class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Dalma Reis, mãe e avó a tempo inteiro

Ter, 01/09/2020 - 11:44


Olá ilustre e boa gente!
Nestes últimos dias muitos emigrantes que estiveram de férias na terra natal, já fizeram a viagem
de regresso ao seu ganha-pão.
Segundo eles é a viagem que rende mais, porque mal partem já levam saudades e os seus familiares só ficam descansados quando atendem o célebre telefonema:
“Somos nós. Já chegamos. Correu tudo bem!”. É bom ouvir a nossa família comunicar-nos que já receberam o dito telefonema.
Iniciamos o mês de Setembro, mês das vindimas.
Diz o povo
“Agosto amadurece, e Setembro vindimece”, ou ainda “em Setembro planta, colhe e cava, que é mês para tudo”. O tio Domingos Ferreira, de Genísio (Miranda do Douro), disse-nos que agora é “tempo do ouro negro”, a apanha das amoras silvestres.
Também estamos na época da maçã, pêra e pêssego.
O meu filho, o João André, quis aproveitar um dia das suas férias para ir comigo para a rádio fazer o programa em directo. Foi na passada quarta-feira, das 6 às 8 da manhã. Esteve em estúdio com a sua concertina, tocou três modinhas e falou com os 35 participantes desse dia. Surpreendeu-me, pois estava muito à vontade e atento ao que os participantes diziam. Nesse dia foi ele o centro de todas as atenções. A família ficou admirada por ele utilizar o mesmo tom de voz que eu faço e cantarolar algumas quadras:
“Oh minha família/eu vou aqui estar/para animar o programa/e convosco falar”; “Oh minha família/eu agora aqui estou/no lugar do tio João/que ele me emprestou”. Depois do programa disse-me “agora eu sou o tio João júnior”.
Nestes últimos dias estiveram de parabéns a Alda Vieira (77), de Bragança; os irmãos gémeos, Paulo e Duarte Lopes (36), de Esturãos (Valpaços); Denérida Fernandes (69), de S. Julião (Bragança); Natividade Gonçalves (82), de Sacoias (Bragança); Maria de Fátima (36), de Valverde (Valpaços); Maria José, a tia Chanqueira (79), de Sendim (Miranda do Douro); Pedro Santos (41), de Murça (Vila Real); Ana Maria (53), de Coelhoso (Bragança) e os irmãos Humberto Rodrigues (62) e Orlando de Jesus (56), ambos de Samil (Bragança). Que a vida se proporcione para festejarem o próximo aniversários connosco.
E agora vamos conhecer um pouco da vida da tia Dalma Reis.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos: OS LEDESMA – Família e Mobilidade: Judaizar nos Cárceres da Inquisição

