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Dia para a erradicação da pobreza sem “preconceitos” no Arquivo Distrital

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Ter, 18/10/2016 - 11:02


Esta foi apenas uma das abordagens no âmbito da jornada sobre o tema “Fronteiras de Preconceito” promovido pelo Arquivo Distrital. Uma forma de assinalar o dia internacional para a erradicação da pobreza.

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - José Rodrigues Peinado (c. 1696 – 1761?)

Em 1663, Bragança foi agitada por um vendaval desencadeado pela inquisição de Coimbra. Um dos prisioneiros foi João Gonçalves, o Marrana, de alcunha. De seguida foi presa sua mulher, Isabel Rodrigues. (1)
Entre os prisioneiros seguiu também o casal constituído por Lourenço Rodrigues e Catarina Pereira, filha de António Rodrigues Raba. (2)
Duas décadas depois, o rolo compressor da inquisição voltou a rolar pelas casas dos marranos de Bragança, sendo preso um filho do João Marrana e da Isabel, chamado António Rodrigues, Peinado de alcunha. E também a mulher deste, chamada também Isabel Rodrigues, filha de Lourenço Rodrigues e Catarina Raba. (3)
Ao tempo (1685), António e Isabel teriam duas filhas pequeninas. Depois de sair da prisão acrescentariam a prole, contando-se uma dúzia de filhos que chegaram à idade adulta. Fixemos apenas o nome dos 3 filhos machos: Lourenço, José e João António Peinado, nascidos por esta ordem entre 1689 e 1701.
Lourenço permaneceu solteiro e viveu mais afastado da família. José Rodrigues e João António, esses permaneceram ligados, tanto nos negócios como nas relações familiares. Casaram com duas irmãs, chamadas Francisca Josefa e Ana Maria Pereira, ambas nascidas em Chaves, filhas de Manuel Fernandes, originário da aldeia de Vilarinho dos Galegos, concelho de Mogadouro e sua mulher Maria Pereira, ambos com historial na inquisição.
Falecido o pai, José Rodrigues Peinado assumiu o papel de “chefe da família”. E tomando a responsabilidade de casar a sua irmã Josefa Brites, escolheu para noivo o seu cunhado Domingos Pereira da Costa, homem de grossos cabedais, contratador de tabaco e que ofereceu dote abonado. Aqui surgiu um grande problema. É que, depois do casamento, veio a saber-se que ele era impotente e “não coabitava com sua mulher, em razão de ter impedimento para isso”. Sentindo-se enganados, os dois irmãos levaram o cunhado para o campo e lá discutiram e resolveram a questão “ocultamente sem que outra alguma pessoa os presenciasse”. Nem sequer à irmã “enganada” e às suas próprias mulheres contaram, explicando a natural mudança de comportamento entre eles, com uma falha no pagamento do dote prometido. E para defender a família “e por não dar que falar ao mundo, se ficaram tratando e comunicando”.
José Rodrigues Peinado não era um qualquer mercador mas um prestigiado homem de negócio que “teve por muitos anos a administração do tabaco de Bragança e toda a província de Trás-os-Montes”. O sucesso empresarial também origina inimizades e do seu contrato resultaram “demandas e contendas” nos tribunais, muito especialmente com seus parentes Manuel e António Rodrigues Gabriel. E para se livrar de seus inimigos, decidiu abandonar Bragança, levando consigo os familiares que compunham a sua alargada “casa”. Depois de uma curta estadia em Lisboa, negociando sedas, foram fixar residência em Tavira onde, então já associados ao cunhado Domingos, arremataram o negócio do tabaco naquela comarca do Algarve.
Ou por sentirem ameaça da inquisição ou porque os negócios não correspondiam às expectativas, José Peinado tratou de dar um novo rumo à sua vida e à do “clã” que dirigia. Uma das medidas foi a criação de um depósito “bancário” em Londres, para onde, só de uma vez, mandaram uns 27 000 cruzados (mais de 10 contos de réis!), dinheiro que pertencia aos 3 irmãos e anualmente cada um recebia os respetivos juros. Sabemos também que o “chefe” do “clã” passava um mês no Algarve e outro em França, terra onde vivia já o irmão Lourenço Rodrigues Peinado, acima referido e que em 1716 passara pelas masmorras da inquisição de Coimbra. (4)
