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NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS Bernardo Lopes (n. Vila Flor c. 1502)

Bernardo Lopes, “homem de boa estatura e rosto largo”, nasceu em Vila Flor por 1502. Era filho de Lançarote Rodrigues e Genebra Alvim, judeus batizados em pé. Fez-se mercador de panos, em segmentos comerciais bem definidos. Em Portugal comprava “panos de estopa, linho e seda para ir vender em Castela e de lá trazia panos de cor para vender”.

Casou com Maria Álvares, natural de Bragança. (1) O casal morava na praça de Vila Flor, mesmo junto da igreja matriz. Em 1554, entrou ao serviço de Manuel Sampaio, senhor de Vila Flor e de muitos foros concedidos pelos reis em várias partes. E como feitor que era na Casa Sampaio, (2) competia-lhe a arrecadação dos ditos foros. Em tal função, fazia-se geralmente acompanhar pelo “porteiro” do concelho que detinha o poder de penhorar os bens das pessoas que não queriam pagar.

Seria no verão daquele mesmo ano. Andaria o feitor na cobrança dos foros na aldeia de Candoso, acompanhado do porteiro João Gonçalves. E indo a casa de uma viúva a cobrar o foro devido, ela disse que não tinha cereal e pagaria em dinheiro, pelo preço a que o pão estava taxado. O feitor respondeu que por aquele preço não recebia e queria mais dinheiro ou o cereal, conforme estabelecido. E como a viúva não esteve de acordo, o porteiro procedeu à hipoteca dos bens necessários. Aí a viúva terá dito para o feitor:

- Como Nossa Senhora fora virgem antes e depois do parto, assim sejais vós destruído, por me tirar o pão de meus filhos!

Ao que Bernardo Lopes terá respondido:

- Virgem Maria… virgem Maria… virgem como a minha mãe quando me pariu!...

Obviamente que o caso chegou logo ao conhecimento do vigário geral da comarca, o licenciado Aleixo Dias Falcão. Tal como chegou a informação do padre Diogo Maçulo, capelão em Vila Flor, dizendo que Bernardo Lopes e Maria Álvares, raramente iam à missa dominical, apesar de viverem mesmo junto da igreja. E também lhe contaram que andando com operários em uma vinha “a lançar cepas de cabeça” viria a falar-se de judeus. E um dos operários, que era cristão-velho, terá feito alguma insinuação, a que Bernardo Lopes respondeu nos termos seguintes:

- Quando ele fosse bom judeu, ele réu seria bom cristão.

Claro que todos os depoimentos foram judicialmente autuados e o despacho do vigário-geral não surpreenderia: mandou recolher Bartolomeu na cadeia da comarca, em Torre de Moncorvo, ao findar da primavera de 1556. E estando preso na cadeia da Torre, com outros mais “criminosos”, imagine-se que 3 distintos companheiros ali teve: o padre Diogo Maçulo, cura em Vila Flor; o padre Amador Rodrigues, “capelão que foi em Bruçó” e o padre António Rodrigues que depois foi rezar missa para Mogadouro.

Não sabemos como os 3 clérigos foram ali parar mas sabemos que eram extremamente zelosos da fé e vigilantes. E cada um deles compareceu a denunciar novos “crimes” de Bernardo Lopes. Os três testemunhos foram idênticos e por isso transcrevemos apenas o do padre Amador Rodrigues que disse:

- Que ele esteve preso na cadeia desta vila durante 6 semanas e nesse tempo o dito Bernardo Lopes estava também preso, como está, e dormia junto a ele testemunha e nunca nesse tempo viu ele testemunha o dito Bernardo Lopes benzer-se nem rezar, nem fazer acto de cristão, e nesse tempo estivera doente 2 ou 3 dias e nunca chamara por Nosso Senhor nem Nossa Senhora, nem outro santo, e por ele testemunha e os mais padres que ali estavam presos, que eram o dito Diogo Maçulo e António Rois o tinham por mau cristão.

