Sta. Bárbara, protectora dos mineiros

PUB.

Ter, 10/12/2019 - 10:28


Olá gente boa e amiga.

Estamos no Advento, a 15 dias da Consoada. Já se nota em todas as localidades que o Natal está à porta, não só nos estabelecimentos comerciais, mas também nas ruas da cidade e nas aldeias que já têm o seu presépio feito. O espírito natalício anda no ar, embora a nossa família tente que seja Natal todos os dias do ano.

No dia 30 de Novembro, sábado, batemos o recorde de participações, com 94. Há cada vez mais gente com vontade de participar e de desfrutar das amizades feitas através da rádio.

Quanto ao tempo, o frio parece que veio para ficar, dando veracidade ao provérbio “em Dezembro treme de frio cada membro”. O provérbio que este ano não se confirmou foi “dos Santos ao Advento, nem muita chuva nem muito vento”, pois durante esse período houve muita chuva e muito vento.

Nesta altura os afazeres agrícolas não são muitos, por isso as pessoas aproveitam mais o “vale de lençóis”, embora haja muitas pessoas na faina da azeitona, que este ano não está a ser tão bem paga como em anos anteriores. Também já há muitas cozinhas “enfeitadas” com aquelas tripas cheias dependuradas. Esta também é a melhor altura para plantar alhos: como como diz o povo “se queres um bom alhal, planta-o no mês de Natal”.

No dia 4 festejou-se a Santa Bárbara, a tal santa esquecida, de quem só nos lembramos quando troveja, mas também viemos a saber que é protectora dos mineiros e na nossa região há várias localidades onde existiram minas e a devoção a esta santa ainda continua, como são os casos de Coelhoso (Bragança), Felgar e Souto da Velha (ambas no concelho de Torre de Moncorvo) e Ervedosa, no concelho de Vinhais.

Dia 6 de Dezembro também se festejou o santo do meu nome, S. Nicolau, dia 7 festejou-se o Santo Ambrósio e dia 8, antigo dia da mãe, a Imaculada Conceição, padroeira dos bombeiros.

Nos últimos dias festejaram o seu aniversário connosco Florentino Morais (69), de Espinhoso (Vinhais); Fernando Silva (37), de Vinhais; Manuela António (43), de Samardã (Vila Real); David Farruquinho (17), Mercês Cordeiro (79), Marcelina Gonçalves (79); Conceição Maltês (69), todos os quatro de Coelhoso (Bragança); Francisco Gomes (52), de Agrochão (Vinhais) e Gabriela Maravelhas (51), de Salselas

(Macedo). Para todos muita saúde e paz, que o resto a gente faz.

Agora vamos recordar alguns testemunhos do tempo em que o minério valia dinheiro e por isso era viável a sua extracção em muitas aldeias, onde se exploraram minas.

 

 

Inspirados na Santa Bárbara, protectora dos mineiros, que se festejou no passado dia 4, durante o programa do dia 5 lembramo-nos de perguntar se nos estava a ouvir alguém que tivesse trabalhado nas minas.

O primeiro a dar o seu testemunho, foi o tio Manuel Paula de Oliveira, de Argozelo (Vimioso), com 56 anos, que nos disse que trabalhou durante cinco anos nas minas daquela localidade, como safreiro, ou seja, amanhava os montes para o marteleiro, de onde extraíam “estanho, volfrâmio e areia para as estradas. Entrava às 6 da manhã e saía às 14 horas da tarde. Levava a merenda e íamos comer para as galerias”. Ganhava 35 contos por mês, há cerca de 40 anos.

A tia Maria Porto, de S. Martinho (Miranda do Douro), disse-nos que a sua mocidade “foi passada na mina. Íamos buscar sacos de terra a um cabeço para pôr à beira da galeria, onde havia água para lavar a terra e extrair dela o minério”. Também nos disse que na sua aldeia havia três minas: “a mina do raposo, a do cadeço e a da escáveda”. Também natural de S. Martinho, a tia Brígida disse-nos que na sua mocidade trabalhou “sempre nas minas e ganhava cerca de 300 escudos por mês”. O tio Domingos Ferreira, também de S. Martinho, disse-nos que a sua filha fez nesta aldeia um museu dedicado ao mineiro.

A tia Marcelina, de Coelhoso (Bragança), relatou-nos: “baixei muitas vezes à mina para levar o almoço ao meu irmão e tios e a muitos mais mineiros, pois tinha um negócio de comes e bebes. Entre 1955 e 1960 foi o ‘boom’ das minas, pois até os pombais se alugavam para os que não tinham outro tecto. Mas sabe, tio João, nessa altura fazia-se negócio de tudo”.

A tia Neves, de Nuzedo de Baixo (Vinhais), recordou-nos que “com 13 anos ia levar o almoço ao meu pai e irmão, que trabalhavam nas minas de Ervedosa. A aldeia nunca teve tanta gente como nessa altura e até se construiu o bairro dos mineiros”. Também diz que se recorda de ver “as pessoas que chagavam à aldeia a saber de trabalho, com um saco de sarapilheira às costas”. A esses que vinham de fora “chamavam-lhe os carapuceiros e ainda hoje se utiliza esse termo para designar as pessoas que vivem na aldeia mas não nasceram lá”.

Ficamos desta maneira a saber que antes da emigração eram as minas que davam trabalho não só às pessoas naturais da aldeia onde existiam, mas a muitas outras que vinham de fora, acabando algumas por se fixarem e constituírem família.