Ter, 16/12/2025 - 11:53
Excecionalmente, o espaço deste editorial ficou mais curto. Não por falta de assunto, mas porque, tal como as reformas em Bragança, o que há para distribuir nunca chega para tudo.
Os números não enganam e dispensam dramatizações. Bragança, acompanhado por Vila Real e Castelo Branco, é o distrito onde os reformados recebem as pensões mais baixas do país. Reformas a rondar os 450 euros mensais num território envelhecido, despovoado e onde os custos do dia a dia já deixaram de ser os do interior barato há muito tempo.
O problema das reformas em Bragança não é apenas estatístico, é moral. Um país que aceita que quem trabalhou uma vida inteira envelheça com 450 euros por mês está a dizer, em silêncio, que há territórios e pessoas que valem menos.
Acresce ainda uma ironia difícil de engolir, Bragança é um dos distritos onde as pessoas mais cedo começam a trabalhar e onde o desgaste físico das profissões é maior. Agricultura, construção, serviços essenciais. Carreiras longas, contributivas, mas mal remuneradas. O resultado é um ciclo conhecido, salários baixos geram reformas baixas e empurram os mais velhos para a dependência da família, da caridade ou da continuação do trabalho, quando a idade já pede descanso.
Esta desigualdade territorial e social tem consequências reais. Um em cada quatro reformados, em Portugal, continua a trabalhar. Nem sempre por opção, muitas vezes por necessidade. Curiosamente, são também os que recebem reformas mais altas que mais permanecem no mercado de trabalho, o que revela um sistema que penaliza quem trabalhou vidas inteiras em salários baixos, como tantos transmontanos.
Em 2026, as pensões até cerca de 1045 euros sobem 2,8%. Um aumento ligeiramente acima da inflação. Mas quando a base é curta, o aumento também o é. Para muitos idosos do distrito, esta atualização significará mais alguns euros, insuficientes para medicamentos, aquecimento ou uma ida ao médico.
Bragança aproxima-se perigosamente de um ponto onde envelhecer é resistir. Se o país quer combater o abandono do interior, tem de começar por garantir dignidade a quem cá ficou. Reformas curtas não constroem futuro nem justiça social.
Carina Alves, Diretora de Informação.


