PUB.
PUB.

A costeleta (o PCP e os CTT)

Imagine-se que alguém, tendo comprado num talho, dois ou três quilos de costeletas, regressa algum tempo depois a devolver os ossos, por serem duros demais. Obviamente que o talhante, se for educado, explicar-lhe-á que quando optou por aquele tipo de carne, em vez de bife da alcatra, sabia bem que o osso estava incluído e por essa razão o preço era mais baixo. Se estiver mal disposto, com pouca paciência ou se o reclamante for reincidente e agressivo, o mais provável é que seja corrido do talho, à frente de cutelo ameaçador! É esta, mutatis mutandis a resposta que se espera do Governo da Nação face à intenção da Administração dos CTT de fechar dezenas de postos de atendimento ao público. Contrariamente ao exemplo referido, aqui há uma terceira opção. Não podendo o dono do talho pedir a devolução do produto transacionado, o Estado pode reverter a privatização da empresa de distribuição de correio e encomendas.

Tal como o cliente do açougue, quem adquiriu as ações dos CTT, fê-lo na mira do uso da licença bancária, associada ao negócio, sabendo que a contrapartida era a garantia de assegurar o serviço público de correio e demais serviços postais em todo o território nacional independentemente da rentabilidade local. E é isso que têm de ser obrigados a manter. Mesmo que tal resulte em prejuízo. É essa lei do Mercado e esse o princípio que os empresários exibem quando lhes convém! Não se pode ignorar que, em causa está uma atividade imprescindível para uma larga faixa de portugueses, com anormes carências e fragilidades e que é necessário assegurar. Se o concessionário não o faz então que o volte a fazer o Estado que não se pode nunca assumir-se como um grande conglomerado mercantil nem basear a sua atividade na rentabilidade e no lucro.

Obviamente que a administração pública, sendo uma entidade de bem, deve comportar-se como tal. Deve cumprir os acordos que estabelece mas não pode negligenciar as contrapartidas negociadas. Os CTT estão numa senda de que já ninguém pode alegar ignorância, quanto ao destino final. Uma após outra, vai fechar TODAS as delegações onde não tenha assegurado rendimento adequado. Veja-se o que se passou, só este ano. Em janeiro anunciou o encerramento de 22 lojas e, antes de dezembro, a intenção clara e assumida, ultrapassa já largamente a meia centena. Com uma estratégia vil, cobarde e sorrateira, vai comunicando uma hoje, outra amanhã, esta no norte, a seguinte no sul, de forma a minimizar o impacto e a fazer passar suavemente o brutal golpe que pretende desferir no interesse e utilidade pública a que contratualmente se comprometeu.

Contrariamente ao que pretende fazer crer e que, de certa forma está a conseguir, a luta e a resistência contra tão ínvio intento não é uma contenda local ou sequer regional. Não é um problema de Arraiolos, Calheta, Izeda ou Vila Flor. Nem tão pouco do distrito de Évora, da CIM transmontana ou até da região autónoma da Madeira. Nem sequer uma questão partidária nem do governo ou da oposição. Este é um problema nacional e resposta adequada ao traiçoeiro e  pérfido ataque ao interesse público tem de ser de toda a população, multipartidária e situar-se muito para lá da ideologia. No meu entender, a melhor forma de o demonstrar, é assumir que não é necessário aderir a um qualquer partido nem subscrever a sua ideologia para abraçar posições claras e justas que este possa defender e liderar. Só um míope ou um cego é que não vê que, nesta situação concreta, quem está melhor posicionado para comandar as tropas é o PCP, não só pela coerência sempre assumida nesta matéria como ainda pela inquestionável capacidade de mobilização e congregação das razões de protesto. Não há-de ser preciso colocar um pin com a foice e o martelo, na lapela, nem sobraçar o Kapital para integrar uma significativa e inequívoca mega manifestação/protesto contra o golpe que estão a desferir nos nossos legítimos direitos.

De nada servem declarações grandiloquentes que não contribuam para o reforço desta urgente tarefa. Que ninguém seja questionado por engrossar este apoio. Se qualquer liderança partidária questionar um miltante por esta atitude, a este só resta mandar o partido às urtigas, já que a militância só tem sentido se puder ser canalizada para o interesse comum. Por mim, já tenho à mão um cachecol vermelho (que também é a cor do Benfica e dos CTT) e, de bom grado engancharei o meu braço no do Jerónimo para marchar ao seu lado a reclamar a reversão da privatização, se o serviço público não for devidamente assegurado.