Outras culpas foram ainda acrescentadas e o vigário-geral decidiu enviar o prisioneiro e o respetivo processo para o arcebispo de Braga, frei Baltasar Limpo, que o remeteu para o tribunal da inquisição de Lisboa onde deu entrada em 10 de fevereiro de 1557. (3)

Entretanto e estando o prisioneiro em Braga, o vigário Aleixo Falcão, mandou também prender a sua mulher. As acusações eram em parte as mesmas do marido, dizendo que guardava o sábado e não o domingo como dia de descanso semanal e nele vestia camisa lavada; que, morando junto à igreja, não ia à missa… e as testemunhas eram semelhantes, incluindo os ditos padres. Acresceu um outro crime e que vamos contar… (4)

Dois anos e meio atrás, em um sábado, apareceu à porta de Maria Álvares um tendeiro de Chaves. E a casa de Maria Álvares tinha um “balcão ou alpendre” suportado por esteios. E o tendeiro preparava-se para armar a sua tenda debaixo do alpendre, como aliás costumava ele e outros tendeiros que ali vinham. Mas veja-se o que aconteceu, tal como ficou escrito no processo:

- Ela ré chegou à porta e tanto que viu armar a tenda (…) disse ao dito tendeiro que desarmasse a tenda e não vendesse porque era sábado e por vida dos meus filhos que não haveis hoje de armá-la e se a armardes não venhais mais aqui e fazei conta que nunca mais aqui haveis de armar. E por ela ré assim o dizer, o dito tendeiro tornou a desarmar a tenda e se foi. E ao outro dia, que era domingo, a armou no próprio lugar e ela ré (…) deixou armar a tenda no dito dia, o que ela fazia por guardar e venerar o sábado, como judia.

Uma derradeira culpa lhe imputaram no cárcere de Lisboa, ao cabo de um ano de prisão, assim formulada pelo promotor:

- Acresceu à ré agora a culpa de Isabel Dias, de Braga, que diz que cantava diante dela coisas de judia, e ela ré folgava e chorava, que é grande sinal de quem tem ainda lembrança daquelas coisas. E diz mais a testemunha que lhe dizia a ré que o Messias havia de vir e que a havia de livrar… (5)

Voltemos a Bernardo Lopes e à sua defesa. Antes de mais cumpre elogiar o comportamento do seu procurador, que atuou como um verdadeiro advogado de defesa. Veja-se, a título de exemplo, uma simples frase:

- Não curo do descrédito que o clérigo Amaro Gil, em seus testemunhos, lhe quis dar; e outros que quiseram tomar ofício do senhor Deus… (6)

Referia-se, obviamente aos padres (e aos inquisidores?) que tinham Bernardo Lopes por mau cristão.

Em segundo lugar, diga-se que nesta época ainda era permitido aos prisioneiros nomear um ou mais procuradores para acompanhar a audição das testemunhas de acusação. E assim, Bernardo nomeou o seu filho Lançarote, o amigo João da Rosa (cristão velho), ou o irmão Jorge Fernandes. Este procedimento levaria o promotor a dizer que tais procuradores pressionavam e subornavam as testemunhas e até levavam algumas a desdizer-se.

Finalmente refira-se o levantamento de suspeições sobre o Aleixo Falcão, que era seu inimigo, conseguindo que a audição das testemunhas fosse feita pelo licenciado Francisco Dias, provedor e contador da comarca e não pelo vigário-geral. Aliás, até o arcebispo lhe seria, de algum modo, suspeito, conforme se depreende deste item da sua defesa:

- Entende provar que António Fernandes, porteiro diante do vigário da Torre, é oficial ante ele e do arcebispo, os quais são inimigos de Manuel Sampaio e assim dele réu…

No processo de Bernardo, como no de sua mulher e outros mais de Vila Flor naquela época, é notória uma subterrânea “perseguição” política aos cristãos-novos que então ocupavam influentes cargos municipais, nomeadamente de notários, vereadores, almotacés, juízes… Como diria o advogado de defesa de Maria Álvares:

- Entende provar que na dita vila os cristãos-novos andavam sempre nas eleições e requerimentos da dita vila e algumas pessoas disso se escandalizavam tanto que, com inveja, difamavam deles…

Resta dizer que não demorou muito a ser publicada uma lei proibindo os cristãos-novos de ocupar cargos municipais em Vila Flor, lei que depois se estendeu a todo o país. Quanto a Bernardo Lopes, terminou condenado em cárcere por 2 anos e abjuração veemente de seus erros em auto público da fé celebrado em 15.5.1558. Um pouco mais leve a sentença ditada no mesmo auto a sua mulher.

