Autárquicas 21

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O processo eleitoral já começou. Já se vão conhecen - do os candidatos e recandidatos aos lugares autárquicos em disputa, todos, é certo, mas especialmente o de Presidente de Câmara pois é nele que se centram todas as atenções do próximo processo eleitoral. Apesar do estranho ambiente, perturbador, sem dúvida, dificultador, sobretudo nas zonas rurais onde o contacto pessoal é de alta importância, já são visíveis, no terreno, as movimentações de todos os putativos atores, especialmente os oponentes ao poder estabelecido. Substituir quem está sentado na cadeira do poder não é, reconhecidamente, tarefa fácil, tanto assim que é assumido como verdadeira a afirmação, vulgarizada, precisamente, quando aplicada às eleições autárquicas que, normalmente ninguém as ganha, quando muito, perde-as quem detém o poder. As várias edições já ocorridas vieram dar razão a tal proposição que aumentando a dificuldade dos aspirantes, igualmente acrescenta a responsabilidades dos atuais detentores se, igualmente, forem contendores. Por uma razão simples de que ninguém pode assegurar melhor a continuidade do que aquele que já está ao comando na máquina municipal. Embora, na maior parte das vezes, o pleito eleitoral se cinja à discussão de personalidades é um erro cair nessa armadilha. Porque o que está em litígio não é propriamente um emprego, bem ou mal remunerado, isso agora não é relevante, mas o futuro de toda uma comunidade que dependerá, é verdade, da vontade, querer e determinações do que encabeçar a lista vencedora. Quem pensar que para que tudo mude basta mudar o cabeça de cartaz, está muito enganado. É preciso que a mudança, quando e se acontecer, traga inerente um novo roteiro, uma agenda inovadora e, provavelmente, uma estratégia de rutura. Só analisando todas as propostas em debate será possível decidir em consciência e optar, livremente, pelo rumo que cada um acha melhor para o trajeto comum que reveste a vida em sociedade. Entristece-me sempre que, perante alguém que surge com ideias inovadoras, sejam mais ou menos valiosas, em vez de as ver rebatidas, porque não, ser imediatamente alvo de acusações de caráter. A estratégia de ataque ao mensageiro, quando a mensagem não agrada é muitíssimo mais velha que a Sé de Braga, mas nunca contribuiu para melhorar a vida de ninguém. Parecendo serem “apenas” mais umas eleições autárquicas, não é exatamente assim, no caso presente. A nível local porque o momento histórico que vivemos que, sabemos, antecede volumosos investimentos destinados à recuperação da desastrosa situação para onde fomos arrastados pela tremenda pandemia que se abateu sobre o mundo, pede-nos a escolha de quem podendo decidir os investimentos certos e necessários, pode, igualmente, desperdiçar esta oportunidade agravando ainda mais a situação depauperada atual. A nível nacional vai haver um foco, inevitável, na contenda da capital. Com certeza que não foi com a cadeira municipal como último horizonte que Carlos Moedas abandonou o tranquilo e prestigiante lugar na administração da Fundação Gulbenkian, afastando- -se da possibilidade que, não sendo certa, era apontada como muito provável, de ascender ao melhor lugar executivo do território lusitano, a fazer fé nas palavras atribuídas a Marcelo Caetano, quando foi indigitado para presidir ao Conselho de Ministros.

José Mário Leite