PUB.

“Temos que lutar para que a ferrovia volte a preencher este vazio que ficou no território”

Ter, 27/06/2023 - 11:37


Apresenta, na quarta- -feira, dia 5, em Bragança, o livro “Ferrovia em Trás-os-Montes - Memória do passado, luta do presente”. Comecemos por falar do passado, a chegada do comboio a Trás-os-Montes representou uma revolução no transporte de pessoas e de mercadorias.

Prigozhin, o rebelde

Aparentemente nada de novo na evolução desta guerra insana que Putin desencadeou contra a Ucrânia, colocando a Europa e o Mundo inteiro em pleno alvoroço. Nada de novo, é uma forma de dizer, pois eu já tinha referido, não há muitas semanas, que o que esperava Putin não era mais do que o que aconteceu aos outros ditadores que promoveram guerras e as perderam. O que está a acontecer agora na Rússia, era portanto, esperado mais dia menos dia, ou seja que o povo russo se amotinasse contra o poder ditatorial de Putin e de alguma forma, tentasse mudar o rumo dos acontecimentos. E isso foi acontecendo, um pouco por toda a Rússia, mas sem organização, o que fez com que muitos fossem presos e castigados pelo regime. Era um sinal que Putin deveria ter interpretado positivamente antes que fosse tarde. Por outro lado, a entrada na guerra do amigo Prigozhin, cozinheiro de Putin e agora comandante de uma força militar conhecida como Wagner, veio alterar as coisas. Para o líder russo, Prigozhin seria o testa de ferro que faria vergar a Ucrânia e conquistar posições importantes para o avanço russo. Mas nada é tão certo como o esperado. Desde cedo se percebeu que Prigozhin queria um pouco mais do que o que lhe tinham prometido e fê-lo saber atacando o comando militar russo e o próprio Putin. Tudo se agudizou depois dos combates de Mariupol. O que se passou na conquista desta cidade ucraniana foi um completo holocausto. Uma população de 73.000 habitantes desapareceu. Uma cidade completamente destruída, pejada de milhares de mortos. Prigozhin contribuiu muito para este desfecho. Putin acreditou que o seu amigo lhe daria os louros necessários após várias vitórias. Depois seguiu-se Bakhmut. Outro desastre completo idêntico a Mariupol. Uma cidade desfeita e uma população desaparecida, acompanhada por milhares de mortos, tanto do Grupo Wagner como do exército russo. Prigozhin alertou o comando russo da situação. Não acreditaram. Putin contradizia as comunicações do comandante do grupo Wagner e adiantava outros números favoráveis à Rússia e ao exército russo. Não tardou Prigozhin em desmascarar toda uma situação calamitosa em termos falta de armamento e do número de mortos e do real avanço do exército ucraniano. Putin continuou alheio às reivindicações e aos protestos. A comunidade internacional, limitando-se aos vídeos que eram colocados na Internet pelo Grupo Wagner, não sabia muito bem em quem acreditar. Na dúvida, levava um pouco a sério as afirmações de Prigozhin, mas na esperança de que Moscovo tomasse uma decisão séria sobre o conflito. Putin continuou confiante na sua política de desmilitarização da Ucrânia, sem conseguir informar que afinal a Ucrânia nestes dezasseis meses de guerra, aumentou o seu exército enormemente, que as suas armas e blindados passaram a ser dez vezes mais e que o exército russo, esse sim, se desmilitarizou, perdeu os carros de combate obsoletos que tinha, os tanques e milhares de homens que foram enviados para a frente de batalha como carne para canhão. Isto nunca ele admitiu. Mas a Rússia é enorme. Subitamente, deparou-se com o imprevisto. O seu amigo rebelde, virou-lhe as costas e quase começou uma guerra civil com o objetivo de o tirar do poder. De um dia para o outro tomou a cidade de Rostov, centro nevrálgico do exército no sul da Rússia. Subitamente, mais ou menos consciente da realidade das coisas, Putin não sabe o que fazer, se fugir do país, se reagir arrastando a Rússia para uma guerra civil, também sem sentido, ou pedindo ajuda e conselho aos ainda apoiantes como o Irão, a Bielorrússia ou a Turquia. Putin percebeu as ameaças de Prigozhin de que haverá um novo Presidente na Rússia dentro de pouco tempo e que quer um país sem corrupção, sem mentiras e sem burocracias. Daí ele pedir contenção a ambas as partes. Mas o que irá fazer Putin? É demasiado orgulhoso para se render e para entregar o poder a outro. Foi o Presidente da Bielorrússia que rapidamente serviu de moderador do conflito e negociou com Prigozhin a mando de Moscovo. A Rússia é um país enorme e não é fácil controlá-lo na íntegra e por isso, nem Prigozhin nem outro como ele, serão capazes de o fazer. Putin está bem protegido e tem um exército próprio muito maior do que Prigozhin. Resta saber se a fidelidade continua a ser a mesma! Obrigado a recuar quando avançava para Moscovo, Prigizhin parece ter aceite ir para a Bielorrússia e sair de Rostov. Quem ganhou? Até agora, ninguém, a não ser o próprio povo russo e o seu exército. No meio de tudo isto, a Ucrânia poderá tirar dividendos? Como ficará a guerra? O que poderá fazer Putin? O que se segue? Acredito que a indecisão será enorme. Na Rússia já há abandono em várias cidades incluindo Moscovo. Putin já faz promessas de amnistia aos soldados do grupo Wagner se abandonarem. Que Putin terá de abandonar o poder, mais tarde ou mais cedo, não tenho dúvidas, mas não será facilmente nem tão depressa como o comandante do Grupo Wagner pretendia. Cada dia será uma aposta no escuro. O dia de amanhã poderá ser completamente diferente e os russos acordarem com as armas apontadas à cabeça. Putin dificilmente poderia imaginar tal situação! Moscovo já estava cercada com exército russo com medo do possível avanço de Prigozhin. A fragilidade do regime foi posto à prova. Putin chamou o amigo rebelde para o defender e agora teve de se defender dele. Mas será que as coisas ficarão por aqui? A ver vamos.

