No dia 10 de Junho, nos tempos da Bufa (entenda-se Mocidade Portuguesa), causava-me espanto as tragladanças dos rapazes e raparigas da organização, cujas fardas cor de caca nazi, em particular do estilo desengonçado, enérgico, resoluto do José Carlos Cadavez, ora a viver no Ribatejo profundo após substancial carreira militar ostenteando nos ombros as três estrelas de general da arma de cavalaria, e da filha mais velha da Dra. Maria Augusta Pires.
Há dias, recordei as passadas largas e abertas deles nos desfiles, ao ver um espectáculo no canal 2, tendo, talvez por um puxar de brasa das raízes comuns, chegado à conclusão de os artistas
observados, ficaram aquém dos meus conterrâneos no que tange à execução biomecânica (termo muito usado pelo conhecido Tanota quando vinha a Bragança já na máquina futebolística portista) dos números dançados.
As coreografias da dança (dança com lobos) que sempre me fascinaram, especialmente a partir de ter visto, observado e perscrutado notáveis artistas no Ballet Gulbenkian, no entanto, manda a verdade escrever que, fiquei rendido à exibição de uma dança descalça em S. Luís do Maranhão do Ballet local a provar quão enorme podem ser os talentos locais. A dança faz parte da condição humana em íntima união com essa linguagem universal que é a música, sendo as suas representações factor decisivo nas civilizações, assim o explicou lapidarmente o sábio Claude Lévi-Strauss, e porque é verdade, na esfera da música da nossa ancestralidade impõe-me a memória trazer a terreiro (a água está rara) o labor de Pedro Caldeira Cabral que, num País interessado na preservação de um importante pilar do nosso património, devia usufruir de condições de maneira a consagrar toda a sua acção a tais tarefas. Nesta estação maluca apoquentada pelo larvar da pandemia, causa furioso estupor vermos e ouvirmos o rufar dos tambores da nebulosa futebolística (ópio para o povo) divulgar negociatas de milhões e milhões no mercado ou bolsados escravos da bola a trazer-nos à mente os rapazes das quadrigas romanas.
Nada tenho contra o desporto-rei, antes pelo contrário, sou patriota benfiquista, porém, se arraia-miúda derrama paixão sobre universos onde rebolam bolas, defendo a defesa de outras artes, muitas delas milenares hoje vertentes em risco de esfunamento vertiginoso. Não por acaso na memória das nações (memorial day nos USA) as heranças musicais têm tanta relevância, nós por cá esfalfamos os pulmões em toda a casta de festivais, ainda bem, mas manda a doutrina antiga observar que tudo o que é demais é moléstia, sendo assim e é, descurar pontos focais da nossa cultura para lá do desconchavo epistemológico, redunda no empobrecimento dos veios da cultura sobrando apenas a espuma dos dias, mesmo esta a desaparecer pois a seca, tal como os eucaliptos seca o discernimento, a acutilância no fazer/ fazendo a todo o tempo pela nossa felicidade. É isso que queremos?