Nasceu em Ponte de Lima por 1481. Ignoramos o nome judeu que os pais lhe deram e que ficaria escrito nos livros da sinagoga. Terá sido batizada pela Páscoa de 1497, no cumprimento da ordem do rei D. Manuel, recebendo o nome cristão de Isabel Dias. Em 11.6.1556, sendo já viúva e moradora em Braga, foi presa pela inquisição de Lisboa, acusada de ser “judia rabina e muito sabida nas coisas da lei de Moisés”.(1)
Muitos cristãos-novos de Braga ficaram assustados com a sua prisão, pois que Isabel era mesmo “rabina” que “ensinava coisas dos judeus a todos os cristãos-novos entre Douro e Minho” e que, sendo parteira, “tinha circuncidado muitas infindas crianças”.
Defendeu-se bastante bem das acusações que lhe faziam dizendo que era mulher de 75 anos, que, efetivamente andou errada na fé, mas que abjurava dos erros passados e prometia ser boa cristã. Saiu no auto-da-fé celebrado em 27.2.1557.
Como de costume, ficou no cárcere da penitência, frequentando o colégio da doutrina da fé, para ser bem instruída na doutrina cristã. Foi um alívio para a “nação” de Braga onde, a notícia do auto foi levada por Gaspar Oliveira, “que estivera presente no auto passado e levara a nova a Braga, como Isabel Dias sua sogra não culpara ninguém”. E Gaspar Lopes, falando com Gaspar de Ceia, ourives de Braga, faria um comentário bem elogioso, dizendo:
— Isabel Dias merecia muito porque, podendo falar de muitas pessoas, não falara senão naquelas que a acusaram, que eles estavam em Braga mais cagados que lavados, pelo temor que tinham da dita Isabel e João Gomes dizerem deles.(2)
Em vez de fazer penitência pelos pecados que os senhores inquisidores lhe tinham perdoado, Isabel andava pelo cárcere a doutrinar companheiros e companheiras, ensinando-lhes orações, dizendo-lhe as datas em que caíam os jejuns judaicos e avivando-lhes a fé na lei de Moisés. E nesta missão doutrinadora, Isabel tinha muitos aderentes, a fazer fé na seguinte declaração de Pero Fernandes, solicitador, que andava pelos cárceres a espreitar:
— O dito Pero Fernandes, de Braga, louvando uma Isabel Dias, que era mulher discreta e avisada e que nunca dela puderam (os inquisidores) tirar nada, por mais apertos que lhe fizessem, porque pudera ele dizer muito, porque mais era ensinar e fazer, e então começou a nomear Fulano e Fulano e (…) outros muitos até 17 pessoas, dizendo isto como que sabia ela Isabel Dias destas pessoas segundo as práticas que tinham e que lhe ouviu dizer mais que Isabel Dias tivera cá muita aderência.(3) 
Naturalmente que o proselitismo de Isabel Dias deu nas vistas e os inquisidores decretaram o seu regresso à prisão. E Isabel decidiu proclamar abertamente a sua crença na lei de Moisés. Assim, no dia 12 de Março de 1558, Isabel Dias apresentou-se perante os “senhores inquisidores, deputados e bispo do Algarve”. Perguntada como se chamava, respondeu que seu nome era “Donoyro porque as judias depois que tinham filhas casadas, tinham sobrenome”. Convidada a colocar a mão sobre a Bíblia, cuja capa ostentava uma cruz, respondeu “que tirassem dali aquela cruz, se queriam que ela jurasse”. Tiraram a Bíblia e ela jurou sim, mas “por Deus todo-poderoso que fez o céu e a terra e nunca quis pôr a mão sobre o livro dos Evangelhos”. Perguntaram-lhe se sabia o Credo e ela respondeu:
— Creio em Deus Todo-Poderoso, que fez o céu e a terra – E que não podia dizer mais.(4) 
Antes contou que, em vez do Credo, rezava com as companheiras o “Shemah Israel” e outras orações que ela “rezava em hebraico e as tornava em português para que elas entendessem”. Perguntou-lhe o inquisidor Jerónimo de Azambuja, a razão por que decidira revogar as confissões que tinha feito e afirmar-se judia. Respondeu:
