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Técnico mirandelense quer singrar no futebol austríaco

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Ter, 04/12/2018 - 11:06


Michael Santulhão, tem 36 anos, é natural de Mirandela e integra o quadro técnico das equipas de formação do SV Áustria Salzburgo, na Áustria.

O treinador tem dupla nacionalidade, portuguesa e alemã, viveu até aos 14 anos na Alemanha, fixando-se, mais tarde, em Mirandela, com 14 anos.

Os perigos de intoxicação por monóxido de carbono

Veneno “silencioso”

O monóxido de carbono mistura-se com facilidade na atmosfera de uma habitação, sem que as vítimas tenham consciência disso. Penetra no organismo através da respiração e a sua toxicidade varia em função da concentração, da duração da exposição e da suscetibilidade individual, sendo os grupos de maior risco as crianças, mulheres grávidas, doentes crónicos e idosos.

Festejar a vida dos “amigos do coração”

Ter, 04/12/2018 - 10:38


Olá gente boa e amiga.

Acabou-se o mês de Novembro que “ditoso mês é, que começa com Todos os Santos e termina com Santo André”. Foi um mês marcante para a família, o que mais participações teve, desde sempre. Tivemos 45 novas entradas de elementos que estão a dar muita vida ao nosso programa e à família.

Já estamos a viver o mês do Natal. Ao nível agrícola, por mais incrível que pareça, ainda há pessoas atrás das castanhas, como nos contou a tia Ana Maria, de Vila Boa (Bragança), que ainda tem 19 pessoas a trabalhar diariamente na apanha da castanha, nesta altura em que o trabalho está mais dificultado por causa do volume de ouriços e folhas que caíram com a ventania. Na próxima semana os homens do tempo prevêem dias sem chuva, facto positivo para quem tem azeitona para apanhar. Embora haja muita gente que semeie ‘alhos’ durante todo o ano, já os mais antigos diziam que “se queres bom alhal, semeia-o no mês do Natal”.

Contrariando o adágio “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”, hoje, dia de Santa Bárbara (4 de Dezembro), nós lembramo-nos dela, mesmo sem ter “troado”. Eu nunca me esquecerei da primeira oração de todas as que aprendi com o meu avô paterno “Santa Bárbara bendita, que no céu está escrita, com papel e água benta, Deus nos livre desta tormenta”.

E por falar em escrita, nos últimos dias fui surpreendido por uma amiga que já não via há 32 anos e que veio oferecer-me um livro de sua autoria, intitulado «Crónicas da Aldeia, ou Talvez Não». Trata-se de Teresa Tronjo, natural de Avelanoso (Vimioso) com quem eu convivi muito no meu tempo de disco-joker na discoteca. É um livro fácil de ler que caracteriza a sua terra.

Para além dos 5 aniversariantes de que vamos falar nesta página de forma mais alargada, também estiveram de parabéns Aguiar Castro (57), de Sendim (Miranda do Douro); Vera Lúcia (27), de Mogadouro; Irene Machado (67), de Cabeça Boa (Bragança); Nuno Rafael (23), de Rio Frio (Bragança). Para todos muita saúde e paz que o resto a gente faz.

Agora vamos viver cinco aniversários muito festejados pela nossa família.

Outro mundo

À medida que o tempo passa, aumenta a convicção de que, em vez de se falar de “mundo” faz mais sentido falar-se de “mundos”, mesmo quando nos referimos ao globo terrestre; pois se, por um lado ele é uno, por outro, a diversidade é a caraterística dominante em qualquer das latitudes. Na individualidade, cada um cria o seu mundo que toca o do outro num processo de desenvolvimento pessoal e de construção da personalidade, nem sempre linear mas sempre produtivo.

“Outro mundo” foi a expressão usada à mesa do café para traduzir o que as televisões faziam chegar, desde Borba e numa perspetiva apocalíptica. Em abono da verdade, a expressão foi “— Aquilo parece outro mundo.” “Aquilo” remete para uma situação diferente do habitual, mas ao mesmo tempo para algo distante e que, quanto mais longe estiver, melhor. Às imprecisões dos primeiros minutos sucediam as certezas de que havia vítimas. O resto é o dejá-vu de outras tragédias anunciadas e que não foram evitadas pela incúria de quem tem responsabilidades. Também neste campo, do que se ouviu foi mais do mesmo: a administração central não funcionou, os políticos não agiram e as empresas na mira do lucro omitiram a sua responsabilidade social. A dissonância veio do primeiro-ministro que, à semelhança do caso de Tancos, mais uma vez, veio dizer que nada sabia e do presidente da república ao falar da responsabilidade objetiva e subjetiva.

