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Folares

A Páscoa este ano é madrugadora e festeja-se no dia das mentiras. No entanto, a mensagem Pascal não é mentirosa para centenas de milhões de crentes e não crentes amigos de pensar sobre a sua grandeza espiritual seja no tocante a suscitar-nos apreensões, seja no que tange à espiritualidade multiforme numa liberdade livre mas prenha do sentido de responsabilidade perante o próximo de forma a exigirmos reciprocidade nas várias gradações quotidianas no fazer fazendo na esfera da cidadania.
O mês de Março ao contrário dos antecedentes tem sido pluvioso originando tapetes verdes recheados de rebentamentos florais a amenizarem a solidão provocada pelos tremendos incêndios e a seca severa evocadora de outras semelhantes cujos efeitos séculos atrás redundaram em penúria, fome, doença e morte. E, neste ponto o contraste é claríssimo, no antecedente a pura miséria, nos dias de hoje os efeitos do progresso científico e técnico enchem os celeiros e os mercados do mundo Ocidental, sendo as excepções na maior parte dos casos originadas pelo mau governo de ditadores populistas ou não, devido à ganância de multinacionais compradoras de consciências, sem esquecer as catástrofes naturais, muitas delas da autoria da mão escondida ou revelada dos homens. A quadra pascal intima-me a pensar relativamente ao acima referido, intima-me a não ficar preso à música sacra e profana da época desleixando o dever de escrever abrindo as feridas provenientes do meu egoísmo do não te rales, do tapar as chagas sociais existentes porque somos acomodatícios com a manta dos desgostos colhidos na prematura morte de um querido filho, na doença aguda, nas consequências e lenta na recuperação, na alacridade autoelogiosa porque a mão esquerda praticou acção elogiosa sem a direita saber.
Encomendaram-me um artigo relativo à violência individual contra a violência das instituições, aceitei o encargo sem cuidar das implicações, o leitor pode considerar esta crónica como desabafo na justa medida de ainda não saber como o principiar. É verdade.
O leitor pode não acreditar, mas fique ciente quão grande é o prazer de desabafar escrevendo correndo o risco de recolher o epíteto de lamechas ou incapaz de guardar os desabafos para mim próprio.
Em pleno período quaresmal a sucessão de episódios grotescos no universo do futebol e consequentes relatos bem salivados das atitudes dos actores incluindo os violadores do segredo de justiça leva-me a desabafar: este País não tem emenda, muitos nichos da sua representação têm cromatismo suspeito, negro, conspurcado a justificar o queirosiano palavrão – choldra –, por nossa absoluta e profunda culpa.
Sim, eu sei, nesta altura a maioria dos leitores do Nordeste está prioritariamente ocupada no conseguirem sol na eira e chuva no nabal a fim de gozarem plenamente a quadra pascal, sim, eu sei do estar a repetir-me, sim, eu sei da possibilidade de uma ínfima parte das mulheres transmontanas apesar dos incidentes abafadores do passado ainda se preocupam na elaboração de folares verdadeiramente artesanais, sentido grego do technikos, significando que o artesão não consegue conceber duas peças escrupulosamente iguais. No cados folares a massa, os enchidos, a carne entremeada, os enchidos e o presunto não são diferentes, específicos na forma, muitas vezes as quantidades no seu bojo, incluindo o azeite e/ou a manteiga ou o sucedâneo espúrio (aqui) da margarina. Posso acrescentar o tamanho e o peso, a feição exterior derivada da acção do lume vivo ou brando empregue nas cozeduras.
Essas Mestras artesãs são cada vez mais raras, a maquinaria adoça as tarefas e reduz a individual tecnicidade, sem esquecer a indústria dita artesanal da fabricação de folares em série segundo a cartilha certificadora, normalizadora e mimética. Os meus desabafos são mero jogo de adivinhas adivinhadas em face da grandiosidade simbólica dos folares sem mácula do barrenhão berço ao semblante numa autenticidade a principiar na farinha peneirada em três peneiras até a Mestra conseguir o – beijinho – da farinha, se for de trigo serôdio ainda melhor.
As distintas pessoas que ganham paciência lendo os meus textos podem desta feita pensarem estar ante um preciosismo de sinuosidade identitária do Folar como referência matricial, pensam bem. A vulgarização material do folar, o facto de realizarem concursos de molde a serem premiados os melhores folares sem ser levada em linha de conta a outra matricialidade longa, custosa, profunda do artesão de nenhuma peça igual e os artesãos do amassar automático até à embalagem em celofane obrigam-me a desabafar: será que a nossa herança imaterial ainda persiste numa ou noutra família citadina ou rural do Nordeste?
Eu não sei responder à interrogação, desconheço os programas de ensino das nossas sinuosidades culturais, procuro conhecer as origens, viagens, fixações, alterações, experimentações das matérias-primas base dos produtos por seu turno objecto de transformação em alimentos.
Todos conhecemos o significado de serôdio (fora de tempo, para lá da estação própria), pois bem a farinha de trigo serôdio talvez capricho da natureza a ensinar o Homem que a sua felicidade ganha consistência na exaltação e fruição das subtilezas serôdias porque são mais fortes. Bons folares!
Armando Fernandes
PS. A composição dos folares tem segredos de cada autora, desde as quantidades aos ovos utilizados, passando pelas gorduras animais e vegetais.

