PUB.

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - André Lopes da Silva (c. 1665 – depois de 1728)

Desde 1545 que os seus ascendentes, ao longo de quatro gerações, foram enredados nas malhas da inquisição. O mesmo aconteceu a seus pais, Diogo Garcia e Catarina Lopes, moradores em Lamego, de onde se mudaram para Murça de Panoias. Ali nasceu André Silva, por 1665. Casou com Isabel Lopes, que faleceu sem descendência. Foi depois casar a Bragança com Brites Henriques, que lhe deu 4 filhos e 3 filhas.
Em Bragança tinha um complexo de casas que comprou, confinantes com a botica do Colégio. Nelas hospedava as personagens importantes, como o conde de Alvor que, em funções militares, ali ficava, por dias e semanas.
A sua residência habitual era na quinta de Palhares, sita nos arredores da cidade, junto à estrada de Miranda, que anualmente produzia umas 14 pipas de vinho e mil e tantos alqueires de cereal. No trato da quinta se empregava a família do caseiro e mais uma dezena de operários, lavrando-a com duas juntas de bois e nela apascentando um rebanho de 200 cabeças. Criavam meia dúzia de porcos e um “jumento de lançamento” foi avaliado em 20 mil réis.
Entre a quinta e a cidade, André e a mulher deslocavam-se em vistosa sege, puxada por um rocim que valia 70 mil réis. Imagina-se a inveja e o despeito causado em muitos vizinhos quando chegavam à praça do colégio e ali se apeavam. Não por acaso lhe chamavam o “Fidalgo”. 
Para além da exploração agrícola e pecuária, montou André uma fábrica de aguardente na quinta das Comunhas, sítio de Ferreira, avaliada em 500 mil réis. E esta é uma nota interessante para a história industrial de Bragança, sendo esta a primeira unidade do género até hoje referida.
Possivelmente era o homem mais endinheirado da cidade e ninguém o batia na arrematação de contratos e monopólios na área da província de Trás-os-Montes. Vejamos alguns  deles:
-O contrato do assento, ou seja: o fornecimento de palha e cevada para os cavalos, pão para os soldados e pagamento dos ordenados aos militares estacionados nas praças de Chaves, Bragança e Miranda.
-A cobrança das rendas do marquês de Távora, que incluíam os concelhos de Mirandela, Mogadouro e Alfândega da Fé, arrematadas por 10 000 cruzados/ano (4 contos de réis).
-A comenda do conde de S. Lourenço, em Rio Torto e Pensal, terras do limite de Chaves.
-A administração do almoxarifado da casa de Bragança, “em preço de 4 mil e tantos cruzados por ano”.
-A comenda de Santa Maria, de Castelo Branco, Mogadouro, arrendada por 10 mil cruzados/ano.
-As comendas de Monforte, pertencentes ao conde de Valadares, por 5 000 cruzados/ano.
Homem rico, assumiu, na perfeição,o estatuto de “fidalgo”. E tal era a confiança que nele depositava a marquesa de Távora que o encarregava de comprar os machos que puxariam o seu coche e levava uma sua criada para servir no palácio como sua “moça de açafate”.
À maneira da gente nobre, instituiu um morgadio a que vinculou a quinta de Palhares. A cabeça do morgadio era a capela de S. Miguel que mandou erigir à entrada da quinta, com a porta dando para a estrada. Nela gastou mais de 4 000 cruzados e, além de a dotar de todas as alfaias para o culto, nela estabeleceu um capelão que, aos domingos, ia celebrar a missa para a família e para a gente de fora que ali acorria. Seria a capela particular da cidade e termo mais movimentada e falada, causando ciúmes ao alcaide Lázaro Figueiredo Sarmento que, em vão, tentaria comprar quinta e capela, a crer no testemunho do biografado.
Apresentava-se como  cristão exemplar, membro de todas as irmandades, sendo eleito  mordomo principal das seguintes confrarias: S. Cristo, estabelecida na igreja de S. Vicente; S. Francisco Xavier, na igreja dos Jesuítas; S. Caetano, no convento de Santa Clara; do Santíssimo, das Almas e da Santa Rosa, estas na igreja de Santa Maria e a da ordem terceira na igreja do convento  de S. Francisco. Nesta igreja pagou ele a construção do arco da capela mor que então se fez e para sustento dos frades mandava da sua quinta “muitas cargas de trigo e de vinho”.
