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Inquisição – lutas políticas – limpeza de sangue (8) - Manuel Lobão Telo, candidato a Familiar

Se bem que em Portugal nunca houvesse uma lei geral e única sobre a limpeza de sangue, a verdade é que todas as instituições da igreja e do estado aprovaram regulamentos proibindo a entrada dos que tinham “raça de sangue judeu, cristão-novo ou mouro”.(1) Na prática, os cristãos-novos foram banidos de todas as dignidades e empregos da igreja e do estado.(2)

E se isto acontecia na generalidade das instituições (ordens militares e religiosas, confrarias, universidades, câmaras municipais, organismos do estado…), muito mais rigor se exigia para entrar em cargos e empregos ligados à inquisição.

E se ter sangue judeu era uma nódoa impossível de lavar, conseguir um atestado de limpeza de sangue era uma grande honra e a marca de um estatuto social de acesso difícil e muito restrito, “um trunfo de valor imaterial incalculável na sociedade portuguesa” de então.(3) Com esta lei, a inquisição alcançou o poder absoluto dentro do país, dominando a nobreza e o clero.

Numa comparação muito grosseira, diremos que, num concelho qualquer de Trás-os-Montes, ser familiar da inquisição era muito mais importante do que ser presidente da câmara, juiz ou alcaide do castelo. E se a um membro da nobreza era exigida prova de limpeza de sangue para receber o colar de cavaleiro da ordem de Cristo, por exemplo, muitos fidalgos cavaleiros houve, professos de uma ordem militar ou religiosa, a quem foi recusada a entrada para o cargo de familiar da inquisição, por ter fama de “mácula” de sangue judeu.

Em Vila Flor, no século de seiscentos, uma família que pretendia afirmar a sua nobreza e ascensão social era a dos Montes de Almeida que, por acaso, estava “infetada” de sangue judeu. E vários membros desta família foram presos pela inquisição, no âmbito da “conjuração” de 1667.

Gregório Montes de Almeida, escrivão dos órfãos em Vila Flor, foi um dos prisioneiros e acabou por morrer nos cárceres de Coimbra.(4) Sendo casado com Maria de Sousa, teria um filho de uma tal Maria de Lobão, cristã-velha, padeira de profissão, batizado com o nome de Manuel Lobão Montes, o qual casou com Maria de Almendra, também ela infamada de ter sangue judeu. O casal morou na aldeia de Samões, nos arredores de Vila Flor.

Dos filhos deste casal de Samões, conhecemos dois: um rapaz (Clemente Lobão) e uma rapariga (Mariana de Lobão). Esta casou com João Leite e ficaram morando em Samões. Um filho destes quis ser padre e, usando embora métodos bem pouco ortodoxos, não o conseguiria, ao menos numa primeira tentativa, porque não obteve certidão de limpeza de sangue.(5)

Clemente Lobão, ao contrário da irmã, deixou Samões e Vila Flor e foi assentar morada em Serpa, onde casou com D. Isabel da Conceição. Deixou cair os sobrenomes paterno e materno, de Montes e Almendra, passando a chamar-se Clemente Lobão Telo. E conseguiu ascender à classe da nobreza, agraciado com o título de cavaleiro fidalgo da ordem de Cristo.

Como foi possível conseguir certidão de limpeza de sangue, se as exigências para entrar na Ordem de Cristo eram bem maiores do que para se fazer padre? Veja-se a explicação dada, anos mais tarde, pelo comissário António Luís Noga,(6) abade da igreja matriz de Alfândega da Fé:

— Clemente Lobão, para ser cavaleiro, chamou-se neto de Lopo Machado Pereira, com quem não tinha parentesco, e para esse fim comprou testemunhas, buscando para isso as de menos obrigações. E se diz que o cavalheiro é escrivão e que o habilitaram com testemunhos subornados.(7)

Lopo Machado era efetivamente cristão-velho e capitão-mor de Vila Flor, executor das ordens do santo ofício e liderava o “partido dos nobres” contra o “partido dos cristãos-novos”.

