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Comboios

A férula editorial da Directora deste semanário, referente à prometida volta do comboio a Bragança sem os pagadores de promessas há muito tempo ridicularizados ante o despautério de mentirem com todos os dentes que têm na boca incluindo os cariados, daí só galã Américo Coimbra as pagou, bem como o abalizado trabalho do Engenheiro António Jorge Nunes, sobre o mapa ferroviário buliram na minha memória, por durante alguns anos, ter morado a menos de 100 metros da passagem de nível sem guardas da rua da Boavista. As idas e vindas pela linha ferroviária até à Escola da – Estação –, quando necessitava de recompor o pecúlio de caricas bem espalmadas, colocava-as nos carris a fim da locomotiva a carvão as esmagar, além de o comboio ser fidedigno meteorologista invernal no que tange a tempo chuvoso, pois relativamente a nevões a máquina arfou, arfou, até sucumbir nas bandas de Rossas, obrigando os jornais a concederem-lhe chamada nas primeiras páginas para gáudio do Senhor Abel Monteiro correspondente de jornais lisboetas. O comboio assumia sem reservas o papel de «autocarro» escolar entre Bragança e Salsas, daí as estrídulas farras dos estudantes, uma das quais correu mal ao equilibrista Aragão que ficou com a testa abaulada por ter chocado com um poste de ferro da sinalização do Tró-fa-fafe. O Aragão sobreviveu, o Doutor Videira Pires fez votos para o sinistrado ser contemplado com algum juízo. Não sei se foi bafejado com o desejo do orador sacro, a última vez que o vi há largos anos foi no Bairro Alto em louçã companhia. Por nás-e-nefas utilizava amiúde o comboio, as viagens até ao Porto, valiam mais do que o compêndio de Geografia, dizia (e bem) o saudoso Dr. António Lopes Saldanha vivo retrato de pedagogo da Escola Formal para azia dos professores empertigados das públicas virtudes e vícios privados. Falar das virtude e vantagens dos transportes ferroviários é assunto estudado por especialistas de todos os quadrantes, abordar a sua importância no desencravamento do interior, o Engenheiro Jorge Nunes integra o núcleo dos Mestres que sabem, já os decisores políticos entenderam suprimir os comboios no Nordeste e noutras regiões. Nassa altura desempenhava as funções de deputado, o notável parlamentar que foi o Dr. Magalhães Mota confiou-me a tarefa de defender a manutenção dos comboios no reino maravilhoso. Remeti requerimentos à tutela, além de intervenções no plenário bem como outros parlamentares no mesmo sentido. Debalde. Venceram outros interesses. Na altura outro denodado paladino de defesa dos comboios foi o Dr. Guedes de Almeida, no entanto, estava registado nos astros o inexorável apagamento do caminho-de-ferro Nas nossas terras. Tenho a maior das dúvidas que regresse. Porquê? Por múltiplas causas. A primeira e mais importante é não existir dinheiro, nem garantias de retorno aceitável do investimento a fazer, para além da agrura demográfica a diminuir o interesse político, visto todos sabermos que onde não regurgitem votos prevalece o desdém mais ou menos embrulhado em retórica jeremiada como se estivéssemos junto do Muro das lamentações. O senhor Manuelzinho de Lagarelhos, sentado no talhouco nos dias de Estio a matar com o vassouro moscas e vespas dizia: quem não tem pé não pode dar coice. É verdade, o Nordeste tem recebido muitos coices. De quem? Dos Calistos agarrados à gamela do poder! PS. O Senhor Manuelzinho com as suas barbas patriarcais era um oráculo que a minha meninice não lhe concedeu a merecida atenção, mormente no respeitante aos rojos fugidos no decurso da guerra civil espanhola.

Quantos cornos tem um touro?