Para espanto geral, em 9 de Junho de 1725, André Lopes dos Santos foi preso pela inquisição de Lisboa, acusado de judaísmo. O seu processo é volumoso, de quase mil páginas e a defesa do réu muito vigorosa. (1) A seu favor testemunhou a gente mais fidalga da terra e quantidade de padres, incluindo o reitor da matriz, comissário da inquisição.
E ele conseguiu “adivinhar” a gente  reles, de baixa condição que o meteu no santo ofício em ato de vingança pelo seu desprezo, bem como o nome dos inimigos que o teriam denunciado, por uma questão de inveja e para lhe “roubar” os contratos e rendas.
Conseguiu provar que os mercadores de Bragança diziam “que o réu fora um raio que lhes caíra em suas casas”. Isto porque, na qualidade de feitor da alfândega mandava os guardas “dar varejo nas casas” em busca de mercadorias passadas clandestinamente sem pagar imposto. Aconteceu, por exemplo, com Francisco Rodrigues Gabriel e ao seu parente António Rodrigues Peinado terá o réu mandado os guardas revistar os alforges “para ver se levava algumas sedas furtadas aos direitos alfandegários” em uma jornada que se preparava para fazer ao Porto.
Igual varejo fazia nas feiras, nomeadamente na de S. João de Frieira, em Macedo do Mato e na do Azinhoso. Veja-se, a título de exemplo, este naco de prosa, retirado do processo:
-Manuel Garcia e um Fulano Estrada, moradores no Porto, são seus inimigos em razão que vindo eles à feira do Azinhos a comprar seda de rama e querendo abalar com os fardos para fora da feira, os guardas procuraram as guias e por as não terem, requereu o réu ao juiz que os julgasse por perdidos...
Exemplar foi também o caso de outros dois mercadores portuenses que na mesma feira do Azinhoso os guardas apanharam com um macho e uma mula, não trazendo as guias de compra. Remetidos ao juiz pelo feitor, conseguiram provar que os animais foram comprados a lavradores portugueses e não estavam sujeitos a imposto alfandegário. Mas tiveram de pagar multa pela falta de guias e pelo trabalho dos guardas.
Na qualidade de ajudante mor da comarca, competia-lhe assistir ao recrutamento dos soldados. Obviamente que a escolha não era pacífica e daí lhe adveio o ódio de muita gente que... agora se vingava na inquisição.
Inimigos figadais eram também os seus companheiros e concorrentes nos contratos e nas rendas que, também por isso mesmo o teriam falsamente acusado. A título de exemplo veja-se a origem das inimizades que havia entre ele e a rica família cristã-nova dos Novais “rendeiros de várias rendas e comendas”. Sendo o nosso biografado responsável pelo abastecimento do pão da tropa e dispondo aqueles de grande quantidade, não o queriam vender ao preço corrente (7/8 tostões), esperando a subida de preço. Face a tal recusa, André Silva meteu-se a caminho de Espanha, com uma escolta de soldados e, em Puebla de Sanábria, comprou muito pão, a 3 tostões, e o conduziu a Bragança. Resultou que os Novais acabaram por vendê-lo “por quase metade do que pediam”.
Outro caso exemplar sucedeu com um consórcio de mercadores trasmontanos (Lopes Franco, Rodrigues Álvares, Rodrigues Nunes, Fernandes e Peinados) formado para arrematarem o contrato do tabaco nas comarcas de Bragança, Chaves, Vila Real e Lamego. Mas o consórcio não apresentava cabedais suficientes. Recorreram a André Silva para ficar de fiador. Como ele se escusou, o negócio foi por água abaixo e todos eles ficaram seus inimigos e... os seus testemunhos da inquisição ficavam agora desacreditados.
Verdade é que Lopes da Silva acabou por ser absolvido e mandado em paz de volta a Bragança, onde o esperavam a mulher e 5 de seus filhos. Os dois mais velhos estavam já em Londres, fugidos da inquisição, conforme testemunho de seu primo João Mendes Rodrigues, em 1727: (2)
- Disse que se achou com eles em Londres e com eles foi muitas vezes à dita sinagoga assistir com os mais judeus estrangeiros às rezas e cerimónias que se faziam na dita sinagoga...