No verão de 1746, José Rodrigues Peinado veio de Tavira para Lisboa a tratar da passagem de toda a “família” para França. E tendo tudo acertado, mandou vir todos, com “casa movida” e que fossem ter a Alhos Vedros onde ele os esperava. Chegaram e logo os meteu em um barco alugado em Cacilhas. Chegados ao Coval, na margem da vila de Almada, mudariam para uma “muleta de pesca” que os levaria fora da barra onde estava um barco holandês que os transportaria para França, tudo acordado com o cônsul de Holanda em Lisboa.
Corria o plano de feição quando o barco chegou ao Coval e ali foram recebidos por uma força policial às ordens da inquisição e conduzidos para os Estaus, ao amanhecer do dia 4 de setembro de 1746. A informação chegara aos inquisidores por um dos barqueiros. Os fugitivos eram os 3 homens, as respetivas consortes, 3 outras mulheres da família e 3 meninos.
A bagagem era constituída por “13 baús e caixas encoiradas e 3 canastras também encoiradas, tudo coberto de pano; 7 fardos de camas e mais alguns embrulhos”. Para além disso, debaixo da roupa, as 3 mulheres traziam cada uma sua cinta onde foram metidas umas 235 moedas de 4 800 réis cada.
Não vamos analisar os processos instaurados a cada um dos 9 fugitivos. (5) Diremos tão só que José Peinado e seu irmão conseguiram provar que não iam fugir por causa da inquisição e por serem judeus, mas que fugiam por causa dos seus inimigos, apontando em concreto o já citado António Rodrigues Gabriel e o padre Francisco Mendes Gabriel (6) filho do também citado Manuel Rodrigues Gabriel. É que, não obstante ter ganho a demanda em Bragança perante o corregedor da comarca, os seus opositores apresentaram recurso para o tribunal da Corte. E como o padre Gabriel, que entretanto se mudara para Lisboa, poderia mover estranhas influências ou conseguir falsos testemunhos… ele e seu irmão acordaram que o melhor era partir para França onde viveriam em paz, livres daquela e de outras demandas e processos. Em prova de seus argumentos, apresentou uma carta escrita por António José Gabriel para o seu cunhado Domingos Pereira da Costa, queixando-se que José e João Peinado o levaram à falência e à ruína. Vinha por isso pedir ajuda para se livrar dos credores e das fianças. Caso contrário… ameaçava vingar-se… E agora, vejam como José Rodrigues afirmava a sua liderança:
- Só sabia da partida seu irmão João António e como ele era o mais velho, as outras pessoas que o acompanhavam haviam de fazer o que ele determinasse. (…) A razão que teve para ocultar a fugida a seu cunhado foi porque vivia desgostoso por ele o enganar casando com sua irmã tendo impedimento para consumar o matrimónio.
Facto é que José e João conseguiram livrar-se da enrascada sem que a inquisição lhe confiscasse quaisquer bens. E a fuga para França acabou por consumar-se.
Um dos 3 meninos acima referidos chamava-se António Gabriel, tinha 5 anos e era filho de José Peinado. Em 1758, sendo estudante em Coimbra, foi preso pela inquisição. (7) Teriam os pais abalado para França antes dessa data? Não podemos responder, pois não pudemos aceder ao processo. De qualquer modo pensamos que José passou a Bordéus e ali tomou o nome de Abraham Rodrigues Peinado, vindo a falecer naquela cidade em 30.3.1761.
João António Peinado viveu em Londres antes de ir para Bordéus onde adotou o nome hebreu de Jacob Rodrigues Peinado, falecendo em 18.7.1773. (8) Eram seus filhos, os outros dois meninos referidos atrás. Um deles tomaria o nome de Aron Peynado e ganhou bastante prestígio no seio da “nação” portuguesa de Bordéus onde, em 1783, foi eleito para o cargo de “administrador externo do Talmud Thora”, competindo-lhe a responsabilidade pelo funcionamento da escola da comunidade, no que respeita a finanças e a escolha do professor. (9)
NOTAS e BIBLIOGRAFIA:
1-ANTT, inq. Coimbra, pº 7616, João Gonçalves Marrana; pº 5515, Isabel Rodrigues.
2-IDEM, pº 416, Lourenço Rodrigues; pº 8173, Catarina Pereira.
3-IDEM, pº 4953, António Rodrigues Peinado; pº 9110 Isabel Rodrigues.
4-IDEM, pº 8495, Lourenço Rodrigues Peinado.
5-Inq. Lisboa, pº 7402, José Rodrigues Peinado; pº 8380, João António Peinado; pº 8755, Domingos Pereira da Costa; pº 8328, Francisca Josefa; pº 11605, Ana Maria; pº 7404, Josefa Brites; pº 11608, Leonor Maria; pº  5468, Isabel Maria; pº 7371, Luzia Pereira.
6-inq. Lisboa 2804, Padre Francisco Mendes Gabriel.
7-Inq. Coimbra, pº 6366, António José Peinado.
8-CAVIGNAC, Jean - Dictionnaire du Judaïsme Bordelais aux XVIII et XIX Siècles, pp. 102 e 183.
9-SCHWARZFUCHS, Simon – Le Registre des Délibérations de la Nation Juive Portugaise de Bordeaux (1711 – 1787), p. 538.