 

NOTAS:

1-A família de Maria Álvares era bastante conceituada em Bragança e um dos seus irmãos chamado Garcia Álvares, era médico em Vila Flor, viúvo de Benta Dias. E estes foram os pais do advogado Francisco Rodrigues da Silva que foi martirizado pela inquisição e do médico Luís Álvares da Silva, morador em Foz Lima, terra de sua avó Benta, ambos casados em Torre de Moncorvo com duas filhas do famoso advogado Dr. André Nunes.

2-A ligação da nobre família Sampaio à gente da nação hebreia era muito estreita e o feitor Bernardo Lopes não era o único cristão-novo que frequentava a “casa grande de Vila Flor”.

3-ANTT, inq. Lisboa, pº 5157, de Bernardo Lopes.

4-IDEM, pº 2893, de Maria Álvares.

5- IDEM, pº 1330, de Isabel Dias. Esta era mulher de 75 anos, apresentada como “judia e rabina e muito sabida nas coisas da lei de Moisés”, dizia perante os inquisidores que “ela ensinava as coisas dos judeus a todos os cristãos-novos de Entre Douro e Minho”. Era também parteira e foi acusada que “tinha circuncidado muitas infindas crianças”. Sabia orações e cantigas em hebraico, explicando-as depois em português. Negou-se a prestar juramento sobre o livro dos Evangelhos que tinha desenhada uma cruz e jurou apenas pelo Deus todopoderoso que fez o céu e a terra.

6- Mais incisivo ainda seria o defensor de Maria Álvares que, entre outros, apresentou o argumento seguinte: - O testemunho de Diogo Maçulo não lhe prejudica, por muitos defeitos que tem, que é homem muito criminoso e arrastado e preso por os mais crimes, e é degredado e infame (…) pelo que ainda que fosse verdade o que as testemunhas dizem, não se há de presumir que o fazia como judia, quanto mais que nunca tal fez.

De Noémia Delgado e das máscaras do nordeste

O  som de uma velha locomotiva corta o ar

Montes

Uma voz feminina entoa um responsório medieval

Inverno

Um homem e uma junta de bois lavram a terra

A beleza pura da luz pura reflectida na terra pura

 

A voz de Alexandre O’Neill. «Em muitas regiões da Europa, sobretudo nos países alpinos, gelados e balcânicos, ainda hoje existem certas celebrações do “Ciclo do Inverno” em que aparecem mascarados. Nos casos mais característicos, estes mascarados figuram personagens tradicionais definidas. Por vezes é patente a relação dessas personagens – demónios e fantasmas – com os mortos, e pode-se por isso supor que elas constituem elementos que em longínquas eras faziam parte das cerimónias do culto dos mortos. Entre nós, vamos encontrar máscaras deste tipo nas terras de feição ainda arcaizante do Nordeste Transmontano. (…)»

Trás-os-Montes, anos 70. Máscaras. Entre o Natal de 1974 e a Quarta-feira de cinzas de 1975, Noémia Delgado filmou as tradições ancestrais associadas aos ritos pagãos (do solstício, da transição para a idade adulta, de passagem, etc.) das “Festas do Inverno” do Nordeste Transmontano. Máscaras é um filme documental de exploração antropológica, baseado em trabalhos de pesquisa etnográfica (Ernesto Veiga de Oliveira, Benjamim Pereira, Michel Giacometti, entre outros), na senda de algum cinema português que abordava este tipo de temáticas (Festa, Trabalho e Pão em Grijó de Parada, 1973, de Manuel Costa e Silva; Falamos de Rio de Onor, 1974, de António Campos). A realizadora Noémia Delgado [responsável pela montagem de muitos filmes de Manoel de Oliveira] explora aqui a natureza medieval de algumas tradições transmontanas, que expõe de forma crua e directa, o que constituirá porventura também um aspecto de afirmação de um Novo Cinema Português, acerca de uma região que, por via do isolamento geográfico mas não só, o Estado Novo tentou apagar.

