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Mirandela sai da Taça de cabeça erguida

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Ter, 23/10/2018 - 11:28


O Mirandela está afastado da Taça de Portugal, depois da derrota por 1-2, no domingo, frente ao Feirense, após prolongamento.

O confronto colocou frente a frente o emblema do Campeonato de Portugal e da 1ª Liga, mas as diferenças ficaram esbatidas dentro das quatro linhas.

Parece que...

Ouvir Bagão Félix dizer que o orçamento de 2019 não é eleitoralista soa a contranatura. Dada a reconhecida autoridade que lhe assiste, a família política a que pertence e a conjuntura nacional na qual são geradas as grandes opções do plano, eu, enquanto cidadão comum, pouco dado a contas e pouco dado a dogmas, devia abster-me de qualquer comentário. No entanto, esta “estranha tendência” de pensar nas coisas e de problematizar o que, por princípio, se aceita, não me larga desde a juventude. De facto, para além do gosto de ser livre, esta forma de estar nada mais me trouxe, sendo que por nada a trocaria. Honra, por isso, aos meus mestres que nunca me aprisionaram e me permitiram conservar esta essência.

Olhando para o orçamento, prevê-se um aumento generalizado das pensões que se situará entre os seis e os dez euros, para além do aumento regular o que irá abranger 5,1 milhões de pensionistas. A estas medidas associa-se um novo regime de reformas antecipadas por flexibilização, já reclamado há algum tempo, seja pela questão da equidade e justiça como defendem os partidos de esquerda, seja pela necessidade de renovação dos quadros como referem os da direita. O reforço da sustentabilidade da Segurança Social também é apontado como um desígnio para o próximo ano, diversificando as fontes de financiamento, sendo de destacar a consignação das receitas do IRC em um ponto percentual.

Numa outra área, o OE aponta para a redução de custos no financiamento das empresas e do próprio estado, reforçando o crescimento económico e a convergência com a zona euro, estando previstos incentivos à capitalização e ao reinvestimento dos lucros.

O aumento do abono de família e a gratuidade dos manuais, até ao décimo segundo ano, inscrevem-se nessa linha de um orçamento eleitoralista sem margem para dúvidas, pois não se pode descurar o peso que as despesas com a educação têm no bolso dos portugueses. Esta, a par de outras medidas, sobretudo a que enquadra o mínimo de existência permitindo que os salários até seiscentos e cinquenta e quatro euros mensais não paguem IRS, serão benefícios a considerar em ano de eleições e quando se sabe que salários baixos é o denominador comum no mercado de trabalho. Se a factura da luz baixar 5% - algo que depende do que o regulador decidir – o ano de 2019 augura algo de bom para as famílias portuguesas, parecendo que uma página irá virar-se de vez. Se a isto se acrescentar que o trabalho suplementar deixa de se juntar ao salário para o cálculo da retenção na fonte, pode dizer-se que, efetivamente, vai haver um aumento real de dinheiro no bolso dos portugueses.

Independentemente de com quem se negociou, este orçamento parece que também vai agradar à função pública com aumentos que podem variar entre os cinco e os trinta e cinco euros, para além do descongelamento das carreiras.

No sector da saúde, também irá haver um aumento de 5%, havendo mais investimento no Serviço Nacional de Saúde, para além do alargamento da rede de cuidados continuados e o reforço dos cuidados primários, para além do investimento em algumas unidades hospitalares, algo que se conjuga com a redução do déficit.

Ou seja, numa primeira leitura, este será o orçamento ideal. Contudo, algo menos evidente existe, já que a comissão europeia – mais atenta do que o comum dos mortais – alerta para o aumento da despesa pública primária em 3,4% e a existência de um esforço orçamental abaixo o que se recomenda. Se a isto se juntar o facto de o governo estar a contar com 150 milhões de dividendos da Caixa Geral de Depósitos que podem não chegar porque é necessária a autorização da comissão europeia e do banco central, pode estar à vista uma derrapagem que será ainda maior caso a conjuntura externa não seja favorável à economia nacional.

Na verdade, o orçamento pode não ser eleitoralista e ser, efetivamente, realista. Dentro do que é possível tenta agradar a todos, falta-lhe, no entanto, arrojo e visão a médio e longo prazo. Não vai permitir que continuemos descansados, pois as ameaças à estabilidade orçamental são mais que muitas e o dinheiro continuará a não sobrar porque nem tudo se controla e neste caso há muitas variáveis que nos escapam.