Por António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães

ESCREVER À ESQUERDA

De tal forma a escrita se vulgarizou que, se fosse realizado um inquérito sobre o que é “escrever”, poucos iriam além da primeira entrada que o conceito apresenta num qualquer dicionário. Se “produzir” ou “criar” são apresentados como sinónimos do verbo, também “vacilar” ou “ziguezaguear” se inscrevem mais abaixo não deixando, por isso, de ser menos interessante tais significados.
A este propósito, a revista Sábado da segunda semana de outubro destaca um artigo de Filomena Mónica e António Araújo onde refletem acerca do que une e separa as duas grandes ideologias políticas (esquerda e direita) no Portugal contemporâneo. O texto, a merecer uma leitura atenta, refere que, se por um lado, as ideologias se confrontam, por outro, aproximaram-se em consequência da crise económica e das ameaças que pairam sobre o mundo. Ao mesmo tempo, não deixa de ser interessante que o artigo faça eco das críticas trocadas: a esquerda lamenta-se da hegemonia que a “gémea separada à nascença” tem no mundo dos negócios e a direita a aponta o dedo afirmando que a esquerda domina a imprensa, a cultura e as artes, sendo o maior agravo o de estar presente em tudo o que seja comentário e opinião. Dado o contexto atual, assistiu-se, segundo o artigo, ao esvair dos pilares destes dois campos, tendo a esquerda de admitir e apoiar medidas de segurança e vigilância até aqui impensáveis, e a direita a reconhecer que a confiança liberal na autorregulação dos mercados, com as falhas grosseiras da supervisão, conduziu ao descalabro financeiro de que ainda não se conseguiu sair. Como consequência, os movimentos partidários mais moderados perderam fulgor, e os mais radicais deixaram de se apresentar como alternativa e de confronto com o sistema, decidindo integrá-lo e influenciá-lo diretamente, estando, se não dentro, pelo menos, próximos do poder.     
Sendo eu povo, e partilhando do ponto de vista dos citados autores, não ficaria com as expectativas goradas se a Esquerda que agora nos governa revisitasse os seus valores e resolvesse, pelo menos, três das situações sociais e profissionais que se estão a tornar insuportáveis.
A primeira tem a ver com a educação. Sempre acreditei que o sistema educativo público, ganha quando a governação é socialista. Já tivemos a experiência frustrada com alguém que, encarregue da pasta, apenas teve o mérito de unir os professores em manifestações como nunca antes vistas. Nesta legislatura, o que vai sendo anunciado nem a remendos chega. São medidas avulsas, com um reduzido impacto nas escolas e esquecendo os agentes principais: os professores e os alunos. O fazer “a vista grossa” ao facto de um professor atender por dia cerca de trezentos alunos (tendo as turmas uma média de trinta alunos), mais a carga burocrática, está a levar uns e outros à exaustão, sem falar no envelhecimento dos primeiros e do que tal acarreta. A falta de operacionais em quase todos os estabelecimentos, em breve, dará lugar a um caos com consequências imprevisíveis. Para não falar dos currículos e da carga horária dos alunos.
A segunda decorre da reportagem TVI de oito e nove deste mês sobre o modo como a Inglaterra retira as crianças aos emigrantes portugueses, colocando-os num sistema de adoção marcadamente capitalista onde o que impera é a libra. Sempre vimos na Inglaterra um aliado, mas, desde sempre, este país se serviu em função dos seus interesses. Não ficou bem ao Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas dizer o que disse sobre o que Portugal pode (neste caso não pode fazer) para que crianças portuguesas, retiradas à força por uma tutela estrangeira, possam voltar aos braços dos seus pais também eles portugueses.
Em terceiro lugar, o sector do táxi. Quem conhece os taxistas transmontanos, de facto, não se revê na classe lisboeta, nem na sua verborreia, nem tão pouco no cheiro a tabaco e no pouco asseio que têm nas viaturas. Ninguém contesta que é necessário modernizar o sector e dar-lhe realmente formação, mas daí a desregular o mercado permitindo a concorrência de outros com o argumento de que “com os motoristas da Uber se pode ter uma conversa de jeito e andam limpinhos” vai uma distância considerável mesmo quando se trata do pagamento de impostos. 
Retomo, por isso, o pensamento de José Ferreira Pinto Basto, o visionário que construiu uma nação dentro de outra nação: “O capitalista inteligente é aquele que dá as melhores condições aos seus funcionários”.