Manuel Lobão Telo se chamou um filho de Clemente Lobão Telo e D. Isabel da Conceição. E se o pai conseguiu, através de uma operação de limpeza de sangue, ascender à classe da nobreza e categoria de professo da ordem de Cristo, o filho propôs-se um objetivo mais difícil e mais prestigiante: a nomeação para familiar da inquisição.

Para o efeito, apresentou um requerimento que os deputados do Conselho Geral da Inquisição despacharam em 11.8.1730 mandando fazer averiguações em Vila Flor (e em Serpa, naturalmente) sobre a natureza do seu sangue. No seu requerimento, Manuel Telo dizia ser filho de Clemente Lobão Telo, neto paterno de Manuel Lobão de Melo e “bisneto pela mesma parte, de Lopo Machado Pereira, cavaleiro da ordem de Cristo, familiar do santo ofício, natural e morador que foi em Vila Flor”.

O encarregado de fazer as averiguações preliminares foi o licenciado António Luís Noga, acima apresentado, comissário da inquisição. Este, depois de se referir ao caso do parente de Samões que desejava ser padre, comentou, admirado:

— Havendo todas estas razões e um labéu tão público, me parece temeridade pretender Manuel de Lobão Coelho ser habilitado pelo santo ofício.

Acrescentou que Clemente de Lobão “nunca, enquanto viveu em Samões, se chamou Telo, nem tal apelido lhe pertence” e que não tinha qualquer laço de parentesco com Lopo Machado Pereira.

Informou ainda sobre os parentes de Manuel Lobão Montes que, por 1667, foram processados pela inquisição de Coimbra, nomeadamente o pai, Gregório Montes, o tio, Francisco Montes de Almeida e os filhos deste, Francisco Montes, Maria Borges, e Ana Monteza ou Almeida.(8)

Sobre Francisco Montes de Almeida, refira-se que ele se dizia cristão-velho e era morador na rua das Barreiras, em Torre de Moncorvo, onde estava casado com Maria Borges. Em Vila Flor possuía uma casa de sobrado e duas térreas na rua de Santa Luzia. Vivia de sua fazenda constituída por muitas e boas propriedades, espalhadas pelos termos de Vila Flor e Torre de Moncorvo, algumas delas vinculados a uma capela, como era o caso de um pomar e um olival sitos a S. Paulo, limite da vila de Moncorvo.

De sua mulher, tinha dois filhos e a filha Joana Borges. Fora do casamento, teve vários filhos, nomeadamente o Francisco Borges e a Ana Monteza, filhos de Maria Gomes e Isabel Nunes, respetivamente.

E para encerrar este conjunto de artigos sobre a “conjuração de Vila Flor”, diremos que também os filhos do boticário Manuel Alvarenga foram prisioneiros da inquisição de Coimbra entre 1667 e 1673.(9)

Contudo, a prisão que maior espanto causaria foi a de António Domingues de Madureira, “que se tem em conta de cristão-velho, de 32 anos de idade”. Era filho de Manuel Azevedo de Castro, de Torre de Moncorvo, neto de outro António Domingues de Madureira, também de Torre de Moncorvo, da casa dos morgados de Santo António, sobrinho de Maria de Madureira, casada com Belchior Pinto Pereira, capitão-mor do Mogadouro e aparentado com outra gente de grande nobreza de Mirandela e outras terras da região.(10)

De resto, em Vila Flor a luta política dos cristãos-novos para entrar no governo da vila e na vida da igreja terminou nessa altura pois todos os que se não “tinham em conta de cristãos-velhos” abandonaram a terra e foram dar vida a outros chãos. E Vila Flor entrou em decadência.