O documentário foi realizado nos concelhos de Bragança e de Mogadouro. A Festa dos Rapazes (Varge), o Santo Estêvão (Grijó de Parada), o Fim de Ano (Bemposta), o Entrudo (Podence), a Quarta-feira de cinzas (Bragança). Na cidade de Bragança, o “Dia dos Diabos” já não se realizava nesse tempo, tendo sido propositadamente encenado para o documentário… Felizmente esta tradição ainda hoje se mantém viva em Vinhais, onde na Quarta-feira de cinzas marca o fim das Festas de Inverno. [Lamentavelmente, talvez por falta de informação ou pesquisa insuficiente, Vinhais não foi incluída na obra-prima de Noémia Delgado].

Mas Máscaras tem muitos outros pontos de interesse. É, por exemplo, um dos mais belos filmes de sempre do cinema português, e, tal como outras manifestações de carácter cultural (etnográficas, antropológicas, musicológicas, literárias) produzidas sobre Trás-os-Montes, uma ode à região e às suas gentes. Uma das partes do documentário que considero mais rica do ponto de vista antropológico é a festa do Santo Estêvão em Grijó de Parada (26 de Dezembro). Uma refeição comunitária, com a mesa instalada no centro da aldeia, onde os únicos comensais que nela se sentam são o pároco e os mordomos da festa… Ainda aqui, num dos momentos mais belos do documentário, a realizadora detém-se nos muitos cestos de vime, cheios de magníficos pães de trigo (ritual de bênção do pão, base da alimentação dessas gentes).

Máscaras é o retrato de um mundo que, quer queiramos quer não, já não existe. Em meados da década de 70, o isolamento geográfico, a pobreza, a falta de recursos, acabariam por contribuir indirectamente para a preservação das tradições, integradas no quotidiano, e de um conjunto de traços socioculturais de características únicas. Para isso contribuiu definitivamente a própria natureza do regime agrícola da região. O minifúndio, a cultura de sequeiro, os baldios comunitários, os lameiros e os direitos de passagem moldaram o sistema agrário transmontano, restringindo a mecanização (só a década de 70 viu os primeiros tractores chegarem a algumas destas aldeias). A natureza do povo, a terra fértil, o pastoreio, impediram a total desertificação e alguma emigração (recordo, ainda há poucos anos, o Tio Adérito, pastor da aldeia de Lagarelhos, Vinhais, apontando para o seu rebanho: “Foram a minha França!”).

Máscaras reveste-se – hoje mais do que nunca – de um magnetismo invulgar, telúrico, quase transcendente. Tem uma religiosidade e um respeito pela tradição poucas vezes observados em Portugal. E mais de quarenta anos passados sobre a sua primeira apresentação pública, no Festival de Cannes, a 20 de Maio de 1976 (feriado municipal em Vinhais), continua a levantar uma série de questões sobre o documentário antropológico e sobre a preservação das tradições. A grande virtude do filme de Noémia Delgado consiste na reduzida manipulação das cenas, com a realizadora a privilegiar a observação/filmagem directa, não intrusiva; a luz natural; a beleza dramática das paisagens; a complexa candura das personagens-intervenientes, sem constrangimentos exteriores de ordem cultural/comportamental, num tempo em que estas aldeias não dispunham de infraestruturas básicas ou electricidade… [Quantos “actores” de Máscaras terão visto o “seu” filme?]. Os mesmos desafios se colocam também às próprias tradições: como mantê-las vivas num mundo mediatizado, sobre-exposto, sem comprometer os aspectos fundamentais da sua própria existência (espontaneidade, naturalidade, autenticidade, verdade), tantas vezes desprovidas do enquadramento/contextualização do quotidiano?

Em Maio de 2016 assisti na Cinemateca Portuguesa à exibição deste documentário, em homenagem à sua realizadora, falecida a 2 de Março desse ano. Na sessão esteve presente Acácio de Almeida, director de fotografia de Máscaras, que falou um pouco sobre a forma como as filmagens tinham decorrido (e da escassez de meios técnicos). Tendo nascido em Vinhais e vivido as tradições das aldeias de Trás-os-Montes na época em que o filme foi realizado, reconheci em Máscaras as gentes do meu passado, as vestes, os gestos, os olhares, os comportamentos, as aldeias de lama… essa luz única que ainda forma um arco-íris de lágrimas ou uma fonte de esperança. No final da sessão conversei um pouco com Acácio de Almeida, felicitando-o pela mestria com que captou essa luz primordial. “A luz estava lá”, respondeu-me.