Vendavais - Nas “Cristas” das ondas

Num fim-de-semana em que o tempo climatérico esteve muito mau e causou demasiados estragos, outros assuntos estiveram na baila.
É verdade que Portugal tem sido varrido por demasiadas intempéries nestes últimos tempos, desde o Algarve ao Minho. Todo o litoral foi fustigado pela ventania e por ondas enormes que impediram a circulação em estradas importantes como a marginal de Cascais, as zonas ribeirinhas ou a Ponte 25 de abril.
Face a estas intempéries e à quantidade de chuva que tem vindo, poderíamos dizer que finalmente foi feita a reposição dos níveis das barragens e dos níveis freáticos que nos permitirão passar um verão mais descansado, mas não. Efetivamente ainda não chega. Tem sido muita a chuva, mas tudo o que vem demasiado depressa, também vai da mesma forma.
Todo este vendaval vai muito para além disso mesmo. Este ano é um ano de lançamento político. E se nos lembrarmos, decerto concordamos que este temporal já começou antes do Congresso do PSD, quando Passos Coelho se viu obrigado a prescindir da liderança do partido. Vimos e assistimos a uma onda de manifestações sobre quem poderia liderar na época pós-Passos. Santana, Rio ou qualquer outro que estivesse no escuro. E como iria ser? Uma série de incógnitas que só obteriam resposta firme nas eleições internas e no Congresso onde Rio foi empossado como presidente. Passos saía pela porta pequena! Não esteve muito tempo na crista da onda!
Mas as ondas não pararam de agitar o panorama político dentro do PSD. As escolhas de Rio e a necessidade de um líder parlamentar seriam as ondas que agitariam ainda mais todo o espectro político social-democrata. Montenegro resolveu amenizar a situação ao não concorrer para o lugar da bancada parlamentar, mas a solução que veio a lume também não foi pacífica nem convincente. Tal situação não trouxe acalmia nas hostes internas partidárias. Há falta de garra, de acutilância política, de segurança. Rio, interpelado sobre a situação, disse que deveria ser desse modo, com calma, sem arrogância, sem gritaria, que um líder de bancada teria de agir. E que não fosse! Não tinha outra alternativa!
Onda quebrada, ou não, foi a escolha para vice-presidente do partido. Uma onda enorme de vozes contra levantou-se. Outras ondas mais pequenas se levantaram, mas quebraram para não desembocar em temporal. Enfim! Agora, com o mar mais chão, procuram-se limar arestas e rumar seguro até 2019. Mas como fazer oposição? Passos abandonou a bancada parlamentar! Um a menos. Bom ou mau, estava lá e sabia o que se passava. Agora há incertezas. Dava jeito Rio poder ocupar o lugar de Passos. Será que pode? Não! Também se pode fazer oposição cá fora, mas é diferente, muito diferente. O combate político não tem a mesma graça, nem a mesma força. Vamos esperar para ver.
Neste fim-de-semana teve lugar o Congresso do CDS. Uma nova onda! Toda a força e garra que era possível esperar da líder, teve eco. Cristas afirmou-se e adiantou-se na confirmação de líder da oposição. Quer o CDS como um partido forte, seguro, de oposição e também foi o primeiro a apresentar o cabeça de lista para o Parlamento Europeu. Adiantou-se a todos os outros. Cristas está na onda da vitória, por enquanto.
Sem “papas na língua” disse o que queria e ao que vinha. Pediu para dentro e disse para fora. O CDS nunca esteve parado, nem vai ficar parado. Está em movimento e em direção a 2019. Alertou para a esquerda unida e a necessidade de a derrubar. Uma oposição séria e eficaz no palco legislativo por excelência. Pedem-se votos sobre assuntos importantes. Votos ganhadores. É preciso encostar os partidos ou comprometê-los.
Cristas disse e voltou a afirmar que o centro direita está vivo e firme e que o seu espaço é para ocupar plenamente. No centro e na direita. Recado para fora e para quem pode precisar. Os valores e a história não são para esquecer. São para pôr em prática. Deverão enformar tudo o que o CDS fizer ou vier a fazer. Ações. Leis. Diplomas.
Mas Cristas disse mais. Disse que se os portugueses quiserem, ela pode ser a presidente do próximo governo. Claro. Outros o foram sem tantos atributos. Porque não?
É esta garra de líder que leva ao topo os políticos. O guindaste indispensável que eleva e sustenta toda a ambição de quem se quer afirmar e vencer. Na crista da onda, Cristas, navega, por enquanto, em mar calmo. Mas terá de saber surfar e aproveitar bem o vento favorável!