 

Notas:

1 - O debate foi particularmente vivo dentro da ordem dos Jesuítas. A pressão para que a limpeza de sangue fosse implementada envolveu a própria Corte de Madrid, num movimento contra a admissão de “impuros” chefiado pelo cardeal arcebispo de Toledo. A resposta da ordem foi exemplar: escolheram para suceder ao fundador, Inácio de Loyola, um assumido converso, filho de judeus: Diego Laynez, que tinha 3 irmãos padres e uma irmã freira. Mais tarde as coisas mudaram e a lei foi mesmo assumida dentro da ordem – LACOUTURE, Jean – Os Jesuítas, vol. I, pp. 217-234, cap. VII, Judeus e Jesuítas no século de Ouro.

2 - MARCOCCI, Giuseppe; PAIVA, José Pedro – História da Inquisição Portuguesa 1536 – 1821, p. 176, ed. A Esfera dos livros, Lisboa, 2013.

3 - Idem, p. 177.

4 - O processo de Gregório Montes não consta das listas da Torre do Tombo.

5 - Veja-se a propósito, a informação do comissário António Luís Noga: – Maria de Lobão, irmã legítima de Clemente Lobão, casada com Jorge Leite, moradores em Samões, pretendem ordenar um filho, e que já tiraram duas vezes habilitações, pelo ordinário de Braga, sendo as segundas tiradas por um desembargador que se mostrou tão empenhado, que não quis levar certidão do processo, e o vigário de Coimbra lhe não pediu rol de testemunhas, e mandou vir o pároco coadjutor de Vilas Boas, que passasse certidão; inda se não puderam tirar limpos… – ANTT, Habilitações Incompletas, doc. 4268, de Manuel Lobão Telo.

6 - Idem, Habilitações, mç. 66, doc. 1331, de António Luís Noga, filho de António Domingues Moreno e Maria Luísa Noga. Carta de comissário em 19.9.1724.

7 - Habilitações Incompletas, doc. 4268.

8 - Inq. Coimbra, pº 4758, de Francisco Montes de Almeida; pº 6054, de Joana Borges; pº 8757, de Francisco Montes; pº 10291, de Ana de Almeida.

9 - Idem, pº 620, de Belchior Coelho Meireles; pº 9021, de Sebastião Coelho Meireles; pº 8746, de Ângela Coelho.

10 - Idem, pº 8755, de António Domingues Madureira.

 

Protagonismos, ferrovia e efemérides

1 - Embora ocupe e tenha ocupado centenas de cidadãos, não há nenhum Curso Regular

de Gestão Autárquica. Havendo casos evidentes de erro de casting também é certo que são reconhecíveis vários presidentes, muito competentes, alguns deles, autênticos mestres (que belíssimos professores seriam no Curso Superior de Gestão Autárquica!) Sem deixar de reconhecer a possível existência de outros, tive o privilégio de trabalhar com dois dos melhores e que, curiosamente, sendo exemplares na arte de bem governar, eram distintos em quase tudo, exceto num ou noutro aspeto, nomeadamente na capacidade de inclusão de críticos, opositores e pensadores divergentes. Para além disso e em complemento, quer Artur Pimentel, quer José Gama, sempre souberam que tudo o que de relevante acontece no município acaba por cair no colo do Presidente da Câmara. Por isso, inteligentemente, apoiavam todas as iniciativas, desde que válidas, viessem elas de onde viessem. Em vez de desperdiçarem energias a desvalorizá-las ou mesmo a ignorá-las para depois se verem na “obrigação” de arranjarem substituição adequada que poderia, na melhor das hipóteses, ser gémea da recusada. Para além dessa vantagem prática cumpriam assim um dos mais importantes desígnios dos dirigentes do interior: promover a unidade em vez da divergência. É que nós todos, unidos, já somos poucos. Divididos, somos muito menos!

2. É com alegria e satisfação que constato a conversão de alguns autarcas à causa da ferrovia. Para já “apenas” colhe a opinião favorável a linha do Douro. Será, estou certo, uma questão de tempo até que a atenção dos dirigentes regionais se concentre nas linhas de caminho de ferro de via estreita. A do Sabor, em concreto, não pode deixar de ser equacionada numa análise séria sobre o escoamento do produto das minas de ferro do Felgar.