ÍTACA

Vladimir Maiakowski, jovem poeta da Revolução Russa, um dia lançou um grito reivindicativo assim: “Eu quero o meu futuro, já!” ( repare-se na analogia entre esta reivindicação e o imperativo revolucionário, lançado quase 50 anos depois, dos soixane-huitard de Cohn Bendit : “ Sê realista! Pede o impossível!”) Apesar disso também fez, um pouco paradoxalmente, um elogio à velhice, nestes termos pedagógicos: “se à noite chorares por Sol, não verás as estrelas”. Maiakowski quis transmitir não só confiança numa coisa da qual todos desconfiamos mas também dizer que a velhice não é mais que outro capítulo da vida e não o seu “dark side”, e que, em cada tempo, devemos olhar para o que de bom nos é mostrado e nunca ignorar os seus encantos.
Não tendo eu uma visão tão idílica da terceira idade penso, além disso, que Maiakowski foi atraiçoado pelas suas próprias palavras. Na figuração que ele próprio elaborou, a velhice é a noite. “Um naufrágio!” teria vociferado em tempos “de Gaule” num lamento impotente.
É por isso que já não torno para Ítaca. Já estou velho para Ulisses. Além disso, um ano à deriva, porque o corpo e a alma transferiram entre si os seus males- Galeno dixit, tiraram sentido a qualquer retorno. Não que não haja lá Telémacos mas Penélope há muito que acabou a camisola e até já a entregou. Decidi, então, seguir o conselho do poeta Bandeira e “ Vou-me embora para a Pasárgada / que lá sou amigo do Rei / durmo com a mulher que quero / na cama que escolherei”. Vou-me embora para a Pasárgada.

Por Manuel Vaz Pires

EXOPOTÂMIA (Manifesto por um vale discriminado)

O Sabor não é fronteira
Nem o vale da Vilariça se alcança
Da Senhora da Teixeira.
Para que haja boa lembrança
Apresento-o, na Junqueira!
Nasce em Bornes, alfandeguense
Mas a Moncorvo pertence
Dos Nozelos à Junqueira
Na margem esquerda da ribeira.
Estende-se, airoso, galhardo, singelo
Até ao Monte Meão.
Da Adeganha recebe benção
E, beijando a mão
Da Senhora do Castelo,
Expande-se nos Barrais.
A melhor vista é dos Estevais!
Mira’Douro em S. Gregório
E tudo mais em seu redor
Mas é a Póvoa
Que se espelha no Sabor.
Se a noite bater à porta
Acende luzes na Horta,
E a primavera vai chegar
Quando nas encostas da Vide
A amendoeira desabrochar.
Guarda lendas no Castedo
Da gente da Nação
Do seu duro degredo
E da fuga de Castela, ao rei cristão,
Em demanda do novo Vale do Jordão.
Nasce-lhe o sol na Cardanha
Olhando as  Cabanas de Cima
Com uma beleza tamanha
Que o aquece e ilumina.
Mas quando o dia esmorece
Aquieta-se, repousa,
Descansa e adormece
Aconchegado pela Lousa!