Inquisição – lutas políticas – pureza de sangue (4) - Vila Flor: Ângela Lemos

Depois de ouvir muitas dezenas de testemunhas em Vila Flor, Torre de Moncorvo, Lisboa, Aveiro e Setúbal, os inquisidores não conseguiram saber se Ângela Lemos era cristã-velha inteira, como ela dizia ou se tinha alguma percentagem de sangue judeu, como afirmavam os denunciantes.

Foi presa em fevereiro de 1667, com base em uma dezena de denúncias feitas por cristãos-novos de Vila Flor dizendo que com ela tinham feito cerimónias ou declarações de judaísmo, 4 delas em sua própria casa, e uma no seu quintal. Outra testemunha contou mesmo, com todos os pormenores, a celebração de uma “missa judaica” presidida por um oficiante de T. Moncorvo, na qual participou Ângela de Lemos.

Seis anos depois, em março de 1673, foi solta como “levemente suspeita” e presumindo que ela foi vítima de uma “conjuração” urdida por Diogo Henriques Julião e outros cristãos-novos de Vila Flor, em vingança contra as famílias nobres e da governança da terra.

Sem dúvida que a sua prisão se inscreveu no domínio da luta política que, com mais ou menos intensidade, se desenrolou em Vila Flor, como, aliás, na generalidade das terras Trasmontanas, mais ou menos em paralelo e como pretexto na questão religiosa.

Razões para os cristãos-novos se vingarem de Ângela é que não faltavam, derivadas da profissão e atividade do seu marido, Luís Cabral de Sousa – tabelião do público judicial e notas, conforme ela explicou aos inquisidores, em muitas audiências.

Na verdade, Luís Cabral(1) era um dos homens nobres de Vila Flor que a inquisição costumava encarregar para executar prisões, como foi o caso de Inês Álvares e Maria Lopes Vinagre, presas na grande leva de novembro de 1664 e que ele fez “com toda a satisfação, dando inteiro cumprimento ao que lhe mandavam”.

Sendo notário do público judicial, competia-lhe também assistir e “tomar nota” nos inventários dos bens sequestrados aos que iam presos, trabalho que ele fazia “com todo o zelo e cuidado da Fazenda Real”.

Parte dos bens sequestrados eram logo vendidos em hasta pública para se fazer dinheiro e pagar as despesas da prisão e condução dos prisioneiros para Coimbra. Obviamente que, algumas vezes, tais bens eram arrematados por umas “cascas de alhos” pelos nobres da terra, seus familiares ou apaniguados. A propósito, veja-se a seguinte declaração de Ângela perante os inquisidores:

— A viúva que ficou do Alferes de Vila Flor e suas filhas (…) todas são suas inimigas e de seu marido por lhe comprar alguns móveis ao tempo de suas prisões, e por o marido da ré ser o que as prendeu (…) e lhes comprar os seus móveis.

Para conduzir os presos a Coimbra, com seu “ fato, cama e cozinha” tomavam-se cavalgaduras, de forma algo suspeita, dependendo dos “humores” do responsável pela prisão ou condução, nisso havendo pessoas que teriam queixas contra o marido de Ângela de Lemos.

A este respeito temos uma história incrível, com o cristão-novo João Lopes a tentar “entalar” Luís Cabral, na sua qualidade de “homem da inquisição”. Com efeito, dirigiu-se a ele dizendo que desejava ir a Coimbra apresentar-se na inquisição. Para isso, necessitava de transporte que não tinha, e pedia a ele, Luís Cabral, que lhe emprestasse um macho… Obviamente que este não lhe emprestou o macho, mas nem por isso João Lopes deixou de ir a Coimbra e… Ironia: este João Lopes foi a Coimbra dizer que Luís Cabral e Ângela Lemos, em sua própria casa, se declararam judeus, com ele e com sua prima Inês Álvares Vinagre!(2)

João Lopes, Inês Vinagre, Isabel Coutinho, Constança Rodrigues seriam alguns dos que foram apresentar-se em Coimbra, pagos por Diogo Henriques Julião e por ele instruídos para denunciarem como judeus os nobres que “se mostravam solícitos em dar ajuda e favor nas prisões dele confitente e das pessoas de Vila Flor que foram presas”.

