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Vendavais - O Orçamento do desencontro

Apesar de toda a polémica que se levantou no que à discussão e aprovação do Orçamento diz respeito, o certo é que todos sabíamos que não haveria grandes novidades e que seria aprovado para bem de toda a geringonça e em especial para António Costa e o seu governo. Contudo, algumas desconfianças existiam no seio de alguns partidos, quer da oposição, quer dos partidos da geringonça.

Quando se aprovou na generalidade, os mais ansiosos pela polémica, ficaram descontentes já que não houve polémica. Aprovou-se simplesmente e sem grandes discussões. Depois, contava-se, seria uma questão de pormenores. Mas não foi. Ou talvez até fosse. Estamos para ver.

A discussão na especialidade trouxe algumas controvérsias para o governo. Costa não contava com algumas delas e Centeno estava a tremer com as propostas de alteração apresentadas na Assembleia. Cinco mil milhões de euros! Centeno estava em pânico e não era para menos. Foi uma maratona de discussão para que tudo fosse aprovado a tempo e entregue ao Presidente da República. No final Centeno respirou de alívio e Costa também. Igualmente o Bloco de Esquerda e o PCP que conseguiram impor a sua força juntamente com o CDS e o PSD. Coisa curiosa, mas felizmente boa para quem saía favorecido.

É facto que a contagem de tempo dos professores foi uma vitória para a esquerda e para os partidos que se coligaram nesta votação curiosa, mas será que para os professores vai ser também uma vitória? O governo vai continuar obrigatoriamente as negociações com os sindicatos e vai ter de ceder, resta saber como e quando e de que modo. Os quase três anos que o governo estava disposto a descongelar na carreira dos professores não vai ser objeto de apreciação de Marcelo e não vão ser equacionados para já. Esperemos como vão decorrer as negociações, mas não tenhamos muitas esperanças pois a serem repostos os quase dez anos das carreiras, sê-lo-ão ao longo de alguns anos certamente. Se foi um revés para Costa, possivelmente também o será para quem tem demasiadas esperanças na progressão. Enfim!

Pois Orçamento aprovado, trato acabado. Agora começa a campanha e será cada um por si. O PS já tem as estratégias todas delineadas para o ano que se aproxima. Aliás, já esta semana sai para a rua em campanha, porque não há tempo a perder. Costa não quer perder na caminhada por isso sai a tempo, pois perder seria demasiado mau. Dentro de pouco tempo não se ouvirá falar mais de Tancos, de greves, de Borba e de corrupção. Isso serão fait divers para entreter o povo quando for necessário. O que interessa no ano que vai começar é discutir promessas e arrasar os que podem erguer barreiras na caminhada dos socialistas. Aliás, quando se apregoa que tudo está muito bem e que a economia está a crescer e que até a agências de rating mantêm a sua posição em relação a Portugal, para quê falar de coisas más como as greves de norte a sul do país ou da própria geringonça ou de Tancos e da corrupção que grassa no país? Claro que não. Interessa sim preparar o caminho para as eleições e para uma possível vitória e ela só acontece se todos acharem que estamos muito bem e que o governo está a fazer milagres.

E onde pára a oposição? Não se sabe muito bem. Na assembleia faz pouca mossa e na rua nem Rio nem Cristas castigam o governo de forma assertada. São vergastadas que não abrem buracos, como diria Bruno de Carvalho. Mas atenção Rui Rio, pois com a sua própria oposição interna, pode acontecer um suicídio colectivo. E depois? A tudo isto, Sócrates assiste de camarote de luxo que, sendo de um amigo e familiar, era de um magnata angolano que resolveu pagar uma dívida cedendo a sua casa. Curioso! Mas já vamos estando habituados às manigâncias do antigo ex-primeiro ministro! Continuam as touradas! Já não chegava a redução para os 6% de IVA para as touradas… com touros!

E Marcelo? Será que também assiste de camarote a todo este alarido? Não parece muito incomodado, é certo, mas já deve estar a equacionar o modo de resolver uma certa questão que o remete para segundo plano na hierarquia nacional. Parece que o governo vai passar a dar posse aos oficiais generais que nomeia. Inédito! Então as Forças Armadas não estão na dependência do Presidente da República que é o Chefe Geral das Forças Armadas? Isto deve-se somente ao caso de Tancos. Pois é. As queimadelas não foram só as de Pedrógão ou de Monchique. Já vinham de trás. Tancos queimou alguns generais, ministros e secretários. Queimou o governo, claro. Agora Costa não quer correr mais riscos, mas será que Marcelo está de acordo? Afinal há ou não uma inversão de poderes na chefia do Estado? Parece-me que afinal, as touradas ainda não acabaram.

