até altas horas da noite a fim de a vizinhança ensonada gritar como se tivesse tido um pesadelo macabro estilo cobrador do fraque a atormentar caloteiro empedernido.

Os doutos professores usam e abusam de palavras violentas, agressivas, do mais sórdido calão, um deles afiançou-me ser a única maneira de os alunos entenderem as ordens pois a língua em uso, a inglesa, é viral e incisiva nessa área. O problema do constante emprego da agressividade vozeadora gera incómodos, mimetismo das crianças a gritarem nos restaurantes defronte de pais passivos e frequentes conflitos entre clientes e funcionários, as agressões de adeptos boavisteiros em Ponta Delgada é uma amostra de um clima ameaçar a tranquilidade dos menos apetrechados para suportarem refregas musculares.

A festa é o embrião dos festivais, as tecnologias de ponta transformaram as festividades (todas) trazendo-lhe outras alacridades, a indústria é intensa e rendosa enquanto dura a moda e a fama dos artistas, as agências especializaram-se em todas as matérias, os escritos de Huxley (Admirável Mundo Novo), Orwell (1986) entre milhares de outros pecaram por defeito de imaginação, no entanto, tal como Júlio Verne proporcionam boas leituras outonais ajudando-nos a rever e cogitarmos demoradamente acerca do Homo Ludus e das suas disformidades. Vou rever a Laranja Mecânica, comer mirtilos e procurar um disco de Madalena Iglésias onde canta Setembro. Sim, o mês desnatador dos namoros de praia. No antigamente!

O crime Robles

Ricardo Robles, dirigente do Bloco de Esquerda e candidato à Câmara de Lisboa por esse partido, comprou uma casa por 300 mil euros, fez obras no valor de 700 mil e agora pedia por ela 5,1 milhões de euros. Esta sequência de procedimentos, que parece configurar um caso vulgar de especulação imobiliária, levantou uma onda de protestos contra a atitude de Robles. Políticos do PSD pediram a demissão de Robles, outros agitaram a bandeira da “falta de ética” e Assunção Cristas cavalgou este mote dando-lhe verdadeira amplificação. Mesmo o Dr. António Costa não se coibiu de dar a sua alfinetada chamando-lhe “pecadilhos”. Ora, como entendo que o mundo não é só preto e branco vou tentar desmontar as acusações que tornaram um vulgar negócio no caso que tanto agitou o mundo político.

O PSD pediu a demissão de Robles dos cargos públicos que ocupava. Pedir a demissão de cargos públicos como sanção por actos privados praticados e que, além disso, estavam perfeitamente cobertos pela lei é coisa que nunca tinha visto. Ressalva-se, aqui, a atitude de Rui Rio que nas suas enigmáticas palavras, possivelmente contra a devassa da vida privada dos políticos, disse “quem não deve também tem que temer”.

Assunção Cristas acusa Robles de “falta de ética”. Ora, se o comportamento de Robles respeita escrupulosamente a lei, então a acusação não se pode virar para Robles mas sim para a lei. E, de facto, a lei da autoria da Dr.ª Cristas, que contempla a completa liberalização do alojamento local e a facilidade obscena no despejo dos inquilinos, essa sim, tem um défice de ética que não devia ser aceite, até constitucionalmente. Robles nem é um especulador porque não tem isso por actividade. Fez, tão só, preço a uma coisa dele o que me parece perfeitamente legítimo. Mas as centenas, senão milhares, de especuladores, para quem, aliás, a lei foi feita, nunca ouviram uma palavra de recriminação da Dr.ª Cristas porque esta entende o seu comportamento como eticamente adequado. Como pode um líder partidário ter dois graus de exigência ética? Uma para os da sua família política e outra para a esquerda. Será que acredita na “superioridade moral dos comunistas” e daí, portanto, para esses maior exigência?