Esta foi a defesa apresentada por Ângela Lemos (e outros nobres acusados falsamente). Vejamos um pouco das suas próprias palavras:

— A ré foi culpada por conjuração que contra ela e outras pessoas ordenou Diogo Henriques e outros seus parentes e apaniguados de Vila Flor, dando meio tostão por dia aos que vieram testemunhar (…) e João Carvalho, de Vila Flor dizem também ser da conjuração e é inimigo do marido dela ré e a razão da inimizade foi por que, tendo tomado ambos os foros do senhorio de Vila Flor, depois disso, ao fazer as contas, tiveram grandes dúvidas e diferenças, de que ficaram inimigos e por tais conhecidos.

Na verdade, este João Carvalho,(3) foi um dos 30 e tantos cristãos-novos presos em Novembro de 1664 pela inquisição em Vila Flor e, em Coimbra, perante os inquisidores confessaria o seguinte:

— Haverá 3 meses e meio, na cadeia de Torre de Moncorvo, se achou com Pedro da Costa, procurador de causas em Vila Flor e com António Álvares, natural de Chacim e morador em Vila Flor, mercador, e com um filho natural do mesmo, chamado Francisco Álvares, solteiro, também mercador, e com Gonçalo Lopes Vinagre, sapateiro, e com os sobreditos Diogo Mendes Papoina e com um sobrinho deste chamado Gaspar Mendes, moradores em Vila Flor; e disse Pedro da Costa que agora que vinham presos para esta inquisição era tempo de se vingarem de alguns escudeiros de Vila Flor, que tinham parte de cristãos-novos (…) E ele confitente e outros da sua companhia disseram que não denunciavam. E Pedro da Costa tornou a dizer que se ele tivera 3 ou 4 homens do seu humor, haviam de fazer nesta matéria de denunciar nesta inquisição contra os ditos cordeiros mestiços de Vila Flor uma coisa que fosse soada.(4)

Era o levantar do véu sobre a “conjuração” dos “falsários” de Vila Flor. Mais explícitas foram as confissões de Genebra Alvim, cunhada de Diogo Henriques Julião e de Branca Rodrigues, sobrinha do mesmo, que confessaram ter jurado falso contra Ângela e contra as outras pessoas da nobreza de Vila Flor, em plano arquitetado com outros e para se vingarem deles.

Outra prova da “conjuração” e da “falsidade” das denúncias dos que se foram apresentar em Coimbra, foi reconhecida pelos inquisidores quando chegou a notícia de “terem fugido para Castela logo que chegaram a Vila Flor, idos desta cidade onde se vieram apresentar”. Obviamente que tinham medo de ser presos por “falsários”, crime bem mais grave.

Quanto a Ângela Lemos, regressaria a Vila Flor, bem mais velha e alquebrada, possivelmente mais compreensiva com as mulheres cristãs-novas e sem vontade de repetir os insultos de outrora chamando-lhe “judias, perras, putas, cadelas”.

Resta falar desta mulher que nasceu em Lisboa, cerca de 1633. O seu pai, Manuel Borges de Lemos, natural de Torre de Moncorvo, encontrava-se ali ao serviço da casa dos Senhores de Sampaio.(5) A mãe, Juliana Pereira, natural de Setúbal, viera para Lisboa, ao serviço da senhora condessa de Vila Franca. A propósito do casamento de Manuel e Juliana, a patriarca da família Lemos, vª, natural de Santarém, moradora em Lisboa, em casa de seu filho Rafael de Lemos, advogado da Casa da Suplicação, familiar do santo ofício “que sentiu o casamento de Manuel Borges, por lhe dizerem que casava pobre, em tanto que ela o remediou com algumas coisas”.

Andava Ângela pelos 8 ou 9 anos quando os pais a trouxeram para Torre de Moncorvo e a casa de morada era no castelo, pois que o seu pai foi empossado pelo Senhor de Sampaio, como seu representante, no cargo de alcaide.

O casamento de Ângela Lemos com o tabelião de Vila Flor Luís Cabral de Sousa, ter-se-á realizado ao início da década de 1640, no castelo de Moncorvo, certamente com a presença dos senhores condes de Sampaio.

