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Fumeiro: ventos e fumos

Estamos em pleno apogeu da degustação do fumeiro, sejam os enchidos de massa, sejam os integralmente de carnes, sejam ainda os «misturados» de sangue agres e doces, tabafeias e por aí fora até aos menos conhecidos para o vulgo caso dos chavianos e das larocas, sem esquecer os reizinhos tão do agrado dos meninos das aldeias num tempo corroído pela máquina do progresso tecnológico triturador de usanças artesanais na arte de conceber produtos impregnados de fumos e ventos.

Fumos de lenha seca de boa estirpe, ventos a fanfarem entre as frinchas das telhas produzindo ardores nos olhos dos arrimados em torno da lareira, do lar.

Os fumos desinquietados perturbavam a denomina lida da casa confinada à lareira e adjacências, faúlhas enriqueciam os caldos grossos invernais, até as chouriças a assar no borralho sofriam inclemências obrigando a maiores desvelos na boa preparação das mesmas.

Acaba de pousar nas estantes das livrarias o livro Entre Fumos e Ventos, Editorial Bertrand, da autoria de um competente, logo esclarecido chefe de cozinha, mesmo chefe, o Chefe Nuno Diniz, o qual é dono de vivaz currículo repartido entre os fogões, as caçarolas, as prensas de onde saem patos a pedirem meças aos do famoso restaurante parisiense Tour d’Argent, e do estudo das causas decorrentes da criação e inovação culinária. O livro é documento a ler e consultar no tocante a chouriços do terrrunho português, peca pela falta da bibliografia consultada, isso não apouca o mérito do trabalho. É um pecadilho!

O Chefe Nuno Diniz é um apaixonado e defensor da Serra do Larouco, do termo de Montalegre, eis a sedução convertida em livro falando de ventos ásperos provindos dos cabelos misteriosos da divindade serrana, das fumaças a afagarem os famosos enchidos ora conhecidos em todo o território português e pelo menos na Galiza.

A Feira do Fumeiro de Montalegre iniciou-se num espaço apertado debaixo da batuta do então Vereador da Cultura Orlando Fernandes, presentemente o primeiro timoneiro da Edilidade barrosã. A festa incluía um concurso destinado a premiar a melhor chouriça de carne e a mais bem conseguida alheira. Nenhuma alheira foi distinguida originando a decisão desenvolta e atrevida levando em linha de conta o ambiente, tendo originado um intenso ruído polvilhado de verrinosas e vernáculas palavras. O Presidente do Júri, o sabedor Padre João sossegava-me, o outro jurado natural de Padronelo, proprietário de talhos em Fafe, conseguia superar o vozear explicando os critérios de apreciação para lá de exibir alheiras defeituosas na sua confecção. Durante alguns anos frequentei a Feira do Fumeiro e posso testemunhar quão importante foi e é no desenvolvimento económico, social e turístico do concelho de Montalegre. A vetusta vila pese a sua importância estratégica no passado e assinalável história foi fenecendo ao ritmo do progresso científico e técnico da arte da guerra, foi porto seco, na maior parte do século XX as pessoas daquela região viviam mal, notabilizando-se devido à boa qualidade da batata de semente. Até chegar a Feira/Festa do Fumeiro. Sem tirar, nem pôr o generoso porco, porcos, trouxeram e trazem muitos milhões à generalidade das pessoas. Fico feliz por tudo quanto a marca maior – o reco – nas suas múltiplas designações consegue trazendo multidões ao Barroso, levando de volta o estômago saciado de pitanças porcinas, as bagageiras dos meios de transporte toda a casta de produtos propiciadores de chorudos lucros às farmácias pois não há bela sem senão.