NOTAS e BIBLIOGRAFIA:
ANTT, inq. Lisboa - pº 7630, de André Lopes da Silva.
IDEM – pº 4939, de João Mendes Rodrigues.

Por António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães

Quem diria.

Muito boa tarde a todos. Então esses dias como vão? Já chegou o Outono ou agora o Verão passa o testemunho directamente ao Inverno sem passar cavaco a esta estação do ano? Apanhar castanhas em mangas de camisa não é lá muito agradável, sobretudo porque tem reflexos no preço de venda. São Pedro que faça bem o seu trabalho e traga de lá o frio e as chuvadas que se querem por esta altura, pelo menos até deixar São Martinho tomar conta do boletim meteorológico durante uns dias. Este Verão trasmontano, onde a castanha é o astro-rei, é movido a chuva e a frio quanto baste. Por isso oxalá esteja tudo em conformidade e não falte castanha de qualidade nem bons convívios à volta dela. Força! É por aí, neste meu bom convívio convosco, que hoje vou falar um pouco de como as pessoas vivem e convivem nos tempos que correm. No outro dia estava a dar uma vista de olhos pelas notícias no site da BBC e achei piada a uma daquelas tiras de cartoons ou desenhos animados em que alguém mais velho dizia para um jovem algo do género “antigamente é que ser emigrante era difícil, demorávamos dias a viajar, recebíamos uma carta de quando em quando, vivíamos isolados, etc.” e depois surge uma foto do jovem com o telemóvel na mão e a dizer “ok pai, desculpa mas agora vou ficar sem bateria, falamos mais tarde.” Sem mais demoras dois nomes estrangeiros mas que quase toda a gente aprendeu a pronunciar na perfeição. Skype e Whatsapp. Muito provavelmente as melhores invenções do século vinte e um. Pois, bem me parecia que muitos de vós concordáveis comigo. Quão importantes se tornaram para nós comunicarmos. Como vieram aproximar as pessoas, se está frio, se está calor, o que é que se comeu, o que é que se bebeu, aí vai a foto do domingo em família e dos rapazes que já vão criados. Reparem que agora logo é notícia que alguém anda desaparecido se passou dois ou três dias sem dar sinal de vida. Sem dar sinal de vida virtual, bem entendido. Algo de errado se passa se não se está ligado. Interessante como vemos e sabemos dos outros, como no controlamos. É verdade sim senhor, tudo tão igual desde há tantos anos a esta parte. Às vezes imagino quanta gente viveu décadas sem luz eléctrica até aos anos 70 e que hoje se tornou um ás destas ferramentas. Quando digo “quanta gente” leia-se meus pais, pelo menos. Como as coisas mudaram e de forma tão imprevista. Aos 20 anos à luz das velas – creio que não era tão romântico como esta frase acabou de soar – e aos 60 de “cacharrico” na mão – um dia hei de vos falar sobre as palavras estranhas que a minha mãe sabe – a escrever mensagens e a enviar fotos para o outro lado do globo. É realmente incrível quando penso nestas coisas, em como hoje é fácil estar em contacto. Sabem que eu gosto sempre de fazer a ponte ou de dar a conhecer um pouco dos hábitos por estas bandas. Os chineses não usam as nossas redes sociais, algumas até estão censuradas, têm as suas próprias, e como são tantos, costumam ter mais usuários do que as ocidentais. Em abono da verdade os chineses são muito mais tecnológicos do que nós. Compra-se um telemóvel numa loja e passado três meses já lá não está. Quando vou a uma das nossas lojas de telemóveis sinto-me num local com dispositivos a caminhar para o pré-histórico. Aqui há muitas marcas, muita oferta, muita procura. Vai-se no autocarro, novos, velhos, não há ninguém que não vá de olhos baixos no ecrã. Normalmente a ver as novelas deles. Por exemplo, é sabido quão útil é o Whatsapp, mas os chineses têm uma aplicação idêntica mas ainda melhor. Toda, mas toda a gente sem excepção a usa para comunicar. Não se dá o número de telemóvel, dá-se o número do Wechat. Tem dezenas de funções, inclusive partilhar carros. Estamos numa rua movimentada, pesquisam-se os carros aderentes e “pede-se” boleia. Apanha-se um carro na hora, num par de minutos, muito mais rápido do que demora um táxi a passar. Para que não haja dúvidas sublinho que isto se passa na China. Na eventualidade de algum caro amigo taxista estar a ler, queira ficar descansado. A função mais comum é o pagamento ou transferência de dinheiro. Sou um bocado conservador nestas coisas mas durante uma destas semanas decidi experimentar. Percebi porque há pessoas que nem sequer usam carteira. Em todo o lado se pode pagar com esta aplicação. Quando digo todo o lado é mesmo todo o lado. Desde a mulher que vende legumes na praça, ao hipermercado, loja de bairro, centro comercial, todo e qualquer restaurante. Gostei da experiência, bastante exótica para mim, mas a coisa mais comum do mundo para eles. Quem diria. Um abraço!

