“Jogava nos juniores ao sábado e nos seniores ao domingo a custo zero e nunca me importei, o que queria era jogar”

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Qui, 14/05/2020 - 17:49


O mirandelense Rui Borges, técnico do Académico de Viseu, recordou, esta quarta-feira, o seu passado como jogador no S.C. Mirandela no espaço “Conversa Alvinegra”, na página oficial do clube no Facebook.

Figura emblemática do emblema da cidade do Tua ganhou tudo o que havia para ganhar nas equipas de formação e destacou-se no plantel sénior, sendo mesmo apelidado de ‘Maestro’. “Foram os tempos mais felizes das nossas vidas. Éramos miúdos e felizes. A juventude na altura era vivida de outra forma. Havia uma camaradagem que hoje em dia não existe. Actualmente os miúdos são mais materialistas. A nós uma bola num sítio qualquer fazia-nos felizes”, recordou o antigo médio.

Rui Borges afirmou-se muito cedo no plantel sénior, tinha 17 anos. Ao sábado jogava na formação de juniores e ao domingo na equipa principal dos alvinegros. Foi na temporada de 1998/1999, o treinador era Gilberto Gomes e o clube vivia dias difíceis financeiramente. “Jogava nos juniores ao sábado e nos seniores ao domingo a custo zero e nunca me importei. O que eu queria era jogar. Ficava feliz por ajudar o clube em que escalão fosse. Convivi com jogadores mais velhos e que me ajudaram a crescer”, lembrou.

No primeiro ano de sénior ingressou na formação vizinha, o G.D. Bragança, seguiu-se o Paredes, o Braga B e o regresso a casa em 2004. “Nesse ano vim de uma época menos feliz na equipa B do Braga e vim para o Mirandela, que estava na 3ª Divisão. Tive cinco meses muito maus em Braga, duas fracturas na clavícula e queria vir para casa. Vim para o clube que eu queria e nessa época foi o Carlos Correia que terminou a época, depois de ter iniciado com o Adérito Pires”.

A estadia no clube da cidade natal durou apenas uma temporada já que seguiu novamente para o GDB, passando depois pelo Trofense e Moreirense.

A Mirandela regressou na época 2009/2010 e jogava lado a lado com outro dos símbolos dos mirandelenses, Rui Lopes.  “O Rui Lopes era o nosso capitão e um dos meus melhores amigos. Alguém com quem o grupo se identificava”.

O plantel movia os adeptos tanto nos jogos em casa como fora de portas e isso muito se devia aos jogadores da terra, como Rui Lopes, Renato, Stigas, Marco Fontoura, Manu ou Pedro Borges, que integravam a equipa e que contribuíam para a conhecia ‘mística alvinegra’.

Para o baú de memórias de Rui Borges fica a recepção apoteótica em Mirandela, depois do triunfo no terreno do Vianense que garantiu a subida do Mirandela à 2ª Divisão. “Era uma multidão enorme na nossa chegada a Mirandela. Já a Viana do Castelo foram muitos adeptos. Foi um acumular de acontecimentos até chegarmos a casa. Foi muito bom sentir que os adeptos estavam à nossa espera. Os adeptos foram fantásticos”, descreveu com nostalgia.

O jogo com o Vitória de Setúbal para a Taça de Portugal, na temporada 2011/2012, também não foi esquecido. O Mirandela foi um dos tomba gigantes da terceira eliminatória da prova rainha do futebol português com um triunfo por 1-0, golo apontado por Paulo Roberto. “Foi uma época fantástica a nível individual e de grupo. As pessoas não imaginam o que era o nosso grupo e a nossa felicidade. Era um grupo especial. Os jogos da taça foram fantásticos com um ambiente único. Era um grupo muito confiante e comprometido aliado à qualidade”. 

Os momentos mais difíceis também vieram à conversa, como o encontro com o Tourizense na época 2016/2017. Os mirandelenses precisavam de vencer em casa no último encontro do play-off de manutenção para evitar a descida ao distrital. Foi um jogo de muito sofrimento. Os alvinegros conseguiram marcar dois golos, igualando a eliminatória, mas só os penaltis confirmaram a continuidade no nacional. “Foi um ano de muito sacrifício, de união extrema. A força mental e o compromisso de todos foi determinante para não deixar cair o clube no distrital”, afirmou.

Foi a última época de Rui Borges, depois de ter enfrentado uma lesão no joelho que o obrigou a parar cerca de um mês. O médio pendurou as chuteiras, aos 36 anos, e na temporada seguinte estreou-se como treinador no “clube do coração”, como faz sempre questão de frisar. “Para mim foi um privilégio começar a carreira no clube da minha terra e no clube onde terminei a carreira como jogador”.

No plantel reuniu uma mescla de jogadores experientes e jogadores bastante jovens que ajudou a projectar, caso de Ricardo Mangas, que vai regressar ao Benfica depois duas temporadas no Aves onde venceu a Liga Revelação. “Confesso que eu e a restante equipa técnica ficámos um pouco assustados com tantos miúdos. No início levou o seu tempo a fazer jogar a equipa, mas conseguimos fazer uma grande segunda volta. Só perdemos um jogo na segunda metade do campeonato, e fizemos um grande jogo, 1-0 com o Vilaverdense”.

O treinador conduziu o Mirandela ao quarto lugar da série A do Campeonato de Portugal e bateu o recorde pontual do clube em provas nacionais, 57 pontos.

Borges ficou mais uma época no S.C. Mirandela e a meio deu o salto para a 2ª Liga para treinar o Académico de Viseu. Foi a estreia do antigo capitão do SCM como treinador de uma equipa do segundo escalão do futebol português.

Já esta temporada inscreveu o se nome na história do Académico de Viseu ao conseguir o feito de levar ‘os Viriatos’ às meias-finais da Taça de Portugal, onde foi eliminado pelo F.C. Porto.

Rui Borges tem contrato com o Viseu até 2021 e terminou a época, cancelada quando faltavam dez jornadas para terminar devido à pandemia da Covid-19, no oitavo lugar com 34 pontos.