Editorial

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Num tempo em que as aparências invadem o espaço público, servindo para nos distrair da essência dos processos políticos, viveu-se verdadeiro frenesim com a divulgação, às pinguinhas, dos membros do novo governo.

O regime democrático português adoptou o método de representação proporcional de Hondt para apurar os mandatos de deputados. Percebia-se que assim se garantia mais autenticidade na expressão institucional das opções realmente existentes na comunidade e a consequente pluralidade na Assembleia da República, mas também nos órgãos deliberativos e executivos dos municípios.

Parece que já lá vai o tempo dos sistemas democráticos quase tranquilos, marcados por decisões pragmáticas dos eleitores, que não esperavam consumar na sua participação cívica as mudanças deleitosas para o seu ego, mas aceitavam que o mundo, com todas as agruras e desilusões, ali estava, para além da ponta do nariz de cada um.

O texto atribuído a João, o evangelista, que relata o sonho do fim do mundo, constitui uma peça literária que marcou gerações de cristãos, mesmo se não passaram os olhos pelo texto, ficando-se pelos ecos das pregações de profetas da desgraça, empenhados em convencer os outros de que a vida não passava de uma tortura, castigo adequado à simples aceitação da existência.

 

A informação livre é um dos esteios das sociedades democráticas, suporte de decisões dos cidadãos com a necessária autonomia, condição para o exercício da verdadeira liberdade política, uma referência civilizacional de difícil concretização porque também depende de factores que estão para além da racionalidade.
 

 

A relação equilibrada com a natureza é vital para que se mantenha expectativa de futuro longo e tranquilo para a humanidade.

Nós, por cá, somos pouco dados a pantominices e, por isso, dificilmente ficamos fascinados com protestos de arrependimento e promessas de nova atenção, que marcam as passagens apressadas dos responsáveis nacionais pelos caminhos desta santa terra, onde a dureza da vida nos tempera o corpo e a alma.

 

O conceito de Estado como entidade que exerce a soberania em representação da vontade de cidadãos livres e activos tem história breve. Se relembrarmos tempos medievais, iremos encontrar modelos de exercício do poder que se sustentavam na afirmação da força pura e dura, com os reis a reclamar como propriedade sua os territórios e as comunidades, às quais concediam ou retiravam direitos ao sabor dos seus desígnios, que não correspondiam aos interesses dos povos que governavam.
 

 

A intervenção política requer paciência e serenidade, mas também coragem para persistir na defesa de princípios e valores que a civilização consagrou, ao longo de milénios, de que não devemos abdicar.

São muitas as razões para termos chegado à condição difícil, talvez irrecuperável deste nordeste transmontano, em agonia prolongada há décadas, sem que alguém tenha encarado a realidade com a necessária coragem de agir para reverter o que nunca foi inevitável.

O direito à greve é conquista recente das sociedades democráticas, apesar de haver registo de fenómenos similares desde tempos recuados na história europeia.

Não matarás é umas das proclamações marcantes no sinuoso percurso da humanidade, atribuída ao Deus único mas por consumar, apesar dos milénios que não lhe silenciaram os ecos, apesar dos ouvidos moucos de gerações sucessivas.