Vendavais - Os trambolhões do Orçamento

As conclusões a que alguns investigadores chegaram sobre o que se passou  quanto ao suposto roubo de armamento de Tancos, vem no seguimento das desconfianças que muitos de nós tínhamos sobre o caso. Tudo era demasiado estranho e sem sentido plausível.

O desvendar de uma série de situações incriminatórias ao mais alto nível, acabou por levar à demissão do Ministro da Defesa e para passar um pano sobre o pó que se estava a levantar em alguns ministérios, Costa resolveu, num golpe de mágica, fazer uma remodelação governamental. Deste modo desviou a atenção da comunicação social e dos portugueses para outro nível, deixando para trás não só o caso de Tancos, mas também a análise e discussão do Orçamento.

O país está a fervilhar. Há um descontrolo total. Uma série de greves com impacto nacional para além do desejável, limita muito o sentido de análise particular sobre determinados assuntos. Na verdade, não sabemos o que devemos discutir ou sobre o que devemos supostamente dar opinião, tal é a dispersão de assuntos graves em curso no país e sobre os quais não há soluções à vista. Desde a greve dos professores à greve dos enfermeiros, passando por muitas outras situações como a dos taxistas, e a dos médicos, tudo tem sido confusão.

O ministro das Finanças entregou no último minuto do tempo disponível, o Orçamento pronto para ser analisado e discutido. Foi um trabalho árduo, suponho, até porque era necessário encontrar pontos de convergência e acordo com os partidos de esquerda. Havia ameaças no ar e não eram veladas. Foi necessário ultrapassá-las.

Para amenizar a situação e acalmar os portugueses, o governo desvendou alguns pormenores do Orçamento como o aumento das pensões, aumento dos salários, descongelamento de escalões da função pública, a descida do IRC, os incentivos ao emprego no interior do país e até a aposta de uma Secretaria de Estado nova em Castelo Branco. Se as coisas fossem tão simples assim, tudo estaria muito melhor e o Orçamento seria um luxo para quem anda há tanto tempo a penar sob uma austeridade destroçadora. Mas não são.

Ninguém dá nada a ninguém sem querer algo em troca. Ora o governo não seria um mãos largas se não tivesse outros trunfos na manga. Para dar por um lado, tem de tirar por outro. Todos sabemos disso. E ele vai tirar e muito. Os supostos aumentos anunciados no Orçamento para 2019, não são reais, pois serão retirados através de impostos diretos e indirectos, como por exemplo o IRS e o IVA e o corte nas reformas antecipadas, para não falar de outras situações como o aumento do imposto sobre veículos ou mesmo os salários que ao passar de escalão passam a ser taxados por outro índice, ficando a receber menos do que antes. Enfim.

Se a comunicação social por vezes dá realce a certas notícias menos interessantes, desta vez tem primado pelos pormenores orçamentais desvendando alguns itens que nos fazem pensar mais pausadamente sobre isto tudo e mostrando o quanto este Orçamento pode ser altamente lesivo para os bolsos dos portugueses.

Por outro lado, as situações que têm vindo baralhar esta discussão têm servido de distracção pura e simples para que o pensamento e análise dos portugueses se disperse o mais possível. Todos sabemos que o Orçamento em ano de eleições tem muito de eleitoralista e este não foge à regra. Nada contra, porque qualquer outro partido que estivesse no governo faria o mesmo, mas não é necessário tomar os portugueses por lorpas. Divulga-se o “toma lá” para que todos fiquem contentes e não se refere o “dá cá”. Mas a cantiga não se altera!

A verdade é que o que aconteceu em Tancos foi demasiado grave e teve gente graúda envolvida. Todos soubera, todos sabiam, todos participavam, todos estavam em conluio e resta saber com que finalidade. É muito triste quando nem nos quadros superiores da defesa nacional se pode confiar. É uma vergonha terrível. Já não bastavam os casos de corrupção e roubo como o caso do Turismo do Norte onde os responsáveis máximos desviaram cerca de cinco milhões, como ainda ficamos a saber que os ministros também andam metidos em situações, no mínimo, altamente comprometedoras.

De qualquer modo e por mais voltas que dê a todo este emaranhado de situações, ficamos sempre com a sensação de que o Orçamento, mesmo aos trambolhões dentro da geringonça, acabará por ser aprovado, mesmo com os votos contra do PSD. E se Tancos acaba por ser esquecido mais tarde ou mais cedo, o Orçamento terá de vigorar durante o próximo ano e é com ele que teremos de viver. Resta saber quem vai ficar a ganhar alguma coisa com ele.

