Não há planeta B

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Não, não há. “Não há planeta B” é uma redundância. Se não conhecemos ninguém que more nesse outro planeta, como então mudar para lá? Mas as palavras de ordem, os chavões, têm de oscilar, sempre, entre a evidência e o absurdo, de forma a ferir a lógica ou torná-la tão redundante que chamem a atenção, que se façam notados. E é isso que os ambientalistas desesperadamente fazem, na tentativa de activarem a sensibilidade ecológica que cada um de nós tem. Porque o aquecimento global é um facto. Disso dão conta não só os registos térmicos, depois de estatisticamente trabalhados, mas também outro tipo de medições como a espessura e comprimento dos glaciares e também pelas alterações climáticas que são o seu epifenómeno mais importante. Longos períodos de seca alternando com chuvas diluvianas, a frequência inusitada de tufões e de outros fenómenos climáticos extremos encontram explicação no aquecimento global. E é mesmo global porque tanto se fundem os glaciares dos Pirenéus, dos Alpes ou dos Himalaias mas também os dos Andes que estão noutro Hemisfério. A hipótese do aquecimento ser consequência de uma declinação do eixo da Terra cai pela base. Haveria aquecimento num Hemisfério mas arrefecimento no outro. Esta hipótese foi levantada porque os Pirenéus foi quem, mais cedo e mais, sofreu os efeitos do aquecimento. Só para fazer uma ideia, Lopez-Moreno, investigador do Instituto Pirenaico de Ecologia, fez este apanhado: de 39 glaciares que havia em 1984 passou a 22 em 2008 e a 19 em 2016 o que supõe uma redução de superfície glaciada de 810 ha em 1984 para 306 em 2008 e para só 242 em 2016; Que já não há glaciares em cotas inferiores a 2700 m; que o “Monte Perdido” o maior glaciar dos Pirenéus tem já uma parte de gelo morto, uma placa que não se parte, não se deforma nem avança; que o glaciar La Maladeta perdeu num só ano 40 m da sua língua glaciar e contam que desapareça numa década. É, portanto, o aquecimento global um adquirido que já ninguém hoje contesta. Estimado por uns em 0,9oC e por outros em 1,02oC é este o acréscimo verificado em relação à temperatura verificada nos meados do século XIX, início da revolução industrial e portanto início também das grandes intervenções do Homem na Natureza. Ora, com base no já conhecido e a manter-se o ritmo de crescimento do aquecimento global, os cientistas criaram modelos matemáticos que os levaram a concluir que o aquecimento global em 2100 seria de 4oC e, por degelo, a consequente subida do nível médio das águas do mar de 1,3 m. A partir daí traçaram cenários Dantescos: milhões de pessoas teriam que abandonar as suas casas ribeirinhas; o Saara subiria pelo Alentejo acima e até já teriam definido que parte do novo Aeroporto do Montijo ficaria submerso. (Aqui permito-me um aparte. Face ao número de objecções levantadas quando se fala numa nova localização do futuro Aeroporto sou levado a pensar que Portugal não tem espaço que chegue para um novo Aeroporto. Teremos possivelmente de o fazer fora). Face a este cenário de catástrofe e tomando como certo que o aquecimento global é uma consequência da emissão de gases com efeito de estufa, sobretudo o CO2 e o metano, a comunidade científica envidou todos os esforços no sentido de limitar o aquecimento global a 2oC em 2100. Para conseguir este desiderato sensibilizou os dirigentes políticos mundiais a ponto de estes se comprometerem, primeiro nos Protocolos de Quioto e depois nos Acordos de Paris, a tudo fazerem para alcançarem aquele objectivo.

Mas se o aquecimento global não oferece contestação já as razões da sua progressão dividem a comunidade científica. Desde logo na própria contagem do aumento térmico. Eduardo Martinez de Pison, Catedrático de Geografia diz que: nos últimos 10.000 anos os gelos tiveram, nos Alpes, avanços e recuos pelo menos 10 vezes; que o último pulsar glaciar positivo começou no início do séc. XVII e se prolongou até meados do séc. XIX e ficou conhecido como “A Pequena Idade do Gelo”; que a partir de 1860 os glaciares iniciaram um retrocesso; que a partir de 1990 esse retrocesso se acelerou e que hoje o nível de degelo, na Europa, é semelhante ao que ocorreu há 5000 anos. A serem verdade estas considerações, e algumas estão manifestamente comprovadas, teremos que o ano zero do aquecimento global coincide com o fim da “ Pequena Idade do Gelo”. Assim não será de estranhar que a temperatura começasse a subir pois que a seguir a uma idade do gelo virá, sempre, outra não tão gelada. Além disso comparar o degelo que se verifica hoje com o verificado há 5000 anos quando não havia intervenção humana de monta, dá que pensar. Por outro lado considerar os gases com efeito de estufa, sobretudo o CO2, como responsáveis primeiros pelo aquecimento global deixa alguns cientistas muito renitentes. Se é verdade que a contribuição do CO2 para o ar atmosférico passou de 280 ppm (partes por milhão) no ano zero para 380 a 410 ppm na actualidade, não deixa de ser verdade que 410 ppm corresponde a 0,041% ou dito de outra forma: há uma parte de CO2 em 2440 partes de ar atmosférico. Parece ser uma quantidade irrelevante para as alterações que lhe atribuem.

Não sei quem tem razão. Se aqueles que atribuem o aquecimento global à emissão de gases com efeitos de estufa se os outros que entendem que o aquecimento global é resultado de um pulsar climático que tem causas astronómicas. E talvez nunca o venhamos a saber. De qualquer forma acho que estamos a conduzir mal este processo. Apostamos tudo na descarbonização ou seja a neutralidade carbónica a partir de 2050, pensando que se isso for conseguido o aquecimento global em 2100 não ultrapassará o 1,5oC. Isto é “pôr toda a carne no assador”. E se a razão do aquecimento não for a emissão dos gases com efeito de estufa? Teremos perdido tempo e dinheiro. Teremos um planeta mais limpo, mais despoluído mas não estará preparado para as novas realidades. Mas há já quem pense, tendo presentes essas novas realidades. Assim, cumpre fazer aqui um elogio aos agricultores Trasmontanos e porventura também a todos os outros. É que, sem grande formação, com muito pouca informação e sem alardes mediáticos os agricultores já interiorizaram as alterações climáticas como uma realidade com a qual temos que saber viver. Assim os vemos a plantar oliveiras e amendoeiras onde há bem pouco tempo só se viam castanheiros e a estes plantam-nos a cotas de cada vez mais elevadas. Quer dizer que agem de acordo com as condições que a Natureza lhes oferece. Não há Planeta B mas podemos e devemos ter um Plano B.

Será que tem razão Jean Cocteau quando diz que “a Ciência serve apenas para verificar as descobertas do instinto”?

Manuel Vaz Pires