Guerras, guerras …

A nossa impotência, sempre ela. Mina-nos por dentro e faz-nos sofrer. De Sarajevo a Alep, sempre o mesmo sentimento de que nada pode concretamente depender de nós. Não temos qualquer domínio sobre nada, e ainda, apenas, os nossos sentimentos, o grau de horror que suscitam todos estes acontecimentos que nos vão mostrando através de pequenos fragmentos televisivos. A nossa indignação é abafada nas entranhas, a nossa raiva tem muito pouco peso na batalha bem instalada que travam os humanos entre eles. 
Na ONU, como sempre, a regra do veto das grandes potências convém antes de mais aos assassinos, aos corruptos, aos malfeitores. Qual será o Conselho de segurança que vai reunir um dia para mostrar com firmeza os responsáveis nomeadamente designados, pelas atrocidades que desesperam a humanidade? Quem poderá dizer que uma época capaz de gerar um Assad apoiado num Putine é um momento sinistro onde o cinismo em tudo tenta sair vencedor e o consegue quase sempre?
O que podemos nós fazer, na atroz guerra da Síria, em relação ao ditador que, lá longe, sangra o seu povo e tortura as elites. Cerca de 300 000 mortos já, em cinco anos, mas quantos mutilados, humilhados, paralíticos para a vida e vidas ceifadas mal vislumbraram a luz do dia?
Hoje nada podemos fazer, exceto depositar toda a confiança no nosso recém- eleito Secretário-geral, nos eleitos do povo que possam em conjunto adotar uma posição clara e firme neste conflito. Contudo, quando pensamos nos políticos não podemos deixar de sonhar na famosa passadeira vermelha desenrolada aos pés de Bachar Al Assad por Nicolas Sarkozy, novamente candidato à presidência em França. Explica agora com grandes recortes de retórica onde estava o interesse da França e a pedir para travar a marcha dos refugiados para o seu país, onde honravam ainda há pouco tempo o seu carrasco, reviravoltas vergonhosas em relação à ideia que nós temos da França no mundo. Um dia acolhedor dos poderosos assassinos, no dia seguinte fechado às inocências massacradas. Venham falar-nos de “valores” depois de tudo isso.
E venham, uns e outros, falar-nos de Putine e da admiração apenas velada de alguns por este potentado sinistro que está nos bastidores de tantos golpes contra as liberdades e a dignidade humana. Cinismo puro de alguns politicalhos que exibem o temperamento, o carácter, a força dum Putine, um destes homens seria bem preciso para endireitar as coisas, dizem alguns e algumas. A sabedoria calculadora e exportadora da ausência de escrúpulos morais de alguns comentadores de salão são repugnantes quando tentam vender esse modelo de governo e de força que é preciso admirar. Efetivamente não temos nenhum Putine na Europa, e ainda bem, mas temos pequenos marqueses que sonhariam parecer-se com ele, sabendo a priori que não passam de anões ao lado desse gigante da crueldade e da criminalidade.
Tudo isso é excessivo ? À primeira vista sim, mas o que é mais excessivo, entre o dirigente que envia os seus bombardeiros último grito martirizar uma cidade estrangeira, testar novas bombas, destruir caravanas de alimentos e medicamentos conduzidos pela Cruz-Vermelha e um pobre cidadão impotente que tenta fazer uma crónica, batendo no teclado, unicamente com palavras para combater? O excesso é proporcional ao poder que se tem. Contra as bombas e as vossas amizades, Senhores cínicos, dilúvios de palavras não têm qualquer peso. Daí tanta raiva e indignação.