 

Concertinas

Três instrumentos musicais continuam a soar nos meus ouvidos, escutados entusiasticamente na minha meninice, que são a gaita-de-foles, a rabeca e a concertina. Cada qual na dupla actividade de frenético regozijo, ou de descaroçamento da vida afectiva a animar as trevas das noites longas e friorentas alumiadas por candeias e lamparinas, às vezes por fétido Petromax a adensar as sombras das pessoas alumiadas.

Os leitores de menos de cinquenta anos para seu bem não viveram em aldeias desprovidas de luz eléctrica, os de menos de quarenta anos regozijem-se porque não enterram os sapatos ou botas nos caminhos pródigos em lama, buracos e dejectos, as fontes de mergulho passaram à condição de património edificado abandonando a função de encherem os cântaros e cântaras das raparigas namoradeiras e sem namorados, dos meninos e das meninas cuja prioritária função após saírem da escola era irem à fonte.

Esses leitores e leitoras imaginem tal viver, dando consistência os relatos dos avós e pais não só acerca do monótono dia-a-dia, também dos dias nomeados de guarda das alfaias agrícolas e de outras obrigações. Trabalhava-se ver a ver, desde tenra idade, folgava-se pouco, no entanto, festa era festa.

Ora, em Lagarelhos naqueles roídos anos cinquenta, a gaita-de-foles acordava os dorminhocos como eu era. Estremunhado, num ápice lavava a cara ao modo dos gatos, agarrava um bocado de pão trigo (dia de festa), corria até ao terreiro onde os tocadores sopravam e expeliam sonoridades musicais, umas adstringentes como alguns vinhos, agudas, vibrantes, outras mais calmas ou domesticadas ao modo de tisanas a repelirem cavernosos catarros.

Sim, eu sei, os jovens de agora sabem os nomes técnicos do seu sistema de funcionamento, quais as notas musicais e possibilidades de o tocador fazer uma pausa e a gaita continuar a tocar. A Internet explica, eu gostava de ouvir a gaita-de-foles no terreiro. Já ouvi concertos de grande aparato de gaitas-de-foles na Escócia, na Galiza e noutros lados, só que a força do sopro dos gaiteiros no dia da festa em honra do Senhor porteiro do céu ficou a ecoar na minha memória colocando em segundo plano outras soltadas por esse Mundo fora.

A rabeca do sapateiro Izé (José) plangia latidos de cão sonolento pela noite fora irrompendo na casa (agora minha) através do telhado da cozinha a qual ao tempo não possuía forro. O vizinho Izé tocava mal, nas antípodas do rabequista bafejado pelo milagre de Santa Cecília, todavia adquiri uma rabeca num esconso tugúrio de Budapeste porque quando a vi apareceu-me a face tisnada, ossuda, a soltar palavras apimentadas escorridas num sorriso maroto do meu vizinho enquanto batia solas retiradas de uma selha cheia de água ou cozia tombas nas botas dos dias de feira entregues para ele consertar. Um dia deu-lhe na veneta rumar até Lisboa em busca de amor antigo, encontrou-o num instante, foram felizes, engendraram uma filha de olhos bonitos que encantaram um «capitão» de Abril. O Senhor Izé não era uma caricatura do Louco Rabequista, no entanto, quando li o relato de Fernando Pessoa, a rabeca que tantas vezes vi e ouvi na aldeia apareceu-me à frente dos olhos. Uma miragem sentimental. Forte, a exalar saudade.

A concertina rufava apelos nos caminhos escuros e lamacentos a anunciar baile, a prima Teresa vinda de S. Pedro Velho não bailava, porém sabia qual a palheira onde se realizava. A concertina anunciadora dava a volta ao povo, não tardavam a surgir as raparigas acompanhadas por sentinelas familiares dos dois sexos, os rapazes estavam de tocaia fora e dentro do espaço do baile, o homem da concertina recebia paparicos e pedidos para tocar a Linda Morena (lembro-me desta), além de outras a justificarem consentidos cravanços de unhas nas palmas das nãos das namoradas às esconsas. Os leitores de idade recordem e expliquem às netas de maneira a elas rirem sem maldade de tão (para elas) arcaicos comportamentos, as leitoras avós das aldeias digam-lhe quantas censuras e bofetadas levaram por a concertina as empurrar para a arca do peito dos pares. Os jornais regionais também devem educar para no futuro o passado não se perder. Lembro-o constantemente.