Há uma expressão que o povo costuma dizer quando a necessidade de resolver um determinado assunto se torna imperativo. Diz o povo que o melhor é agarrar o touro pelos cornos. Assim ele não terá outra iniciativa e será dominado. Tem razão. Eu estou convencido que se não fosse o Covid e os confinamentos este governo já não estava em funções. Teria soçobrado e hoje não enfrentaríamos tantos dissabores e tantas greves como as que se têm verificado. Aliás, até mesmo António Costa se sentiria mais leve pois não passaria pelas demissões de membros do governo, uns atrás dos outros, como as que teve de resolver. Os casos de corrupção, de processos a correr em tribunais e de acusações várias a elementos do governo, levou a demissões e a substituições, algumas piores do que outras. Uma falta de responsabilidade e de honestidade demasiado transparente para quem quer ocupar um cargo governativo responsável. O que este governo tem enfrentado nada mais é do que o fruto da sua desgovernação. A Saúde anda pelas ruas da amargura. Há greves nos hospitais, não há médicos nas urgências, os enfermeiros entram em greve e deixam os doentes sem atendimento, as urgências fecham e as grávidas têm de se deslocar a outros serviços de obstetrícia nos hospitais que ficam a mais de cem quilómetros de distância. Há uma falta generalizada de médicos a nível nacional. Uma autêntica vergonha! Mas se a Saúde anda doente, anda pior a Educação. Governo após governo, nunca houve um Ministério da Educação que resolvesse os problemas que enfermam a Educação em Portugal. As alterações que uns e outros têm introduzido na Educação, seja nos currículos, seja nas carreiras dos professores, só adulteraram o que de bom chegou a existir por breves instantes. A verdade é que se houve um ministro que fez algumas reformas de fundo e conduziu a Educação para caminhos mais acertados, foi Roberto Carneiro. Contudo, alguns se lembrarão que o governo de então liderado por Cavaco Silva, não o deixou fazer mais alterações por questões económicas e ele demitiu-se. Queria fazer muito mais, mas não deixaram! Roberto Carneiro foi Secretário de Estado da Educação do VI Governo Constitucional e Ministro da Educação no XI Governo Constitucional. Todo o seu percurso profissional passou pelo ensino e sabia bem o que a Educação necessitava. Além disso tinha muitos filhos e tinha conhecimento profundo do que eles necessitavam no seu dia-a- -dia numa escola a precisar de reforma. Ele agarrou o touro pelos cornos, mas não o conseguiu dominar totalmente. Falharam os forcados. De então para cá, nenhum ministro conseguiu pegar o touro pelos cornos e dominá-lo. Pelo contrário. Até parece que lhe deu palha para o amansar e o manter sossegado por algum tempo. Só que o touro não está nem nunca esteve adormecido. As greves que se têm verificado ao longo das últimas décadas, são provas disso mesmo. Sempre se criticou a falta de unidade dos professores cada vez que havia greves. Nem todos apoiavam e nem todos queriam fazer greve. Mas porquê? Para não cortar no vencimento, pois quem ganha pouco não quer perder o pouco que ganha. Mas só a união faz a força. Todos sabem disso, mas a alguns faltou a força. De dezembro para cá a greve dos professores instalou-se a nível nacional iniciada por um sindicato pequeno, mas com uma enorme coragem – o S.TO.P.. As centrais sindicais e sindicatos uniram-se a ele e todos irmanados de um mesmo objectivo, conseguiram levantar uma onda enorme de professores que se movimentaram por todo o país e se concentraram na capital com uma mole de mais de cem mil profissionais do ensino. Foi uma vitória presencial, mas que não se traduziu na secretaria. Mas a luta continua. A procura de estabilidade dos professores é um objectivo que não tem preço. Mas ser precário aos cinquenta anos é insustentável. Passar uma vida inteira a ser contratado e ter de andar com a casa às costas por este país, é impensável. Quem aguenta? Ser nómada no século XXI é coisa que não cabe na cabeça de ninguém. Estou convencido que mais do que a contagem do tempo de serviço que os professores reclamam, é importante a sua estabilidade, a sua carreira e a sua dignidade. É a falta destas premissas que leva à falta de professores nas escolas e cada vez menos estudantes universitários a querer ser professores. A carreira não tem interesse. Não há aliciantes. Ora este Ministro da Educação não parece ter abertura e conhecimento suficientes para inverter o caminho que a Educação está a seguir. Ou se dá aos professores o mínimo que exigem para terem dignidade e estabilidade, ou este touro terá cada vez mais cornos e será difícil dominá-lo. Mude-se o forcado urgentemente.