A Europa das tretas e o destino da Europa

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Ter, 21/05/2019 - 09:39


Muitos cidadãos dos países da União, chamados a eleições no próximo domingo, não vão exercer esse direito fundamental com convicção e autonomia, porque não dispõem de informação suficiente sobre os desígnios do projecto europeu, nem reconhecem os riscos de uma tragédia que poderemos viver nas próximas décadas.

A culpa é de cada um de nós, que nos deixamos enredar no imediatismo, mas também de lideranças medíocres, que não conhecem a história e, por isso, não têm consciência do abismo para onde estão a empurrar 500 milhões de pessoas.

Há cerca de três anos que vivemos a quase paródia do Brexit, expressão ridícula dos riscos a que as democracias estão sujeitas, quando não garantem a consolidação da cidadania responsável. Bem sabemos que não é só da Grã-Bretanha que sopram ventos cortantes, de arrepiar a alma. Ver-se-á se o Parlamento Europeu não chocará o ovo da serpente mortífera.

Proliferam partidos e movimentos que bramam contra a Europa unida, explorando as dificuldades, festejando as hesitações, alimentando a insânia, refastelados na instabilidade, apontando o caminho de regresso à mesquinhez do nacionalismo de dentes arreganhados.

Desses já sabemos o que esperar e só se afirmam porque os outros se permitem deixar andar, esperando que o tempo faça o seu trabalho, omissão que deu provas de grande capacidade destruidora no percurso da humanidade.

Mas outros há que, sem afrontar com clareza o projecto de união, se dedicam permanentemente a manobras de desgaste, sugerindo que há outras formas de garantir prosperidade e tranquilidade nesta região do mundo.

Identificam a moeda única como um problema para as economias de cada país, quando sabem que o retorno a moedas nacionais conduziria a fragorosas perdas na qualidade de vida e capacidade de crescimento dos países mais frágeis, agravando diferenças que se revelariam inultrapassáveis nas próximas décadas e conduziriam à fragmentação sem retorno.

Estranhamente são declarados defensores de um determinado internacionalismo, pelo menos ao nível da retórica, sem se atrapalharem quando defendem, no mesmo tom, aquilo a que chama interesses nacionais, no que se revela insanável contradição que passa despercebida e induz decisões ao sabor dos fluxos das marés da ignorância e da mesquinhez.

O destino da Europa, que será o nosso, por mais que nos deixemos toldar por números de feira rasca, pode ser penoso, degradante, miserável, se não tomarmos consciência das responsabilidades que nos cabem no legado que deixaremos às próximas gerações.

Perante a fanfarronice da América, o calculismo ambicioso da Rússia, a paciência cruel da China, a Europa dos nacionalismos ruidosos não passará de uma ruína trémula, que o futuro se encarregará de reduzir ao pó da insignificância. Só os tontos ainda sonharão com os impérios europeus que escavacaram o mundo. Quase 200 anos depois, só lhes restarão os rostos famélicos de tísicos, desiludidos e derrotados para sempre.

 

Teófilo Vaz