A concertina é parente pobre do acordeão, na Argentina, nas covas fundas da bela (já foi mais) Buenos Aires a concertina passa à condição de bandoneón concedendo verve maliciosa ao tango porteño, na Bragança de outras eras existiam exímias tanguistas, uma apanhadeira de malhas (já desapareceu essa função) e uma costureira dos Batoques. Mostravam a sua classe nos bailes plebeus da Associação. Lembram-se?

O falecido compositor e bandeónista Astor Piazzola propiciou intensos minutos de felicidade a quem o viu no Coliseu, um pouco por todo o lado assiste-se ao reaparecimento das concertinas, além de tal revivalismo alegrar os nossos ouvidos provoca agradável formigueiro nos pés. Bem bom!

Inquisição – lutas políticas – pureza de sangue (3) - Vila Flor: Manuel de Alvarenga Cabral

A família Alvarenga teria algum destaque entre os “finos cristãos-novos” da comunidade hebreia de Lamego. E a preocupação com a lavagem do sangue judeu parece evidente, ao menos em um ramo dela que, por 1550, se abalou para a novel cidade de Miranda do Douro.

Deste ramo era o casal constituído por Francisco Rodrigues, sombreireiro de profissão e Filipa Alvarenga. Eles foram os pais de Leonor Alvarenga, a qual casou, cerca de 1570, com Belchior Fernandes, também sombreireiro, natural de S. Gens, termo de Resende.

Antes de prosseguirmos, uma nota sobre a capacidade de atração populacional que Miranda do Douro exercia naquela época. Outra nota sobre a profissão de sombreireiro que então era bastante prestigiada, aproveitando para dizer que Belchior Fernandes aprendeu a arte com o mestre Manuel Gonçalves, de Vila Real, também ele emigrado em Miranda do Douro.

Filipa e Leonor, sua filha, não eram os únicos membros da família Alvarenga que trocaram Lamego por aquela cidade, a primeira a ser criada em Trás-os-Montes.(1) Com efeito, no cabido da sé, contava-se um cónego chamado Manuel Alvarenga, também natural de Lamego, que Leonor tratava por primo. E esta será mais uma prova do interesse desta família de “finos cristãos-novos” em esconder as suas raízes judaicas e integrar-se na sociedade portuguesa cristã. Aliás, uma irmã do cónego Alvarenga, fizera-se freira no mosteiro de Santa Clara, em Vila do Conde, com o nome de Isabel da Visitação. Um e outro acabaram por ser processados pela inquisição, acusados de judaísmo. Tal como o foram seus irmãos, Maria e Cristóvão Alvarenga, moradores em Lamego.(2)

Mas voltemos atrás, ao encontro de Maria Resende, uma das filhas de Belchior Fernandes e Leonor Alvarenga. Casou com Amaro Correia, natural de Torre de Moncorvo, “filho adulterino do Paulo Couraça”,(3) de uma das famílias mais nobres da terra e de uma cristã-nova. Amaro era criador de sirgo e fabricante de seda, passando depois à classe dos rendeiros. Era homem de muito bom conceito no seio da sociedade Mirandesa, a ponto de requerer a sua nomeação para o cargo de familiar da inquisição. Não o conseguiu por causa do sangue infecto de sua mãe e pelo que recebeu no casamento com Maria de Resende.(4) Registe-se, no entanto, esta tentativa de limpeza de sangue.

Manuel Alvarenga se chamou o filho de Belchior e Leonor, nascido em Miranda do Douro, por 1595. Desde cedo o destinaria seu pai para o sacerdócio, a crer no testemunho de Rodrigo Neto, que foi aprendiz de sombreireiro em casa de Belchior Fernandes, em Miranda do Douro. Com efeito, chamado a depor na diligência de habilitação de Amaro Correia, em julho de 1623, disse:

— Antes que morresse alguns anos, Belchior Fernandes falou a ele testemunha para que testemunhasse na abonação de um seu filho, Manuel Alvarenga para que se fosse ordenar, e ele testemunha não quis e lhe disse que lhe não podia dar bom testemunho, e que ele se ordenou e se meteu a frade em S. Domingos, de Zamora, e ouviu dizer que ao cabo de alguns meses o correram fora por a informação não ser boa e que o dito Manuel Alvarenga está hoje casado e é boticário em Vila Flor.(5)