Feito na Junqueira a 21 de agosto em protesto por terem sido excluídas de uma reportagem da revista Passear, promovida pela Câmara de Moncorvo, grande parte do vale da Vilariça e as suas aldeia ribeirinhas, Junqueira, Nozelos, Adeganha, Estevais, Póvoa, Horta, Vide, Castedo, Cardanha, Cabanas de Cima e Lousa.

Um Papa civil

São muito raras as personalidades do sistema político português que, como António Guterres, se impõem pela sua humanidade, honradez, espírito de missão e abertura ao diálogo. Qualidades que lhe que advêm, em última análise, da sua marcante matriz cristã.
A sua escolha para secretário-geral da Organização das Nações Unidas, a maior e mais representativa associação humana, é, portanto, um acontecimento excepcional na democracia portuguesa, também porque mereceu o empenhamento nacional unânime.
Acima de tudo, António Guterres, como o próprio reconhece e realça, é um campeão do diálogo. Muito embora o espírito dialogante que sempre o animou não tenha produzido os melhores resultados na governação de Portugal que protagonizou porque na política portuguesa impera a bestialidade e o facciosismo.
Contrariamente, os grandes problemas que a Humanidade enfrenta só poderão ser resolvidos pela cooperação e pelo diálogo e, tudo leva a crer, António Guterres comportar-se-á como um verdadeiro Papa civil a quem se augura, desde já, os maiores sucessos.
António Guterres passa assim a ser o português mais universal dos tempos modernos. Antes dele apenas José Mourinho e Cristiano Ronaldo no futebol e Durão Barroso na política haviam ousado alcançar reconhecimento planetário. António Guterres, porém, vai desempenhar funções da maior amplitude, responsabilidade e influência na vida das nações.
Mas uma questão se levanta no espírito dos portugueses: que ganha Portugal com escolha de António Guterres para tão alto cargo?
Em termos prácticos nada, certamente. A economia portuguesa vai continuar a marcar passo, a dívida pública a aumentar, os indicadores sociais a degradarem-se e a democracia envergonhada enquanto não houver uma consequente reforma do regime político despesista e corrupto que nos asfixia.
O acréscimo de prestígio carreado por Durão Barroso e pelos futebolistas Ronaldo e Mourinho também não teve impactos significativos na vida nacional, por mais que Portugal tenha passado a ser falado pelo mundo fora.
Porém, com António Guterres secretário-geral da ONU, ainda que Portugal não seja obviamente favorecido nas instâncias internacionais, passará a ser olhado com mais respeito. Sobretudo pelos burocratas de Bruxelas e pela sua tutelar chanceler Merkel, que tiveram o topete de designar, in extremis, uma funcionária sua para tentar derrotar a candidatura portuguesa, talvez por lhes doer não terem assento permanente no Conselho de Segurança.
Enfim. Mais uma vez se prova que a História de Portugal não terminou com a queda do Império.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Memórias do comboio - de Bragança do Pará a Bragança transmontana