Verdades como punhos.

Um simples trecho de uma entrevista mais longa que o senhor Jeroen Djisselbloem, presidente do Eurogrupo, concedeu ao jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" mereceu o maior destaque nos noticiários.
Do resto da entrevista nada se disse mas as declarações em apreço provocaram reacções inflamadas de muitos políticos com responsabilidades de governação nos países do sul. Porque enfiaram a carapuça, só pode ser.
Jeroen Djisselbloem é quem é e serve a quem serve. Político assumidamente de esquerda entendeu agora, vá-se lá saber porquê, desancar a organização supranacional que lhe dá emprego e os colegas que governam a sul, insinuando que estes, incluindo os portugueses, portanto, gastam todo o dinheiro em bebidas e mulheres e de seguida pedem ajuda aos países do norte da zona euro. Embora ele, enquanto social-democrata, considere a solidariedade da maior importância.
Percebe-se que Djisselbloem se esforçou por ser bem-educado. Talvez tenha sido mal interpretado só por isso mesmo. Falou em bebidas, não explicitamente em vinho tinto, ou verde, em mulheres e não em damas prostitutas. Se tivesse proferido o popular aforismo português, teria tido muito mais graça, seria melhor compreendido e ninguém o teria levado tão a sério, por certo.
Mas, deixemo-nos de cantigas: Jeroen Djisselbloem, ainda que desastradamente, descompôs os seus colegas políticos, não as mulheres de vida fácil ou difícil, ou os povos do sul que, toda a gente sabe, são tão europeus como os do norte.
A verdade é que os Estados do sul chafurdam na corrupção e vivem à beira da banca rota e na dependência dos Estados do norte. Não por culpa daqueles que a sul trabalham ordeiramente aguentando, resignados, os sacrifícios relapsos a que os seus governantes os submetem, quando não os forçam a emigrar, em massa, para norte, precisamente.
Embora a norte até nem haja mais sol e melhores praias, hortas e pomares, nem seja verdade que os nórdicos são mais inteligentes e trabalhadores ou que as mulheres loiras são mais belas que as morenas. Tão pouco o petróleo do Mar do Norte é bastante para explicar a riqueza de uns e a pobreza de outros.
A vida airada dos políticos sulistas, essa sim, contrasta claramente com a sobriedade nórdica. Basta comparar o estilo de vida dos ministros e dos deputados portugueses com a dos congéneres suecos ou finlandeses, ou os gastos da Presidência da República portuguesa com os da corte norueguesa.
Devemos por bem concluir, portanto, que o ainda presidente do Eurogrupo disse verdades como punhos. Tanto assim é que apenas a bebida e as mulheres empolgaram os governantes visados. Já o contraste norte-sul, que deve ser assacado aos políticos e às prácticas políticas, tão-somente, não parece incomodá-los minimamente.
Falamos do contraste socioeconómico, que não tem razão de ser, e não das diferenças históricas e culturais que essas são louváveis e devem ser preservadas.
Não façam de Djisselbloem um bode expiatório por mais bronco que o homem possa ser.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Políticos (Modo de usar)