Como se vê, Manuel Alvarenga conseguiu ordenar-se e meter-se a frade num convento de Zamora, sendo expulso quando se descobriu que era cristão-novo e prestara falsas declarações, com testemunhas possivelmente compradas. Expulso do convento, aprendeu a boticário e foi-se estabelecer em Vila Flor, casando com Maria Coelho de Meireles, natural de Torre de Moncorvo, de uma família da nobreza local e cristã-velha. E a partir de então acrescentou o nome, passando a assinar Manuel Alvarenga Cabral. Na verdade nada o ligava à família Cabral, devendo registar-se mais esta tentativa de limpeza de sangue.

Registe-se também o facto de Maria Coelho Meireles ser aparentada com Lopo Machado Pereira, homem nobre e cristão-velho. Tudo isso ajudaria a que Manuel Alvarenga se tornasse um homem de grande respeito na sociedade vila-florense e aceite na classe da nobreza e governança da terra, exercendo o ofício de escrivão do juiz, para além da atividade de boticário.

A casa de Manuel Alvarenga situava-se no “arrabalde” de Vila Flor, “defronte da Misericórdia” e a vizinhança era constituída sobretudo por famílias da nação hebreia, que olhariam para ele com alguma desconfiança. E, em breve, a desconfiança faria nascer inimizades. Nomeadamente com Beatriz Pereira, viúva de Simão Pereira e com Branca, sua filha. Discutiram mesmo e “pelejaram” em público, por causa de “um vestido” que elas lhe emprestaram. E parece que já antes o Alvarenga e o pai de Beatriz se envolveram em questões por causa de uma vinha.

Estas inimizades avolumaram-se quando o vigário-geral da comarca, Dr. Manuel Homem Chamorro, por 1636, fez visitação em Vila Flor e Manuel Alvarenga se apresentou a testemunhar dizendo que Beatriz Pereira, andava amancebada com um clérigo. O processo seguiu para a cúria arcebispal, em Braga e Beatriz conseguiu provar a sua inocência.

Daquelas inimizades com a gente da nação de Vila Flor se faria eco Rodrigo Fernandes Portello, cunhado de Julião Henriques, nos seguintes termos:

— Manuel Alvarenga, boticário de Vila Flor, está casado com uma parenta de Lopo Machado e tem grande ódio a todas as pessoas da nação da dita vila porque lhe não compram as suas mezinhas e mandam a Mirandela, a três léguas, a buscá-las, a casa de outro boticário.(6)

Na verdade Lopo Machado Pereira e Manuel Alvarenga Cabral constituíam a dupla de inimigos públicos mais evidentes da comunidade cristã-nova de Vila Flor e muito em particular da família de Julião Henriques. Esta dupla de denunciantes arrastaria muita gente da nação de Vila Flor para as cadeias do santo ofício. A título de exemplo, veja-se a denúncia feita por Manuel Alvarenga, perante o comissário Castelino de Freitas em 25.4.1642:

— Disse que defronte dele, mora Maria Henriques, cristã-nova, mulher de Diogo Henriques Julião, a qual esteve escondida 2 ou 3 meses antes do auto da fé último que se celebrou em Coimbra, temendo-se que dessem nela as Eminentas, que lá estavam presas; e não apareceu até que veio um neto do Eminente e lhe deu aviso e logo apareceu; em casa da qual Maria Henriques vê ele testemunha ajuntar de 5 anos a esta parte, por muitas vezes, principalmente à sexta-feira à noite, como tem reparado, Mécia Coutinho, cristã-nova, viúva do Gigante e sua irmã Leonor Coutinho cujo marido não sabe o nome e Beatriz Pereira e sua filha Branca Pereira mulher de António Mendes e Branca Rodrigues mulher de Julião Henriques e Ângela Henriques filha da Castelhana, que veio do Mogadouro, todas cristãs-novas, as quais depois dele testemunha se recolher vê que ficam na dita casa, a qual vê mais alumiada que nos outros dias da semana e ao sábado vê ele testemunha algumas das sobreditas na dita casa…(7)

Esta e outras denúncias então recolhidas pelo comissário da inquisição deixam adivinhar mais vagas de prisões em Vila Flor, uma terra em que andavam divididas “em duas fações todas as pessoas desta vila: de uma parte os da nação e da outra, os homens nobres, buscando os da nação ocasiões para se defrontarem” – conforme declaração proferida por Pedro de Morais do Sil, que acrescentou:

— Também sabe que os da nação andavam em dúvidas com os homens nobres sobre as varas do pálio e governo da república.(8)

E presos como judaizantes acabarão também por ser muitos dos nobres, ditos cristãos-velhos, falsamente denunciados por cristãos-novos. Entre eles os filhos de Manuel Alvarenga: Belchior Coelho Meireles; Sebastião Coelho Meireles e Ângela Coelho.

