PJ já interrogou suspeitos de agredir o cabo-verdiano Giovani

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Ter, 07/01/2020 - 12:27


A Polícia Judiciária já identificou e interrogou vários indivíduos que terão estado envolvidos na morte de Giovani Rodrigues, avançou hoje o JN. Um estudante do IPB morreu, na última terça-feira, vítima de agressões que terão resultado de uma rixa, no dia 21 de Dezembro, em Bragança.

A vítima, com idade de 21 anos, foi transportada pelos bombeiros para o Hospital de Bragança com um traumatismo cranioencefálico, mas devido aos ferimentos graves foi levada para o Hospital Santo António, no Porto, onde esteve em coma durante vários dias e acabou por falecer no dia 31 de Dezembro. Ao que se conseguiu apurar Luís Giovani dos Santos Rodrigues estaria num bar, com amigos, onde o conflito começou. Os responsáveis pelo estabelecimento, num comunicado, contam que “dois clientes se envolveram em confrontos” e que um funcionário interveio para “apaziguar” a situação e evitar o “confronto físico”. Um dos clientes depois de se ter acalmado pediu para sair tendo amigos à sua espera e, mais tarde, o outro interveniente no conflito também saíu “com normalidade possível nestes casos”. Segundo o comunicado, “no interior do bar e nas áreas de acesso não aconteceu qualquer tipo de envolvimento físico entre os dois intervenientes” e nenhum dos envolvidos no confronto era Giovani. Já na página do Facebook “Onda kriolu” é possível ler numa publicação que Giovani e os seus companheiros depois de saírem do bar ainda permaneceram alguns minutos perto do estabelecimento, de modo a evitarem “problemas na rua”. “Enquanto isso os agressores reuniram o grupo e as armas... De acordo com testemunhas quando os quatro cabo-verdianos saíram da discoteca esperavam- -nos, a uns 300 metros à frente, 15 rapazes em três grupos armados com cintos, ferros e paus”. O jovem era natural de Mosteiros, Ilha do Fogo, em Cabo Verde e estava a frequentar o curso de Design de Jogos Digitais, no Instituto Politécnico de Bragança, há pouco mais de dois meses. Era pianista na banda Beatz Boys, um grupo formado pela paróquia de Nossa Senhora da Ajuda e artistas do agrupamento De Martins, segundo a nota de pesar da Câmara Municipal de Mosteiros. Nas redes sociais, na página da Associação de Estudantes Africanos de Bragança, é possível ler que “já foram identificados algumas testemunhas e alguns dos agressores”. A associação apela ainda para que, quem tenha presenciado o acto de violência, contacte a PSP. Ao longo de várias publicações nas redes sociais, apela-se ainda à paz, tranquilidade, serenidade e espírito de responsabilidade. “Isto caiu como uma bomba na comunidade e a comunidade está muito revoltada com a situação, mas nós como associação passamos a mensagem para sempre manterem a calma e para que a justiça seja feita”, disse Wanderley Antunes, presidente da AEAB. Disse ainda que os amigos de Giovani também envolvidos nos confrontos estão debilitados fisicamente e a receber apoio psicológico. A AEAB e o Instituto Politécnico de Bragança vão ainda prestar uma homenagem a Giovani, com uma marcha pacífica e silenciosa pelas ruas da cidade de Bragança e uma missa. A marcha terá início no IPB, no dia 11, às 15h. Lisboa, Porto, Coimbra e Covilhã, em solidariedade, vão também realizar a marcha, no mesmo dia, à mesma hora.O Instituto Politécnico de Bragança também emitiu uma nota de luto, na qual apresenta à família e amigos as condolências e mostra solidariedade para apurar o que terá acontecido. “Estamos a ver a situação com preocupação porque está a ser colocada em causa tudo que era um dos grandes activos da nossa instituição, da região e da nossa cidade, que era a segurança, a tolerância e o respeito pelos valores humanos”, disse Orlando Rodrigues, presidente do politécnico, que referiu ainda que a imagem da instituição pode ser posta em “risco”. Também o Ministério dos Negócio Estrangeiros, através da rede social Twitter, lamentou a morte do jovem cabo- -verdiano. “Lamentamos profundamente a bárbara agressão de que resultou a morte, em Bragança, de um estudante cabo-verdiano. Os responsáveis serão identificados e levados à justiça. Os cabo-verdianos são nossos irmãos e muito bem-vindos em Portugal”. A Embaixada da República de Cabo Verde em Portugal já emitiu um comunicado, na sexta-feira, no qual pediu clarificação “cabal” da morte do jovem. No comunicado é possível ler que a Embaixada contactou a PSP de Bragança para obter informações acerca do que aconteceu e estas foram “prontamente prestadas”. “De acordo com informações recebidas da PSP, o processo foi encaminhado para a Polícia Judiciária para o competente tratamento. Foi ordenada também a realização da autópsia para se conhecer com precisão a causa da morte”, lê-se no comunicado. A Embaixada da República de Cabo Verde em Portugal e a câmara de Mosteiros estão a tratar da transladação do corpo. A PSP de Bragança tomou conta da ocorrência, mas a investigação está agora a cargo da Polícia Judiciária. Nos últimos dias, nas redes sociais foi posto em causa ter-se tratado de um acto de racismo. Segundo o jornal Público, a PJ já afastou a suspeita da morte do jovem estar associada ao ódio racial. 

Jornalista: 
Ângela Pais