O meu professor de português, latim e grego, o insigne e proficiente Dr. Mário da Conceição (um verdadeiro anjo na terra), um certo dia, na informalidade de uma conversa entre amigos, confessou-me que, muitas vezes, aquando da correcção dos testes, ficava na dúvida - modéstia sua, ele era demasiado competente para as ter - acerca do correcto escrever de certas palavras na língua de Camões, dado o número elevado de alunos que as grafavam erradamente. Ao contrário do que possa parecer, a metáfora do soldado que marcha com o passo trocado, em relação aos seus “camaradas” de Companhia, está longe de provar que a maioria, mesmo que absoluta, tem sempre razão, porquanto, na “parada rodoviária”, à qual pertenço há 40 anos, sinto que não estou a marchar na mesma direcção que os demais – o que me leva à pergunta retórica: Afinal, o que se ensina nas escolas de condução?! Sendo por demais sabido que a generalidade dos portugueses tem uma certa propensão para subverter as regras, sejam elas quais forem ( “está- lhes no sangue”, como diz a minha querida mãe), vou referir apenas aquelas que dizem respeito ao exercício da condução, nomeadamente o comportamento nas rotundas, deixando para uma outra ocasião condutas que revelam o caráter dos seus autores, como, por exemplo, a ocupação de dois ou três lugares de estacionamento por uma viatura ( tenho o registo fotográfico dum sujeito que, no parque de estacionamento do Modelo, estacionou o carro, ocupando 4 lugares, sendo que um deles era destinado a deficientes) ou o estacionamento em contramão. Para os mais desatentos, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) promoveu, em 2014, a última actualização ao Código da Estrada, sendo aqui contemplada a regra de circulação nas rotundas. Com o seu quê de polémica e controvérsia, por gerar uma certa confusão, esta regra, com mais ou menos dificuldade, lá foi sendo assimilada pelos condutores, até que hoje, com alguns acidentes pelo meio, e salvo raras excepções, já não constitui obstáculo para ninguém. O mais grave é que, grosso modo, mais de 90% da “Companhia” não conhece o preceito mais básica do Código da Estrada, a Regra da Direita. Pois, para aqueles que ignoram a dita, por, estou convencido, terem estudado a matéria, recorrendo a um livro com algumas páginas rasgadas, vou relembrar, suportando-me apenas na memória: tem sempre prioridade, não havendo sinalização em contrário, os veículos que se apresentem pela direita. Esta regra é também quebrada, segundo os manuais, aquando da presença de veículos prioritários, ou quando a autoridade policial, por razões atendíveis, dá ordem de paragem. Pelo que tenho constatado, esses tais 90% dos condutores fazem confusão entre “circular na rotunda” (um pleonasmo inevitável) com “entrar na rotunda”. E a diferença não pode ser mais clara: quem circula na rotunda tem, sem quaisquer excepções, sempre prioridade em relação a quem nela quer entrar. Quem entra na rotunda, pela mão esquerda, é obrigado a ceder passagem àqueles que, acedendo à mesma, se apresenta pela direita. Vou só citar dois casos paradigmáticos na nossa cidade: 1 – Querendo tomar a direcção do Liceu, da Escola Industrial ou dos Bombeiros, no sentido ascendente, temos duas hipóteses, ambas a confluir na rotunda do Centro Comercial: quem vem do Bairro da Estação, passando pela antiga escola primária que lhe dá o nome; e quem vem, desde a Avenida João da Cruz, passando junto à Casa dos Juízes. O que acontece, mas sempre: os segundos, que se apresentam, à entrada da rotunda, pela esquerda, nunca param para deixar passar os primeiros, que estão pela direita – sendo que o único sinal existente, para os dois, é o de aproximação de rotunda. 2 – No acesso à rotunda junto ao ISLA, designada de “penso higiénico” (nunca percebi a razão pela qual os entendidos acham que aquela configuração geométrica é uma rotunda!), quem se dirige para o centro da cidade, fá-lo através das seguintes vias: a que, desde a Avenida Sá Carneiro, passa pelo Eixo Atlântico; e a que, vindo da Rotunda do Emigrante, passa ao lado da vivenda do Senhor Ribeiro, ex funcionário da Câmara Municipal. Aqui passa-se o mesmo que no exemplo anterior. Ou seja, o primeiro, que, à entrada da “rotunda”, se apresenta pela esquerda, passa, sem se dignar olhar para quem vem da direita. Como adepto da linguagem da pedagogia, lanço aqui o desafio ao Senhor Comandante Distrital da Polícia de Segurança Pública de Bragança, Superintentente José Neto, pessoa de trato fácil e moralmente bem formada, de promover uma accão de sensibilização junto dos condutores que não sabem a regra elementar do Código da Estrada. Estou certo que o fará. Se assim for, muitos impropérios, gestos obscenos e confrontos físicos se evitarão no futuro, porque não há nada pior do que um ignorante sem humildade.
António Pires