 

Notas:

1 - A diocese de Miranda do Douro foi criada em 23.3.1545, o que implicou a elevação da terra à categoria de cidade. Curioso que o primeiro e o terceiro bispos da diocese eram naturais de Castela, filhos de D. Maria de Velasco que veio para Portugal como camareira-mor da rainha D. Catarina de Áustria, esposa de D. João III. Aqueles bispos foram muito complacentes com os cristãos-novos.

2 - Inq. Coimbra, pº 1223, de Manuel Alvarenga. Saiu condenado em “cárcere e hábito perpétuo, sem remissão, degredo para as galés, por 5 anos, onde serviria ao remo, sem soldo, suspenso das suas ordens para sempre”; pº 3307, de Isabel da Visitação; pº 4850, de Maria Alvarenga: pº5315, de Cristóvão Alvarenga, escrivão e chanceler da correição da comarca de Lamego.

3 - Um Paulo Couraça foi procurador do concelho de Torre de Moncorvo às Cortes de 1535. O Paulo Couraça, pai de Amaro Correia, era irmão de João Couraça, casado em Mogadouro com Úrsula Escobar.

4 - PT/TT/TSO-CG/A/008-002/84, diligência de habilitação de Amaro Correia.

5 - Idem.

6 - Inq. Coimbra, pº 6861.

7 - Inq. Lisboa, pº 194, de Beatriz Pereira.

8 - Inq. Coimbra, pº 2804, de Pedro de Morais do Sil.

Magustão da Família do Tio João (pelo sexto ano consecutivo na RuralCastanea, em Vinhais)

Ter, 23/10/2018 - 10:34


Olá ilustres leitores da nossa página.

Já se lavaram os cestos, por conseguinte as vindimas já estão findas. O vinho, esse, já ferve nas pipas ou nas cubas, pois já muita gente da nossa região utiliza cubas de inox, embora ainda haja quem continue a preferir as tradicionais pipas. Estamos, portanto, na altura de fazer a água-ardente, aproveitando bem o lume do pote para assar as sardinhas e as batatas no borralho. Também já há quem ande de volta das sementeiras, mas do que todos estão à espera é das castanhas que, com a ajuda da ‘ponta de uma unha’ do furacão Leslie, começaram a cair a conta-gotas, obrigando a deslocações diárias aos soutos para ver como está o “pinga, pinga”.

Quero deixar aqui um alerta aos nossos tractoristas porque os acidentes não acontecem só aos outros. Não facilitem e utilizem sempre o arco de Santo António porque ficam mais protegidos.

No dia 17 de Outubro, a Rádio Brigantia festejou 32 anos, com uma emissão especial, em directo do Café Lisboa, em Bragança, que serviu também para eu recordar o meu baptismo em rádio, pois nunca me passaria pela cabeça vir a fazer da rádio a minha vida. De início comecei como moço de recados, mas em breve já estava a fazer um programa na rádio, de discos pedidos, com o nome de Clube FM, onde me tornei conhecido como Amândio Lopes, o único animador gago da rádio em Portugal.

No nosso programa o que é anunciado nunca passa despercebido. A dar razão ao que digo e ao provérbio “quem tem tenda que a atenda, senão que a venda”, o tio Alcino, de Alfaião, que já não se sente com forças para continuar a pastorear as suas ovelhas, pediu-me para divulgar que tinha 100 ovelhas para vender e se há quem queira vender, também há sempre quem queira comprar. Isto é serviço de utilidade pública.

De parabéns estiveram Felisberto (70), de Zebras (Valpaços); os irmãos Rui (43) e Rogério (41), filhos da tia Dalma Reis, de Bragança; Carlos Alberto (29), de Rio Frio (Bragança); Delmino Ferreira (55), de Grijó (Bragança); Ludovina (63), de Outeiro (Bragança) e Júlio Meirinhos (61), de Grijó (Bragança).

Que para o ano lhes continuemos a festejar a vida.

E agora vamos ao Magustão!...