Portugalambando

Bons dias, boa gente! Espero que estas palavras vos encontrem bem, a desfruir dos coloridos ares primaveris. Não sou muito de escrever sobre as mundanices, que facilmente degeneram em imundices, uma vez que Portugal tem gente de sobra nessa crítica função. Estar no conforto da bancada a disperder os que estão nas quatro linhas é desporto-rei nacional. Portugal definido numa foto é aquela dos engenheiros e capatazes a opinar em redor e um desgraçado no meio a fazer por cumprir o que lhe mandam de modo a justificar o salário miserável que lhe dão. Contudo, sabe bem ser um mirone a micar o caso que abalou os monotodias da nação e cujo nome do actor principal da telenovela rima com caramba, muamba ou bailar la bamba. Para mim, o mais incrível não é a criativa mesquinhez do roteiro, a realidade a ultrapassar a CMTV, os governantes e os serviços secretos a serem genuinamente mais inabilitados que um pastor alemão como o canino Inspetor Max. O mais incrível foi algo que se calhar até passou despercebido e mostra bem a charanga que é Portugal: houve uma comissão de inquérito que estava marcada para começar às 14h e só começou depois das 14:30. Uma comissão parlamentar com parlamentares que trabalham no parlamento, pessoas que se supõem serem minimamente distintas das demais em termos de valores e competências, que se atrasam meia hora para uma reunião (que inclui ministros) e que está a ser televisionada em direto para todo o país. Trinta minutos atrasada. O que seria absolutamente chocante e inadmissível em qualquer parte do mundo onde haja respeito e consideração, é apenas “depois do almoço” em Portugal. Isto não é gozar com quem trabalha, isto é dizer a quem trabalha que pode gozar à vontade, como, onde e em cima de quem quiser. Depois de começada a pontual reunião, lestamente se introduziu uma imperativa pausa para um injuntivo cigarrinho. Tudo isto existe, tudo isto é indescritivelmente parvo. Quem abra a porta de Portugal e veja as autoridades governamentais a fazer estas figuras, bem pode imaginar o resto. É como abrir a porta de um tasco do Cais do Sodré nos anos 80. Entrar e dar com a dona no balcão a espapaçar os seios fartos na cara de um qualquer marinheiro da marinha mercante. É que vale mesmo tudo. Esta semana estava a folhear um livro que dizia que o engenheiro que idealizou a ponte de Brooklyn, em Nova Iorque, era tão metódico que não se reunia com ninguém que se atrasasse mais de cinco minutos, mesmo que viesse de longe. No século XIX os norte-americanos já não toleravam atrasos de cinco minutos, em 2023 a nata desnatada de Portugal continua a fazer questão de atrasar o relógio do país meia hora por dia. Talvez até seja justo, afinal, como diz o ditado, o país governa-se em modo “para quem é bacalhau basta”. No meio deste bacalhau com todos, o que me faz confusão neste enredo é haver portugueses que consideram que por trocar o senhor que está lá no topo das governanças as coisas possam mudar significativamente. Querer mandar abaixo alguém por acreditar que tirando o rosa e pondo o laranja, vermelho, azul ou versa-vice, as coisas possam de facto mudar é um dos cúmulos de se ser português. O grande problema, o grande elefante na sala, é que qualquer um desses coloridos amigos será também ele invariavelmente português. E enquanto formos governados por portugueses será difícil. A batida continua a mesma com maior ou menor retoque ou com maior ou menor subida do salário mínimo. Se os portugueses saem do país às carradas e se, de forma geral, são reconhecidos fora de portas pela sua capacidade de adaptação e bom desempenho profissional então alguma coisa não bate muito certo. Os portugueses trabalham bem lá fora, os jovens