Este conceito, por si mesmo, já é complexo. Ao adicionar-lhe um qualquer modificador é missão para titãs. No entanto, responsabilidade, independentemente do que a queiram travestir, é Responsabilidade e importa encontrar os responsáveis diretos deste drama e de tantos outros aos quais se perde o fio na busca do que ou quem esteve na sua origem. Em situações idênticas à de Borba onde factores ambientais estão subjacentes, poderá ser fácil encontrar os responsáveis; no entanto, se nos situarmos no campo da ética a responsabilidade poderá ser assacada a todos quanto tinham conhecimento da situação e na ausência de responsabilidade cívica nada fizeram para que a tragédia não ocorresse.

O perigo era visível a olho nu e não eram necessários conhecimentos geológicos para qualquer um se dar conta de que bastaria a alteração num vector para que toda a estrutura desmoronasse. Pode alguém duvidar de que foram realizados um ou mais reconhecimentos antes da Volta 2018 ter passado por aquele lugar? Quem trabalhava nas pedreiras não olhava para o que se via à luz do dia? – Tudo estava à frente dos olhos mas minimizaram-se os riscos e deixou-se estar até a tragédia acontecer.

Esta atitude tão tipicamente nossa é a mesma que conduz ao desleixo pela coisa pública e permite que situações se arrastem até ao limite, embora qualquer cidadão possa, nos dias que correm, alertar, informar e denunciar seja junto das entidades responsáveis, seja pelas redes sociais que cada vez mais se assumem como veículos de disseminação.

Nem tudo se pode evitar. O risco é inerente ao ato de viver. No entanto reduzir os riscos e minimizar consequências é dever de todo e qualquer cidadão e ninguém está livre de responsabilidade.

Assim, e porque este mundo é de todos e todos são deste mundo, antes de apontar o dedo a quem assume funções de governação seja a nível local, regional ou nacional, devemos interrogar-nos sobre qual é a quota parte de responsabilidade que cada um tem no estado a que se deixam chegar as situações seja qual for a área. Em democracia todos somos chamados a participar e se é necessário ter boas lideranças é imprescindível ter melhor povo.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Henrique Nunes (n. Madrid c. 1620)

Henrique Nunes nasceu por 1620 na vila de Colmenar, arredores de Madrid e ali foi batizado. Foram seus pais Francisco Nunes, de Torre de Moncorvo e Ângela da Veiga Nunes, natural de Viseu.(1) Pelos 11 anos vivia em Jaén, onde seu pai o terá iniciado na religião judaica e onde também foi crismado, como verdadeiro cristão. Posteriormente, a família ter-se-á mudado para Ciudad Real, terra da Andaluzia.

Em 1635, Henrique Nunes deixou Castela e veio para Portugal, a viver em casa de seu tio paterno, Jorge Nunes,(2) em Vila Flor. O tio Jorge era casado com Branca Dias e o casal não tinha filhos. Com eles vivia Inês Dias, sobrinha de Branca. Muito naturalmente seguiu-se o casamento de Henrique Nunes e Inês Dias a quem, por certo, foi logo destinada a herança do mesmo tio, falecido poucos anos depois.

Breve se apresentava ele como um mercador “de tenda grossa” e homem de cabedal. Muito viajado e frequentando as mais diversas feiras, ele conhecia muita gente e andava em deslocações constantes “pelo reino, com seu trato de comprar e vender e dar provimento à sua loja que tem na dita vila”.

Ao findar da década de 1640, as comunidades hebreias de Trás-os-Montes sofriam um verdadeiro arraso, por parte da inquisição. E, baseados nos testemunhos de António Lopes Álvares, do Mogadouro, Diogo Lopes, de Chacim e Francisco Brandão, de Torre de Moncorvo, presos em Coimbra, com quem Henrique Nunes se terá declarado seguidor da lei de Moisés, os inquisidores decretaram a sua prisão. Deu entrada na cadeia de Coimbra em 17.3.1651, ali conduzido pelo familiar Manuel Coelho de Azevedo, de Torre de Moncorvo.

