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ULS NE marcou primeira consulta de gravidez a duas mulheres para depois do nascimento dos bebés

Ter, 12/03/2024 - 10:35


Duas mulheres de Mirandela tiveram as consultas de pré-natal marcadas para uma data em que os bebés até já tinham nascido. A Unidade Local de Saúde do Nordeste agendou a consulta para depois do nascimento dos bebés, quando devia ter sido feito quando a mulher estivesse grávida de 12 semanas.

A LIBERDADE À JANELA

Escrevo este texto sábado, dia 9 de março de 2024, vésperas de eleições legislativas e, portanto, ignorando qual será o resultado do escrutínio. Não tenho nenhuma bola de cristal nem a capacidade de análise e previsão dos variados e eloquentes comentadores políticos da nossa praça e, como tal, não faço ideia do quadro político que vai preencher a próxima legislatura. Sei, porém, que, parafraseando La Palisse, teremos, em 11 de março, o cenário determinado pela expressão livre de todos os elei- tores que, na véspera, decidiram dirigir-se às assembleias de voto. Os entendidos adivinham um período conturbado, de instabilidade política e governativa, fruto de uma votação mais focada no passado e no voto de protesto do que numa vontade de ter uma governação tranquila e virada para o futuro. Será o que os portugueses, no seu todo, quiserem que seja porque, contrariamente ao que acontecia há meio século atrás, todos os votos são bons, sejam quais forem as consequências. É essa a maior conquista da Liberdade que, precisamente, há cinquenta anos, espreitava já à janela. Em meados de março de 1974 chegavam a Bragança, ecos de uma revolta que, a partir das Caldas, vinha dar ânimo aos que, no Liceu, no Mensageiro e no Chave D’Ouro ansiavam e, a seu jeito, davam o seu contributo para que, um mês mais tarde, a Praça da Sé se enchesse de gente, sobretudo jovens, empunhando bandeiras e cartazes rudimentares, dessem as boas vindas à Liberdade e Democracia, em todo o seu esplendor e brilho. Apesar de falhado, o Levantamento das Caldas, sobretudo por ter nascido num dos pilares em que a ditadura se sustentava, comentado à boca pequena mas, profusa e entusiasticamente, sinalizou que a abertura por onde espreitávamos para vislumbrar o mundo novo por que ansiávamos, melhor, mais equitativo, solidário e, sobretudo, pacífico era mais do que uma janela… era, afi- nal, o postigo da porta que estava já a ser des- trancada. Valia a pena continuar a insistir nas metáforas políticas do Mensageiro, procurar livros “de culinária” na Mário Péricles, pintar de tinta vermelha as escadas do Liceu, conspirar no Chave D’Ouro para fazer eleger a última Academia, de forma tão democrática quanto possível, mesmo que a Censura continuasse a truncar os textos e a cercear as ideias, os livros dos autores proibidos escasseassem, as mensagens espichadas no granito da entrada liceal e nos vidros da porta de entrada, não vissem a luz do dia tendo sido diligentemente apagadas durante a noite… afinal, contra tudo e contra todos, superando todos os obstáculos e pressões do poder estabelecido a última Academia do Liceu, absolutamente representativa e totalmente paritária foi eleita legitimamente por todos os alunos. De outra janela se fala agora: a que medeia entre setembro de 2024 e setembro de 2025 onde o Presidente da República pode dissolver a Assembleia da República. Que ela não seja usada para esconder a Liberdade. Que ninguém ouse fechar as janelas que abril abriu!

