A cimeira de paz que tarda

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A guerra cansa e muito, além de muitas outras coisas. No passado, as guerras duravam anos e anos e pouco se sabia sobre o cansaço dos intervenientes. O que interessava era ganhar e até lá chegar não havia canseira que tal impedisse. Como exemplos temos a Guerra dos Cem anos, a Guerra dos Trinta anos e muitas outras. As causas, passado uns tempos, já não interessavam ou estavam esquecidas. Muitos lutavam, mas não sabiam as razões verdadeiras. Hoje tudo é diferente. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Europa viveu anos de paz e a guerra parecia ser uma coisa que jamais voltaria a acontecer no Velho Continente. Enganaram-se todos, ou quase. Na mente de alguns líderes, essa hipótese era bem real. Era só preparar o momento certo. Mas a Europa não esteve nunca à espera de uma tal anormalidade e nunca se preparou para essa eventualidade. A União Europeia, com o seu ego repleto, achou que não era necessário preparar-se para uma guerra entre fronteiras europeias. Enganou-se. A União Europeia vê-se agora num momento caricato e de difícil resolução e a sua preparação não pode ser feita de um dia para o outro. Os países recorrem com urgência aos armamentos que têm para se resguardarem das hipóteses menos retrógradas e os exércitos voltam a ser uma questão em cima da mesa. Talvez tarde demais. A Guerra na Ucrânia provocada pela invasão ilegal da Rússia ao invocar razões absurdas e que jamais justificariam a usurpação da integridade nacional de um país soberano e independente, trouxe para a Europa o que esta não esperava que acontecesse. E os vários países envolveram-se numa ajuda solidária à Ucrânia na tentativa de travar o avanço das tropas russas. Mais de dois anos passados continuamos a assistir à loucura de Putin, ao seu desmando, à sua prepotência e à vontade de impor uma vontade única de conquista a um povo que nada lhe fez para merecer tal afronta. É vergonhoso que tal aconteça. Contudo, há uma séria demonstração de cansaço de todas as partes envolvidas nesta guerra de loucos. No início, houve negociações tendentes a uma paz em que a Rússia saía francamente a ganhar, embora nada tivesse ganho, além da ocupação de algumas aldeias fronteiriças. Nada foi conseguido. Zelensky impôs condições e não encaixavam nas pretensões russas. A guerra continuou e os países europeus posicionaram-se ao lado da Ucrânia esperando conseguir travar definitivamente Putin. Mas não conseguiram. Entretanto, os EUA enfrentaram a possibilidade de lhes ser negado o desbloqueamento de capital necessário para enviar à Ucrânia o armamento que esta pedia com urgência. A tropa ucraniana estava a enfraquecer. Sem material de guerra para fazer frente à tropas russas, temiam pelo colapso de mais território, aldeias e cidades. Putin apercebeu-se e acelerou o ataque a várias cidades ucranianas. Lançava o terror e a incerteza no âmago dos ucranianos. Zelensky implorava por ajuda e os seus soldados operavam milagres, aguentando na frente. A Europa pouco podia fazer além de se movimentar entre si na busca de ajudas possíveis, mas sob os avisos de Putin sobre qualquer envolvência. Uma incongruência injustificável e absurda. A Rússia podia atacar outro país inde- pendente, mas nem a Ucrâ- nia nem qualquer país aliado podia atacar a Rússia. Regras de Putin. Mas o cansaço esta- va a chegar. Putin passa a dizer que está disposto a negociar a paz com a Ucrânia. Mas nada diz sobre como seria a negocia- ção dessa paz. Putin está farto da guerra. Enfrenta mais de 500 mil soldados mortos e as suas famílias para quem a questão ucraniana nada diz. É-lhe difícil explicar os motivos. Quase implora pela paz, mas continua a querer que se faça à sua maneira. Não seria um acordo de paz, certamente. Por seu lado, Zelensky pede que os EUA e a China façam uma cimeira para a paz na Ucrânia. Como será, se a China e a Rússia ainda agora encontraram e reforçaram os laços de defesa além de acordos comerciais entre ambos? O que irá responder Xi à solicitação de Zelensky? Putin até pode ver com algum alívio essa tal negociação para a paz, já que lhe alivia o stress em que se encontra depois de tanto tempo de guerra sem conseguir nenhum dos seus objetivos iniciais. A paz é bastante necessária para a Rússia e, para a Ucrânia era o fim de um pesadelo. Para a Europa, seria um descanso extraordinário e um tempo para se precaver para novas solicitações deste género. Não acredito que a cimeira para a paz na Ucrânia seja para já. Levará o seu tempo, mesmo com todo este cansaço de parte a parte. A teimosia de Putin vai sair-lhe caro. Muito caro. Para a Ucrânia continua a ser o destruir de um país que se erguia aos poucos depois da sua inde- pendência. Sem culpa sobre o que lhe está a acontecer, deseja fortemente a paz, mas não quer perder a sua integridade territorial para um tonto abusador que julga ser o dono da Europa. É tempo de parar. Uma cimeira de paz definitiva é urgente, ainda mais que outras guerras surgem sem deverem. Afinal, além de uma cimeira de paz, parece-me que outra deverá ter lugar com urgência. Amanhã será tarde demais.

Luís Ferreira