class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Bamos a Miranda

Ter, 30/08/2022 - 12:08


A localização de Miranda do Douro, junto à fronteira, conferiu-lhe o estatuto de importante ponto estratégico de defesa, daí a construção, por exemplo, do castelo. No século XVI foi elevada à categoria de cidade e de sede do Bispado de Trás-os-Montes. E agora, Bamos a Miranda...

O primeiro-ministro das calamidades

AO Dr. António Costa pertence a um grupo restrito de personalidades que justamente merecem o epíteto de “ puros políticos”, não de “políticos puros”, note-se bem, porquanto nada de relevante fizeram fora da política, mas que, ainda assim, ousaram alcandorar-se a dirigentes máximos da monstruosa máquina que é o Estado português. O que de alguma forma explica a desgraça que é hoje Portugal. A esse grupo de elite também pertence o Eng.º José Sócrates que foi o principal fautor da calamidade que culminou com a intervenção da afamada Troika, o inesquecível conjunto das três entidades que entre 2011 e 2014 providenciou o Programa de Assistência Financeira Externa que resgatou Portugal da bancarrota. Calamidade para a qual igualmente contribuiu o próprio Dr. António Costa na qualidade de ministro de Estado e da Administração Interna do governo do Eng.º José Sócrates, precisamente. Poderíamos igualmente incluir no citado grupo o Dr. Passos Coelho mas a verdade é que este desempenhou vários cargos profissionais fora da vida política, como consultor e gestor, ainda que pouco relevantes. Para lá de que enquanto o Eng.º José Sócrates foi o artista principal dessa nacional desgraça que justificou a humilhante intervenção estrangeira, o Dr. Passos Coelho, justiça lhe seja feita, é tido por muitos portugueses como o corajoso e patriota primeiro-ministro que tomou em mãos a ingrata tarefa do providencial resgate. Ainda assim, a outras altas personalidades assenta que nem uma luva o galardão de “puro político” em função da sua exclusiva e extremosa entrega ao múnus político partidário, que não à causa nacional propriamente, como é o caso do Dr. Durão Barroso, do Dr. Santana Lopes e, em certa medida, do próprio Prof. Marcelo de Sousa. Ainda assim, o Dr. António Costa é, incontestavelmente, o “político puro” mais genuíno da democracia portuguesa. Desde logo porque, como é típico desta espécie política, começou a vida a colar cartazes partidários, cresceu nos gabinetes e corredores do partido socialista e paulatinamente foi ganhando o seu próprio espaço no Largo do Rato, primeiro, na Praça do Município, depois, e no Palácio de São Bento, por fim, o que lhe granjeou o invejável traquejo político que agora lhe abre as portas de Belém, ou de Bruxelas, quem sabe. De salientar que toda a vida social, cultural e política do Dr. António Costa sempre esteve centrada no coração de Lisboa, não se lhe conhecendo experiencia directa no mundo fabril, empresarial ou mesmo agrícola, o que lhe poderia ter acrescentado o indispensável conhecimento real do país concreto. E, sobretudo, corrigido a sua atávica predisposição política para chamar desgraças ao governo. É por demais evidente, por outro lado, que o Dr. António Costa não tem sido feliz na chefia do governo, para mal de Portugal e dos portugueses. Talvez por infortúnio, talvez por manifesta incapacidade para coordenar eficazmente as políticas dos diversos ministérios, como compete ao primeiro-ministro, ou pelas duas razões conjugadas. Muitas e graves são, de facto, as calamidades e as desgraças, naturais, políticas e sociais, que se sucedem, sem parar, durante o já longo consulado do Dr. António Costa. Com destaque para os incêndios florestais, que em Pedrógão Grande ganharam a dimensão trágica que se sabe, mas que, apesar disso, se repetem ano após ano. Também para a seca que cada vez mais calamitosa assola todo o território nacional, sem esquecer a pandemia Covid 19 que ainda produz efeitos preocupantes e o deplorável funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e não só. Muitas outras desgraças poderiam ser invocadas, ainda assim, das quais a menor não foi, certamente, a Geringonça que antecedeu esta outra que agora está em franco desenvolvimento: a maioria absoluta. Maioria que o eleitorado lhe deu para bem governar o país e não apenas para partir e repartir o bolo do Plano de Recuperação e Resiliência. Ou para abertamente subordinar o interesse nacional aos interesses do partido e beneficiar, despudoradamente, a multidão de amigos, assessores e consultores que gravitam à sua volta. Maioria absoluta que constituiria, se para tanto o Dr.º António Costa tivesse suficiente coragem democrática e rasgo patriótico, uma óptima oportunidade para promover as indispensáveis reformas do Estado e do próprio Regime que, entre outras coisas, pudessem por termo à calamidade da corrupção e à desgraça da Justiça. Mas não. Fica-se até com a ideia de que o Dr.º António Costa e a sua gente se dão bem com estas desgraças e calamidades. Nada deixa adivinhar, por isso, que os desígnios do Dr.º António Costa sigam pelo caminho das reformas, pelo que, mais certo será, passar à História como o primeiro-ministro das desgraças e das calamidades. Esta a funesta graça do Dr.º António Costa.