Correu o seu processo com bastante celeridade, pois ele entrou logo a confessar seus erros e denunciar seus cúmplices. Saiu no auto-da-fé de 14.4.1652, condenado em cárcere e hábito perpétuo, significando isso que, no regresso a Vila Flor, tinha de se apresentar vestindo o sambenito e com ele ir à missa aos domingos e outros dias santos.

Era uma situação humilhante e Henrique, como outros mais, procurava escusar-se o mais possível ao cumprimento da pena, metendo-se em constantes viagens de negócios. Obviamente que os olhos dos esbirros da inquisição, beatos e padres que em Vila Flor havia, andavam em cima dele e a notícia chegou a Coimbra. E dali foi expedida uma carta que, na rua pública foi entregue ao destinatário, o padre Domingos Pimentel, conforme ele próprio escreveu na resposta:

— Hoje, 3 de agosto (1652), recebi uma carta de Vossas Mercês em que se me ordena faça e obrigue a Henrique Nunes, desta vila a cumprir sua penitência, na forma da dita carta. Tanto que me foi dada, logo fiz diligência por ele e achei ser partido para Lisboa há dois dias. A dita carta fica em meu poder e tanto que ele vier, farei toda a diligência com a pontualidade que farei todas as mais que da parte do santo ofício me forem mandadas…(3)

Henrique Nunes só voltou a Vila Flor quase um ano depois, a crer na informação do padre Pimentel, que dava para o facto uma explicação. É que a carta do santo ofício lhe foi entregue em público, quando estava com outras pessoas e na ocasião lhe exigiram um registo de entrega da mesma. E isso fez logo levantar a suspeita de que a carta respeitava ao comportamento de Henrique Nunes. Este terá sido avisado e, por isso, concluía o dito padre, em mais uma missiva para a inquisição:

— Se ausentou há coisa de 11 meses, entrando e saindo ocultamente desta vila, sem eu o poder admoestar e que fizesse o termo. E porque me constou que não trazia a penitência imposta por VV MM, nem tão pouco acudia às missas, antes vendia fazenda de raiz sem necessidade e se desfazia da tenda que tinha, publicando seus amigos que ele se ia para Castela, e confessando-o a sua própria mulher e filhos.

Logo que pôde, o padre não esteve com meias medidas. Arranjou testemunhas a confirmar que Henrique estava a preparar a fuga para Castela e, no cartório do notário apostólico de Vila Flor, padre Gaspar de Meireles Almeida, mandou fazer um “auto de fuga”(4) que enviou para Coimbra.

Em simultâneo, também o sambenitado escreveu aos senhores inquisidores uma longa exposição dizendo, nomeadamente:

— Vindo ele suplicante do Vimioso, onde andou cobrando certas dívidas, no mesmo dia, o padre Domingos Pimentel e seu tio Belchior Rodrigues Pimentel, juiz ordinário, por serem seus capitais inimigos, e bem o mostram, pois sem ser cura nem pároco, amotinando o povo, com o dito seu tio prenderam a ele suplicante, sem lhe dizerem a causa nem porquê.

Com esta carta mandava uma certidão assinada pelo padre António Gil, cura da igreja matriz, em como ele cumpria a penitência indo à missa com o sambenito, confessando-se e comungando como obrigação cristã. De resto, justificava alguma falta escrevendo que “lhe é necessário algumas vezes ir a Lisboa, Porto, Lamego e outras partes comprar fazendas em que trata, para sustentar sua mulher e família, porque de outro modo perecera a pura necessidade”. E queixava-se de possíveis testemunhos falsos do padre Pimentel e “outros muitos seus apaniguados, que são capitais inimigos dele suplicante” e terão dado informações falsas aos senhores inquisidores. E a súplica que fazia era como que um desafio ao tribunal: que o mandassem soltar e deixar ele ir a justificar-se e a provar a sua inocência ou então que mandassem um comissário da inquisição a averiguar se tinha alguma culpa e merecia algum castigo, pois o padre Pimentel não merecia confiança.

Pragmáticos, os inquisidores ordenaram ao padre Pimentel que mantivesse o preso por 8 dias e que da cadeia fosse levado por 2 oficiais de justiça à igreja em dois dias santos a ouvir missa, vestido com o sambenito. As custas com os mesmos oficiais de justiça seriam pagas pelo réu.

