class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Realidades

Nunca poderemos jul- gar seja quem for e o que for sem levarmos em linha de conta a realidade ou as realidades do momento. É a realidade a base dos acon- tecimentos e ela serve também para julgar esses mesmos acontecimentos. Tudo se passa em determinada realidade. E a realidade atual que embrulha este mundo é simplesmente terrível. Vivemos um momento assustador em várias vertentes. A crise que assola a Europa e o mundo vem no seguimento de uma pandemia que ainda continua a matar milhares de pessoas e não se sabe quando vai desaparecer se é que isso vai acontecer. A guerra da Ucrânia veio acelerar a crise tornando maior o descalabro económico mundial. Os biliões de dólares que são gastos em armamento enviado para o exército ucraniano, enfraquecem obviamente as economias de todos os países contribuintes, especialmente os ocidentais. As consequências de toda esta realidade são enormes e extraordinariamente horrendas. Os mi- lhares de mortos e a fome que se espalha cada vez mais, não só na UE, mas também em países africanos, dão um colorido tétrico a esta realidade. Falar da guerra da Ucrânia é redundante, mas inevitável, até porque somos bombardeados diariamente pelas notícias sobre essa realidade. É um acontecimento inacaba- do, constante e durável sem termo à vista. De igual modo é um evento incaracterístico, injustificável e embrulhado numa estupidez sem limites que ronda a loucura. Oito meses de uma guerra sem sentido, é mais do que a média de duração das guerras nos últimos duzentos anos, excluindo as grandes guerras mundiais. Os objetivos da Rússia ou antes, de Putin, não foram conseguidos e não o serão. Os contornos desta guerra são agora bem diferentes. Contabilizam-se vitórias e derrotas. A Rússia está a perder e a recuar no terreno. O exército ucraniano soma vitórias e avanços, recuperando posições e cidades importantes como Kherson. Esta é a realidade presente. No entanto não se pode subestimar a grande nação que é a Rússia e o seu poderio. Mas também é verdade que o seu exército está mal preparado e o armamento completamente obsoleto. Restam-lhe os mísseis e a ameaça do nuclear. Perder Kherson é a derrota que Putin não esperava ter de admitir. Ter de criar uma nova capital para a região que, segundo ele, pertence à Rússia, é sinónimo da assunção de derrota, por um lado, mas por outro a teimosia de querer manter como seu, por decreto, um território que não conquistou, nem irá conquistar tão cedo. O futuro não o podemos prever e esta é a realidade do momento. Isto leva-nos a outra realida- de que é “a guerra ainda não acabou”. Neste momento a Ucrânia sente-se forte e só pensa em levar a Rússia à mesa de negociações para assinar um acordo de paz. É assim que acabam todas as guerras, mas para isso Zelensky quer todo o território que a Rússia já ocupou incluindo a Crimeia. Putin nunca assinará nada que implique esta cedência. De igual modo Zelensky também não, se a Crimeia não fizer parte do acordo. Está em cima da mesa esta realidade bem dura. Procurando cada vez mais protagonismo, o presidente da Turquia quer continuar a ser o mediador entre as duas fações com objetivo de conseguir um acordo que termine com a guerra entre as duas nações. De momento, Putin continua a ter um trunfo importante que é o corredor por onde deverão passar os barcos com cereal tão necessário para o resto do mundo, que só continua aberto se quiser e nada o impede de fechar por tempo indeterminado. Claro que a pressão mundial será enorme e ele já tem muitos países contra ele o que não interessa muito se não quiser ficar cada vez mais isolado. A Rússia pode ser um gigante, mas tornar-se-á um anão se ficar isolada. Aliás, as recentes reações de Putin, como não querer participar na cimeira do G20, demonstra bem o medo que tem de enfrentar os líderes mundiais e ter de justificar o que é injustificável. Putin está encurralado politicamente e enfrenta dentro da Rússia enormes pressões e também a condenação da sua política de guerra contra a Ucrânia. Está a perder a guerra e isso ele não quer admitir pois seria trucidado pelos opositores. Aos poucos está a deixar de ser um líder e quer queiramos quer não, esta é uma realidade que ele vai ter de encarar mais dia, menos dia. Há já quem pense dentro da Rússia que ele se prepara para deixar o poder e ir viver para o estrangeiro. Para onde? Será que há algum país que o aceite? É ridículo! Por outro lado, Zelensky não acredita nas boas intenções de Putin ao abandonar a cidade de Kherson sem nada em troca, mas a realidade parece estar a ser diferente, já que a população festejou pe- las ruas da cidade a sua inde- pendência e reintegração na Ucrânia. Por agora limitemo-nos às realidades e esta é uma delas. Putin perdeu Kherson e está a perder território e a Ucrâ- nia está a somar vitórias. O futuro poderá ser diferente e sê-lo-á certamente no dia em que a guerra acabar. Essa é a realidade que todos ambicio- namos.

António Machado

No início da década sessenta do século passado chegou a Bragança o lisboeta Machado, mais tarde Machadinho para os amigos em dias e noites de feéricas exaltações a arrancarem estrídulas gargalhadas aos convivas. Instalado no burgo bragançano a exercer a (na altura) o quase desconhecido múnus de professor do ensino especializado de crianças descapacita- das, depressa conquistou a generalizada simpatia das pessoas, dada a sua bonomia e integração numa terra na qual os fo- rasteiros eram olhados e escrutinados pormenori- zadamente. Vivíamos em ditadura, a cidade também enfermava da execrável acção gerada no coio dos bufos (Legião Portuguesa), a PIDE morava em Quintanilha, por isso todos os cuidados eram poucos. O professor praticava a modalidade de futebol, depressa pas- sou a envergar a camisola do Desportivo, o seu estilo viril agradava aos «tifosos», a tal integração era completa. Porém, An- tónio Machado ensaiou com pleno êxito o dificul- toso papel de animador das noites de uma cidade embiocada, bafienta, in- vejosa e dotada de baias conservadoras no que tange às diversões nocturnas. Logo de seguida aventura-se no intrincado universo das artes culinárias, na restauração, constituindo uma auspiciosa revelação a presença do restaurante Académico no Festival Nacional de Gastronomia em Santarém. O Académico firmou raízes, granjeou fiel clientela, mi- lhares de pessoas conhe- ceram várias especialida- des da magnifica cozinha transmontana, António Machado passou a ser fi- gura emblemática no e do Festival da sápida cozinha tradicional portuguesa. Nas últimas edições do certame gastronómico, o Machadinho fez-se representar pelo filho Nuno. A representação tem sido briosa, mesmo exemplar, no entanto, porque ele faz muita falta tenho tentado saber qual a causa do afastamento para lá das etéreas respostas de circunstância. E, o Nuno informou-me dos padecimentos de saúde que o têm apoquentado desde há tempos a esta parte. Em face deste informe de- cidi escrever esta crónica, com o intuito de o poder alegrar incentivando-o a resistir com todas as ga- nas à maleita, de maneira a regressar rapidamente ao nosso pleno convívio em que possamos revisitar o passado, revolvendo a memória dos momentos de ampla plenitude dos sentidos que encerro na Carmina Burana. Forte abraço para ti querido Machadinho, Bragançano de gema como se tivesses nascido na Vila ou no bairro de Além-do-Rio.