SMALL IS BEAUTIFUL

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“Small is beautiful” é o título de uma exposição patente, até 15 de janeiro de 2022, na rue de Turenne, em Paris, onde, em 900 m2, distribuídos por dois andares, vinte artistas internacionais apresentam 126 miniaturas e fotografias. Os organizadores retomaram um slogan que, no dealbar do último quartel do século XX, agitou as teorias de gestão e foi o “leitmotiv” dos gurus que anunciavam o fim da era dos grandes conglomerados. Era, aliás, uma prática recorrente nas restruturações a que as grandes empresas se viram obrigadas a fazer, para, na sequência da crise energética de 1973, racionalizarem os excessivos gastos fixos e exageradas despesas de estrutura. Passou a ser regra geral quase dogma, assistir ao desmembramento de todo e qualquer gigante industrial sempre que via a sua sustentabilidade ameaçada pela descida crescente da sua rentabilidade. A pesada e desmesurada estrutura era, num ápice, substituída por várias empresas pequenas, ágeis e muito flexíveis permitindo toda a espécie de alterações e inovações para garantir rapidez, personalização e adaptação rápida às flutuações do Mercado que começava, já nessa altura, a mostrar sinais de variabilidade, mudança e evolução. É verdade que o uso de plataformas digitais e o poder da internacionalização, voltaram a trazer, grandes empresas e gigantes económicos à escala mundial. Mas, trouxeram consigo os problemas graves conhecidos e que exigem soluções complexas e nem sempre eficazes. Mas ficou o conceito que, como muito bem viram os parisienses, se coaduna com o bom senso comum e a observação empírica da realidade em que nos movimentamos. Tudo quanto é pequeno tem o seu encanto e, principalmente, as suas virtudes. Porque, na maior parte das vezes, a acumulação de coisas boas não resulta num bem maior, bem, pelo contrário, traduz-se em algo mau e até mesmo perverso. Beber um copo, dois ou três de um bom vinho, sabe bem e é bom. Beber em demasia, por melhor que seja o néctar, causa desconforto e faz mal. Um medicamento sendo útil e eficaz, na dose certa, será mau e até fatal se exagerada a sua toma. É sabido que até o veneno, tomado em quantidades minúsculas não só é tolerado como acaba por induzir, no organismo, reações imunitárias. O mesmo se passa com algumas “soluções ambientais” de produção de energia. Aparecem por aí, projetos “verdes” que advogam instalações exageradas de painéis solares, que nos são apresentadas como excelentes porque o aproveitamento da energia do sol é bom e sustentável. Pois é, mas não em doses excessivas e concentradas. Essas, não podem ser amigas do ambiente pois a primeira coisa que fazem é... a descaracterização da paisagem, um dos melhores recursos que ainda nos resta. O aproveitamento da energia do sol, tal como a do vento, deve ser feito no respeito pela natureza pois só assim cumpre com rigor os princípios em nome dos quais se baseia para fazer valer a sua mais valia. A verdadeira solução foto-voltaica, para a nossa terra, não passa pela instalação de parques “industrializados” de painéis, para fornecimento de megawatts para a rede nacional mas pelo recurso de unidades individuais, instaladas em telhados ou pequenos anexos para consumo próprio. A produção global pode ser a mesma (ou até maior) mas a economia para cada um cresce e, sobretudo, preserva-se a paisagem. Mas essa é, obviamente, uma solução que exige competência, compreensão, dedicação e muito trabalho. Coisa a que muitos dos decisores políticos estão muito pouco habituados!

José Mário Leite