Henrique Nunes tinha a cobertura do padre Gil mas, para maior eficácia e menos escandalosa se tornar, certamente de combinação entre ambos, Henrique queixou-se ao vigário-geral da comarca dizendo que o padre Gil, cura da igreja, se negava a passar-lhe a certidão que, naquele ano, precisava mandar para a inquisição. Claro que o padre Gil logo a passou “em cumprimento do despacho do reverendo vigário-geral”, em 27.4.1653.

Nota-se bem que entre o padre Pimentel e o padre Gil haveria uma luta surda mas intensa. E se aquele era um executor de ordens da inquisição, este teria mais apoio no paço arcebispal de Braga, pois fora nomeado cura da igreja matriz, lugar antes ocupado pelo outro. E agora, a propósito, saboreiem um naco de prosa enviado pelo padre Domingos para a inquisição em 9.8.1653:

— Suspeitando ele (padre Gil) que eu tinha ordem de VV. MM. para lhe fazer cumprir sua penitência, o meteu, domingo passado, de madrugada, no coro para de lá ver a missa e depois lhe dar certidão. Disto sabem os padres António Correia, Gaspar Meireles, Manuel Correia e António Luís, que iam ao coro cantar a missa como de costume. E o dito que serve de cura, lhe proibia que fossem ao coro porque tinha lá fechado Henrique Nunes; e eles padres porfiando, com provança de força, abriram a porta e acharam dentro Henrique Nunes, a um canto do coro, coberto com a capa. Este clérigo António Gil já em outro tempo, tirando o vigário-geral desta comarca, Paulo Castelino de Freitas, uma inquirição secreta, meteu um Diogo Henriques Julião debaixo de uma escada, de onde ouviu tudo…

Nota - No próximo texto veremos o desenvolvimento do processo de Henrique Nunes.

 

Notas:

1 - Ângela da Veiga, em 1629 morava em Viseu, sendo presa pela inquisição de Coimbra. Saiu no auto-da-fé de 17.8.1631. ANTT, pº 9969. Para além de Henrique, Ângela e o marido tinham 5 filhos vivos, todos casados, todos morando em Castela.

2 - Henrique Nunes tinha mais 2 tios paternos casados, moradores em Torre de Moncorvo, 1 em Vila Flor, 1 em Vilar Torpim, 1 em Ciudad Real e 1 em Cidade Rodrigo.

3 - Inq. Lisboa, pº 2747, de Henrique Nunes.

4 - Testemunharam neste auto: Manuel Alvarenga, homem nobre, de 58 anos; Sebastião Coelho Meireles, filho do anterior; Francisco Borges de Lemos, homem nobre, morador em Freixo de Espada à Cinta, capitão de ordenanças e Gregório Montes Coelho, homem nobre, capitão de infantaria. Veja-se um pouco das declarações deste último: — Sabe que o dito Henrique Nunes se deixou penhorar nas casas de viver e outra mais fazenda, por quantia que bem pudera remir com móveis e o não quis fazer; de onde se presume que é conluio e que os homens da nação desta vila, quando se querem ausentar do reino, se deixam executar, como poucos dias há, fez um Manuel Mendes da dita vila, que se foi para Castela.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Henrique Nunes (n. Madrid c. 1620)

Henrique Nunes nasceu por 1620 na vila de Colmenar, arredores de Madrid e ali foi batizado. Foram seus pais Francisco Nunes, de Torre de Moncorvo e Ângela da Veiga Nunes, natural de Viseu.(1) Pelos 11 anos vivia em Jaén, onde seu pai o terá iniciado na religião judaica e onde também foi crismado, como verdadeiro cristão. Posteriormente, a família ter-se-á mudado para Ciudad Real, terra da Andaluzia.

Em 1635, Henrique Nunes deixou Castela e veio para Portugal, a viver em casa de seu tio paterno, Jorge Nunes,(2) em Vila Flor. O tio Jorge era casado com Branca Dias e o casal não tinha filhos. Com eles vivia Inês Dias, sobrinha de Branca. Muito naturalmente seguiu-se o casamento de Henrique Nunes e Inês Dias a quem, por certo, foi logo destinada a herança do mesmo tio, falecido poucos anos depois.