Homens de verve fácil, de argumento pronto, de cultura focalizada em temas actuais, sem grandes reservas em socorrer-se da demagogia ou da confusão (“se não podes convencê-los, confunde-os” dizia Truman) são estes os Homens que governam o Mundo. O facto de serem os Eleitos faz com que se sintam catapultados para patamares subidos de literacia que Clemenceau desmistificou quando se referia a Poincaré: “ele sabe tudo. Mas a partir daí não sabe mais nada.” Essa postura de quem pretensamente domina todos os “dossiers” empresta-lhes uma arrogância que não é compatível com qualquer limitação à acção governativa. É aqui que entra o legislador, conhecedor do “factor humano”, impondo limites, balizando assim o âmbito de acção dos políticos quer por meio das auto-regulações quer pela criação de mecanismos-travão.
Os políticos suportam mal isto. Todos nos lembramos das manifestações de rejeição com que os autarcas receberam a lei que impunha a obrigatoriedade dos Planos Directores Municipais porque estes balizavam a discricionariedade do autarca. Assim como o Visto do Tribunal de Contas faz confusão aos autarcas e também ao Governo Central. Mas o Tribunal Constitucional é o órgão que mais vezes pôs a pensar os Governos que legislaram em roda livre. Todos estamos recordados que foi o Tribunal Constitucional que impediu o esbulho com que Passos Coelho queria brindar a Função Pública. “Deixem-nos Trabalhar”, “forças de bloqueio” foram gritos contra o Tribunal num misto de insulto e de vitimização. Não tinham razão. O tempo provou que podiam governar com aquela “força de bloqueio”.
Mas quem leva a palma em insultos é o antecessor do Tribunal Constitucional,o Conselho da Revolução. Insultado por vários sectores, acusado de comunista, o Conselho da Revolução fez um belíssimo papel. Deixou que o país acertasse o azimute com a vontade do povo, mas com regras, paulatinamente. O país não pode andar de cá para lá, feito barata tonta, ao sabor de maiorias escassas e conjunturais. Mas os políticos tinham mais pressa. Por isso é que acontecem Brexits.(Vale a pena fazer um parêntesis para falar de Brexit como aquilo que não pode acontecer a um país. E estou à vontade para falar porque, para mim, eles(ingleses) estão bem onde estão e nunca deviam ter entrado na Comunidade. Aqui faço um aplauso a De Gaulle. A Comunidade Europeia, como qualquer comunidade, é para quem se sente lá bem, para quem entende que o conjunto pode trazer sinergias e não para quem esteve permanentemente com um pé dentro e outro fora sempre minando a coesão do conjunto.
Atente-se neste exemplo que caricatura a postura de Inglaterra face à Europa Continental. Quando foi inaugurado o túnel sob a Mancha as manchetes dos jornais londrinos diziam: “até que enfim a Europa deixa de estar isolada”. Bonito! Com gente desta temos de nos sentir desconfortáveis. Mas seja como for eles votaram em referendo e a saída venceu. Por muito que eu tivesse gostado deste abandono não posso concordar com a forma como foi feito. Tinha que haver um mecanismo-travão ou a exigência de uma maioria qualificada. A saída da Comunidade traz implicações marcantes na orgânica inglesa e até na comunitária. Implicações demasiado importantes para estarem dependentes de uma maioria escassa e conseguida num fim de semana em que se votou mais com o coração que com a razão).

Vemos assim o caracter absolutamente indispensável de mecanismos de regulação de poderes, de regulação da própria democracia sob pena de vermos esta transformar-se em ditadura da maioria. E àqueles que já alguma vez discordaram em absoluto das posições desses órgãos de contra poder e acham que a sua existência é perfeitamente dispensável eu convido a um exercício de análise quase abstrato. Abstrato porque não se passando cá conseguimos analisar desapaixonadamente. Vejamos: desde que Trump chegou à Casa Branca tem legislado a torto e a direito, imprimindo em tudo um cunho de retrocesso civilizacional. A nossa reacção é de ansiedade, e não é diretamente connosco, esperando que o Senado, o Congresso, uma providência cautelar ou um qualquer juiz trave esta fúria legislativa. É ao ver a falta que fazem, nos outros, esses mecanismos de contra poder que nos devemos congratular por sempre os termos tido e funcionais.

“Por vezes o barco toma porto à porta do seu dono”.

