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Carlos Fino, RTP, Bagdad

Boas tardes, minha gente. Não poderia deixar de escrever sobre o tema do momento estando eu a vivê-lo ao vivo. Não é que um vírus deste tipo seja uma coisa de somenos, do género “nada que duas copadas de aguardente não resolvam” como diriam alguns antigos, mas há que parar com algum excesso de informação e, sobretudo, de falsa informação que não ajuda nada. Sei que é difícil pedir isso a um estado minimamente democrático do século XXI, mas poderíamos tentar.  Há poucos dias estávamos a antever a 3.ª grande guerra com uma ansiedade galopante, mas no espaço de um dia a coisa arrefeceu inesperadamente, agora é a população mundial que já se começou a extinguir inexoravelmente através de um vírus misterioso. Sei que sofremos cada vez mais de pânico e de catastrofismo generalizado como se num devir Orwelliano ruminemos um constante sentimento de que a coisa está prestes a acabar mal a qualquer súbito momento, ou para utilizar uma expressão um pouco mais contemporânea, vivemos num espírito CMTV em que temos pavor do apocalipse  mas queremos conhecer as suas rotinas, o que é as suas ex-mulheres diziam dele, qual a opinião que a clientela da pastelaria onde ele toma o pequeno-almoço têm acerca do indivíduo. Mistura estranha de medo e perversão, sempre com o “direto” no cantinho do ecrã. You are watching Big Bro. Enfim, a distância amedontra como dizia o cônsul de Portugal em Cantão há dias. Ponto da situação: Não é fácil. A China está parada porque é o ano novo chinês, tal como está todos os anos, porque é a única altura em que este país pára realmente – durante 15 dias. Esta semana voltam a abrir as fábricas mais necessárias para a situação, mas a maior parte dos serviços só abrem daqui a duas ou três semanas, após, como se espera, o pico do vírus atingir o seu auge. Além disso, as pessoas encontram-se em casa, reduzindo as saídas ao mínimo, razões pelas quais as cidades se encontram com muito pouco movimento, praticamente desertas. Em termos de habitação, as cidades chinesas mais modernas são formadas, sobretudo, por condomínios nos quais o acesso está bastante controlado a não residentes e são tomadas medidas preventivas, tal como está a acontecer em supermercados e centros comerciais. Existe a obrigatoriedade de usar máscara quando se sai à rua e as pessoas estão a ser avisadas diariamente, nas redes sociais, das medidas de prevenção que devem praticar, usar máscara, lavar as mãos com frequência, usar desinfetantes, evitar multidões e contacto pessoal, etc. Com base no que vejo nesta cidade, e sei que está a ser o padrão um pouco por toda a China, parece difícil o vírus espalhar-se descontroladamente porque as pessoas estão conscientes do que têm a fazer para que isso não aconteça e porque, como disse, as cidades ainda não começaram a carburar depois das férias, algo que está a ser adiado pelas autoridades durante algumas semanas. É certo que falta perceber melhor alguns dados sobre este vírus, o seu verdadeiro grau de contágio, mas espera-se efectivamente que se possa, pelo menos, estagnar a situação até ao retorno à normalidade. Acreditemos que sim, porque a bem da verdade, este país com quase 20% da população mundial está a trabalhar diligente e organizadamente para combater esta situação. Pela internet compram-se alimentos com facilidade e celeridade, quanto às encomendas de máscaras as entregas estão a demorar algumas semanas, mas as fábricas deste produto voltaram ao trabalho mais cedo. Assim como aqueles atentados que levam a vida de centenas pessoas em países a que ninguém quer passar cartucho, isto é, situações que aparentemente nos passam ao lado, vivem-se de forma totalmente diferente quando se está por dentro. Por isso, devemos mostrar algum respeito, alguma contenção, pelo menos. Não é fácil estar a viver uma situação desta natureza, sem sair de casa ou do bairro, com indefinição e algum receio natural. Mas estamos positivos e confiantes, estamos com a China, acreditamos que o homem é capaz de resolver os problemas que cria. Assim é o mundo, assim são as vidas de cada um de nós. Estamos cá para o que der e vier com informação, consciencialização e precaução. Troçar, veicular notícias infundadas e catastróficas, não contribui de modo nenhum. Abraço!