Com o casamento, Ângela abandonou a morada do castelo de Moncorvo mudando-se para Vila Flor, para o paço dos senhores de Sampaio. Era também um ambiente fidalgo, espécie de “Corte na Aldeia”. Sim, que o Paço era frequentado pela família dos Senhores, pelo ouvidor, o capelão, o notário, o procurador, o alcaide… Até o espaço urbano da vila ganhou designação específica e esta é uma nota bem interessante para o estudo do desenvolvimento urbano da vila. A propósito, veja-se o testemunho de Maria Lopes Ramalha:

— Disse que conhece muito bem Ângela Lemos, haverá 16 anos, por serem vizinhas e morarem no Terreiro do Paço do senhor desta vila adentro.

 

Notas:

1 - inq. Coimbra, pº 5956, de Ângela Lemos.

2 - Inq. Coimbra, pº 2880, de João Lopes; pº 10441, de Inês Álvares.

3 - João Carvalho pertencia a uma família de cristãos-novos do Felgar e Mogadouro que fugiram para Madrid e ali se tornaram grandes mercadores. João teve menos sucesso que os irmãos pois faleceu nos cárceres da inquisição. Inq. Coimbra, pº 8994.

4 - Pº 5956.

5 - De acordo com o testemunho de Paulo Couraça Teixeira, homem nobre de Torre de Moncorvo, Manuel Borges de Lemos entrou ao serviço dos senhores de Vila Flor em 1631. Este Manuel Borges de Lemos era filho de António Borges de Castro, escrivão do público judicial de Torre de Moncorvo e sua mulher Ângela Lemos, natural de Aveiro, moradora em Lisboa, também na casa dos Senhores de Vila Flor, que os seus pais serviam.

Alterações Climáticas e Mobilidade Urbana Sustentável (2)

A China, com uma população de 1400 milhões, em quatro décadas mudou a imagem de país de uso generalizado da bicicleta para país de forte crescimento do automóvel, o que associado ao êxodo da população rural para as cidades, criou dificuldades enormes, nomeadamente o engarrafamentos do trânsito nas cidades e seus acessos, a poluição intensa do ar, irrespirável nas grandes cidades. Trabalha aceleradamente para resolver este grave problema, promovendo o uso de bicicletas elétricas partilhadas (desbloqueadas a partir do telemóvel), desenvolvendo o transporte público moderno e de qualidade - o coração da mobilidade urbana sustentável - construindo corredores para o transporte em autocarro, metro, comboio, monocarril e carruagens automatizadas, movido com energia limpa, com eficazes sistemas de informação, corredores dedicados, integração dos meios de mobilidade.

O intenso processo de urbanização de países como a China e a India,  obrigou a que, em pouco tempo fosse projetada a ampliação e a construção de novas cidades, feitas com novas orientações de planeamento, apostando em cidades amigas do ambiente, concentrando competências em várias áreas de formação, tendo a inovação e a tecnologia como aliadas, a desenvolver um planeamento mais inteligente e amigo do ambiente, reservando menos espaço para o automóvel, mais espaço para o cidadão, melhores infraestruturas para o transporte público, infraestruturas para o uso da bicicleta, integração e gestão inteligente da mobilidade, evolução da legislação para estimular o crescimento da mobilidade sustentável.

As decisões para a mudança não são fáceis em termos políticos, sociais e de transformação da economia, no entanto, o ritmo a que tem avançado a inovação e a tecnologia, associado à redução do custo da energia renovável face aos combustíveis fósseis, a possibilidade de milhões de pessoas poderem vir a aceder diretamente a energia limpa e barata em instalações domésticas, permitirão acelerar a transição para uma economia mais sustentável, amiga do ambiente.

As grandes decisões políticas tem uma marca clara a favor da economia verde e do conhecimento e a indústria automóvel não está parada. O CEO da Mercedes Benz referiu recentemente que no futuro, as fábricas produzirão menos automóveis, que a Tesla, Google, Apple e Amazon são hoje concorrentes diretos da indústria automóvel tradicional, que procura construir melhores carros, acompanhando a evolução tecnológica, enquanto as empresas tecnológicas tentam construir computadores sobre rodas.

O tempo é de mudança de paradigma na economia, essa é a exigência crescente dos cidadãos, mudança que atua na produção e no consumo, por isso as empresas tentam não perder tempo. Em lados diferentes do mundo (EUA e China), gigantes da NET, na área dos táxis, partilha de viagens e de partilha de bicicletas, impõem avanços de mudança. Recentemente a Toyota assinou um acordo de 500 milhões de euros com a plataforma informática Uber, para a utilização de veículos elétricos, autónomos e partilhados e a China. Xangai emitiu em março de 2018, as primeiras matrículas de carros autónomos e o Governo Chinês lançou este ano diretrizes nacionais para carros inteligentes e conectáveis, para as autoridades locais promoverem testes de estrada.    