— Porque Nosso Senhor, Rei celestial, a movera a vir desdizer as falsidades que tinha falado contra a Sua Majestade! Disse que cria no Deus de Abraão, de Isaac, Jacob, Moisés, Aarão, David, Salomão e dos santos profetas (…) Que esperava ainda que Nosso Senhor vai mandar o Messias a livrar os filhos de Israel donde estão cativos.(5)
Referiu depois muitas situações de práticas judaicas, no seu ofício de parteira que chegou a ir de Braga a Matosinhos a catequizar uma Catarina Vaz, que também estava no cárcere. Apenas um episódio muito significativo do amor à cultura e aos livros, por parte de Isabel e dos judeus, em geral. Disse que Grácia Pires, de Viana do Castelo, também companheira no cárcere, lhe falou de um livro que lhe deram “que tratava de toda a lei do Senhor” e que seu irmão Francisco Álvares, com medo que lhe apanhassem o livro e o prendessem, o lançou ao rio e que, a partir daí “só lhe vieram infortúnios”.
Escusado será dizer que Isabel Dias foi queimada no auto-da-fé celebrado em Lisboa em 15.5.1558, contando 77 anos de idade. Morreu porque quis afirmar-se “judia rabina e muito sabida nas coisas da lei de Moisés”. O seu nome bem merece ser inscrito entre os mártires do judaísmo.
Voltemos aos cárceres da inquisição de Coimbra, onde então se encontravam muitos “judeus” Trasmontanos, nossos conhecidos. Em particular 3 mulheres que, de algum modo, se relacionaram com a Bracarense Isabel Dias. Veja-se esta apresentação de uma delas, feita pela própria Donoyro:
— No tempo em que esteve nestes cárceres, antes de ir para o colégio, esteve presa com Isabel Lopes, de Torre de Moncorvo, mulher de João da Trindade; e praticando ambas, Isabel Lopes disse que dava graças a Nosso Senhor porque a pusera em companhia dela, Isabel Dias, para a alumiar, porque ela, Isabel Lopes não sabia coisa alguma destas, porquanto tivera dois maridos que não sabiam nada destas coisas, nem seu pai nem sua mãe lhe ensinaram; mas pedira a Isabel Lopes que não dissesse que a ensinara.(6)
Beatriz Lopes foi outra das suas companheiras de cárcere e aparece referida por Isabel Dias nos seguintes termos:
— E assim disse Beatriz Lopes, de Vila Flor, que era verdade o que ela declarante dizia do Messias, e que esperava por ele, ela Beatriz Lopes e que a lei do Senhor era boa e a cantava.(7)
Ignoramos também o nome que os pais lhe deram quando nasceu em Vila Flor, cerca de 1492. Seria “batizada em pé” na Páscoa de 1497, recebendo então o nome de Beatriz Lopes. Os pais, esses faleceram judeus, segundo o testemunho de Beatriz. Opinião diferente tinha a sua conterrânea e companheira de prisão, Ana Gonçalves, dizendo que seu pai “casara suas filhas fora, sendo rabi dos judeus”, em Vila Flor.(8)
Na verdade, Beatriz Lopes foi casar em Bragança, com um criado (escudeiro) do alcaide Lopo de Sousa,(9) chamado Rui Lopes.
Maria Álvares foi outra companheira de Isabel Dias nos cárceres da inquisição, e que a denunciou perante os inquisidores, na forma seguinte:
— Disse que, no colégio jejuou com Maria Álvares o Tisabeth, que tem dito no começo, não comendo senão à noite e disse que se aparecera o Senhor naquele dia, e outras coisas, de quando em quando, como era dizer que andava em penitência em aflição.(10)
Do libelo apresentado pelo promotor de justiça, retiramos a acusação relacionada com Isabel Dias:
— Além das culpas atrás, sobre que estava já riziado, acresceu à ré agora a culpa de Isabel Dias, de Braga, que diz que cantava diante dela (Maria Álvares) coisas de judia, e ele ré folgava e chorava, que é grande sinal de quem tem ainda lembrança daquelas coisas. E diz mais a testemunha que lhe dizia a ré que o Messias havia de vir e que a havia de livrar…(11)