Breve se apresentava ele como um mercador “de tenda grossa” e homem de cabedal. Muito viajado e frequentando as mais diversas feiras, ele conhecia muita gente e andava em deslocações constantes “pelo reino, com seu trato de comprar e vender e dar provimento à sua loja que tem na dita vila”.

Ao findar da década de 1640, as comunidades hebreias de Trás-os-Montes sofriam um verdadeiro arraso, por parte da inquisição. E, baseados nos testemunhos de António Lopes Álvares, do Mogadouro, Diogo Lopes, de Chacim e Francisco Brandão, de Torre de Moncorvo, presos em Coimbra, com quem Henrique Nunes se terá declarado seguidor da lei de Moisés, os inquisidores decretaram a sua prisão. Deu entrada na cadeia de Coimbra em 17.3.1651, ali conduzido pelo familiar Manuel Coelho de Azevedo, de Torre de Moncorvo.

Correu o seu processo com bastante celeridade, pois ele entrou logo a confessar seus erros e denunciar seus cúmplices. Saiu no auto-da-fé de 14.4.1652, condenado em cárcere e hábito perpétuo, significando isso que, no regresso a Vila Flor, tinha de se apresentar vestindo o sambenito e com ele ir à missa aos domingos e outros dias santos.

Era uma situação humilhante e Henrique, como outros mais, procurava escusar-se o mais possível ao cumprimento da pena, metendo-se em constantes viagens de negócios. Obviamente que os olhos dos esbirros da inquisição, beatos e padres que em Vila Flor havia, andavam em cima dele e a notícia chegou a Coimbra. E dali foi expedida uma carta que, na rua pública foi entregue ao destinatário, o padre Domingos Pimentel, conforme ele próprio escreveu na resposta:

— Hoje, 3 de agosto (1652), recebi uma carta de Vossas Mercês em que se me ordena faça e obrigue a Henrique Nunes, desta vila a cumprir sua penitência, na forma da dita carta. Tanto que me foi dada, logo fiz diligência por ele e achei ser partido para Lisboa há dois dias. A dita carta fica em meu poder e tanto que ele vier, farei toda a diligência com a pontualidade que farei todas as mais que da parte do santo ofício me forem mandadas…(3)

Henrique Nunes só voltou a Vila Flor quase um ano depois, a crer na informação do padre Pimentel, que dava para o facto uma explicação. É que a carta do santo ofício lhe foi entregue em público, quando estava com outras pessoas e na ocasião lhe exigiram um registo de entrega da mesma. E isso fez logo levantar a suspeita de que a carta respeitava ao comportamento de Henrique Nunes. Este terá sido avisado e, por isso, concluía o dito padre, em mais uma missiva para a inquisição:

— Se ausentou há coisa de 11 meses, entrando e saindo ocultamente desta vila, sem eu o poder admoestar e que fizesse o termo. E porque me constou que não trazia a penitência imposta por VV MM, nem tão pouco acudia às missas, antes vendia fazenda de raiz sem necessidade e se desfazia da tenda que tinha, publicando seus amigos que ele se ia para Castela, e confessando-o a sua própria mulher e filhos.

Logo que pôde, o padre não esteve com meias medidas. Arranjou testemunhas a confirmar que Henrique estava a preparar a fuga para Castela e, no cartório do notário apostólico de Vila Flor, padre Gaspar de Meireles Almeida, mandou fazer um “auto de fuga”(4) que enviou para Coimbra.

Em simultâneo, também o sambenitado escreveu aos senhores inquisidores uma longa exposição dizendo, nomeadamente:

— Vindo ele suplicante do Vimioso, onde andou cobrando certas dívidas, no mesmo dia, o padre Domingos Pimentel e seu tio Belchior Rodrigues Pimentel, juiz ordinário, por serem seus capitais inimigos, e bem o mostram, pois sem ser cura nem pároco, amotinando o povo, com o dito seu tio prenderam a ele suplicante, sem lhe dizerem a causa nem porquê.

Com esta carta mandava uma certidão assinada pelo padre António Gil, cura da igreja matriz, em como ele cumpria a penitência indo à missa com o sambenito, confessando-se e comungando como obrigação cristã. De resto, justificava alguma falta escrevendo que “lhe é necessário algumas vezes ir a Lisboa, Porto, Lamego e outras partes comprar fazendas em que trata, para sustentar sua mulher e família, porque de outro modo perecera a pura necessidade”. E queixava-se de possíveis testemunhos falsos do padre Pimentel e “outros muitos seus apaniguados, que são capitais inimigos dele suplicante” e terão dado informações falsas aos senhores inquisidores. E a súplica que fazia era como que um desafio ao tribunal: que o mandassem soltar e deixar ele ir a justificar-se e a provar a sua inocência ou então que mandassem um comissário da inquisição a averiguar se tinha alguma culpa e merecia algum castigo, pois o padre Pimentel não merecia confiança.

