Ter, 05/09/2023 - 14:55
Nas gasolineiras do distrito, este tipo de combustível varia entre 1,20 euros e 1,50 euros. Para o agricultor David Pires, de Gondesende, são valores incomportáveis, que já tiveram repercussão na sua produção. Chegou a ter mais de 20 vacas, mas teve que reduzir o efectivo para metade, porque “a coisa está muito mal”. Além do gado, tem também cereais, para dar de comer ao gado, mas admite que “não compensa”. O preço dos combustíveis a juntar-se aos das rações e das alfaias, deixam o agricultor numa situação delicada. David Pires considera que “o combustível deveria estar entre 70 a 80 cêntimos” para ser rentável ao agricultor. Os apoios do Governo foram “uns trocos” e, por isso, admite que “não é fácil ser agricultor”, os apoios “cada vez são menos”, e “cada vez cortam mais aos subsídios”. Abandonar a actividade é para si “chato”, porque já não consegue arranjar outro emprego e também não consegue abandonar as culturas, visto que “custa não tratar delas”. No entanto, há trabalhos que deixou de fazer. “Acabo por não fazer certos serviços que fazia. Por exemplo fazia certas limpezas que nem tirava resultado nenhum dali, mas fazia para ter aquilo limpo, mas ao preço que está o combustível, tenho que pensar duas vezes em fazer certos serviços”, disse. Começou na agricultura quando tinha 18 anos. Na altura, dava para pagar as contas, hoje o cenário já é outro. “Não sentia que era um grande negócio, mas dava para me ir orientando. Não dava para juntar muito dinheiro, mas dava para pagar as despesas. Quem começar hoje não é fácil”, referiu, salientando que a agricultura “está pior do que esteve noutro tempo”. Para a jovem agricultora, Sílvia Gouveia, estes preços também não fazem sentido. Natural do concelho de Mirandela, iniciou um projecto de produção de amêndoas e recentemente tirou a licença para manobrar tractores/máquinas agrícolas. No entanto, há trabalhos que ainda faz manualmente devido ao preço dos combustíveis. “O preço do combustível para o tractor está muito elevado, os custos que tenho com os trabalhos com o tractor muitas vezes não compensam. Todos os trabalhos que ainda conseguir fazer manualmente vou tentar fazer, mas há certas coisas que têm de ser mesmo com o tractor”, disse, admitindo que vai ter que “cortar noutros gastos” para conseguir suportar os custos “muito elevados” do gasóleo. Já Inácio Figueiredo, também o concelho de Mirandela, produz azeite e vinho. Admite que com o aumento dos valores do gasóleo agrícola está a tornar-se “muito difícil” a actividade. “Além dos problemas que não conseguimos controlar, como a seca e todas as outras coisas que nós sabemos, sem apoios do Governo é impossível. Uma pessoa que viva só da agricultura é cada vez mais difícil”, admitiu. O agricultor defende um maior controlo do Governo no que toca ao preço dos combustíveis. “Vemos as margens de lucro das grandes empresas a aumentar constantemente, enquanto nós que fazemos disto vida está cada vez pior. Devia haver mais controlo e ajudas por parte do nosso Governo”, vincou.
CNA pede medidas ao Governo
A Confederação Nacional da Agricultura quer que o Ministério da Agricultura e o Governo tome medidas para controlar a escala dos preços dos combustíveis, desde 2021, quando o gasóleo agrícola rondava os 84 cêntimos por litro. Segundo o dirigente da CNA, Vítor Rodrigues, só nos últimos três meses o gasóleo agrícola aumentou 30 cêntimos. “O nível de preços que temos actualmente e que tivemos durante o ano de 2022 é absolutamente incomportável, ainda por cima no contexto de agravamento das condições de produção por causa da seca”, afirmou. Embora o Governo tenha criado um apoio extraordinário para os agricultores referente aos custos de energia, a Confederação Nacional da Agricultura considera que não é suficiente. “Os apoios que o Governo dá não só são escassos, como não evitam a escalada dos preços e esta é que é a questão que está colocada, não só para os agricultores, mas para os consumidores em geral. O funcionamento do mercado dos combustíveis a nível internacional, da maneira como é fixado o preço, está completamente à mercê da especulação dos produtores e dos intermediários, com critérios, alguns deles que não fazem qualquer sentido”, sublinhou. Por isso, pede que o Governo faça uma regulação do mercado dos combustíveis, uma vez que os preços já estão a ter um forte impacto na agricultura. “Estas subidas de preços são exemplo daquelas que aconteceram em 2022 e vêm implicar mais constrangimentos, do ponto de vista económico, aos agricultores e claro ter consequências na rentabilidade da sua actividade num contexto em que esse problema já se vinha agravando por causa da seca, da falta de alimento para o gado e, portanto, é um problema que se volta a colocar mas com mais agudeza ainda”, adiantou. A guerra da Ucrânia, que começou no início de 2021, estará na origem da escalada do preço dos combustíveis. O gasóleo agrícola chegou a custar 1,60 euros por litro. Actualmente está uns cêntimos mais barato. No entanto, os agricultores não compreendem que continue a um preço tão alto e falam de “aproveitamento”.