 

* Leitor de Português na Universidade de Sun Yat-sen Cantão Guangdong – China

 

A Nova Guerra Mundial

A guerra, a fome e a doença foram, desde os primórdios da história humana, as maiores ameaças à sobrevivência dos indivíduos e dos grupos onde se integravam. Foi a promessa de proteção contra elas, sobretudo a primeira que conferiu aos líderes históricos, o poder, reconhecido pelos seus pares.

A troco da segurança, a comunidade prestava vassalagem e pagava o respetivo trubuto ao chefe militar. Este mandou construir fortalezas para se proteger dos atacantes e ali dar igualmente, abrigo aos seus protegidos. A estratégia, tendo evoluído, ao longo dos séculos manteve, no essencial a estrutura consagrada e estruturada por Sun Tzu, no século IV AC no tratado “A Arte da Guerra” que, com mais ou menos variantes passava sempre pelo confronto direto com o agressor/invasor. Por muito importante que fosse a conquista a defesa foi sempre a principal preocupação pois era dela e da sua garantia que dependia, em última análise, a sustentabilidade dos exércitos. A proteção passou inicialmente pela construção de paliçadas, muralhas, cidades fortificadas, navios couraçados, fronteiras eletrificadas, escudos de defesa, antí-mísseis e... estamos no dealbar da guerra cibernética. Recentemente um general iraniano foi morto por um drone teleguiado. Contudo, a principal guerra, a vital batalha defensiva trava-se no ciberespaço, nos bunkers tecnológicos das Agências Nacionais de Informação. As guerras mundiais deixaram de acontecer, até agora, não pela diminuição dos equipamentos bélicos, não pela menorização dos exércitos e muito menos pela índole pacifista dos generais. Não há mais guerras à escala planetária porque, diariamente, constantemente, estão a ser monitorizados, vigiados, anulados e eliminados, preventivamente milhares de agentes bélicos e das suas continuadas ações.

O mesmo se passou com a saúde. Os combates às doenças têm, tal como outras atividades humanas, seguido caminhos paralelos aos da atividade marcial. O ataque aos agentes patogénicos, dificultado pela sua característica microscópica, dando-lhe por isso uma vantagem natural superior à dos exércitos tradicionais. As pandemias (guerras mundiais desta espécie) eram combatidas com quarentenas, isolamento de cidades, bandeiras negras demarcadoras e refúgio em zonas “limpas”. A evolução veio com o reconhecimento individual e científico do inimigo e com o uso da arma letal: os antibióticos; e muitas medidas preventivas: as vacinas. Contudo, ao contrário da outra, que nos últimos tempos se foca em eliminações cirúrgicas dos inimigos mais poderosos e mais perigosos, o uso maciço de antibióticos dedicou-se a eliminações indiscriminadas de todos os agentes patogénicos, logo, abatendo de imediato, os mais frágeis. Os que resistiram (cumprindo uma quota estatística, mesmo que pequena) foram sem dúvida, os mais fortes resultando portanto num reforço exponencial do inimigo! Por outro lado a globalização veio eliminar barreiras proporcionando viagens universais e gratuitas: os vírus não têm passaportes nem pagam bilhetes. E, ao contrário dos exércitos modernos, são democráticos: não escolhem as suas vítimas. Para complicar não reconhecem nem se detêm perante fronteiras, bunkers ou outros “esconderijos”. As poderosas lideranças dos tempos modernos não atemorizam os microscópicos vírus e bactérias que evoluem, continuamente, se reproduzem eficazmente e se disseminam rapidamente. Os custos em vidas e em recursos económicos e financeiros crescem exponencialmente e só tenderão a agudizar-se.