Pragmáticos, os inquisidores ordenaram ao padre Pimentel que mantivesse o preso por 8 dias e que da cadeia fosse levado por 2 oficiais de justiça à igreja em dois dias santos a ouvir missa, vestido com o sambenito. As custas com os mesmos oficiais de justiça seriam pagas pelo réu.

Henrique Nunes tinha a cobertura do padre Gil mas, para maior eficácia e menos escandalosa se tornar, certamente de combinação entre ambos, Henrique queixou-se ao vigário-geral da comarca dizendo que o padre Gil, cura da igreja, se negava a passar-lhe a certidão que, naquele ano, precisava mandar para a inquisição. Claro que o padre Gil logo a passou “em cumprimento do despacho do reverendo vigário-geral”, em 27.4.1653.

Nota-se bem que entre o padre Pimentel e o padre Gil haveria uma luta surda mas intensa. E se aquele era um executor de ordens da inquisição, este teria mais apoio no paço arcebispal de Braga, pois fora nomeado cura da igreja matriz, lugar antes ocupado pelo outro. E agora, a propósito, saboreiem um naco de prosa enviado pelo padre Domingos para a inquisição em 9.8.1653:

— Suspeitando ele (padre Gil) que eu tinha ordem de VV. MM. para lhe fazer cumprir sua penitência, o meteu, domingo passado, de madrugada, no coro para de lá ver a missa e depois lhe dar certidão. Disto sabem os padres António Correia, Gaspar Meireles, Manuel Correia e António Luís, que iam ao coro cantar a missa como de costume. E o dito que serve de cura, lhe proibia que fossem ao coro porque tinha lá fechado Henrique Nunes; e eles padres porfiando, com provança de força, abriram a porta e acharam dentro Henrique Nunes, a um canto do coro, coberto com a capa. Este clérigo António Gil já em outro tempo, tirando o vigário-geral desta comarca, Paulo Castelino de Freitas, uma inquirição secreta, meteu um Diogo Henriques Julião debaixo de uma escada, de onde ouviu tudo…

Nota - No próximo texto veremos o desenvolvimento do processo de Henrique Nunes.

 

Notas:

1 - Ângela da Veiga, em 1629 morava em Viseu, sendo presa pela inquisição de Coimbra. Saiu no auto-da-fé de 17.8.1631. ANTT, pº 9969. Para além de Henrique, Ângela e o marido tinham 5 filhos vivos, todos casados, todos morando em Castela.

2 - Henrique Nunes tinha mais 2 tios paternos casados, moradores em Torre de Moncorvo, 1 em Vila Flor, 1 em Vilar Torpim, 1 em Ciudad Real e 1 em Cidade Rodrigo.

3 - Inq. Lisboa, pº 2747, de Henrique Nunes.

4 - Testemunharam neste auto: Manuel Alvarenga, homem nobre, de 58 anos; Sebastião Coelho Meireles, filho do anterior; Francisco Borges de Lemos, homem nobre, morador em Freixo de Espada à Cinta, capitão de ordenanças e Gregório Montes Coelho, homem nobre, capitão de infantaria. Veja-se um pouco das declarações deste último: — Sabe que o dito Henrique Nunes se deixou penhorar nas casas de viver e outra mais fazenda, por quantia que bem pudera remir com móveis e o não quis fazer; de onde se presume que é conluio e que os homens da nação desta vila, quando se querem ausentar do reino, se deixam executar, como poucos dias há, fez um Manuel Mendes da dita vila, que se foi para Castela.

Vendavais - O Orçamento do desencontro

Apesar de toda a polémica que se levantou no que à discussão e aprovação do Orçamento diz respeito, o certo é que todos sabíamos que não haveria grandes novidades e que seria aprovado para bem de toda a geringonça e em especial para António Costa e o seu governo. Contudo, algumas desconfianças existiam no seio de alguns partidos, quer da oposição, quer dos partidos da geringonça.