Como é sabido Bragança está geminada com Bragança do Pará, com a qual mantem laços de amizade e cooperação, dando particular ênfase à atividade cultural. Bragança do Pará localiza-se nas margens do rio Caeté, a nordeste, sendo um município do Estado do Pará, cuja capital é Belém do Pará. No âmbito desta geminação teve lugar de 6 a 13 de Outubro, em Belém do Pará, o “IV encontro Literário da Lusofonia” que se realiza, alternadamente, em Bragança transmontana e em Belém do Pará. Este ano deslocou-se ao Brasil o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias e a sua comitiva que integrava, entre outras, personalidades do mundo das letras e da cultura para participarem no importante encontro literário organizado pela centenária Academia Paraense de Letras a que preside o carismático homem da cultura paraense Alcyr  Meira.
E Belém do Pará é uma cidade populosa, com as suas grandezas e misérias, com as sua festa do “Círio” onde se organizam procissões em honra de Nossa Senhora da Nazaré, com cinco quilómetro de comprimento, com mais de dois milhões de participantes e milhares de barcos engalanados navegando na imensidão do rio amazonas. A comitiva de Bragança participou neste evento e ouviu o sentir das gentes de Bragança do Pará, um sentir semelhante à nossa Bragança, embora a grandeza do atlântico separe, ou talvez una, as duas cidades.
Um dos lamentos dos habitantes de Bragança do Pará é a perda do comboio que fazia a ligação, por “estrada de ferro”, desta cidade, a Belém do Pará, num percurso de 204 Km. O comboio iniciou as suas viagens em 1908 e terminaram em 1965, para descontentamento dos Bragantinos. O “trem de ferro” ainda hoje é uma referência constante ao nível do imaginário, das memórias e da saudade. Atualmente, a ligação entre Bragança do Pará e Belém faz-se por uma estrada com precárias condições. Por isso, os Bragantinos não se calam e reclamam permanentemente o seu comboio, de grande importância nos transportes e na economia duma cidade com cem mil habitantes. Toda a gente fala no comboio, como se tivesse sido ontem que o “trem” se silenciou pelas terras da Amazónia. Os escritores contribuem para manterem viva a memória da “estrada de ferro” e publicam livros onde o tema central é o comboio, como é o caso do romance “Maria-Fumaça” do escritor Amaury Braga Dantas.
Também nós tivemos um comboio que rasgou as margens do rio Tua e chegou a Bragança pela força e tenacidade de Abílio Beça. Quantas dores de cabeça, quantas idas a Lisboa, a quantas portas, o Dr. Abílio Beça bateu para que finalmente o comboio, pintado de verde, na força monumental da máquina a vapor, chegasse triunfante a Bragança no ano de 1906.
Em 1991 é encerrado o troço ferroviário entre Mirandela e Bragança e definitivamente Bragança perdia um importante e secular serviço prestado pela CP. E esta perda não deve ser entendida como um sentir nostalgia do passado, como um sentir romântico de ouvir o apitar prolongado do comboio à chegada e à partida. Esta perda do comboio deve ser entendida como uma delapidação do nosso património, como um ato de ostracismo para com a região, com um elevado prejuízo para a economia regional e para o bem-estar das pessoas.
E embora pareça utópico sonhar com o regresso do comboio a Bragança, não é, pois uma nova linha do caminho-de-ferro com ligação aos comboios de alta velocidade com paragem na Puebla da Sanábria seria de extrema importância para a região, abrindo uma porta rápida para a Europa.
Por isso, para que os vindouros não nos acusem de silenciar o passado, de desleixo na luta pelos interesses da região é que, em meu entender, devemos ter sempre presente, no nosso quotidiano, esta revindicação maior em prol da reativação duma linha do caminho-de-ferro na nossa região, com destino a Bragança e ligação à Puebla.
E porque “sempre que um homem sonha o mundo pula e avança” no dizer do nosso Gedeão, vale a pena continuar a sonhar com o comboio que um dia romperá o silêncio da História e entrará triunfante da estação de Bragança rumo à Espanha e à Europa.

Estruturas abandonadas na Serra de Montesinho poderão ser recuperadas…..

Depois de ler com atenção o artigo acerca das estruturas abandonadas na Serra de Montesinho, apetece-me partilhar com os leitores do Jornal Nordeste a minha opinião acerca do assunto.
Muitos de vós perguntarão: que interessa a opinião dela? Em primeiro lugar enquanto cidadã tenho o direito de me importar e opinar. Em segundo lugar, ocupando de certa forma lugares de alguma responsabilidade e tendo sido candidata por Bragança nas últimas eleições legislativas mais obrigação tenho de partilhar com todos a minha opinião, que obviamente vale o que vale.
Há muitos anos atrás, era eu uma jovem, passei bons momentos em família e em grupo com amigos na Casa da Lama Grande.
Alugávamos a casa para fins-de-semana, para semanas, para um dia só, enfim, para a disponibilidade temporal e financeira da altura. E lá íamos. Tratávamos com carinho uma casa que entendíamos de todos nós e quando terminava a estadia, ficava tudo limpo e arrumado para futuras utilizações. Ora como eu, certamente várias pessoas usufruíram dessa estrutura e de outras e têm certamente o mesmo sentimento.
Também me lembro da altura (alguns anos mais tarde), em que as casas do parque estavam todas com ocupação 100%. Digo isto porque, experiencia própria, tentei por várias vezes alugar e não consegui. Ora, concluímos que financeiramente seriam estruturas rentáveis, a menos que, essa ocupação fosse “fictícia” ou sem contrapartida financeira (digamos para os “amigos”).
Houve em Montesinho, um investimento em estruturas de apoio, ou seja, construção de cozinhas junto à casa da Lama Grande, para que a população pudesse usufruir de bons momentos em piqueniques num espaço agradável, com uma beleza que só quem lá está pode descrever. Tudo perfeito, contextualizado, em pedra e madeira, com lareira, mesas e bancos, casa de banho….. Tudo para que todos pudessem usufruir, quer de Verão quer de Inverno.
E hoje, verificamos o estado lastimável em que essas estruturas (quer as cozinhas quer a casa) se encontram.
Já há alguns tempos que não ia à casa da lama grande e no passado mês de Junho, em visita ao Parque com uns professores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa resolvi ir mostrar aquela que considerava a pérola de Montesinho, a cereja no topo do bolo, a Casa e a envolvente. Confesso que as lágrimas assomaram os meus olhos, quando entrei e verifiquei o estado das coisas. Nem queria acreditar. Aliás se me contassem achava que estavam certamente a exagerar. Logo deparo-me com várias perguntas:
De quem é a culpa?
Neste País a culpa por norma morre solteira. Mas aquilo é um crime. É um crime público. Investiu-se dinheiro de “todos” naquela estrutura como noutras e para quê? Para ter aquele triste fim…….