As cidades inteligentes trabalham com empenho na luta contra as alterações climáticas, construindo as cidades do futuro, menos poluídas, mais saudáveis, mais atrativas e competitivas. A urbanização e o planeamento verde das cidades acompanharão esta grande mudança, com melhor oferta e qualidade dos transportes públicos, mais acessíveis, mais baratos, com zero emissões, assegurada a intermodalidade entre sistemas públicos e privados, e evolução futura do transporte individual, para veículos de zero emissões e em parte de condução autónoma. Haverá menos carros a circular nas cidades, alguns espaços de circulação automóvel e de estacionamento serão reconvertidos para fazer cidades mais verdes, mais atrativas e com melhor qualidade de vida.  

Na última década, no âmbito da Mobilidade Urbana Sustentável, a União Europeia tem vindo a aprovar um conjunto de orientações relevantes, com a publicação do Livro Verde em 2007 “Rumo a uma Nova Cultura de Mobilidade Urbana”, tendo lançado uma agenda europeia para a mobilidade, com cinco grandes desafios: cidades de fluxo livre; cidades mais verdes; transportes urbanos mais inteligentes; transporte urbano acessível e transporte urbano seguro.

No ano de 2009 adotou o “Plano sobre Mobilidade Urbana.

No ano de 2011 o “Roteiro para um Espaço Comum Europeu dos Transportes” – COM(2011) 144 final – visando a redução de 60% das emissões de GEE nos transportes até 2050; a descarbonização da mobilidade nas cidades até 2030, reduzindo para metade a utilização de automóveis a gasolina e a gasóleo nas cidades e retirá-los de circulação até 2050; reduzir o número de acidentes mortais nas estradas, para metade até 2020 e quase zero até 2050; transferir para os modos ferroviário e marítimo/fluvial o tráfego de mercadorias em distâncias superiores a 300Km, 30% até 2030 e mais de 50% até 2050; estabelecer até 2030, uma rede de base RTE-T plenamente funcional à escala da EU, que integre todos os modos de transporte.

No ano de 2013 a Comissão Europeia adotou o Pacote da Mobilidade Urbana, com propostas de incidência no nível Local, dos Estados-Membros e da EU. Neste contexto apresentou um conceito para os PMUS e também se centrou nos domínios da logística urbana; regulação e acesso; Sistema de Transportes Inteligentes urbanos e segurança urbana.

No ano de 2016, a Comissão Europeia apresentou a “Estratégia de Mobilidade com Baixas Emissões”- SWD (2016) 244 final – tendo como princípios orientadores: acentuar a eficiência energética do sistema de transportes aproveitando ao máximo as tecnologias digitais; a mudança para modos de transportes de baixas emissões; acelerar a utilização de energias alternativas de baixas emissões; eliminação de obstáculos à eletrificação dos transportes; avançar para veículos de emissões zero; melhorar o motor de combustão interna durante o período de transição para veículos de emissões baixas e zero.

No ano de 2017, a Comissão Europeia apresentou a terceira fase da agenda “Europa em Movimento”. Neste sentido lançou as primeiras normas para a limitação de emissões de CO2 dos veículos pesados, um plano de ação para o desenvolvimento e fabrico de baterias elétricas e uma estratégia para a mobilidade conectada e automatizada. A Europa assumiu querer estar na vanguarda de construção da nova economia, com a indústria europeia líder na inovação, na transição digital e na descarbonização da economia.

A União Europeia consome 20% da energia mundial, é o maior importador do mundo, importa 53% da energia que consome, dispõe de reservas próprias relativamente limitadas e de menos de 10% de interligação das redes de energia. No âmbito do crescimento sustentável, fixou objetivos para o curto, médio e longo prazo, visando a redução de emissões de GEE, o aumento das energias renováveis no consumo de energia e o aumento da eficiência energética. Decisões com implicação direta na política de mobilidade e transportes e consequentemente no financiamento dos investimentos com ajudas do Orçamento Comunitário.

Para o curto prazo, ano de 2020, a redução de 20%, pelo menos, das emissões de gases com efeito de estufa, comparativamente ao ano de 1990, garantir que pelo menos 20% da energia é obtida a partir de fontes renováveis (31% fixados por PT) e 20% de redução no consumo, através da eficiência energética.

