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Vendavais- Anda tudo louco

Vivemos num corre-corre tremendo que a todos perturba e tira do sério. Sabemos isso e podemos constatá-lo pelas notícias que nos chegam todos os dias e a cada minuto. Desde que o Coronavirus tomou conta do mundo e das consciências das pessoas e dos países, tudo mudou. Alterou- -se o comportamento e a responsabilidade de todos e de cada um de nós. E como não somos iguais, não agimos obviamente da mesma forma face a esta pandemia. Tanto faz avisar sobre a perigosidade do vírus, como não. Para determinadas pessoas, de nada vale o aviso e a prevenção. Para eles, o vírus é mais uma gripe que passará como as outras. Li-Meng Yan, cientista de Hong Kong, era uma das virologistas encarregadas de estudar o coronavírus em 2019. Quando as descobertas sobre o que se passava e sobre o perigo que poderia representar este novo vírus, fez questão que isso se informasse à comunidade mundial, sabendo os riscos que corria. Cedo percebeu que a China não lhe permitia que tal se fizesse. Antes que fosse demasiado tarde, de Hong Kong fugiu para os Estados Unidos para poder revelar o que sabia sobre o novo vírus. De lá acusou diretamente a China e a OMS de saberem, muito antes dos acontecimentos de Wuhan, quanto era perigoso este vírus e os resultados que poderiam advir da sua propagação. Mas o mal já estava feito. Wuhan era o epicentro e continuaria a ser. Ninguém o conseguiu travar a tempo. Em Janeiro, a OMS admitia pela primeira vez que o novo vírus poderia ser muito perigoso para as pessoas, mas não era de fácil transmissão. Puro engano. A partir daqui, juntaram-se a irreverência das pessoas, dos políticos, dos governos, os interesses políticos e económicos que giram à volta de todas estas coisas. Finalmente, quando a economia dos países começou a soçobrar, abriram-se as portas ao vírus e ao dinheiro. Já tudo andava louco, sem rumo e sem emprego. Tudo tinha parado. Esta loucura enorme que se apoderou das grandes multinacionais e dos governos mais poderosos, levou ao desfecho que agora vivemos. As culpas, ninguém as quer. Claro. O que constatamos é que nada está ainda resolvido. O perigo continua e o vírus segue na sua senda secreta de matar que apanha pela frente. Mas isto não incomoda muita gente, como disse. Bolsonaro, presidente do Brasil, que dizia que o vírus era mais uma gripe, mesmo sabendo que morriam centenas por dia no país, finalmente foi apanhado por ele e teve de se confinar, mas o seu discurso pouco mudou. Até parece que fez gáudio do acontecido, aparecendo na televisão publicitando o seu estado de saúde. Néscio! Igual procedimento tem Trump, mas apareceu de máscara quando foi visitar militares contaminados. Pudera! Ir ter com o vírus, não é a mesma coisa que estar longe dele, mesmo desconhecendo o seu paradeiro. Mas a loucura não é apanágio das sociedades estrangeiras. Por cá, os loucos são muitos. Como é que se pode pedir responsabilidade a um louco? Não pode. Soubemos o que aconteceu em festas clandestinas de jovens e no seu contributo para que o Covid-19 continuasse o seu caminho maléfico, aumentando o obituário português. Foram alertados para que não houvesse mais festas e ajuntamentos com mais de vinte pessoas. Não cumpriram. As festas ilegais continuaram e continuam ainda, como se quisessem afrontar diretamente as autoridades. A juventude está louca! Apesar de tantas recomendações, no Algarve acontece uma festa ilegal, organizada por jovens de Lisboa. A loucura continua. Para eles o perigo não existe e o amanhã é coisa certa. Será? Para alguns, sim, mas para outros já não existe. É gente para quem a morte é uma abstracção. Infelizmente, as loucuras não se ficam por aqui. Na praia do Estoril, dois jovens adolescentes são esfaqueados numa rixa sem sentido, onde quase ninguém conseguiu perceber o que estava a acontecer. O estranho é que a praia estava cheia, contra as recomendações do governo e da DGS. Já se fala de uma segunda vaga, mas há quem defenda que ainda não se chegou ao pico desta primeira. Realmente, quem entende estes cientistas, estes políticos e estes sabedores de meia-tigela? Anda mesmo tudo louco!

