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Um tiro nas teorias da conspiração

Durante várias semanas escrevi sobre a pandemia provocada pelo SARS-Cov-2. Ansiando, tal como todos, pelo fim do confinamento para retomar a “normalidade”, era minha intenção fechar esse ciclo com uma crónica reservada ao tema que hoje vou abordar. Infelizmente, situações inesperadas e graves perante as quais não podia ficar calado, vieram adiá- -la. Mais valendo tarde do que nunca, como diz o nosso povo, eis-me aqui a prestar o devido tributo ao livro de Manuel Cardoso: “Um tiro na Bruma” A Covid-19 entrou-nos porta dentro, de forma inesperada e devastadora e, com ela, entre outras, várias teorias da conspiração. Entre todas, a mais divulgada foi a da intencionalidade do seu aparecimento. Defendiam, a exemplo do presidente norte-americano e da trupe da Casa Branca, que o coronavirus tinha sido planeado e criado em laboratórios chineses, concretamente em Wuhan, onde apareceu pela primeira vez e onde há um instituto de investigação que, naturalmente, se dedica a estudar este tipo de epidemias por razões óbvias. De pouco adiantaram as opiniões fundadas cientificamente, demonstrando a incapacidade tecnológica para realizar tal feito que, até hoje, não foi ainda possível levar a cabo: a fabricação de um organismo vivo diretamente na bancada em placas de Petri, ou reatores biológicos. Continuaram a insistir, teimando em atribuir causalidade a fenómenos que são naturais e, mais, não são inéditos. E, para além das evidências científicas, há o registo histórico. Para todos os que não queiram “lamber papel” à procura dos vários relatos, inseridos nos tratados de história, com especial enfoque, nos últimos séculos, melhor documentadas e factualmente suportadas, podem e devem ler, atentamente o romance do autor de Macedo de Cavaleiros. Manuel Cardoso, depois de uma exaustiva pesquisa, sabedor da história familiar, conta a saga do seu avô, o médico Amadeu Cardoso, no início de século XX a braços com a mais mortífera das pandemias causada igualmente por um coronavirus, vindo do oriente, potenciada e agravada pela crise política no Portugal Republicano, com o regime ainda à procura da estabilidade, pela crise social resultante desta e acrescentada pelas nefastas consequências económicas resultantes da Primeira Guerra Mundial e ainda aprofundada, no nordeste, pela miséria crescente, pelo afastamento do litoral e pela escassez de tudo, alimentação, medicação e liderança regional. Está lá tudo! Leia-se o romance, esquecendo-se a datação histórica e as condicionantes da época, atualize-se e modernizem- -se os diálogos, expurgados do contexto da sua época e facilmente se ficará confundido pois haveremos de julgar- -nos cem anos depois no meio da crise sanitária que acabou de nos atingir. As recomendações do médico Amadeu “lavar muito as mãos, manter o distanciamento social, cuidar da alimentação e arejar os espaços interiores” e os lamentos da sua esposa clamando pela descoberta e divulgação de uma vacina, bem como a dramática incidência maior e mais profunda junto das comunidades mais pobres e desfavorecidas adequam-se em tudo ao tempo atual. Ora, Manuel Cardoso não tendo nem assumindo capacidades proféticas não podia antever, em 2007 que, mais de uma dezena de anos depois poderia assistir, ao vivo, à réplica de muitas das cenas e, sobretudo, das observações e recomendações por si descritas com base nas suas investigações e aturados estudos. Todos os que seguirem a minha sugestão, que vivamente recomendo, serão brindados com um enredo adicional de uma morte misteriosa, com uma lição de história regional e ainda com a brutalidade do tempo revolucionário onde a própria demência pode ser confundida com secreta conspiração contra-revolucionária onde o eucarístico Kyrie, que quase titulava a obra, é dramaticamente castigado.

Colonização, colonialismo, racismo e tribalismo

Não importa saber se George Floyd, o americano negro assassinado por um polícia branco, em Minneapolis, nos EU, era ou não um cidadão exemplar. Tratou-se de um crime hediondo, público e notório, em qualquer caso. Não é de espantar, por isso, que tenha dado aso a uma violenta vaga de manifestações um pouco por todo o mundo livre. Estranha-se, isso sim, que nenhuma repercussão tenha tido nos estados marxistas-leninistas e nas teocracias islamitas que favorecem todo o tipo de racismo e terrorismo e que não deixarão de se aproveitar deste evento no contexto da batalha geopolítica. Já a História de Portugal é sobejamente conhecida, no bem e no mal. Alguns, porém, por obscuras intensões ou simplesmente porque está na moda, realçam as maldades do colonialismo e desprezam as bondades da peculiar colonização portuguesa, a campeã da miscigenação. Sinistramente ridículas são as razões aduzidas para vandalizar, entre outras, uma estátua do padre António Vieira, símbolo maior da excelsa colonização portuguesa e anátema de todos os colonialismos designadamente marxistas-leninistas. Melhor agora se vê que, face à miséria que grassa pelo mundo, a trágica descolonização do Ultramar português foi uma grande perda para a Humanidade. E assim se compreende que este lamentável evento se tenha repercutido, entre nós, de forma branda e paradoxal, evidenciando que não há segregação racial em Portugal, embora haja descriminação social, e política por via partidária. Outra coisa é o tribalismo emergente nos bairros marginais da capital. Não devemos, portanto, confundir colonização com colonialismo e racismo com tribalismo. Colonização é dádiva, partilha, comunhão, factor de humanização e progresso. Foi o que aconteceu, em larga medida, no Ultramar Português, à custa de muito sangue, suor e lágrimas, muito em especial no Brasil, em Goa e em Angola, mais visível, neste caso, nos anos que antecederam a independência Racismo e tribalismo também não são a mesma coisa, ainda que se manifestem de igual forma. Racismo é desumanidade e exploração criminosa. Tribalismo é barbárie e cegueira. O pensamento dos badalados Mamadou Ba e Joacine Moreira, filhos mal-agradecidos da colonização que combatem, é tribal. Está nos antípodas de Nelson Mandela e de Luther King. Igualmente tribal é o comportamento da comunidade cigana que persiste em se auto marginalizar e autoexcluir. Havemos de concluir, portanto, que o tribalismo emergente nos bairros degradados da capital está a ser aproveitado por interesse obscuros que pretendem denegrir a História portuguesa e liquidar a democracia, perante a incompetência criminosa das mais altas instâncias nacionais, com o Presidente da República à cabeça que, embriagado por um certo narcisismo televisivo, persiste em iludir o essencial da sua missão. É caso para lembrar que quem semeia ventos colhe tempestades. Na sombra de fenómenos tão avassaladores que desacreditam a democracia e desvirtuam a justa luta contra as injustiças e as desigualdades, três sistemas tenebrosos planeiam subjugar a Humanidade: o comunismo chinês, a teocracia islamita e o sistema sub- -reptício que se esconde por de trás da relapsa ideia da Nova Ordem Mundial. Talvez melhor fosse, enquanto é tempo, reformar os viciosos regimes políticos ocidentais e salvar a democracia.