 

Notas:
1 - Inq. Lisboa, pº 1330, de Isabel Dias.
2 - Pº 1330-L, tif 111.
3 - Idem, tif 107. Se, porventura, pode dizer-se que as celas da inquisição eram fábrica de judeus, o caso de Isabel Dias é verdadeiramente exemplar.
4 - Idem, tif 130.
5 - Idem, ttif. 134-135.
6 - Idem, tif 153. Ver: ANDRADE e GUIMARÃES, Isabel Lopes a estalajadeira de Torre de Moncorvo que esperava a vinda do Messias, in: Terra Quente, de 15.2 2007; IDEM, Nós Trasmontanos, Sefarditas e Marranos, Isabel Lopes (c.1503-depois de 1585), in: Nordeste n.º 1075, de 20.6.2017.
7 - Idem, tif 141.
8 - Inq. Lisboa, pº 13299, de Beatriz Lopes, tif 96.
9 - Lopo de Sousa (1501-1564), alcaide-mor de Bragança, era filho de Pedro de Sousa, da descendência do rei D. Afonso III e de Maria Pinheira, filha de Pedro Esteves Cogomilho, ouvidor da Casa de Bragança, tido como descendente de judeus. Em 1503, Lopo de Sousa era proprietário do edifício que fora sinagoga dos judeus de Bragança, a qual vendeu naquele ano à câmara de Bragança, para servir de cadeia. Ver: ALVES, Francisco Manuel, Memórias Arqueológico Históricas do Distrito de Bragança.
10 - Pº 1330-L, tif 146. Tisabeth será o Tishá B’Av, o 9.º dia do mês de Av, o dia de luto mais pesado e rígido entre os judeus, o culminar de um período de 3 semanas de introspeção e penitência, expiando os pecados e lamentando os 5 acontecimentos mais terríveis da história do povo judeu como foram a destruição do Templo de Jerusalém pelos Babilónios e depois pelos Romanos. É tempo de abstinência e expiação, não devendo comer-se carne ou beber vinho, vestir roupas lavadas e tomar banho. Devem também evitar-se as atividades agradáveis e promotoras de explosões de alegria. É também ocasião de ler o Livro de Job e das Lamentações, não outros, nem mesmo da Torah.
11 - Inq. Lisboa, pº 2893, de Maria Álvares, tif 155.

Não! Este ano não vou

As festas têm, psicologicamente e sociologicamente, uma importância que habitualmente não lhes damos. Talvez por pudor, uma vez que as festas estão associadas ao lazer, ao ócio, à cigarra quando no discurso politicamente correto os elogios vão todos para a formiga. Mas é nessa quebra de rotina que retemperamos forças para mais umas jornadas de quotidiano. Usamos as festas como bálsamo para as agruras da vida quando, porventura, quem as inventou não foram aqueles que as vivem mas sim aqueles que as promovem com olhar de longo alcance. “Dai-lhe pão e circo” não foi a fórmula que Júlio César defendia para trazer as suas hostes controladas? E a introdução da música nas cadeias de produção, como mostra Chaplin nos “Tempos Modernos”, visava o bem-estar dos trabalhadores ou o aumento da produção? De qualquer forma, seja qual for a génese das festas, gosto imenso delas e sou um seu defensor incondicional. E não se pense que tenho especiais requisitos para romeiro, antes pelo contrário: não sou nem gaiteiro nem bailarino, sou parco nos contactos, sou contido nos afectos, não sou exuberante nos actos, sou individualista e pouco sociável. Com este perfil só me resta, de facto, a contemplação mas não me queixo porque nesse exercício gosto imenso do que vejo: aquela horda de gente literalmente varrida por uma onda de optimismo e confiança; aquela multidão que parece empunhar invisíveis bandeiras brancas de paz, de tréguas com todos e com eles próprios; aquele bando de gente que aceita, de bom grado, o repto de Luis Goes “é preciso acreditar que um sorriso de quem passa é um bem para se guardar”. E o que mais não se poderia dizer! Se é verdade que a beleza das coisas está nos olhos de quem as mira agradeço essa magia às festas que me faz vê-las assim.
É também assim a festa do “Avante”. “O vinho, o riso, a poesia… e uma mão ladina sobre a carne morna”. Tem além disso actividades diversíssimas onde qualquer um encontra a sua zona de refúgio. Pode ver-se um torneio de futsal, de basket ou de xadrez, ir à feira do livro ou do disco, assistir ao lançamento de um livro ou a um debate sobre cinema, enfim um inumerável rol de iniciativas onde não podia faltar a mostra do espectro gastronómico nacional exibido pelos seus mais lídimos representantes: os que têm a mesma naturalidade do petisco. Pode comer-se uns chocos em Setúbal, umas enguias em Aveiro, umas tripas no Porto ou um rancho em Bragança. É, assim, o “Avante” uma espécie de “Portugal dos Pequeninos” da geografia humana.
Não sei se vai haver Avante este ano. Se houver, estou certo que a organização tudo fará para obviar todos os males decorrentes do estado pandémico. Tudo que estiver ao seu alcance. Mas temo que haja pormenores que não estejam ao seu alcance. A assistência dos concertos Rock é incontrolável. Tal como o pessoal que vai e vem nas camionetas, come do farnel, que vai para o parque de campismo e que portanto é muito difícil de controlar.
Mas mesmo que não houvesse estes óbices só o facto de Portugal não ter tido festas, o que deixou muita gente triste e desiludida, deveria, por uma questão solidária, ter pesado na atitude do PCP de forma a levá-lo a prometer uma festa de “arromba”… para o ano que vem.
Não! Este ano não vou.

