Ter, 25/06/2019 - 12:03
A festa da “maior família radiofónica do mundo” está marcada para o Santuário da Nossa Senhora do Aviso, na aldeia de Serapicos, em Bragança, e decorre a par do XVI Encontro de Gerações, promovido pela Câmara Municipal.
Unindo pessoas, sobretudo as mais velhas e mais isoladas, o programa começou quando entregaram as chaves da RBA a Nicolau Sernadela para ir lá pôr música depois de sair da discoteca, onde trabalhava como disco jokey. Não se ficando pela música, e sem consciência do que ia fazer, às seis da manhã, pôs no ar um instrumental de Júlio Pereira e disse “Eu sou o Tio João e quero fazer uma grande família”. E a verdade é que o atrevimento lhe ditou o rumo e Tio João ficou. Logo nesse dia lhe apareceram ouvintes. A primeira e por isso o primeiro membro da família foi a Tia Helena, de Sanhoane, em Mogadouro. Mas recebeu telefonemas de oito aldeias. No dia a seguir somou mais dez... e assim foi fazendo caminho até hoje. “Cheguei a conquistar, na totalidade, mais de duas mil aldeias”, contou Nicolau Sernadela.
Quando o programa já tinha perto de meio ano “alguém que Deus lá chamou” disse “Oh Tio João, porque é que não fazemos uma festa entre os que ouvem o programa?”... e assim foi, a 16 de Setembro, de 1990, no Santuário da Nossa Senhora da Hera, no concelho de Bragança. “Nunca mais parámos e pronto... já lá vão 30”, contou Nicolau.
O programa tem uma média de seis mil participações por ano. Com 59 anos, Antónia Pires, de Rio Frio, no concelho de Bragança, é uma das ouvintes mais “antigas”. Presença certa no piquenicão que se avizinha, onde se encontra “muita” gente. A Tia Antónia diz que o programa “significa muito” e que se não ouvir o Tio João “já não se passa bem o dia”. “Somos como uma família. Parece que me estimam mais estas pessoas do que alguns da família”, contou. Quem não deverá faltar também domingo é Telmo Gonçalves, de Samil, em Bragança. Ouvinte há uns vinte anos confessa que não perde um programa que seja. “Todos os dias é um programa diferente porque todos os dias há pessoas que se apresentam e grande parte de quem vai chegando tem muita cultura de vida”, referiu. Acreditando que o programa “deu vida aos idosos” diz que “é uma família que está sempre presente” e que as pessoas se “interessam” pela amizade das outras. Lurdes Pires, de 93 anos, é natural de Vinhais e é a primeira vez que vai faltar a um piquenicão! Imagine-se só que a Tia Lurdinhas conhece a festa, que considera “uma maneira de fazer amigos”, desde a primeira edição... e não, nunca perdeu nem um piquenicão. “Quando tenho qualquer coisa para dizer, que me parece de bem e de novidade eu telefono para ele”, explicou a Tia Lurdinhas, que ouve o programa desde o seu arranque e que assinala aqui a “comunicação” que há entre a família que todas as manhãs está no ar.
O programa de Nicolau, que “não é mais do que uma radionovela, que retrata o dia a dia de pessoas simples e humildes”, com as quais desabafa e a quem conhece e ouve os talentos, vai reunindo estes “personagens” e além dos piquenicões também há piqueniquinhos. Diga-se que o maior piquenicão de que há memória até começou por ser um piqueniquinho, que era para homenagear a tia Margarita, de Alcanices, a 28 de Março de 2004, onde se contaram nada mais nada menos que 97 autocarros e 25 carros patrulha a comandar o trânsito. “Consegui levar muita gente à Espanha que nunca lá tinha ido”, relembrou o anfitrião do programa que “é um antibiótico de vida para as pessoas”.
Além de piqueniquinhos e piquenicões, a família tem ainda o sardinhão, almoção, merendão e o magustão. As viagens, tanto pelo país como para fora dele, já vão em 275 e já houve aqui espaço até para dois cruzeiros, duas visitas a Roma, onde foram abençoados por João Paulo II e por Bento XVI.
O piquenicão tem missa marcada para as 11:30h da manhã de domingo. A partir das 14h00 há tarde recreativa em que os artistas são as vozes que nos chegam através da rádio e a quem Nicolau, todas as manhãs, abre a porta.