Para o médio prazo, ano de 2030, reduzir em 40% as emissões de gases com efeito de estufa, garantir que 27% da energia é obtida a partir de fontes renováveis, aumentar a eficiência energética entre 27% a 30% e assegurar que 15% da eletricidade produzida na EU pode ser transferida entre países através de redes interligadas.

Para o longo prazo, ano de 2050, o objetivo é o de atingir uma forte descarbonização da economia, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa para 80% a 95%, abaixo dos níveis de 1990 e reduzir significativamente a dependência do sistema de transportes dos combustíveis à base de petróleo, sem sacrificar a sua eficiência e comprometer a mobilidade acessível. Trata-se de uma orientação para uma transformação radical, que só pode servir para melhorar o futuro dos povos e a sustentabilidade de vida no planeta.

No âmbito do PT 2020, a Mobilidade Urbana Sustentável é apoiada por fundos da União Europeia no Objetivo Temático 4 – apoio à transição para uma economia de baixo teor de carbono.

No PO SEUR, através do Fundo de Coesão com 102 M euros, apoiando: frotas de transportes públicos; bicicletas de uso público; pontos de carregamento elétrico de uso público e medidas de promoção da mobilidade elétrica e da mobilidade sustentável. Com a reprogramação o valor e elegibilidades vão aumentar (ex. financiamento do Metro).

Nos Programas Regionais a Mobilidade Urbana Sustentável (PI 4.5) é apoiada através do FEDER, com 390,5 milhões de uros, contribuindo o PO Norte 2020 com 237 Milhões de euros, nos eixo prioritários EP3 – Economia de Baixo Teor de Carbono e EP 5 – Sistema Urbano, apoiando: o incremento de modos suaves (ciclovias e zonas pedonais); interfaces de transportes; integração multimodal para os transportes públicos através da melhoria de soluções de bilhética integrada; corredores urbanos de procura elevada; sistemas de informação aos utilizadores em tempo real e soluções inovadoras e experimentais de transporte na articulação entre territórios urbanos e rurais.

Os projetos no âmbito da Mobilidade Urbana Sustentável, apoiados com fundos comunitários, estão integrados nos Planos de Ação de Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS), elaborados à escala das NUT III, enquadrados na concretização das Abordagens Integradas de Desenvolvimento Territorial, exigência do Acordo de Parceria, e elaborados mediante convite que a Autoridade de Gestão do PO Norte, a 20 de julho de 2015, dirigiu às Entidades Intermunicipais, CIM /AMP.

Cada PAMUS integra um Programa de Ação de curto/médio prazo, articula medidas de natureza técnica e política com intervenções infraestruturais, focado em objetivos ambientais e energéticos, de redução das emissões de gases com efeito de estufa e de diminuição da intensidade energética nos transportes, identifica os projetos prioritários para efeitos de financiamento no atual quadro Comunitário. 

No próximo Quadro Financeiro Plurianual (QFP), a EU terá um dos seus focos na inovação e na economia de baixo teor de carbono. A energia e as alterações climáticas continuarão a ser uma das linhas de prioridade no sentido de assegurar a diminuição da dependência energética (Portugal importa 76% da energia que consome e os transportes são responsáveis por 37% da energia final consumida), cumprir objetivos definidos para 2030 de redução das emissões de GEE, desenvolver a “Estratégia de Mobilidade com Baixas Emissões”, aprovada em 2016, assegurar a competitividade e a coesão territorial e um futuro melhor para todos.

No próximo QFP, Portugal deveria assumir uma política de cidades mais robusta, incentivando soluções estruturadas e integradas de gestão dos serviços públicos, de soluções tecnológicas urbanas de maior escala, visando a eficiência e sustentabilidade global na gestão das cidades, afetando recursos significativos a um programa de cidades e territórios inteligentes. Num compromisso global e regional, a concretização das políticas deve responder de forma diferente às realidades distintas, no sentido de promover de forma mais eficaz os recursos, promover a coesão, combater as desigualdades no território.

Cidadãos que nos honram

Ter, 30/10/2018 - 10:48


Um jornal com publicação contínua durante 25 anos constitui motivo de satisfação, mas publicá-lo é somente o cumprimento de um compromisso com os assinantes, os leitores e os cidadãos do distrito, num país com quase nove séculos e num mundo, que continua a fascinar-nos mas também a deixar-nos tol