 

Quem governa Portugal, afinal?

Há sinais preocupantes de que a pandemia ameaça lançar Portugal num verdadeiro pandemónio. 
Sobretudo no que à política diz respeito com a generalidade dos políticos a dar provas de não estar à altura dos acontecimentos, dando crédito ao sentimento popular que aponta nesse sentido. 
O exemplo mais recente é a tragédia do lar de Reguengos de Monsaraz à qual o truculento António Costa respondeu com a grosseria que é seu timbre, procurando redimir-se de mais um trágico fracasso da sua administração. 
Valeu-lhe, desta vez, a inocência do bastonário da Ordem dos Médicos que se prestou a passar de acusador a cúmplice.
No ataque à crise sanitária o Governo continua a não saber às quantas anda e a Oposição dá uma no cravo e outra na ferradura.
No que à gestão da crise económica diz respeito a direita tradicional nada de bom acrescenta, nem de mau tira, à política avulsa do Governo, enquanto as esquerdas peregrinas persistem na agitação social e na demagogia irresponsável.
O BE, mais precisamente, travestido de social-democrata para o baile eleitoral, anda a promover o racismo a preto e branco, que diz combater, esquecendo os ciganos, entre outros, porque estes não estão pelos ajustes.
Emblemática é a teimosia do PCP que persiste em realizar a Festa do Avante contra tudo e contra todos, desafiando ostensivamente o Governo que mete os pés pelas mãos e responde com a costumeira frouxidão. 
Entretanto continuam palpitantes, quiçá para sempre, porque envolvem altos governantes e banqueiros, múltiplos crimes de colarinho branco com contornos de traição à Pátria.
Também não é novidade para ninguém que o primeiro-ministro dá prioridade à gestão dos interesses da alargada família socialista em detrimento do interesse nacional e do governo da Nação.
Enquanto o presidente da república, na opinião de analistas autorizados, continua apostado em bater o record de votos da desgraçada democracia portuguesa, em competição com o defunto Mário Soares.
Governar, porém, é muito mais do que prostituir o poder democrático, arte em que António Costa se celebrizou.
Não é de espantar, por isso, que a massa anónima de descontentes em que prevalece o atávico sentimento nacional esteja a crescer a olhos vistos e a ganhar decisiva força eleitoral.
De tudo isto tira partido a novíssima direita, ainda em formação, para se afirmar e crescer vertiginosamente.
Enquanto os partidos situacionistas e os depredadores do Estado, tentam desesperadamente debelar o fenómeno associando-o a fantasmagóricas emanações fascistas.
Melhor seria que parassem de gritar “aí vem lobo” e tratassem de concertar as reformas fundamentais, enquanto é tempo.
Nunca a democracia esteve tão periclitante e tantas dúvidas houve sobre quem na verdade governa Portugal.
Serão os chineses da EDP? Os agiotas do Novo Banco? É Bruxelas? Serão sociedades secretas? Será o velho e alquebrado Jerónimo de Sousa? A teatral Catarina Martins? O inefável Mamadou Ba? A encantadora Joceline Moreira?
Serão as televisões? Os jornais? Os “entertainers” Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira? 
São os cães? São os gatos?
Eu diria que todos desgovernam à vez e que ninguém governa coisa nenhuma. E que Portugal continua ao deus-dará.
Que está nas mãos dos incendiários políticos e florestais.
Ao sabor do Covid.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
 