Afinal de contas, o Orçamento foi aprovado, mas há um desencanto enorme que não sei como vai ser resolvido! Pode ser que sim.

 

A estrelinha e a Estrela de Óscar

No mar encapelado da alta cozinha são frequentes os naufrágios porque os cozinheiros e chefes não souberam escolher a estrelinha capacitada para os orientar de modo a superarem as dificuldades inerentes a uma profissão de alto risco, pensemos nos chefes desapossados da estrela o sol, um deles não aguentou o desgosto e suicidou-se. Ora, o Óscar, trato-o assim porque desde a tenra idade, tamanino, o cintilante criador de fórmulas culinárias sempre assim o tratei, ao longo dos anos, mesmo contra a sua vontade, revelou curiosidade e engenho para fazer um comentário aos comeres realizados pela Mãe, senhora Mestra da cultura de do pouco fazer muito, sempre atreita a fazer/fazendo, longe dos holofotes da vaidade balofa, sem esquecer os atinentes à arte de criar clima ou ambiente para os clientes se sentirem confortáveis e tão mimados quanto o rei Midas.

Lembro-me dele enquanto estudante do Politécnico, perguntava-lhe sobre o andamento dos estudos, alargava o sorriso, prometia não esquecer a importância dos estudos académicos e praticava no restaurante num afã digno de registo que os seus amigos e clientes desde sempre, como são os médicos António Machado e Telmo Moreno que foram observando, verificando, incentivando o ladino rapaz aprendiz até obter a estrela a catapultá-lo para o disputado e exigente firmamento Michelin. Diga-se o que se disser do famoso Guia os que contam são as estrelas dado as mesmas serem eclatantes indicações aos muitos milhões de leitores do «Miquelino», apodo criado por José Quitério no intuito de o desvalorizar.

Há anos o Chefe José Cordeiro (já regeu restaurantes estrelados) salientou-me as qualidades e fogosidades de Óscar, augurando-lhe voo picado, consistente e cada dia mais alto. Na altura disse ao Chefe de Óscar estudar mais as técnicas das várias cozeduras e acima de tudo não se deslumbrar. De resto, quando trocava impressões com o seu Pai, homem prudente cujas raízes brotaram e cresceram na área da restauração, embora ele não escondesse o orgulho no engenho do filho a deslizar no fio da navalha do conceber/concebendo receitas cuja matricialidade assenta nos vínculos da cozinha popular transmontana, colocava travões no entusiasmo de Óscar e do irmão António empenhado em decantar e destacar as virtudes organolépticas de vinhos de múltiplas proveniências e origens.

E, agora Óscar? Não é esta crónica azada a esmiuçar as vantagens e saliências lucrativas da Estrela, é sim de júbilo transbordante e reflexivo pois o futuro prepara-se no presente.

Desde há muitos anos defendo a elevação da cidade de Bragança ser ponto focal da gastronomia regional e nacional com incidência no Nordeste, alguns amigos têm aturado e lido as razões para este desejo, António Jorge Nunes e Hernâni Dias contam-se entre os pacientes. A luz emanada cobrindo o burgo brigantino não pode esfumar-se ficando bruxuleante, mortiça, projectando sombras sobre o passado, aos irmãos Gonçalves pede-se constância em continuado estreitar de braços com os pais, aos restantes profissionais do binómio comeres e beberes alvitro preencher a inveja trabalhando as matérias-primas transformando-as em produtos de alta qualidade conducentes à sua materialização em suculentas e sápidas receitas cuja ânima seja a nossa cozinha – rural, urbana, popular, nobilitada, conventual, monacal, experimental e contemporânea –, mas que o seja. Não cedam a tentações, rejeitem o «gato por lebre», cozinhem e temperem levando em linha de conta o conselho do Bispo de Viseu, Dom António Alves Martins, o húmus da nossa terra e o saber herdado de geração para geração. Deixem-se de mimetismos rançosos, imitem até à exaustão o Óscar.

Desconheço qual será a atitude do Município, Associação Empresarial e Politécnico relativamente ao galardão outorgado a Óscar Gonçalves, era um despropósito elencar ou citar modos de o potenciar, será erro clamoroso se não for retirado «lucro» a todos os níveis do novo património. Como? Sejam frementes na ambição e responsáveis na concretização. A espanhola Pilar del Rio conseguiu levar um escritor português ao estrelato do Nobel!