A moda das calças rotas...

Ter, 13/03/2018 - 10:42


Olá familiazinha!
Estamos a poucos dias de entrar na Primavera e agora é que o Inverno se lembrou de ‘atacar’. Nunca estamos bem com a roupa que temos. Se não chove, “ai tio, ai tio, que não chove”, se chove uns dias já é demais e já podia parar de chover, que já aborrece. Como diz o tio Lita: “- Em Caravela quando chove, deixamos chover!” O tio Pereira, de Valpaço (Vinhais), disse-nos que agora era bom que parasse de chover por quinze dias, para dar tempo de amanhar as terras e depois já poderia voltar a chover.
Como ainda não há máquina para isso, seja feita a vontade do Criador.
No passado dia 8 de Março (quinta-feira) festejámos, no nosso programa, o Dia Internacional da Mulher, embora o dia da mulher seja todos os dias do ano. A mulher rural foi a mais homenageada, mas também o tio João Castilho, de Bragança, nos confidenciou que, na sua família, tem 22 mulheres, entre esposa, filhas, noras, netas e bisnetas. Como reza na sua poesia o tio Carlos da Conceição, do Soito (Sabugal):
“A mulher é um anjo que Deus criou./No seu amor mais profundo/É a mais bela rosa que plantou/Para fazer florir o mundo”. Vivam as mulheres.
Na última semana faleceu, vítima de um AVC, a tia Alice Cameirão, de Pinelo (Vimioso), que deixou expressa a sua vontade que fosse a tia Irene, de Samil (Bragança) que rezasse as orações da manhã à sua alma. O seu desejo foi concretizado. Paz à sua alma e os sentimentos ao seu marido e ao filho Patrick que chorou a morte da sua mãe em directo connosco.
Depois das lágrimas, as alegrias. Na semana passada estiveram de aniversário a tia Antónia Pastora (58), de Rio Frio (Bragança); a tia Margarida (59), de Cal de Bois (Alijó); a tia Maria Adelaide (69), esposa do nosso tio Acácio, de Alfaião (Bragança); a tia Ilda, de Vila Nova (Bragança) e o nosso JPV (José Pereira Vieira), meu grande amigo pessoal, chegou aos três quarteirões (75). Que continuem a festejar sempre a vida connosco.
E se agora a moda é andar de calças rotas, é bom que se saiba que antigamente era por necessidade e agora é por vaidade. Quem nos vai falar disso mesmo é o nosso tio Belmiro dos Santos, de Grijó de Parada (Bragança), no texto que agora se segue.