Senhora da Assunção

No verão, muito mais do que no inverno, chegam saudades da Terra Quente Transmontana. Este ano, por causa da Covid, são maiores, compreensivelmente, por ter feito muito menos visitas. A receita é clássica e tem já vários anos: aproveito os momentos de lazer para ler os bons autores do nordeste. João de Sá é um dos eleitos. 
A prosa do escritor vilaflorense é de leitura muito agradável e muito poética. A minuciosa descrição da paisagem, dos edifícios e dos vários intervenientes está recheada de metáforas e de várias considerações pessoais emocionadas e de enorme sensibilidade. Não lhe conheço (ainda) a obra toda mas as “Últimas Memórias” é, sem dúvida, das que li, a mais elaborada e envolvente. São variados os quadros vivos que desfilam pela pena do autor remetendo-nos para as suas lembranças de Vila Flor, desde a meninice até há poucos anos atrás, com uma sensibilidade realista, transportando-nos para o passado recente de muita gente da vila da Flor de Lis. Leio-o e sinto, inevitavelmente, nas minhas costas a presença do anterior autarca de Vila Flor, Artur Guilherme Vaz Pimentel, sussurrando-me ao ouvido: “Ó engenheiro, ora leia, ora leia... Isto é tão lindo!”. Foi ele que me deu a conhecer o poeta e narrador João de Sá, com os seus elogiosos e contagiantes comentários. O escritor faz-lhe justa homenagem, nas suas memórias, enaltecendo o genuíno e empenhado labor do saudoso Presidente da Câmara em prol da cultura. Porque esta, como muito bem refere, não se inventa nem se compra; vive-se e partilha-se. A memória de hoje versou a grandiosa romaria da Senhora da Assunção. Lembrei-me, a propósito, do livro “A Romaria do Cabeço” escrito pelo meu tio padre Joaquim da Assunção Leite, igualmente com o patrocínio da autarquia de Vila Flor. Complementam-se. O padre Leite relata-nos a participação na festividade, pelo lado de dentro, pelos olhos dos devotos e romeiros, enquanto João de Sá nos retrata a vila que, na véspera, saía à rua para ver a alegre, festiva e ruidosa chegada dos ranchos de populares, na madrugada seguinte assomava às janelas para lhes observar o cansado regresso e que, no próprio dia, ficava deserta pois todos os moradores, com raríssimas exceções, a 15 de agosto, rumavam ao monte sobranceiro a Vilas-Boas para homenagear a Virgem Maria. 
Por razões que não vale a pena esclarecer, conheço bem esta segunda visão. Durante muitos anos vi, nesse festivo dia, despovoar-se completamente a minha aldeia. A povoação acordava depois, languidamente e cansada, ao som das cornetas de plástico que os mais novos insistentemente tocavam, sem parar. 
Em conversa recente, com
o meu tio, soube da apreensão com que este ano se preparou a festividade. Soube, posteriormente, dos cuidados e das enormes restrições com que, apesar de tudo, se realizou a mais importante romaria transmontana. A Covid veio fazer a súmula dos dois textos, sem poesia, sem qualquer consideração pela fé do povo, sem qualquer pingo de humanidade. 
Sinais dos tempos.