VINTE E UMA DÉCIMA

Jorge Sampaio cunhou a expressão “Há mais vida para além do déficit” que muitos viriam a repetir e a brandir, sempre que tal lhes convinha. Em coerência não podem agora vir reclamar louros, hossanas e louvores para a obtenção do resultado recordista de um déficit de dois vírgula um por cento do Produto Interno Bruto.
De igual forma aqueles que fizeram do controlo orçamental o leitmotiv de todo um ideário político e programa de ação governativa, não podem agora desvalorizar o notável feito que o atual governo obteve para as contas públicas no ano de 2016. Alegam os detratores da ação do atual Ministro das Finanças e outros opinadores independentes que o resultado foi obtido com recurso a ações extraordinárias únicas e irrepetíveis. Quanto aos independentes pode aceitar-se este argumento desde que no passado o tivessem igualmente brandido. Porque esse é que é o cerne da questão. Por um lado há já vários anos que estamos habituados a ver todos os governos a incluirem nas suas atuações pro-ativas ações extraordinárias de forma a amenizar os índices financeiros. É certo que desde a entrada do nosso país no clube do Euro todos os executivos nacionais têm dedicado especial atenção a esse indicador de tal forma que acabou por entrar no léxico popular vulgarizando a sua utilização e compreensão. Mas nenhum deles o promoveu a objetivo primeiro e primordial, subordinando toda a restante política económica à obtenção desse desiderato, como o vigésimo liderado por Pedro Passos Coelho. Não pode, ninguém que a ele tenha pertencido ou ativamente o tenha suportado e apoiado, vir agora menorizar a obtenção do valor em causa. E se o argumento que cifra tem o valor que tem, não é, genericamente, aceitável por causa de ações excecionais dado o histórico referido, muito menos o será para quem tudo sacrificou, incluindo o crescimento económico, o emprego, o investimento, as pensões, os salários e tantas outras malfeitorias, no altar do indicador imposto pelo Ministro da Finanças alemão, através da União Europeia de do Eurogrupo liderado por um holandês sobejamente conhecido. Mas não só. Ao reclamarem que a façanha de Mário Centeno se fez com suporte em eventos não re-editáveis estão a confessar que todas as ações levadas a cabo pelo anterior Governo, afinal não eram provisórias e temporárias mas seriam para repetir e continuar. Para que, como argumentam agora, os níveis do déficit fossem sustentáveis, caso se mantivessem no poder, manteriam os cortes nos salários e nas pensões e o Estado continuaria a deixar de se comportar como uma entidade de bem no cumprimento das suas obrigações e compromissos para com os cidadãos, sempre que “fosse necessário”.
Definitivamente, não é entendível, nem sequer razoável ver o grupo que deificou o controlo orçamental desvalorizar e menorizar o fabuloso resultado atingido este ano, nesse campo. O natural e razoável seria um aplauso generoso, um elogio rasgado à atuação ministerial, eventualmente acompanhados de uma glorificação adicional do objetivo primeiro defendido anteriormente. Ganharia credibilidade e valorizaria, mesmo que retroativamente, a direção e o rumo que em 2011 definiu e traçou para o nosso país. Não pensam assim os estrategas social-democratas. As próximas eleições revelarão se têm ou não razão.

Lazarinas, as laranjas de S. Lázaro

Ter, 04/04/2017 - 10:44


Olá familiazinha! Chegámos ao quarto mês do ano. No passado domingo estivemos, pela quarta vez consecutiva, em directo de Argozelo, na Feira da Rosquilha, numa edição especial de domingão, com a participação da Família do Tio João. Para a semana estaremos na Feira do Pão, em Caçarelhos (Vimioso), continuando assim a promover os eventos das nossas terras.
No domingo foi também o dia de S. Lázaro, que é sempre o segundo domingo antes da Páscoa: “Domingo de Lázaro, Domingo de Ramos e na Páscoa estamos!”. Como em Bragança há a tradição de festejar o S. Lázaro na sua capela, vamos dedicar este número ao S. Lázaro e tentar saber o porquê das lazarinas, que são as laranjas de S. Lázaro, numa conversa com Isidro José Afonso, o responsável da obra de S. Lázaro. Recolhemos também algumas orações dedicadas a este santo, que queremos partilhar aqui convosco.
No mês de Abril que agora entrou, segundo o “Seringador”, deve semear-se milho nas terras secas, feijão rasteiro, abóbora, couve-galega, espinafres, ervilhas, melancia, melão, nabiças, pepino e rabanete. Deve plantar-se alface, batata, cebola, couves, pimentos e tomates. Devem colher-se ou apanhar maçãs, laranjas, tangerinas e limões. Outros trabalhos a não esquecer são o início das mondas e o sachar dos campos semeados no mês de Março. Semeia-se o milho e plantam-se as batatas em terras mais secas. Nas terras mais fundas, só no fim do mês; tosquiar as ovelhas no minguante da lua; defender a horta dos ataques dos insectos e das lesmas com pesticidas apropriados.

 

Direcção da ACB demitiu-se e deixa clubes apreensivos

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Qui, 30/03/2017 - 15:44


A direcção da Associação de Ciclismo e Cicloturismo de Bragança demitiu-se. Rui Sousa, eleito para o cargo de presidente em Dezembro passado, deixou a ACB queixando-se da falta de tolerância e compreensão dos clubes.