Mas voltando ao caso em si. A compra do imóvel e a sua requalificação são actos que não oferecerão, eticamente, quaisquer objecções, seja qual for o quadrante político em que se insira o agente das operações. O valor do montante porque seria vendido o imóvel é que levanta questões a alguns, só, porque o vendedor é de esquerda. Até um jornalista de um jornal diário tentou compor o valor real(?) do imóvel e somou o valor da compra com o custo das obras mais o juro do dinheiro mais a valorização do imóvel e deu-lhe 2,5 milhões. Haveria um remanescente de 2,6 milhões por explicar. Para ele um verdadeiro homem de esquerda podia vender o imóvel por 5,1 milhões mas teria de dar à APADI ou à Cruz Vermelha 2,6 milhões. Isto é absolutamente grotesco. Até porque, como estes números não são absolutos, muitos achariam que mesmo 2,5 milhões seria o valor de uma especulação sem limites. Aí entrava a história do “velho, o garoto e o burro” que só acabava quando o verdadeiro homem de esquerda perdesse dinheiro no negócio. Como poderá, doravante, um homem de esquerda fazer um negócio? Será que tem de perguntar a um painel de peritos o real valor da coisa para, no caso de o negócio se fazer por montante superior a esse valor, dar a uma ONG ou a uma instituição de solidariedade o respectivo diferencial? Talvez assim, a direita entendesse que estavam salvaguardados os valores de esquerda, na esquerda. Curiosa esta preocupação com os valores éticos, dos outros.

Não foi a esquerda que inventou o capitalismo, os mercados e a especulação. Mas vivemos num mundo em que não podemos fugir deles. Além disso também não podemos ser homens de mercado na compra para ser samaritanos na venda. “Já que estamos no inferno queremos ver o Diabo”. Mas a direita sempre teve uma prática continuada de tentar embaraçar as pessoas de esquerda que têm desafogo económico. Tratam-nos como se fossem traidores porque se tem dinheiro deveriam ser de direita. “Dai o dinheiro aos pobres” é uma das invectivas recorrentes. O que é um facto é que as pessoas de esquerda que não têm constrangimentos financeiros têm uma espécie de complexo de culpa que a direita sabe explorar, como se viu na reacção, perfeitamente confrangedora, do Bloco de Esquerda a este caso. Aqui, honra e louvor ao desassombro e frontalidade do jornalista César Príncipe que ia às manifestações do Partido Comunista de Rolls Royce. Um dia confrontado com a eventual incompatibilidade de ter um Rolls Royce e ser comunista, respondeu: “eu tenho muito dinheiro cuja proveniência é absolutamente inquestionável e além disso gosto muito deste carro”.

A esquerda não fez voto de pobreza nem nunca renunciou aos bens terrenos. O único compromisso que tem é com ela própria e com o Mundo e é de tentar pelos meios possíveis que a riqueza seja distribuída de forma cada vez mais justa, mais equitativa até que possamos um dia declarar como Moustaki, “… l’état du bonheur permanent et le droit de chaque un à tout les previlèges.”

 

 

P.S. – Afinal o negócio não se fez, mas o assassinato de carácter, esse sim, concluiu-se com sucesso. Mas se o comportamento de Ricardo Robles foi tão eticamente desviante face ao que é socialmente aceite, então seria de esperar que os partidos, que tão veementemente o atacaram, quisessem plasmar na lei normas-travão ou cláusulas de salvaguarda que impedissem que procedimentos como os de Robles fossem replicados. Mas nem uma palavra mais. Houve uma vítima mas nada foi alterado. Apesar da algazarra o País ficou na mesma, só ficámos a conhecer melhor os intervenientes porque “quando Pedro me fala de Paulo fico a saber mais de Pedro que de Paulo”. (S. Freud)

 

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Manuel Pereira da Mesquita (n. Mirandela, 1655)

Por 1600, no sítio de Golfeiras, hoje freguesia da cidade de Mirandela, então uma quinta do termo de Lamas de Orelhão, vivia um casal de cristãos-novos constituído por Gaspar Vaz e Mécia de Leão. Tiveram uma filha chamada Violante Nunes que casou com Gabriel Pereira e estes foram os pais do Dr. Mirandela.

Tiveram também um filho chamado Jorge da Mesquita, que casou com Beatriz Pereira, irmã do citado Gabriel. Em 1662, Jorge foi preso pela inquisição de Coimbra(1) e nessa altura era já casado em segundas núpcias, com Maria Pimentel e vivia em Murça de Panoias.