Tal como na guerra clássica, é necessário mudar radicalmente, o paradigma. Mais do que a proteção das pessoas que os mantêm, o que os ricos e poderosos têm em mãos, é a sua própria proteção. E, perante os riscos da ação curativa e da despesa associada ao combate às crescentes e frequentes pandemias, só se antevê uma atuação consequente e racional – apostar tudo na prevenção e no combate precoce. Para isso só se antevê uma solução: a implementação do Serviço Mundial de Saúde, eficaz, global, acessível e gratuito.

 

O fado Lisboa Luanda Leaks

A inevitável independência de Angola veio cedo demais.

Deveria ter acontecido alguns anos depois, somente, embora não muitos mais. Precipitada pelo golpe de estado militar de 25 de Abril de 1974, processou-se da pior forma.

Por ironia da História aconteceu numa altura em que as Forças Armadas da Portugalidade, que incorporavam soldados de todas as raças e credos, dominavam em absoluto todo o território angolano, garantindo a paz militar e a segurança civil em todos os centros urbanos, bem como assim a circulação livre e segura de pessoas e bens.

Para lá de que elas próprias rasgavam estradas, dispensavam alimentos, educação e cuidados de saúde às populações mais recônditas e carenciadas, e asseguravam a concórdia entres grupos étnicos rivais.

Infelizmente esse prometedor período de paz e progresso foi brutalmente interrompido mal a independência sob a bandeira marxista-leninista se consumou, dando lugar a uma medonha carnificina que descambou na desumana autocracia corporizada no déspota Eduardo dos Santos.

Eduardo dos Santos e cúmplices que, deslumbrados pelo poder totalitário e pelo dinheiro fácil do petróleo e dos diamantes, condenaram impunemente os angolanos à mais degradante miséria, com desprezo total pelos direitos do homem.

Portugal também esteve em rumo idêntico, diga-se em abono da verdade. Salvou-o a Europa, que continua a valer-lhe, muito embora prossiga com a corda na garganta.

Agora mesmo a agitação social está ao rubro, provocada por forças obscuras que procuram lançar Portugal no caos, favorecendo a criminalidade de toda a classe, fomentando o racismo, protegendo a imigração selvagem e incitando grupos marginais a sublevar-se contra a autoridade de direito democrático.

Tudo sob a égide da governança autodenominada socialista, com a conivência cínica do PCP e do BE, autointitulados de esquerda, e a titubeante oposição do PSD e do CDS, ditos de direita. Uma comédia grotesca encenada no palco do Regime da corrupção, agora esperançosamente abanado por novos protagonistas.

Angola, porém, talvez por se tratar de um país africano, não teve quem de boa-fé lhe deitasse a mão, pelo que os desonestos machuchos angolanos encontraram nas elites políticas e económicas de Lisboa com provas dadas no saque do Estado português, os comparsas ideais.

Tudo se ajustava: a democracia ainda não chegara em pleno a Portugal e a independência de Angola viera cedo demais.

Tivesse vindo uns anos depois e Angola seria seguramente um exemplo para África e para o Mundo. Seria, por certo, um país moderno e progressivo, livre de traidores, salvo da guerra civil e governado por cidadãos com o mais elevado sentido cívico e patriótico.

Com a intervenção em curso do chamado Luanda Leaks o consulado de Eduardo dos Santos parece estar finalmente a desmoronar-se e o Regime corrupto português a ser, por igual, denunciado internacionalmente.

É fatal como o destino!

É o fado Lisboa Luanda Leaks que, aparentemente, anuncia uma nova esperança para a democracia em Portugal e em Angola. Esperemos que não seja só fogo-de-vista e que tudo não passe de uma ruidosa rendição de quadrilhas.

Angola e Portugal merecem melhor sorte.

Que Nossa Senhora da Muxima proteja os angolanos.

E Nossa Senhora de Fátima os portugueses.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.