BOB DYLAN

A notícia da atribuição do Prémio Nobel da Literatura deste ano a Bob Dylan atirou-me de imediato para um pequeno espaço ao modo de caveau do Rui Bento, rapazão do meu tempo prematuramente falecido no Brasil. Porque me lembrei dele? De imediato não o descortinei, rememorado o anel das afinidades electivas de entre 1964 a 1967 em Bragança, a reconstituição explicou-me a razão.
Era filho do Sr. Armando Bento (o homem que tornou conhecida a Fábrica Internacional de Automóveis de Turim – FIAT no Nordeste Transmontano) e de uma Senhora elegante, esfíngica, sempre vestida a evidenciar gosto fino, requintado sem alacridade espúria.
O Rui granjeava invejas de muitos por possuir aquilo que a maioria não tinha, sempre manteve comigo cordial relação ao ponto de merecer o seu convite para ouvir música, conversar e tomar uma bebida no tal espaço, exíguo, esconso, fora da luz solar, logo misterioso, suspeito aos olhos dos e das zelotas de serviço contínuo. Especialistas na murmuração exclamada concedendo laivos de escândalo aos seus pintados relatos.
Os gostos musicais dominantes em Bragança ao tempo mesmo no circuito Moderno, Flórida e Poças caracterizavam-se pela imitação descuidada ou então colocando a enfâse nos êxitos transmitidos do nacional cançonetismo transmitidos na televisão, acrescidos dos gorjeios ou trinados estilo Joselito. Lembram-se?
Os menos acomodados e de carteira e não porta-moedas vestiam camisolas de gola alta ao estilo do Ives Montand, todos esbugalhávamos os olhos na contemplação da Greco, sons de bacoca admiração rompiam as conversas quando um ou outro exibia roupa vinda da Loja dos Porfírios.
A cidade qual cortiço ou colmeia (Camilo José Cela) cheirava mofo burocrático, a suor de militares à espera de colocação nos palcos de guerra, as senhoras perfumavam-se aspergindo gotas de Diamante Negro ou Tabu no pescoço e nos sovacos, a fragância Dior custava caríssimo, a Chanel significava transgressão exorbitante pois o preço ultrapassava o do francês patrão de ISL.
Os jornais de Lisboa chegavam um dia depois da sua saída, às vezes três para irritação do Sr. Abel Frederico Monteiro seu estrénuo e desinteressado correspondente. Este senhor também merece reconhecimento perene por parte do poder Autárquico pois durante dezenas de anos matraqueou artigos a darem conta da existência da velha urbe. Carregava e soltava verve irónica envolvida em humor ferino sem transpor a cancela da decência.
Ora, o Rui Bento riscava as normas da vulgata em vigor no que tange ao comportamento de jovens adultos, sim detinha possibilidades, no entanto, manifestava interesses de índole cosmopolita, fora da ronceirice dos meninos bric a brac da burguesia citadina sendo patente no referente à música. A morar para lá da ponte do Loreto o Rui ficava de fora do círculo dos chás do favor mútuo.
Ele abastecia-se no decurso das saídas do casulo bragançano, daí a suspicácia gerada a envaidecer o seu ego. Tinha vinte anos. Devo-lhe a descoberta de vários letristas e compositores, como anos mais tarde o Zé Montanha Rodrigues me falou no Billy Evans. O fascinante autor de Afinidades tem-me concedido horas e horas de prazenteiro ouvir aliviando-me dores não físicas, angústias e horas de chumbo. O genial artista de jazz nunca se torna cansativo, assim o disse a Jorge Lima Barreto no decorrer de um almoço dedica à música de protesto. O musicólogo vinhaense não partilhava do meu entusiasmo pelo extraordinário executante.
A atribuição do Nobel a Dylan (apelido falso usado em homenagem a um grande poeta) provocou-me vontade de o ler e ouvir, a rememoração feita trouxe ao de cima O Rui Bento, cuja figura permanece inalterável para o entendimento do viver numa comunidade que no essencial estava presa à tríade – Deus, Pátria e Família – fosse no quotidiano, fosse nos dias nomeados.
Ouvir o Bob à partida, mesmo sem a cabal apreensão do seu dizer, significava ultrapassar a barreira hipócrita do exercício da máxima salazarista relativa à obediência cega, surda e muda. O respeitinho não era bonito, era obrigatório. Obrigado Rui José Bento, por ao tempo ousares respirar fora do reino circular.

PS. O Nordeste informou-me de nova e execranda maldade da praxe no IPL. O requinte da malvadez vai ao ponto de acoimar a acção de praxe suja. Uma vergonha. E, não se pode exterminar?
• Morreu há dias, nonagenário, o escritor Mário Braga autor de um romance intitulado Reino Circular. Esteve largos anos no índex do Estado Novo.
 

