Se conhecem alguns, certamente não lhes escapou despercebida esta situação inquietante: os nossos jovens não estão bem. Todos os estudos mostram que os jovens com menos de 30 anos, pelo menos uma grande parte deles, são as primeiras vítimas da agravação das desigualdades a partir da pandemia de ovid. No ensino superior essencialmente, torna-se cada vez mais difícil fazer um percurso coerente, com aulas e seminários que saltam, com intermináveis túneis de aulas em videoconferência, com exames mais ou menos assegurados e a ausência de qualquer
atividade coletiva. Stress, ansiedade, depressão, solidão: há mais dum ano que o ensino superior vem alertando para a saúde psíquica dos estudantes. No que diz respeito aos que estão no mercado de trabalho, a situação não para de se degradar; entre a dificuldade de inserção profissional, precarização dos empregos e disparidade das desigualdades. Nas empresas, se contratar era difícil, é-o agora ainda mais.
Os estágios e os contratos a termo, que permitiam adquirir uma primeira experiência tornaram-se raros, as empresas cada vez menos inclinadas a aumentar os seus efetivos pois a pandemia
de covid complica especialmente a gestão dos recursos humanos … Além do desaparecimento dos pequenos empregos na restauração, entre outros, algo que foi desastroso para estes jovens.
Salários muito baixos, contratos precários e altas taxas de desemprego: hoje, mais dum jovem em dez encontra-se em situação de pobreza… As consequências são inúmeras: mal alojados,
isolamento social e, também aqui, repercussão na saúde psíquica. Safam-se alguns que podem contar com uma família sólida, presente, unida. E os outros?
Os sociólogos falam duma “geração covid”, baralhada e inquieta, para caraterizar estes estudantes ou estes jovens ativos cujos projetos foram claramente imobilizados pelas restrições ligadas
à crise sanitária.
Por fim, temos também o teletrabalho. Não é intenção contestar aqui as medidas tomadas ainda hoje que visam travar a circulação do vírus, mas, mesmo neste campo as principais vítimas
são os jovens trabalhadores. Isolados muitas vezes, porque são solteiros na sua grande parte, têm de passar oito horas sozinhos frente ao ecrã, e por vezes só lhes resta regressar a casa
dos pais para não se encontrarem esmagados pela solidão. As empresas não deveriam apressar-se a este ponto no desejo de querer generalizar o famoso teletrabalho,
com o pretexto de favorecer a flexibilidade - suave eufemismo para poderem ganhar as despesas fixas - de superfície afixada e de produtividade. Porque, que geração de novos
assalariados estamos nós a fabricar? Que espírito de empresa pretendemos favorecer quando se toma o hábito de ziguezaguear nos open-spaces meio cheios?
Com é possível formar uma comunidade de indivíduos a partir dum projeto quando se ignora tudo a partir daqueles com quem é suposto trabalhar?
Gostaríamos de lhes mostrar o significado de tudo isto, que a única coisa que interessa, é a sua força de trabalho, que a relação e a colaboração com o outro
não passam duma perda de tempo, que tudo não pode ser visto doutra forma.
Nada espanta em relação ao que estamos a assistir, com muitos dos jovens em questão, seja pondo em causa a sua orientação profissional, seja as suas opções de
vida remetidas para a sua satisfação individual, o trabalho não passando assim duma variável de ajustamento.
Fala-se de esforços do governo em relação a estes jovens em grandes dificuldades. Mas não deve ser unicamente o governo.
Neste momento em que se fala de “empresa cidadã”, não podemos esquecer que o trabalho, a empresa é um lugar de socialização. E que também é seu dever preparar as novas gerações para
os compromissos do futuro.