A morada de Jorge e Beatriz era em Mirandela e ali tiveram um filho, nascido por 1655, a que deram o nome de Manuel Pereira da Mesquita. Este aprendeu a profissão de prateiro, que não era limitada à compra e venda de prata mas incluía o fabrico de objetos de uso diário ou de adorno. Era uma profissão de muita dignidade e projeção social.

Casou com Violante Pereira, natural de Vinhais, e foram morar para Chacim, uma terra que então conhecia um grande surto de desenvolvimento, graças a duas indústrias, dominadas pela gente da nação hebreia e que eram: o fabrico da seda e o trato das peles e solas. Aliás, a nação hebreia de Chacim aparecia dividida entre os fabricantes de sedas e os curtidores de peles. Estes moravam na parte baixa da vila, no Bairro da Ribeira e aqueles moravam na zona alta, em redor da Praça do Pelourinho.

Era ali, na Praça, que vivia o Prateiro, em uma casa de sobrado, com quintal anexo, que confrontava com a de Ana Pereira, viúva de António Cardoso e com rua do concelho. A sua oficina dava para a praça e nesta, ele estabelecia mesmo banca de trabalho e tenda de vendas. A propósito, diria Joana Lopes, cristã-nova:

— Observou e viu Manuel Pereira (…) em os sábados de trabalho não fazia coisa alguma, antes o via com os melhores vestidos, de camisa lavada, passeando pelo seu quintal e detrás da igreja, por tudo se descobrir das casas onde ela denunciante vivia, sendo que nos mais dias ia trabalhar para a Praça, na sua tenda de prateiro.

No seio da comunidade eclesiástica de Chacim, Manuel Mesquita era homem de muita consideração, pois que chegou a ser mordomo da Confraria das Chagas e fez que o seu filho fosse nomeado mordomo da Senhora do Rosário, onde costumavam apenas servir os filhos dos cristãos-velhos da nobreza e da governança da terra. E então, “mandou fazer, às suas custas uma imagem dourada e estofada”, que lhe custou 10 mil réis.

Alguns pensarão que a comunidade cristã-nova formava um corpo unido, no seio da sociedade. A realidade, no entanto, era bem diversa e o caso de Manuel Mesquita é, a este respeito, verdadeiramente exemplar. Ele próprio escreveu um texto que poderíamos mesmo apelidar de racista, se o alvo do seu desprezo não fosse gente da sua raça. Vejam apenas um curto excerto:

— Toda a gente curtidora de Chacim me quiseram sempre muito mal e me tiveram grande ódio, por eu nuca vizinhar com eles, nem fazer deles conta para nada; mas antes fugia das suas conversas, porque sempre me tive por mais do que eles; nem me ia a suas casas, nem lhe dava ocasião a eles entrarem na minha, sem coisa de negócio que eu tivesse com eles ou eles comigo (…) tanto me desprezei sempre dos curtidores que, tendo de minha mulher o banco na igreja ao pé das suas, a fiz mudar de assento para que não estivesse misturada com eles e depois se sentou sempre com as mulheres nobres que era com quem nós corríamos e tratávamos e disso o sentiram muito, conhecendo que era por desprezo.(2)

Manuel Mesquita não era o único cristão-novo de Chacim a manifestar desprezo pelos curtidores. Outros testemunhos temos, muito semelhantes, e podemos afirmar que havia uma divisão profunda entre o grupo de cristãos-novos que moravam na parte alta de Chacim e os que moravam na parte baixa. Podiam os curtidores de peles ser muito ricos mas, por se tratar de trabalho sujo, eram desprezados pelos outros, essencialmente fabricantes de seda.