Vendavais - Dinheiro a rodos

Todos sabemos a dificuldade que Portugal atravessa para conseguir sair do buraco financeiro em que está metido há já muitos anos. Todos sabemos quanto tem custado aguentar a austeridade a que todos, ou quase, fomos submetidos para conseguir mandar embora o FMI e continuar a tentar equilibrar o barco completamente sem rumo certo e ainda bem longe do porto de abrigo, ainda em lugar desconhecido. Todos sabemos, mas parece que há quem não se importe muito com isso.
Depois de se terem efetuado cortes nos salários dos funcionários públicos, de haver despedimentos por insustentabilidade financeira em muitas empresas, depois de haver uma redução imensa de empregos e efectivos na maioria das fábricas e empresas em Portugal, poderíamos pensar que agora tudo iria entrar no bom caminho da recuperação, tal como o governo tem anunciado. Realmente já chegava de austeridade! Mas não.
O Orçamento para 2017 está aí e não está fácil haver uma concordância entre os vários players políticos, mesmo os que suportam o atual governo. Hoje disse uma coisa, amanhã outra, hoje está bem assim, amanhã, nem por isso. No entanto, parece que quanto ao facto de o Orçamento ser aprovado, não há dúvidas. Para já as ondas revoltas de uma imensa tempestade para logo a seguir se passar a um mar calmo, plano e sereno onde se pode navegar ao sabor das marés. De facto, o que interessa é estar na onda, na grande, aquela que é imensa e que permite ganhar campeonatos, que o mesmo é dizer estar à frente, comandar, dar o mote.
Pois é. É de bom tom defender o aumento das pensões ainda que seja só de uns míseros 3 euros, ou dizer que o salário dos funcionários fica reposto como estava em 2011 (isso era bom!), ou agendar para 2017 todo um processo de entendimento a três e deixar passar uma quantidade enorme de assuntos graves e que deveriam ser já solucionados. Mas como não interessa entrar em colisão com o governo ou este com os parceiros, levanta-se a lebre e depois vamos a ver quem é capaz de dar o primeiro tiro. Francamente!
Na realidade, como se pode permitir pagar a um presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos mais de mil euros por dia num país que tem uma dívida tremenda, que tem de manter um défice no limiar do lixo e que tem a mesma Caixa Geral de Depósitos a precisar de um financiamento de mais de três mil milhões? Como é que isto é possível acontecer? Afinal, quem analisar isto tudo, pode chegar à conclusão que Portugal tem dinheiro a rodos e que só o governo é que sabe disso. Será que andamos a ser todos enganados?
Eu tenho para mim que ninguém neste país deveria ganhar mais do que ganha o Presidente da República. Mesmo as empresas particulares deveriam reconsiderar os salários dos seus administradores, pois não basta querer não aumentar os salários de quem realmente trabalha e recompensar extraordinariamente os que se sentam à secretária. Todos são necessários, mas não precisamos de abusar!
Nos últimos anos tem entrado muito dinheiro em Portugal para vários projetos, sejam do governo sejam para distribuir pelos vários sectores que o Quadro Comunitário de Apoio comporta. É dinheiro a rodos, mas que não chega à maior parte das regiões deste país. Fica no litoral, em Lisboa, Porto, Setúbal, Leixões e locais semelhantes, mas no interior, despovoado, continua a ser marginalizado completamente por todos os governos. Promessas, muitas. Nada mais. Pois bem, se querem aumentar as pensões e reformas, comecem por retirar aos administradores os milhões que lhes dão e distribuam por quem realmente precisa. Assim, talvez Bruxelas ficasse mais contente, as agências de rating talvez tirassem Portugal do lixo onde o meteram e… os reformados ficariam com mais alguns tostões para além dos três euritos que dão para enganar o pessoal. Nós não somos ricos, metam isso na cabeça.

As doenças neurodegenerativas e a nutrição

A esperança de vida da população tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas graças a melhores condições sociais, de saneamento e de saúde em geral o que leva a um aumento da incidência de doenças neurodegenerativas, que se refletem em prejuízos nas funções cognitivas, comprometimentos funcionais, de compreensão e de comportamento, originando demências, como a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, entre outras.

Magustão da Família do Tio João 2016

Ter, 25/10/2016 - 09:55


A maior fábrica de fazer amigos do mundo esteve montada na Rural Castanea, a festa da castanha em Vinhais, onde fizeram questão de marcar presença centenas de tios e tias, que não ligaram às distâncias físicas e percorreram muitos quilómetros para dizerem presente! A chuva também contribuiu para a festa, porque as pessoas não puderam ir às castanhas e vieram ao Magustão. Pode dizer-se que a chuva, neste caso, ajudou à festa.

Basta de políticos resignados

Ter, 25/10/2016 - 09:52


Os líderes políticos do nordeste transmontano não têm demonstrado poder atingir condição que nos obrigue a reconhecê-los como valorosos combatentes pelos interesses da região. Não se lhes sente coragem, nem ousadia e mesmo a dedicação à causa do nosso futuro deixa muito a desejar.