Nesta opaca claridade em que tudo se quer ver e nada se vê, dá-se o arranque das eleições legislativas e os partidos tentam posicionar-se em duas vertentes essenciais, na sua e na dos eleitores e para isso agrupam promessas que não os comprometam e que interessem à maioria dos que vão votar. Infelizmente votam poucos!
Diríamos com um pouco de razoabilidade, que todos comungam dos mesmos objetivos, mas seguindo por caminhos diferentes. Na verdade, o que temos observado neste titubear inicial, é a abordagem de temas comuns, como o ambiente e os impostos. É evidente que é de bom-tom e pode ganhar votos, dizer que se quer baixar os impostos e defender o ambiente que tanta agressão tem sofrido e cuja pureza se nos escapa por entre os dedos.
Engenharia económica e proliferação de projetos todos têm e todos prometem cumprir. Claro que têm de prometer cumprir. Já vimos e sabemos que as promessas não são para cumprir, mas sim para prometer. Se nada se prometer, nada se pode cumprir. E como se ganham votos se nada se prometer? No que a isto concerne, o problema reside essencialmente no modo como se fazem as promessas e em que bases são sustentadas.
Temos vindo a assistir pelas televisões, a debates entre os líderes partidários, onde se esgrimem promessas, aparentemente realizáveis e necessárias para o avanço da economia e da melhoria da situação dos portugueses. Claro, mas isto sempre foi assim. Promete-se sempre o mesmo. Então porque é que não vemos os resultados?
O que temos de diferente neste início de campanha são as bases em que assentam os objetivos. Muito embora se tenha sempre referido o interior como algo a que se te de dar prioridade, a verdade é que as populações que por cá estão não têm visto as promessas cumpridas. Agora António Costa vem apostar em promessas para desenvolver o interior do país já que cá existem inúmeros recursos que têm de ser aproveitados e enaltecidos economicamente. É verdade, mas sempre cá estiveram! E se fizerem o que sempre têm feito, continuaremos na mesma, como sempre estivemos.
Eles sabem e nós também, que aqui o ar é mais puro, que o ambiente é saudável e que existem recursos, sejam hídricos, sejam minerais, sejam hidroeléctricos, sejam agrícolas ou sejam humanos. Afinal temos tudo. Que maravilha. E para que nos serve isso? Para sustentar as promessas que nunca são cumpridas.
Apostar pois no interior e nos seus recursos parece muito bem, mas depois das eleições, quem ganhar, despe a pele que tem e depressa muda de fato. É interessante falar de descarbonização da economia, como diz a Catarina Martins do Bloco. É um termo novo e deixa as pessoas a pensar no que será isso. E como muitos não percebem e ela também não explica, fica tudo muito mais interessante, já que deixa a ignorância predominar e na dúvida, ela falou muito bem, dirá o povo. E como se referia também ao interior, pensar-se-á que é coisa de muito interesse para o povo. É desta que o interior vai arrancar!
Em regiões de baixa densidade como o interior do país, as promessas custam muito dinheiro se forem cumpridas e é por isso que só se promete e não se cumpre quase nada do que se promete. Mas é bom que se saiba que as promessas do PSD custam mais do que as do PS, isto se fossem cumpridas, mas o medo da descapitalização leva a que se fique somente pelas promessas. Mas apesar de tudo Costa veio dizer que há cerca de 1.700 milhões para as empresas do interior no sentido de atrair as populações. Talvez não seja uma promessa, mas o que eu duvido é que as empresas lhe tenham acesso e consigam atrair seja quem for. Não é fácil.
O potencial do interior e a baixa densidade não se conjugam com o desenvolvimento da economia. O potencial existe, mas ninguém lhe toca e a população não cresce e portanto também não pode crescer a economia já que não há desenvolvimento. O interior está sempre em desvantagem.
A verdade é que até outubro o caminho terá de ser percorrido e quem chegar em primeiro terá de olhar para trás e analisar as promessas que foi fazendo. Depois e para que não pareça muito mal, terá de pegar na peneira e peneirar muito bem as promessas mais viáveis e necessárias, caso contrário poderá não chegar ao fim do mandato. Se o PS tiver maioria, o que parece ser possível, então o caso muda de figura. Já não interessa o que se prometeu. Vale tudo. Não será preciso mudar de pele, como a cobra. E mesmo que mude de pele, a cobra será sempre a mesma. Quem vier depois que pague as dívidas.