3. Muita alegria e regozijo me causou o anúncio das comemorações dos 150 anos do nascimento do padre José Augusto Tavares, o Abade de Carviçais. Descentralizadas, tal como sempre advoguei, irão ocorrer na Lousa, Moncorvo e Carviçais. Mais do que justificadas e bem vindas mesmo que deslocadas no tempo pois foi a 4 de abril que o prelado nasceu e não a 24 de novembro. Parecendo descabido não ter havido o devido aproveitamento de uma inciativa de vários moncorvenses ligados a Carviçais que, muito a tempo pretenderam que a efeméride acontecesse no dia adequado, estou certo que tal não se deve a descuido ou outras razões menores, por parte da autarquia. Não conhecendo em concreto as razões deste considerável adiamento não tenho dúvidas que apenas uma terá força suficiente para o justificar: o espólio do pároco e arqueólogo foi definitivamente catalogado, recuperado e estará por fim, disponível para integrar o Museu Municipal de Arqueologia cumprindo a sua vontade e culminando as diligências com a Diocese e o Seminário de Bragança que tinham, há mais de um ano, entrado no bom caminho!

Não! Não são todos iguais

O mais hilariante folhetim televiso dos últimos tempos transmitido directamente da casa da democracia, teve o seu ponto alto num arrojado número de funambulismo de uma senhora deputada que, em defesa ou condenação sabe-se lá de quê ou de quem, argumentou já não haver virgens lá no éden em que paira, donde se infere que os anjos, afinal, têm sexo, ainda que de género indiferenciado.

E se o que viu e ouviu é daquele teor imagine-se o que se passa nos bastidores da dita casa da democracia, atrás do cenário politicamente correcto.

Como se sabe, na democracia mais genuína os políticos, trate-se de ministros, de deputados ou simplesmente de comissários, seja qual for a sua ideologia ou graduação, são meros intermediários entre a vontade do povo e a governação. Em Portugal especialmente, não é bem assim. Comportam-se como uma casta parola usufrutuária de privilégios e impunidades obscenas que ela própria a si mesma se atribui. Representam o pior da Nação.

São essas as primeiras e principais causas do seu desprestígio e da desvirtuação da democracia.

Não é de espantar, portanto, que por tudo e por nada se ouça o povo nas ruas dizer, em jeito de desabafo: “ eles são todos iguais”. Mas será que são todos iguais como o povo afiança?

Pessoalmente entendo que

não, que muito embora a maior parte seja pior do que o que dela se diz, se tivermos em conta os raros que justamente se podem gabar de que desempenham os seus cargos de forma dedicada e honesta, melhor poderemos afirmar que não são todos iguais.

Não são iguais embora sejam igualmente maus porque sistematicamente silenciam, encobrem, branqueiam e habilidosamente relevam as tropelias e crimes de colegas e correligionários e das agremiações viciosas em que militam, sem distinguir credos, cores ou ideologias que, hoje em dia, por muito que custe aos prosélitos da esquerda e da ultraesquerda, não passam de mero palavreado, como a Geringonça o comprova.

E tanto assim é que a direita envergonhada corre mesmo o risco de vir a ser dispensada da democracia lusitana porque a esquerda gabarola faz o trabalho por ela.

Atente-se no degradante arraial de mentiras e traições em que se transformou a Assembleia da República, nos abusos e atropelos à lei que lá se cometem, na desfaçatez e sobranceria com que os deputados tratam a Nação.

E não são apenas maus e desonestos quando se dão ao desplante de faltar ao trabalho e de garantir a senha de presença de forma fraudulenta. Ou quando viciam as moradas para obterem chorudas ajudas de custo. Ou quando se organizam em comissões de transparência que apenas transparecem cinismo e hipocrisia.

São-no sobretudo quando, embora tendo consciência das deficiências do regime, da lei eleitoral fraudulenta ou da justiça coxa, por exemplo, não mexem uma palha para se congraçar e reformar o que deve ser reformado.

