O cantoneiro da navalha criativa

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Ter, 04/09/2018 - 10:51


Olá gentinha boa e amiga!

Já estamos a viver o mês de Setembro e as novenas da Sr.ª da Serra já começaram, este ano com temperaturas de Verão. O tio Adérito Pinela, de Sacoias (Bragança), que todos os anos vai de novena para a serra, disse-me que nunca se recorda de ter dormido sem lençóis nem cobertores na serra.

Na semana passada recebi a melhor ‘medalha’ em todos estes anos ao comando da família: ia eu a caminho da rádio e na Av. Sá Carneiro ouço duas senhoras que falavam do meu trabalho. Paro e olho para as duas para ver se as conhecia. Uma delas perguntou-me o que é que eu precisava… e mal comecei a falar, conheceram-me a voz e a tia Fátima Queijo, uma brigantina que nos liga da Suíça, agarrou-se a mim com muita emoção, a chorar, enquanto me dizia que a ninguém passa pela cabeça a companhia que a Família do Tio João faz a quem está no estrangeiro, porque se sentem em casa quando nos escutam.

Esta semana estiveram de aniversário Luís Ventura (60), de Caçarelhos (Vimioso); os gémeos Paulo e Duarte (34), irmãos do Marco de Estorãos (Valpaços); a tia Aldinha Vieira (75), de Bragança; Corina (47), de Grijó (Bragança); Denérida (67), de S. Julião de Palácios (Bragança); Francisco Pinto (95), de Valpaços; Gina (53), de Milhão e Cátia Beatriz (30), de Grijó (Bragança). Que tenham sempre saúde e muitos mais anos de vida.

Agora vamos conhecer melhor o nosso tio Eugénio Hipólito Medeiros (mais conhecido como Cantoneiro), de Nuzedo de Baixo, marido da nossa célebre tia Neves, que, com uma navalha, faz obras de arte.

 

Em que ano é que nasceu o amigo Eugénio?

Nasci em 1944, dia 10 de Janeiro.

 

E onde é que foi nascido e criado?

Em Vinhais, ao pé da ponte da Arranca, quem vai para Nunes, no moinho.

 

Até que idade lá viveu?

Olhe, até ir para a tropa. E depois de vir da tropa ainda lá estive um anito e depois casei-me e vim para Nuzedo de Baixo, que é a terra da minha esposa. Depois ainda estive no Cachão a trabalhar, mas tinha um requerimento feito para o que me aparecesse na câmara. Apareceu uma vaga para cantoneiro e eu vim.

 

Que idade tinha quando veio trabalhar como cantoneiro para a câmara?

Tinha 27 anos.

 

Quantos anos trabalhou como cantoneiro?

Trinta anos.

 

E no Cachão o que é que fazia?

Fazia cargas e descargas, eu e mais sete homens.

 

Durante esses trinta anos como cantoneiro onde é que trabalhou? Qual era o seu cantão?

Era de Nuzedo de Baixo até Vale das Fontes. Mas quando, às vezes, precisavam de cantoneiros noutros lados, as câmaras juntavam quatro ou cinco e íamos fazer os serviços para fora.

 

Especificamente qual era o seu trabalho como cantoneiro?

Era limpar valetas, cortar silvas…

 

Você também fazia parte daquele grupo de cantoneiros que eu me habituei a ver em criança, que quando passávamos por um cantoneiro ele acenava com a mão e nós todos contentes acenávamos-lhe também? É desse clube, não é?

Era, era…

 

E já conhecia carros que passavam à hora certa, o conheciam e apitavam?

Sim. Já conheciam e paravam. A GNR também parava e os militares falavam comigo.

 

Nunca teve nenhum acidente?

Graças a Deus que não.

 

Diga-me, na sua opinião, se agora as estradas estão melhores, com as máquinas de limpeza que há, do que quando vocês faziam o vosso trabalho?

Agora estão melhores porque está tudo alcatroado. Dantes tínhamos que limpar as valetas de terra e botávamos para a estrada para a brita não se arrancar.

 

Chegou a trabalhar com alcatrão?

Também ainda andei na estrada de Ousilhão até Vila Boa, na entrada de Romariz, na Maceira. Ainda fizemos uns bocados bons…

 

Nunca viveu em nenhuma casa, das famosas casas dos cantoneiros?

Não.

 

E o meu amigo reformou-se com que idade?

Reformei-me com sessenta anos, em 2004.

 

Desde essa altura o que é que faz?

Passo o tempo na horta e na vinha.

 

E como é que lhe deu para fazer essas bugigangas?

A primeira que fiz, ainda a tenho aqui na parede. Ia a passar, encontrei uma giesta e pensei: Parece uma cobra! Levei-a para casa e comecei a trabalhá-la. Depois disso comecei a fazer bengalas.

 

Alguma vez fez negócio disso?

Nunca vendi nada, mas as minhas obras estão espalhadas por todo o mundo. Faço porta-chaves, estatuetas e bengalas com “caras” de animais. As pessoas conhecidas, quando vão para Fátima ou outro lado, pedem-me e eu ofereço-lhes uma das minhas bengalas. As únicas ferramentas que utilizo são uma navalha de bolso e uma grosa. Para o pau das bengalas ficar direito utilizo também um ferro aquecido ao lume.