Quando se aprovou na generalidade, os mais ansiosos pela polémica, ficaram descontentes já que não houve polémica. Aprovou-se simplesmente e sem grandes discussões. Depois, contava-se, seria uma questão de pormenores. Mas não foi. Ou talvez até fosse. Estamos para ver.

A discussão na especialidade trouxe algumas controvérsias para o governo. Costa não contava com algumas delas e Centeno estava a tremer com as propostas de alteração apresentadas na Assembleia. Cinco mil milhões de euros! Centeno estava em pânico e não era para menos. Foi uma maratona de discussão para que tudo fosse aprovado a tempo e entregue ao Presidente da República. No final Centeno respirou de alívio e Costa também. Igualmente o Bloco de Esquerda e o PCP que conseguiram impor a sua força juntamente com o CDS e o PSD. Coisa curiosa, mas felizmente boa para quem saía favorecido.

É facto que a contagem de tempo dos professores foi uma vitória para a esquerda e para os partidos que se coligaram nesta votação curiosa, mas será que para os professores vai ser também uma vitória? O governo vai continuar obrigatoriamente as negociações com os sindicatos e vai ter de ceder, resta saber como e quando e de que modo. Os quase três anos que o governo estava disposto a descongelar na carreira dos professores não vai ser objeto de apreciação de Marcelo e não vão ser equacionados para já. Esperemos como vão decorrer as negociações, mas não tenhamos muitas esperanças pois a serem repostos os quase dez anos das carreiras, sê-lo-ão ao longo de alguns anos certamente. Se foi um revés para Costa, possivelmente também o será para quem tem demasiadas esperanças na progressão. Enfim!

Pois Orçamento aprovado, trato acabado. Agora começa a campanha e será cada um por si. O PS já tem as estratégias todas delineadas para o ano que se aproxima. Aliás, já esta semana sai para a rua em campanha, porque não há tempo a perder. Costa não quer perder na caminhada por isso sai a tempo, pois perder seria demasiado mau. Dentro de pouco tempo não se ouvirá falar mais de Tancos, de greves, de Borba e de corrupção. Isso serão fait divers para entreter o povo quando for necessário. O que interessa no ano que vai começar é discutir promessas e arrasar os que podem erguer barreiras na caminhada dos socialistas. Aliás, quando se apregoa que tudo está muito bem e que a economia está a crescer e que até a agências de rating mantêm a sua posição em relação a Portugal, para quê falar de coisas más como as greves de norte a sul do país ou da própria geringonça ou de Tancos e da corrupção que grassa no país? Claro que não. Interessa sim preparar o caminho para as eleições e para uma possível vitória e ela só acontece se todos acharem que estamos muito bem e que o governo está a fazer milagres.

E onde pára a oposição? Não se sabe muito bem. Na assembleia faz pouca mossa e na rua nem Rio nem Cristas castigam o governo de forma assertada. São vergastadas que não abrem buracos, como diria Bruno de Carvalho. Mas atenção Rui Rio, pois com a sua própria oposição interna, pode acontecer um suicídio colectivo. E depois? A tudo isto, Sócrates assiste de camarote de luxo que, sendo de um amigo e familiar, era de um magnata angolano que resolveu pagar uma dívida cedendo a sua casa. Curioso! Mas já vamos estando habituados às manigâncias do antigo ex-primeiro ministro! Continuam as touradas! Já não chegava a redução para os 6% de IVA para as touradas… com touros!

E Marcelo? Será que também assiste de camarote a todo este alarido? Não parece muito incomodado, é certo, mas já deve estar a equacionar o modo de resolver uma certa questão que o remete para segundo plano na hierarquia nacional. Parece que o governo vai passar a dar posse aos oficiais generais que nomeia. Inédito! Então as Forças Armadas não estão na dependência do Presidente da República que é o Chefe Geral das Forças Armadas? Isto deve-se somente ao caso de Tancos. Pois é. As queimadelas não foram só as de Pedrógão ou de Monchique. Já vinham de trás. Tancos queimou alguns generais, ministros e secretários. Queimou o governo, claro. Agora Costa não quer correr mais riscos, mas será que Marcelo está de acordo? Afinal há ou não uma inversão de poderes na chefia do Estado? Parece-me que afinal, as touradas ainda não acabaram.