É o mexes! É o reformas! Estão como peixe na água nesse ambiente falso e vicioso que é o principal foco gerador de populismos, sendo que o pior é o populismo do poder, pai de todos os demais.

Os Trump e os Bolsonaro que cresçam e apareçam, portanto. Os deputados portugueses cá estão para os destratar, lá nas américas ou caso se atrevam a vir para cá.

Com excepção do déspota venezuelano que continua a ter o afecto silencioso dos deputados da Geringonça e, o que é mais surpreendente, da patética e desnorteada direita lusitana.

Será que o povo tem mesmo razão quando diz que eles são mesmo todos iguais?

 

Este texto não se conforma

com o novo

Acordo Ortográfico.

Ponto de vista um

Os estudos de antropologia não deixam qualquer dúvida sobre o facto de descendermos todos de migrantes, com exceção talvez das pessoas que vivem na zona centro-oriental de África. No extenso período que levamos de História, e durante muito tempo ainda antes dela, sempre houve grupos de pessoas constrangidos a deixar as terras de origem pelas mais variadas razões: da escassez de recursos às guerras, dos desastres naturais às revoluções, das crises políticas às perseguições religiosas, das epidemias às convulsões sociais, das variações do clima à demografia. Sendo esta a regra geral, as deslocações humanas conheceram um aumento significativo depois da expansão europeia no século dezasseis, que deu origem a várias dezenas de novas nações em todo o mundo e alterou completamente a geografia política.

No que particularmente nos diz respeito não devemos perder de vista que este recanto da Ibéria tem sido lugar de passagem e fixação de imensa gente, de inúmeras castas e origens, que durante séculos aqui deixou a sua herança nos genes, nas línguas, nas culturas. Nem esquecer a nossa qualidade de nação que tem exportado catrefadas de gente para todo o lado, bastando dizer que nada menos que um terço de todos os portugueses existentes no planeta, cerca de cinco milhões de almas, são emigrantes, filhos ou netos deles. Não será necessária uma visão excecionalmente apurada sobre a realidade do mundo para compreender que só por ignorância ou estupidez um português que se preze se pode mostrar hostil aos imigrantes.

Movimentações humanas toda a vida existiram e vão existir. E a tendência será mesmo para aumentarem, tendo em conta que os fatores de instabilidade apontados não só não parecem querer diminuir como, ao desencadearem-se, irão inclusivamente encontrar pela frente cada vez mais pessoas, aquilo que o aumento populacional atual deixa prever. A nossa existência está repleta de incertezas, de sobressaltos. A paz, a segurança e a abundância num dia podem ser o desassossego, a ameaça e a penúria no seguinte. De um momento para o outro todos (e quando digo todos é mesmo todos) podemos tornar-nos refugiados ou migrantes.

Uma forma altruísta de olhar para os semelhantes que dessa forma são tocados pela mão da desgraça passa por compreendermos que não fica bem a gente civilizada meter a cabeça na areia e alhear-se dos problemas dos outros. Que não deveria carecer de grandes hesitações ou justificações, em lado nenhum, organizarmo-nos para acolher em zonas de maior tranquilidade como as nossas aqueles que tentam escapar de apuros de que também podemos vir a sofrer. Mas também existem razões egocêntricas, por assim dizer, para os recebermos de boa mente. Tendo os seus incómodos, o fenómeno pode trazer-nos vantagens: a miscigenação que as migrações permitem significa revitalização cultural das sociedades, bem como genes novos que apuram a espécie, a que acresce, no caso da Europa, a promessa de desengatar o marasmo demográfico.

Deve ser um pouco de tudo isso que inconscientemente está por trás do meu agrado e sentimento de aceitação quando vejo numa telenovela uma bonita atriz de retinto rosto oriental a exprimir-se num português-padrão impecável, um chefe de cozinha jugoslavo meio arrogante a falar de bacalhau retirando visível prazer dos nossos expressivos palavrões, uma angolana descomplexada a supervisionar a justiça ou um carioca a segurar firme a defesa da seleção. Curiosamente, e sem que talvez nos apercebamos, bragança está também em plena onda renovadora: é pouco provável que o grosso dos “estudantes” do politécnico regressem algum dia aos seus países. E em boa hora o façam, conquanto saibam o que nas suas vidas está em jogo com essa grave determinação. 