A Feira de Fumeiro coeva mais antiga é a de Vinhais, bem organizada, é outro grande acontecimento nesta área alimentar e de júbilo palatal, a estrutura integra um Centro de Interpretação alusivo ao – leitão, larego, farrôpo, marrancho –, eis algumas designações do estimado amigo das donas de casa transmontanas, cuja acção visa perpetuar a memória unitária da paisagem e o animal, cujo traço de união é o castanheiro nobre árvore geradora de frutos imprescindíveis na dieta dos suínos geradores de carnes gostosas expressas no fumeiro.

Nos dias de hoje as feiras do fumeiro proliferam, miméticas, sem a vivência das acima enunciadas e ainda a de Boticas, as populações locais aderem, sempre vão amealhando umas receitas, o povo, essa entidade abstracta frequenta-as alegremente, pudera, a satisfação auferida é grande, como longo é o ano de muitos dias de combate ao colesterol. Dias não são dias, aquelas feiras possibilitam tirar a barriga de desejos, felizmente, de misérias já não.

Graça minhota em Trás-os-Montes

Ter, 15/01/2019 - 10:07


Olá ilustre familiazinha! “FAI CÁ UM FRIO!!!”

Em muitas das nossas terras, como nos confirma a tia Palmira, de Grijó (Bragança), “se a nossa terra fosse visitada por dois teimosos, engarravam-se, porque um ia dizer que era neve e o outro dizia que é geada!”. Mas é uma senhora geada, que já fez com que o contador da água e os canos da tia Julieta, de Suçães (Mirandela) e de muitos mais tios e tias, tivessem rebentado.

O rio deme Gimonde (Bragança) já congelou e tornou-se numa pista natural de patinagem artística. Claro que dias assim também servem para os órgãos de comunicação social nacionais noticiarem o frio que nós suportamos por cá. Mas nós já estamos ‘vacinados’ contra o frio do Inverno e o calor extremo do Verão. O nosso povo sabe bem que tem que andar muito agasalhado e ter as casas sempre quentinhas, com a lareira sempre acesa à custa da lenha que ainda é o combustível mais gasto na nossa região.

Nestas madrugadas gélidas, o nosso programa tem tido o calor humano da nossa família que nos tem mimado com os cantares de Reis. Hoje a nossa edição é abençoada por Santo Amaro, porque o dia 15 de Janeiro é dia de ‘Santo Amaro buteleiro’ e em muitas terras é tradição comer-se neste dia o butelo (salpicão de ossos).

No passado fim-de-semana também se festejou o

S. Gonçalo, em Outeiro (Bragança), onde ainda se mantém a tradição da dança da rosca (a dança dos bate-cus), segundo nos informou a nossa tia Ludovina.

Na última semana estiveram de parabéns a avó Libânia, de Vila Nova de Monforte (Chaves), que festejou dois anos, depois do século de vida (102); José Luís (72), de Vale de Gouvinhas (Mirandela); Amélia (72) e Cláudia Topete (39), ambas de Souto da Velha (Torre de Moncorvo); Eugénio Cantoneiro (75), de Nuzedo de Baixo (Vinhais); João Eduardo (44), de Regodeiro (Mirandela); Jorge Manuel (54), de Carrazedo de Montenegro (Valpaços); Irene Farruquinha (47), de Coelhoso (Bragança), que vive em França; Zita (79), de Cabeça Boa (Bragança); António Bragança (46), pai dos gémeos Henrique e Maria, de Bragança; Regina (60), de Nuzedo de Cima (Vinhais) e Bernardete (80), de Celas (Vinhais). Que estes nomes voltem a ser escritos para o ano nesta página e que Deus os abençoe com muita saúde.

Agora vamos conhecer melhor a nossa tia Gracinha, a nossa minhota do cavaquinho.

A década fatal

Ter, 15/01/2019 - 10:02


Há uma semana escreveu-se neste espaço que o Plano de Investimentos até 2030 poderia trazer-nos notícias demolidoras, apesar dos panos quentes em que o poder tem sido pródigo, autênticos emplastros para aliviar a dor, mas avaro em acções necessárias para reverter uma situação que se agrava todos