COMER, LER OU RESPIRAR?

Há quarenta anos, altura em que co- mecei a demandar, com alguma regularidade, o Planalto, para ir de Moncorvo a Mogadouro, tinha de se passar por Carviçais e ainda bem. Fazía por ultrapassar a Serra do Robo- redo, a meio do dia e, antes de abandonar a longa fila de casario, encostava à direita, quase ao fim da última reta e franqueava uma porta rústica para me banquetear com a Posta do Artur, uma das melhores do nordeste. O restaurante, apesar de exíguo (em alturas de grande enchente, sobretudo no tempo da caça, prolongava-se para um quintal, as traseiras) era famoso, como o testemunhavam as inúmeras e criativas mensagens espalhadas pelas paredes. A notoriedade do estabelecimento confundia-se com a do seu proprietário, o Artur, e che- gava longe, tendo ficado célebre um dito do mesmo. Quando um comensal lhe solicitou a ementa o dono do estabelecimento olhou-o de frente e questionou-o: “O senhor veio aqui, para comer ou para ler?”. Para comer, sem dúvida, iam, vão e irão (espera-se) a Carviçais todos quantos apreciam a boa posta mirandesa. Esperemos que continuem a ir porque as nuvens que se vislumbram no céu são negras e pesti- lentas. Anuncia-se a construção, para breve, de uma fábrica de transformação de bagaço de azeitona que irá desfigurar a pacata e ecológica povoação de Carviçais. Seria dramático se o emblemático Artur tivesse de alterar o rifão que o notabilizou e, perante a reclamação de algum cliente, por causa da escuridão do ar e do insuportável cheiro tivesse de o questionar: “O senhor veio aqui, para comer ou para respirar?” O drama de Carviçais não se restringe ao restaurante O Artur, que se expandiu e mudou de lado da estrada que atravessa a aldeia. Os comensais podem escolher onde comer e o próprio estabelecimento pode mudar, mais uma vez, de lugar. Mas os habitantes, não! E o que dizem eles do que lhes está prestes a cair sobre a cabeça? Obviamente, estão con- tra! E, em consequência, contra a instalação de tal em- preendimento, estarão os seus legítimos represen- tantes. Não! Não estão! Vão dizendo que não estão a favor, que tal ativida- de não está alinhada com o programa com que foram eleitos mas... ninguém os ouviu dizer que estão total e inequivocamente, Contra! Pois bem, felizmente es- tamos num regime democrático e a oposição, de certeza que aproveitará o apoio popular para ma- nifestar a sua manifesta desaprovação de tal iniciativa! Pois é... Mas, inexplicavelmente, também não é assim! Como não? Não. Estão, obviamente, ao lado da população, mas também com grande compreensão para com os oli- vicultores cujo “problema” de destino final dos resí- duos dos lagares de azeite, é necessário resolver! Pro- blema esse que se agravou, nos últimos tempos, com o grande aumento da produção de azeitona. A produção de azeitona aumentou, muito. No Nordeste? Em Trás-os-Montes? No Norte? Não. No Alentejo de onde é, curiosamente, originária a empresa que se propõe vir poluir os ares e solos nordestinos. As estranhas “especificidades” deste processo não se ficam por aqui, mas não cabem, já, nesta crónica. Voltaremos ao assunto, brevemente!