Apenas alguns pontos de vista sobre as migrações, com tanto de autênticos como de otimistas. Mas há outros. Para os captar teremos de fazer algum esforço deslocando-nos a toda a volta da realidade procurando examiná-la dos muitos ângulos que ela sempre apresenta. Mesmo procedendo assim, também será necessário impedir que os preconceitos ou as ideologias nos turvem a visão. Depois, há que não ter medo da verdade e ser capaz de chamar os bois pelos nomes, por muito desagradável que isso por vezes se afigure. Um assunto a que gostaria de voltar.

 

Azeitonas sem caroço (alcaparras)

Ter, 27/11/2018 - 10:06


Olá. Como estão os leitores da página do Tio João?

Diz o ditado popular que “de Santa Catarina (dia 25 de Novembro) ao Natal, é um mês igual”. Mas eu diria mais: é um mês especial de preparação para o Natal e já cheira a esta quadra. Os comerciantes são os primeiros a anunciá-la, embora nas nossas terras ainda não se tenha iniciado a construção dos presépios, pois é tradição fazê-los no Advento, que tem o seu início no próximo Domingo, dia 2 de Dezembro.

As pingas continuam a cair, mas têm deixado apanhar a castanha. Por vezes o S. Pedro lembra-se de abrir mais a torneira e lá vem mais uma molha.

O nosso programa de rádio vai de vento em pôpa. No dia 17 batemos o recorde de participações, com 70 e este mês já tivemos 39 novas matrículas na universidade da vida.

Na nossa família temos alguns clubes: o dos madrugadores, o dos auriculares, o dos pastores, o dos camionistas e agora também temos o clube daqueles que estão na cama até que acabe o programa, cujo presidente, recentemente nomeado, foi o nosso tio Manuel da Torrié, que passou à reforma e agora é o nosso tio Manuel de Murça.

No passado fim-de-semana fizemos mais uma peregrinação de um grupo de cinquenta amigos da família ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima.

No sábado visitámos o Mosteiro de Alcobaça e tivemos um super-almoço com baile, bar aberto e lanche ajantarado. Mais uma vez o andor de N.ª Sr.ª de Fátima foi transportado por alguns dos nossos tios. No Domingo participámos nas cerimónia e depois regressámos a Bragança.

Começámos a festejar a vida de três pessoas do meu tempo. São eles o Óscar da Liberdade Jantaradas (50), de Sendim (Miranda do Douro); Celina Mendes (50), de Lagoas (Valpaços) e António Henrique (50), de Santa Eugénia (Alijó). Também estiveram de parabéns o tio Ângelo (69), de Penude (Lamego); Manuel Graça, o tio Paco (82), de Vinhais; Laurentino (72), de Serapicos (Valpaços); Alexandre Neves (24), de Coelhoso (Bragança) e Luz Celeste (55), de Castelo (Alfândega da Fé), que nos ouve em França. Que o ministro dos parabéns lhos cante para o ano.

E agora, como a azeitona ainda está verde, vamos fazer alcaparras e não só…

Stop violência - Não sofra... Peça ajuda. Fale com alguém. Fale connosco

Todos nós escutamos histórias de vida marcadas pela violência e testemunhamos o sofrimento, sem nome, dessas pessoas.

Pessoas que, tantas vezes, se resignaram quase uma vida inteira a viver em situações de maltrato, negligência, desamor, abuso, abuso sexual, insultos, assédio, discriminação, ostracismo, humilhações…. A lista é grande, como grandes são as consequências.

Quem sofre sabe. Lamentavelmente experimentou ou experimenta os efeitos devastadores da violência no corpo e na alma.