Será melhor ter as casas cedidas a exploração a particulares, já que o estado não sabe ou não quer gerir, ou deixa-las chegar a este estado de degradação?

Será melhor ter um parque natural em que nada é permitido fazer, em que as populações e o parque não se entendem, ou ter um parque onde, como nos outros parques naturais, convive o natural com as pessoas e o investimento?

Será que é tão difícil perceber que quando não há utilização das estruturas ou não há presença humana nos locais, só o vandalismo acaba por triunfar?

Será que não é possível conciliar o investimento, ou seja, a utilização dos equipamentos/recursos e a protecção do parque?
Agora falamos outra vez de recuperar, ou seja, gastar novamente dinheiro de “todos” para compor aquilo que “alguém” deixou chegar àquele estado lamentável. Passamos a vida nisto. Na agricultura houve dinheiro para arrancar o que estava plantado. Depois houve dinheiro para replantar novamente a mesma coisa….. Aqui é quase o mesmo. Diria mesmo, que alguém parece estar a lucrar com esta situação. Primeiro faz-se, depois desfaz-se aquilo que se fez (neste caso por vandalismo) e agora pensamos novamente em fazer…..
Não haverá uma estratégia de longo prazo?
Diz-se por ai que a solução para Bragança passa pelo turismo. Para mim uma das soluções para Bragança passa pelo turismo sim, mas por um turismo estruturado, definido a médio e longo prazo, articulado com as entidades, instituições e empresários que possam ter um papel no desenvolvimento de soluções sustentáveis.
É urgente e necessário que comecemos a pensar no colectivo e não cada um no seu umbigo. É necessário que nos unamos para sermos mais fortes. É necessário que tenhamos a capacidade de ouvir as populações e não termos a pretensão de achar que sabemos o que é melhor para elas.
É necessário que todos, e todos somos poucos, caminhemos na mesma direcção.

Por Anabela Anjos

Hepatites Víricas: Um Problema de Saúde Mundial

O que é Hepatite?
A expressão Hepatite é utilizada para definir uma inflamação do fígado, que pode ter várias causas, incluindo infeção por vírus ou bactérias, consumo de produtos tóxicos (álcool ou medicamentos), doenças auto-imunes (que resultam de uma perturbação do sistema imunitário em que o organismo desenvolve auto-anticorpos que atacam as células do fígado), doenças genéticas, entre outras. 

Coleccionador e restaurador

Ter, 18/10/2016 - 10:37


Olá familiazinha, estamos a poucos dias de mais um Magustão da Família do Tio João que, pelo quarto ano consecutivo, se vai realizar na Rural Castanea, em Vinhais, no maior assador de castanhas do mundo, no dia 23 de Outubro, domingo, onde iremos comemorar também os 30 anos da Rádio Brigantia e os 27 da Família do Tio João. Estão todos convidados. Conto com todos vós!
Agora já entrados no Outuno a sério, depois de quase todas as vindimas terem sido feitas, o vinho já ferve nos lagares e há quem ainda faça águardente no potes de cobre, tema para um futuro assunto nesta página.