A evolução do consumo de álcool por causa dos males de amor

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Superar um desgosto de amor nem sempre é uma tarefa fácil. O fim pode ser difícil de digerir. Talvez porque não queríamos que tivesse sido assim. Talvez porque ficámos descontentes com a forma como tudo se processou. Talvez porque ficámos tão chateados que queríamos ser um polvo, para poder dar oito socos de cada vez ao agora ex. Voltando à síndrome do estômago amoroso sensível, para ajudar a desfazer todos os nós na barriga, o ser humano inventou o álcool. Uma arte que se foi aprimorando ao longo dos milénios. E assim fica explicada a variedade de bebidas capazes de nos deixar ébrios que temos hoje à disposição. Se, por um lado, temos uma carta de pinga jeitosa, agora temos também a internet. Algo que quando os nossos antepassados se meteram na destilaria não poderiam imaginar que iria revolucionar o mundo das comunicações. E aqui está uma combinação que me deixa nauseada só de pensar. Um bêbedo meio apaixonado ou em recuperação tende a ter imensas (demasiadas?) coisas a dizer ao outro. A fase de adaptação pode ser tumultuada. Inventaram o vinho antes da escrita (faz sentido). Por isso, porventura houve um momento da História em que a única maneira de desabafar os males embriagados seria encontrar o visado ou pintar uma parede. Avancemos, e poderíamos mandar cartas, com a letra toda tremida. Quando a missiva chegasse, até já a ressaca tinha passado. Mais tarde, quiçá, ligavam para o telefone fixo. A seguir, o pager. Telemóveis, com mensagens escritas. Ou toques na madrugada, para os mais forretas. E agora, com o raio dos smartphones e os dados móveis podemos humilhar-nos em qualquer lado, num instante, enquanto emborcamos o equivalente a drenar o Oceano Pacífico. Somos agora sofredores por amor mais perigosos, porque temos mais destreza e, obviamente, mais recursos. Mas o que muita gentinha não dava para ser possível possível malhar numa garrafa de uísque como em cereal maduro, só a ostentar um semblante introspectivo. Em vez disso, provavelmente acaba é a ostentar um olhar vidrado, a mirar um ecrã, enquanto digita uma mensagem ou grava um áudio em voz arrastada que começa com “só acho engraçado que...”.

Tânia Rei