O Virgílio

A miserável exibição do Benfica na meia parte do campeonato entregou o título de campeão aos portistas e, a arca da memória atirou cá para fora, de imediato a lembrança de um baptizado ocorrido na aldeia dos prodígios – Lagarelhos -, onde o menino recebeu o nome de Virgílio porque o padrinho assanhado adepto do clube cujo animal no emblema não existe assim o determinou. O menino nos dias de hoje vive na cada vez menos povoada localidade dos três deputados em simultâneo dela originários, o Amândio Gomes, o Armando Vara e o Armando Fernandes que na opinião do meu progenitor nada fizeram relativamente ao pequenino burgo acarinhado pelos jesuítas, cujo padroeiro é o chaveiro do Céu o senhor São Pedro venerado, pelo menos, no dia 29 de Junho em plena época das cerejas e das ginjas que no meu tempo de meninos eram empregues no tornar mais rutilante e colorida a imagem de Santo Estevão também integrado na procissão, escorado nos ombros dos garotos. Ora, o padrinho do Virgílio era o Senhor José dos Santos negociante de produtos rústicos – batatas, castanhas e cereais -, sendo o avô do Virgílio «delegado» e acendrado amigo do senhor de voz cantante, de faces risonhas, olhos brilhantes e cabelo ondeado ao modo dos galãs do cinema, especialmente Tyrone Poyer e Errol Flynn. O agente chamava-se João Martins, por alcunha Janaz, não sei se corruptela de Joanaz) era primo direito da minha bisavó Júlia Martins, por esse vínculo e de vizinhança fomos convidados a participar na entronização como filho de Deus do menino e o negociante mais a filha (penso não errar) apadrinharam-no. Segundo a minha avó Delfina o Senhor José dos Santos catrapiscou uma bonita rapariga de Rio de Fornos, ela acolheu os gorjeios, casando de seguida. Recordo-a fugazmente no decurso das bailações pós prandiais no dia da festa do Santo registado em forma de imagem segurando as chaves, barba cinzenta e toga azul. Assim o rememoro. A senhora fazia- -se acompanhar pela irmã e a filha a quem a família do Sr. João chamava menina Helena. Na altura, uma mocinha ser tratada debaixo dessa forma, vestida de frou-frous de organza, calçada com sapatos de verniz, a irromper na festa, contemplando-a de longe enquadrada na família, reverenciada pelos anfitriões provocou- -me impressão tão profunda que passados uns sessenta anos ainda perdura. Nos meus cálculos teria nove anos, as aldeias primavam pelas fontes de chafurdo, pelos caminhos lodaçais no Inverno e montes de pó no Estio, imperando o espanto ante o visto e observado até a luz do dia o permitir, comentado à noite no aconchego do lar enquanto os tições não esmoreciam. Terei trocado meia dúzia de palavras com o senhor Santos em fugidio encontro na faceira de Lagarelhos, porém ouvi a testemunhas que reavivarem vários episódios facetos da noite vinhaense nos quais ele foi actor principal, num tempo de luz eléctrica nas ruas a fenecer à meia-noite, daí os homens serem pardos tal como os gatos, ora, o fervoroso andrade (assim se tratavam os portistas) possuía o condão de não os deixar extravasar mantendo-os confinados às regras do bom viver com todos a fim de gastar os dias conforme lhe apeteceu. O defesa do FCP inspirou o nome do cidadão de Lagarelhos, outro recebeu o patronímico de Eusébio em virtude do pai nado e criado no lugar de lagares de vinho fruto de boas uvas de vinhas bem expostas ao sol. O apaixonado lampião morreu há anos, os lagares pereceram em consequência da dizimação das cepas atacadas pelas pragas tal como agora o vírus ceifa vidas a esmo. Esperançado na finitude da pandemia atrevo- -me a escrever sobre um passado recente porque ao contrário do que os amoladores de tudo quanto não é com eles é possível registar factos anódinos, porém no tocante a História representativos do quotidiano das comunidades. A Escola dos Anais ensina-o. Uma pergunta zombeteira: os Professores na preparação das aulas de história, filosofia e ciências sociais recordam os mandamentos da Escola dos Annales?