Ter, 07/11/2017 - 10:45
A Norcaça, Norpesca e Norcastanha decorreu no último fim-de-semana. A caça e a pesca têm sido apresentadas como recursos económicos da região, tendo em conta a sua qualidade e potencial de atracção para um turismo de bolso confortável. Anunciaram-se apostas no crescimento do sector e na sua capacidade de gerar iniciativas empresariais nas áreas da gastronomia, do alojamento e na gestão de zonas de caça e de bacias fluviais.
No entanto, o que se tem visto é a rarefacção das espécies cinegéticas, condicionamentos das actividades de pesca e o desaparecimento paulatino dos caçadores do resto do país, que foram encher o Alentejo.
Para esta situação muito contribuíram pretensas soluções, que resultaram de agitação por todo o país, no fim do milénio, reivindicando o ordenamento cinegético do território e a participação dos caçadores na gestão da caça. As associativas, garantia-se, preservariam as espécies e promoveriam a racionalização da actividade. Assim se levaria ao sucesso um sector que estava quase inviabilizado pela desordem que campeava.
Afinal, passados poucos anos deixou de haver caça menor, porque depois de abaterem tudo o que voasse ou saltasse, nada mais fizeram. Não semearam gramíneas, não rastrearam doenças, não geriram densidades, não tiveram a coragem de limitar a caça. Por isso perderam associados, estão descapitalizadas e o território está ao deus dará.
Em simultâneo cresceu vertiginosamente a chamada caça grossa, nomeadamente a população de javalis, que assola as culturas na região, sem que as estruturas governamentais assumam a responsabilidade que lhes cabe, por não acompanharem as dinâmicas nem programarem actividades venatórias, que podiam atrair caçadores e tranquilizar os agricultores.
A falta de gestão das densidades tem permitido a instalação da anarquia, com o furtivismo sem freio a tomar conta das noites e dos dias. Mesmo assim, a população de javalis será de tal monta que aparecem junto das grandes cidades e já só lhes falta roncar no Marquês de Pombal, senão mesmo às portas de S. Bento. Assim se desbaratam possibilidades de que o interior poderia tirar alguma vantagem, desde que houvesse uma ordenação mínima no país.
O mesmo se poderá dizer da pesca, que este ano foi quase condenada pela falta de caudais nos rios, com consequências ainda não suficientemente claras. Um dos intervenientes num debate na Norcaça, Norpesca e Norcastanha alertava para que, estranhamente, não há restaurantes a oferecer pratos de peixe do rio, com a excepção da zona da Foz do Sabor, o que demonstra inépcia dos locais e vistas curtas dos responsáveis pelo desenvolvimento local e regional.
Se juntarmos a isto as castanhas fulecras com que o ano seco nos presenteou, temos a tragédia perfeita, que nos deixa tristes como a noite, porque sabemos que tudo poderia ser diferente e não ficaríamos a fantasiar sobre a relação estapafúrdia com a conjunção nor da língua inglesa, que parece mofar connosco na designação do certame, porque, de facto, podemos dizer que este ano nem caça, nem pesca, nem castanhas.
Teófilo Vaz