A forja: o escritório do ferro...

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Ter, 10/04/2018 - 10:16


Olá familiazinha!
A nossa gente está em pulgas para começar a trabalhar nos escritórios da terra, mas como a seca foi grande e as orações para que chovesse foram muitas e a todos os santos, agora se cada um fizer chover um dia, ainda vamos ter chuva para dar e vender…
Na última semana tivemos os relatos diários e em directo do nosso tio Hélder Magnífico, de Braga, que foi a pé a Santiago de Compostela com mais dois amigos, o Hélder Sequeira e o Carlos. Todos os dias nos mantinham informados de como estava a decorrer a sua peregrinação. De Braga a Santiago percorreram 190 quilómetros em cinco dias, chegando à catedral de Santiago no dia 5 de Abril, quinta-feira, às 16:30 horas, momento que também quiseram partilhar comigo através de telemóvel. Muitos foram os tios e tias que os animaram com as suas mensagens de apoio, canções e músicas, para que o caminho não lhes rendesse tanto. Ouviram-nos diariamente durante a sua peregrinação pelos caminhos de Santiago.
No dia 6 de Abril também compartilhei as minhas Bodas de Crisopázio (27 anos de casado) com a nossa família, que nos encheu de mimos e nos desejou que “sempre dure o pão da boda”. Bem haja a todos por fazerem parte da nossa vida.
Estiveram de parabéns a senhora minha sogra, a nossa tia Sarinha (66), de Caravela (Bragança); a tia Maria Alice (97), de Podence (Macedo de Cavaleiros); as duas maninhas, Fátima (53) e Ana Maria (57), de Vale de Lamas (Bragança); Manuel Farruquinho (62), de Coelhoso (Bragança), emigrado em França; o tio Carlos Andrade (80), de Valongo dos Azeites (S. João da Pesqueira); a tia Etelinda Bastos (59), de Bragança; a tia Catarina Freitas (83), de Caravela (Bragança) e a tia Antónia (69), de Deilão (Bragança). Para todos muita saúde e que coza o forno e o pão seja nosso.

Vamos agora ao escritório do ferro, numa entrevista com o nosso tio Tibério, de Genísio (Miranda do Douro).

Há quantos anos é que você anda nisto. Como é que começou a sua arte?
Eu comecei logo desde novo. O meu avô foi ferreiro, o meu pai foi ferreiro e eu, o filho mais velho, ferreiro fiquei. Começamos primeiro a fazer relhas, sachos, ferrar carros, ferraduras, guinchas, tudo o que seja da lavoura.

Então já lhe nasceram os dentes nisto?
Já sim. Já nasci debaixo do ferro.

Então o tio Tibério é rapaz para quantos anos?
82…

E já trata o ferro por tu há quantos anos?
Ui! Olhe, praticamente desde criança, desde que saí da escola já fazia uns cravos de orregueira para uns arados e estas coisitas todas. Comecei a fazer umas navalhitas pouco antes de ir para a tropa. Desde que vim da tropa, foi em 1956 que eu fui para lá, dediquei-me a isto até hoje.

Então governou toda a sua vida à conta do ferro e das suas mãos para o trabalhar?
Exactamente. Ainda estive na Índia, também, durante três anos a bater botas…

Mas lá não foi trabalhar o ferro?...
Não, não. Lá o ferro era outro… Andar com as armas às costas…

E por lá aprendeu alguma coisa para aplicar aqui na sua terra?
Não, não. Se vou para uma oficina, como muitos colegas, tinha aprendido. Mas eu não. Fiquei ao serviço, não podia fazer nada. Ainda tive uma arte boa. Meteram-me de cozinheiro. Viram que eu tinha jeito para isso e fui cozinheiro quase um ano, para um pelotão de trinta e tal pessoas lá na Índia.

Quanta família formou à conta do ferro e do trabalho das suas mãos?
Tenho cinco filhos…

E algum deles continua a profissão do pai?
Há uns que sim. Estão em Bragança e continuam. Talvez o tio João conheça, é o Liciano… ele conhece-o muito bem. E outro que está na Bricofel, que é o Nélson. Esses dois ainda dão um jeitico. Agora tenho outros que estão em Lisboa e outras são raparigas…

Como é que se faz uma navalha?
A navalha tem pouco que se lhe diga. Não é muito… Antigamente era preciso maçarmos o ferro. Aquecer o tabão e maçar o ferro bem maçado e depois tirar-lhe o desenho que a gente quer. Hoje já vem em chapa, já o recortamos e já fica moldado como a gente quer, com a rebarbadeira e com estas coisas todas. O principal é dar-lhe a têmpera… a têmpera é o principal. É a têmpera que faz a faca.

Quantos anos mais quer trabalhar o ferro, tio Tibério?
Pelos menos uns 20…

Até aos anos que Deus lhe deixar…
...Exactamente. Mas durante mais vinte eu queria maçar o ferro, mas não vou a ser capaz…

Era bom…
A coragem dava-me, porque eu estar na forja dá-me vida. Para mim é um escritório que eu tenho… Não passa dia nenhum, nem sábado nem Domingo, sem ir ao meu escritório…