que emigram desde a última grande crise económica cumprem com sucesso o que lhes é requerido. Enquanto isso, dentro de portas, é uma sucessão de botas e perdigotas. Para mim, que acabei de beber uma mini, a solução é simples: é colocarmos um grupo de estrangeiros a governar-nos, deixarmo-nos governar de uma vez por todas. Não desfazendo das outras nacionalidades, mas era arranjarmos 20 ou 30 nacionais do centro/norte da Europa para nos pôr nos eixos. Colocá-los nos principais ministérios e nas principais empresas, dar-lhes ampla liberdade de gestão e de criação de postos de trabalho. Há tempos falava com um dinamarquês que me dizia que no país dele se fomenta a cultura de arriscar e de desenvolver um espírito de criar negócios e grandes empresas. Enfim, fantasias de quem não anda sempre à rasquinha a contar os dias até ao fim do mês e no máximo consegue montar umas startups ou uns pequenos e médios negócios. Podiam ser alemães, suíços, noruegueses, etc. Talvez suecos, já empregam cá muita gente e estamos habituados a seguir as instruções deles. Se só com livrinhos cheios de bonecos a representar parafusos e pedaços de madeira conseguem fazer-nos sentir especialistas em construção imobiliária, imaginem o que seriam capaz de fazer se lhes déssemos o país para a mãos. Simples, fazíamos como nos bancos, dávamos-lhes a parte má (a governação) e continuávamos a usufruir da parte boa (o sol, a praia, os ovos mexidos com alheira). A caravana portuguesa poderia continuar a ladrar da bancada, mas teríamos de nos adaptar à forma deles fazerem as coisas. Os salários e a qualidade de vida iriam subir, talvez começássemos a ter a sensação de que os elevados impostos que pagamos serviriam realmente para alguma coisa. Ah, mas isso é inviável, não pode ser, um país independente, uma nação com 900 anos de chicória. Ora, como se não fossem os papás União Europeia que andassem a bancar tudo a este Portugal adulto jovem que continua a viver na casa dos pais. A questão está na antecipação, é só antecipar. Psicanalisando o nosso passado perceberemos que num futuro não muito longínquo nos encontraremos novamente de joelhos a clamar por ajuda externa. Basicamente foi a série do FMI - já perdi a conta às temporadas, não sei se a próxima será a quarta ou a quinta - e os ingleses, sem a ajuda dos quais, em diferentes ocasiões, hoje seríamos somente mais uma comunidade autónoma de Espanha. E que triste depender dos emborcadores dos ingleses, um povo que tem tanto daquilo que nos falta para nos sabermos governar, mas que nem sequer tem engenho para criar uma comida que se apresente. Reparem, já cá temos os turistas que são não sei quanto por centro do nosso probruto, temos os nómadas genitais, temos os cães polícias a farejar e a esburacar sem pedir licença como se a quintarola fosse deles, e inclusive os reformados que vêm de fora e de entre os quais, com jeitinho, ainda se arranjava uma turminha não só para jogar à petanca ou ao rami, mas para tomar conta disto como deve ser. No fundo, qual seria o mal de termos também estrangeiros a administrar- -nos? Além disso, nós gostamos de estrangeiros, até mais do que gostamos dos outros portugueses, eu diria. Estrangeiros com dinheiro no bolso, bem entendido, a esses desdobramo-nos em vénias. Somos trezentas vezes mais simpáticos para qualquer um deles do que para um nosso conterrado. Então porquê recorrermos aos estrangeiros somente quando estamos a bater no fundo do poço e não antecipar essa fatalidade? Prevenir em vez de remendar. Tomem, peguem, façam como na vossa casa, é todo vosso, força, ajudem-nos, imploramo-vos, vá lá, por favor, temos filhos pequenos para criar, please, merci, god morgon, willkommen, beware of pickpockets.