A Feira de Bragança ao longo dos tempos (2) Dos fins de oitocentos ao último quartel do século XX
No ano de 1864, o Código de Posturas Municipais para a Cidade de Bragança e seu Concelho, estabelecia que todos os géneros que entravam na cidade só podiam ser vendidos nas praças e mercados públicos, com exceção dos que se vendessem por pregão, a erva e a palha, estes seriam vendidos pelas ruas, “sem mais demora que a necessária para justar e descarregar”. Eram os seguintes os mercados e praças da cidade:
O Campo de Santo António, onde na feira mensal e anual se vendia, gado cavalar, muar e asinino a nascente do campo; suíno, ao sul, próximo da estrada do forte; lanígero e cabrum a ocidente; bovino a norte e centro do campo; Largo do Tombeirinho onde se vendia carvão feno, erva e palha; Praça da Sé, onde se fazia o mercado diário de cereais e de todos os géneros comestíveis; Eiras do Colégio, onde se realizava mercado às quintas-feiras e feira mensal de quaisquer géneros; Praça de São Vicente, onde se fazia o mercado diário de carvão, fruta, hortaliça, legumes, lenha, peixe e pão cozido; Muralha da cadeia, onde se fazia comércio de cabeças, “forçuras”, mãos, pés e tripas de gado. O mercado semanal também funcionava no Loreto, às quintas-feiras, no qual se vendiam cereais, legumes, frutas e mais géneros alimentícios.
No ano de 1871, Bragança tinha duas feiras por mês, nos dias 3 e 21, e a feira anual que se realizava na segunda-feira seguinte ao oito de setembro, chamada feira do Loreto, feira em que se vendiam gados, louças, frutas, sedas etc.. A feira do dia 3 de maio era conhecida por feira de S. Vicente, por se realizar na Praça de S. Vicente, tinha sido concedida a 3 de março de 1856, pela Junta Geral do Distrito, por ser essa a vontade da maior parte dos negociantes e habitantes da cidade, local onde se vendiam cereais, legumes, peixe, carnes secas, chapéus, linho, sedas, mantas, sola, ouro, prata, etc. Na feira do dia 21 de setembro, a mais antiga, conhecida por feira de S. Mateus, vendiam-se os mesmos produtos que na de São Vicente.
Nas aldeias havia feira anual em Babe, no dia 29 de junho, de géneros alimentícios e de contratação de criados de servir e pastores; em Vale de Nogueira, nos Chãos, a feira mensal realizava-se nos dias 7 e 20, feira central para várias aldeias do concelho de Bragança e de Macedo de Cavaleiros, era mais conhecida pela transação e troca de gado; Izeda tinha feira mensal dia 26, aí se transacionava gado, cereais, carnes, sal, etc; a antiga vila de Outeiro tinha feira mensal dia 14 e anual dia 3 de maio, ambas de gado, cereais, carnes, sal etc; Parada tinha feira mensal inicialmente ao dia 12 e mais tarde foi mudada para o dia 9, aí se transacionava, gado, cereais, legumes, batatas, e outros produtos (esta feira deixou de se realizar em meados da primeira década deste século; Frieira gozava do privilégio de uma feira de homens, que se fazia pelo S. João, onde se deslocavam feirantes vindos de terras longínquas como de Chaves e Barroso para contratar a mão-de-obra que aí se oferecia.
No ano de 1910 Bragança continuava a ter duas feiras mensais, nos dias 3 e 21. No ano de 1916, a 12 de fevereiro, foi-lhe concedida autorização para realizar mais uma feira mensal, no dia 12. Neste ano a Câmara Municipal decidiu autorizar a realização de mercado na aldeia de Santa Comba de Rossas, ao dia 4 de cada mês. Este novo calendário de feiras na cidade de Bragança, que desde há vários anos, quando o dia de feira coincidia com o sábado ou domingo, passava para a segunda-feira seguinte, durou um século. A partir de 1 de janeiro de 2014, por deliberação da Câmara Municipal, a feira passou a fazer-se todas as sextas feiras de cada mês.
Na foto, de fevereiro de 1970, identifica-se parte da área da feira na zona nascente do Toural ou de Santo António, frente à entrada principal do Cemitério, onde ainda existia uma vasta área livre e se concentravam os vendedores ambulantes de roupas, sapatos, e bens diversos, era a entrada principal da feira. Ao fundo vê-se a Pousada de S. Bartolomeu, inaugurada no ano de 1959.
No antigo Toural, uma ampla área no limite urbano a norte da cidade, na parte mais afastada, estava o Campo de Jogos da cidade, o conhecido campo de jogos do Toural, cuja construção se iniciou a 22 de junho de 1947. A bancada e a vedação eram de madeira, aí jogava o Grupo Desportivo de Bragança, fundado a 11 de junho de 1943, tendo como génese a equipa do Sport Lisboa e Bragança, criada no final da década de vinte, início de trinta. Durante as festividades da cidade, aí se realizavam jogos internacionais com os clubes de León, La Bañeza, Zamora, Valladolid e Salamanca. A Câmara Municipal decidiu a 21 de junho de 1963, transferir o campo para a Zona do Posto Hípico, onde hoje estão as piscinas municipais.
No antigo Toural, contiguo ao “Cemitério Velho”, construído no ano de 1786, nos dias de feira prevalecia a ocupação com animais, touros, vacas, porcos, galinhas, ovelhas, cabras e outros animais, a área de venda ambulante era menor e situava-se entre a rua Dr. Francisco Felgueiras, a rua Nova do Cemitério e a frente principal do Cemitério, toda a restante vasta área era destinada à feira do gado, onde existia um grande tanque de água para os animais beberem. Tratava-se de um amplo espaço de terrado, existia a preocupação com os detritos que aí ficavam depositados, restos de alimentos para os animais, dejetos dos animais etc., situação que a 24 de março de 1961 foi notícia no Jornal Mensageiro de Bragança.
O 6.º Concurso da Raça Bovina Mirandesa, promovido pela Comissão de Festas, com apoio da Câmara Municipal, decorreu no dia 22 de agosto de 1960, subsidiado pela Direcção Geral dos Serviços de Pecuária. O concurso foi muito participado, após conhecidos os resultados, os criadores desfilaram com os animais premiados pela Avenida João da Cruz onde foram distribuídos os prémios, tendo presidido à cerimónia o Presidente da Câmara Municipal.