Afinal de contas, o Orçamento foi aprovado, mas há um desencanto enorme que não sei como vai ser resolvido! Pode ser que sim.

 

A estrelinha e a Estrela de Óscar

No mar encapelado da alta cozinha são frequentes os naufrágios porque os cozinheiros e chefes não souberam escolher a estrelinha capacitada para os orientar de modo a superarem as dificuldades inerentes a uma profissão de alto risco, pensemos nos chefes desapossados da estrela o sol, um deles não aguentou o desgosto e suicidou-se. Ora, o Óscar, trato-o assim porque desde a tenra idade, tamanino, o cintilante criador de fórmulas culinárias sempre assim o tratei, ao longo dos anos, mesmo contra a sua vontade, revelou curiosidade e engenho para fazer um comentário aos comeres realizados pela Mãe, senhora Mestra da cultura de do pouco fazer muito, sempre atreita a fazer/fazendo, longe dos holofotes da vaidade balofa, sem esquecer os atinentes à arte de criar clima ou ambiente para os clientes se sentirem confortáveis e tão mimados quanto o rei Midas.

Lembro-me dele enquanto estudante do Politécnico, perguntava-lhe sobre o andamento dos estudos, alargava o sorriso, prometia não esquecer a importância dos estudos académicos e praticava no restaurante num afã digno de registo que os seus amigos e clientes desde sempre, como são os médicos António Machado e Telmo Moreno que foram observando, verificando, incentivando o ladino rapaz aprendiz até obter a estrela a catapultá-lo para o disputado e exigente firmamento Michelin. Diga-se o que se disser do famoso Guia os que contam são as estrelas dado as mesmas serem eclatantes indicações aos muitos milhões de leitores do «Miquelino», apodo criado por José Quitério no intuito de o desvalorizar.

Há anos o Chefe José Cordeiro (já regeu restaurantes estrelados) salientou-me as qualidades e fogosidades de Óscar, augurando-lhe voo picado, consistente e cada dia mais alto. Na altura disse ao Chefe de Óscar estudar mais as técnicas das várias cozeduras e acima de tudo não se deslumbrar. De resto, quando trocava impressões com o seu Pai, homem prudente cujas raízes brotaram e cresceram na área da restauração, embora ele não escondesse o orgulho no engenho do filho a deslizar no fio da navalha do conceber/concebendo receitas cuja matricialidade assenta nos vínculos da cozinha popular transmontana, colocava travões no entusiasmo de Óscar e do irmão António empenhado em decantar e destacar as virtudes organolépticas de vinhos de múltiplas proveniências e origens.

E, agora Óscar? Não é esta crónica azada a esmiuçar as vantagens e saliências lucrativas da Estrela, é sim de júbilo transbordante e reflexivo pois o futuro prepara-se no presente.

Desde há muitos anos defendo a elevação da cidade de Bragança ser ponto focal da gastronomia regional e nacional com incidência no Nordeste, alguns amigos têm aturado e lido as razões para este desejo, António Jorge Nunes e Hernâni Dias contam-se entre os pacientes. A luz emanada cobrindo o burgo brigantino não pode esfumar-se ficando bruxuleante, mortiça, projectando sombras sobre o passado, aos irmãos Gonçalves pede-se constância em continuado estreitar de braços com os pais, aos restantes profissionais do binómio comeres e beberes alvitro preencher a inveja trabalhando as matérias-primas transformando-as em produtos de alta qualidade conducentes à sua materialização em suculentas e sápidas receitas cuja ânima seja a nossa cozinha – rural, urbana, popular, nobilitada, conventual, monacal, experimental e contemporânea –, mas que o seja. Não cedam a tentações, rejeitem o «gato por lebre», cozinhem e temperem levando em linha de conta o conselho do Bispo de Viseu, Dom António Alves Martins, o húmus da nossa terra e o saber herdado de geração para geração. Deixem-se de mimetismos rançosos, imitem até à exaustão o Óscar.

Desconheço qual será a atitude do Município, Associação Empresarial e Politécnico relativamente ao galardão outorgado a Óscar Gonçalves, era um despropósito elencar ou citar modos de o potenciar, será erro clamoroso se não for retirado «lucro» a todos os níveis do novo património. Como? Sejam frementes na ambição e responsáveis na concretização. A espanhola Pilar del Rio conseguiu levar um escritor português ao estrelato do Nobel!