Rendas sobem quase 7% a partir do próximo ano sem travão do Governo

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Ter, 05/09/2023 - 12:28


O Instituto Nacional de Estatística divulgou na última quinta-feira a estimativa rápida da inflação que serve de base para o cálculo do coeficiente de actualização anual das rendas

O número fixou-se nos 6,94%, perto dos 7% que já tinham sido antecipados pelos proprietários, pelo que as rendas no próximo ano podem ter aumentos mensais de várias dezenas de euros: uma renda actual de 500 euros pode agravar-se 34,7 euros mensais, já uma renda de 1000 euros pode subir 69,4 euros/mês. Raquel Rodrigues, reside no distrito de Aveiro, mas é proprietária de um apartamento em Mirandela que actualmente aluga a jovens estudantes do Ensino Superior. Apesar de os aumentos parecerem apelativos para os senhorios, a proprietária relembra que “ao haver aumentos há também mais taxas para quem arrenda”. “Custa-me bastante estar a pedir mais dinheiro ou aumentar o valor da renda porque tenho em consideração que não é fácil para quem estuda fora de casa a suportar todos os custos. No entanto, face a tudo aquilo que nos é exigido enquanto senhorios e a todos os descontos que temos de fazer, se calhar acaba por ser benéfico para nós enquanto senhorios este aumento. Mas não nos podemos esquecer que os encargos perante essa subida vão aumentar também”, disse a proprietária. No entanto, Raquel Rodrigues considera “insensato” voltar a fixar administrativamente as rendas, sendo que “os efeitos na confiança serão nefastos” para com os inquilinos. Para a maior parte dos inquilinos portugueses (cerca de 60%), e sem uma intervenção do Governo, isto significa que poderão enfrentar aumentos mensais entre 16 e 52 euros no valor das rendas a partir de 1 de Janeiro do próximo ano, de acordo com os cálculos com base nos dados do Censos 2021. Para muitas famílias, um aumento entre 16 e 52 euros nas rendas pode significar abdicarem de determinadas coisas, que muitas vezes são sinónimo de “qualidade de vida”, perante salários que não crescem em conjunto com o aumento do custo de vida. É o caso de Sónia Alves, que optou por viver recentemente com o companheiro. No entanto, “não tem sido fácil gerir o aumento das rendas constante”. A jovem confessa que “não há perspectivas de um futuro risonho” quando arrendar ou comprar casa fica de fora dos planos dos jovens casais. “Um aumento de 7% nas rendas pode significar nós deixarmos de ter capacidade financeira para fazermos outras coisas e pagar outras contas que também são necessárias. Os salários continuam muito baixos relativamente aos preços actuais da habitação”, rematou. Na opinião de Joana Gonçalves, proprietária de uma imobiliária em Mirandela, considera que o facto de os senhorios terem estado inibidos de aumentar as rendas durante dois anos, devido à pandemia por Covid-19, criou nos proprietários “muita vontade de aumentar os valores”. No entanto, a agente imobiliária concorda que “um aumento de 7% é muito exagerado” para as carteiras dos portugueses e, em concreto, para a cidade de Mirandela. “Até agora falava-se num aumento de 3% nas rendas e nós já achávamos os valores bastante exagerados. Os senhorios que trabalham connosco comentavam que queriam aumentar as rendas e nós relembrávamos que este ano efectivamente os valores iam aumentar, mas nunca na casa dos 7%”, apontou Joana Gonçalves. Só o Governo pode agir para impedir estes aumentos caso opte por voltar a implementar uma norma- -travão: este ano, o diploma do Executivo obrigou a limitar as actualizações das rendas para um máximo de 2% (em vez dos 5,43% determinados pela inflação), com os senhorios a serem compensados pela diferença através da via fiscal. O INE só revela a 12 de Setembro o número final do coeficiente para actualização das rendas, que é calculado com base na variação do índice de preços ao consumidor sem habitação, correspondente aos últimos 12 meses, tendo por referência os valores até 31 de Agosto.

Jornalista: 
Daniela Parente