Democracia: a luta continua

Escrevo esta crónica quando ainda não são conhecidos os resultados do acto eleitoral de 10 de Março. Quando as sondagens, que valem aquilo que paga quem as compra, deixam em aberto várias hipóteses: vitória da esquerda ou da direita, da AD ou do PS, com diferentes configurações para cada caso, podendo condicionar a governabilidade e a estabilidade política de diferentes formas. Ainda assim a vitória da AD sem maioria absoluta, tida como a mais provável, é a mais excitante de todas, porquanto aos partidos IL e Chega, sobretudo a este último, são atribuídos papéis determinantes neste contexto. Uma coisa eu afianço, porém: a luta democrática vai continuar seja qual for o cenário resultante do acto eleitoral em apreço já que as matérias em aberto são mais que muitas. É que não basta eleger um novo governo para tudo, de pronto, se converter num mar de rosas. Mas não se trata apenas da luta democrática quotidiana que tem a ver com as reivindicações das muitas classes profissionais que se têm manifestado ruidosamente, com destaque para os professores, os médicos, os agricultores, os polícias e os próprios militares e que ainda não viram os problemas resolvidos cabalmente, pelo governo que acaba de cessar funções. A irradicação da corrupção, do compadrio, do videirismo e do devorismo também devem ser um alvo permanente da luta democrática. Igualmente se trata, e esta será mesmo a mais importante, da luta pela salvação da própria democracia, das reformas estruturais que tardam e que continuam a entregar o Estado e a o próprio Regime à sua sorte. Porque a o Sistema de Justiça não pode continuar como está, um monstro de lentidão e de arbitrariedade, claramente vulnerável a pressões partidárias e não só. O SNS não pode continuar a falhar clamorosamente em áreas fundamentais como se tem visto. A Educação tem que ser urgentemente reparada das falhas e carências graves que são por demais conhecidas. As Forças Armadas não podem continuar a ser desprezadas. A Agricultura tem que ser olhada, de uma vez por todas, com o respeito e a dignidade que merece e o ermamento e a desertificação de grandes áreas do interior devem ser atacados com presteza. Já no plano eminentemente político importa destacar a lei eleitoral, a hegemonia partidária, a corrupção, a tentação totalitária sempre patente e que na família socialista tem expressão visível, a promiscuidade do poder financeiro com o político, as assimetrias regionais, a luta pelos direitos das mulheres e o repúdio da satânica ideologia de género. O que está verdadeiramente em causa é a própria Democracia, portanto, que corre o risco de colapsar e não só em Portugal. Democracia que é a maior conquista da Humanidade embora sempre tenha estado em luta desde que formalmente se conhece. O que não será grande novidade já que sempre assim foi desde a Grácia antiga, para não dizer das cavernas da pré-história: o povo, porque sempre foi maltratado pelo poder, sempre sonhou ser ele próprio poder. Trata-se de uma longa luta, porém, com altos e baixos, fluxos e refluxos. Ainda que, ao que se diz, a Democracia tenha ganho na Atenas de Péricles uma feição quase perfeita, longo foi o interregno até que a moderna democracia representativa começasse a ganhar corpo com a revolução francesa. Isto já no século XVIII. Tanto assim é que ficou célebre a frase proferida por de Churchill em 1947,”De facto, já houve quem dissesse que a Democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras que têm sido tentadas de quando em vez”, e que, por tudo e por nada, continua a ser invocada sempre que se pretende justificar e favorecer a s ditas democracias parlamentares. Actualmente é o que se sabe. Um relatório recente do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral, sediado em Estocolmo, Suécia, refere que apenas nove por cento da população mundial vive numa democracia plena, enquanto 70 por cento vivem em países não democráticos ou em retrocesso democrático. Não será difícil acreditar porquanto sabemos bem o que se passa actualmente na Rússia, na China, na Coreia do Norte, ou mesmo em Cuba e na Venezuela. Sem branquear as democracias reinantes em países onde ela aparentemente funciona melhor, como será os casos dos países da velha Europa. Melhor conhecemos, todavia, o nosso caso, o caso, português e é aqui que temos que nos concentrar. É preciso que a luta democrática pela democracia continue. Porque só a democracia é verdadeiramente revolucionária, mas é preciso que o seja