Porém, se o Prateiro se tinha “nos seus tamancos” e desprezava os outros, também ele era desprezado por uma parte da família que se considerava superior. Eram os seus parentes, que frequentavam o palácio dos Távoras. Gabriel Pereira, seu tio materno, era um deles. Vejam o que ele dizia:

— Tinham outro parentesco, por direito lado, em Chacim, Manuel Rodrigues Pereira, Manuel Pereira da Mesquita e outros (…) costumavam todos os desta parentela dizer que ele réu e seus tios e cunhados eram fidalgos, que não costumavam falar senão com homens graves e dignos (…) e falecendo Duarte Lopes Pereira, em Alfândega da Fé e indo a enterrar-se em Mirandela, por ser parente do réu, tios e cunhados trataram de lhes fazer as exéquias, com pompa o funeral a que assistiram os marqueses de Távora e homens cavaleiros daquelas terras e não deram recado aos ditos Manuel Rodrigues que era irmão do defunto, nem a Manuel Pereira da Mesquita, cunhado e Diogo Pereira, o perdido, de alcunha, que era irmão, razão por se darem todos por queixosos, por não serem chamados para aquelas honras funerárias.(3)

Fazer contratos de casamento numa comunidade fechada como a deles era coisa séria e grave. Não nos referimos ao problema de manter segredo da fé e ritos judaicos, o que levava geralmente a casamentos endogâmicos. Referimo-nos a questões de riqueza e promoção social. E, neste campo, o Prateiro teve alguns problemas, sobretudo com o casamento da filha mais velha, Leonor. Tentou casá-la com Pedro Álvares de Sá, morador em Rebordelo, um bom partido, ao que as testemunhas diziam. Porém, houve alguém que viu uma caixa de prata nas mãos de um tal João da Rocha, cristão-velho, escrivão, logo depreendendo que fora dada pela Leonor que com ele andaria de amores secretos. Pedro Álvares já não casou com ela, mas com outra sua irmã mais nova, Brites Pereira, o que, para o pai constituiu uma desonra e para ela uma infâmia tremenda.

Metida de amores com um cristão-novo andava também uma criada do Prateiro, cristã-velha, dos lados de Vale das Fontes. E a família do moço, avisou o amo, pedindo-lhe que expulsasse a criada, o que viria a acontecer, gerando, no entanto, alguma tensão entre as duas famílias.

Ainda a respeito de contratos de casamento, veja-se a seguinte declaração do Prateiro, que, em simultâneo, ataca os seus parentes de Mirandela, tidos por mais nobres:

— Provará que Francisco da Fonseca, filho de Isabel Antónia e Gaspar da Fonseca, de Mirandela, ficou seu inimigo porque estando em casa dele réu a aprender o ofício de prateiro, se ausentou para o reino de Castela e quando tornou, haverá 5 ou 6 anos, lhe pediu a ele réu uma filha para casar, o que ele não consentiu por ser o dito Francisco Fonseca moço extravagante que não tinha assento em terra alguma, tanto que voltou para Castela aonde vive.

Um grande sarilho em que o Prateiro se viu metido foi por cercear moeda, acusado que foi por Francisco António Mansilha, também prateiro, em Chacim. Defendeu-se, dizendo que o outro inventara aquilo para o fazer despejar da terra e ficar ele sozinho com o ofício.

Manuel Pereira da Mesquita foi preso pela inquisição de Coimbra, em janeiro de 1700, no âmbito de uma vasta operação de limpeza do sangue judeu na vila de Chacim, lançada em 1697, e que, nos anos seguintes, arrastou para as masmorras do santo ofício mais de uma centena de homens e mulheres.

Um dos argumentos usados para se defender, acabaria por se voltar contra ele. Com efeito, contou que, quando a sua mulher, Violante Lopes “entrou em perigo de morte, lhe mandou logo chamar o padre cura para o ofício da agonia”.

O abade de Chacim, Manuel Gouveia de Vasconcelos, era natural de Torre de Moncorvo e comissário da inquisição. Foi ele próprio (coisa rara) administrar-lhe os últimos sacramentos. E reparou que em nenhuma ocasião lhe ouviu chamar pelo nome de Jesus, nem o marido a isso a incentivou.

O mesmo disse o cura da igreja, padre Belchior de Morais, acrescentando que ela foi amortalhada em um lençol, como usam fazer os crentes da lei de Moisés e não em um fato do hábito de S. Francisco, como na vila costumavam os bons cristãos.

Manuel Pereira da Mesquita saiu condenado em cárcere e hábito perpétuo no auto da fé de 18.12.1701.

Notas:

1 - Inq. Coimbra, Pº 2714.

2 - Inq. Coimbra, pº 9710, de Manuel Pereira da Mesquita.

3 - Idem, pº 2773, de Gabriel Pereira.