Ter, 10/10/2006 - 11:09
Mas a janela pode não significar a parceira da porta a que todos estamos habituados. Ela pode ser uma metáfora. Claro. Uma metáfora! Um buraco somente! E nos buracos entra-se e sai-se. Pequenos e grandes, entra-se somente à medida das necessidades, caso contrário não se pode sair. Daí o falar-se muitas vezes de um buraco sem saída ou beco sem saída. Mas o beco também é um buraco! E o que quer isto dizer? Simplesmente que tem de se sair pelo mesmo buraco por onde se entrou!
Bem, a janela pode servir só para significar uma abertura. Um sinónimo interessante. Uma abertura! Tomada neste sentido, a janela pode aplicar-se a muitas coisas, mas vamos ver se eu consigo manter essa janela aberta o tempo suficiente para vos fazer chegar algumas conclusões.
Tempos houve em que os sindicatos tudo faziam para levar a bom termo certas exigências dos professores. Chegaram a grandes vitórias. Eram tempos de vigílias, de marchas, de greves sucessivas e de conquistas suadas. Era necessário conseguir sócios. Conseguiram. Era necessário afirmarem-se pela positiva e conseguiram. Falava-se até e bem alto, para trabalho igual, salário igual. Não se referenciavam cursos, nem mestrados e muito menos doutoramentos. Colegas havia que nem cursos superiores tinham e acabaram por conseguir equivalências e ficar no sistema. Tudo muito bem. Foram vitórias dos sindicatos. Era uma época de ouro! Os governos tremiam quando se anunciavam greves e as negociações eram frequentes e delas saíam tomadas de posição importantes.
Hoje estamos numa posição periclitante e incerta, onde os sindicatos baloiçam sem saber quando e onde parar. Apregoam oposição e esgrimem contrapropostas, mas cedem à imposição do governo. Sossobram quando haviam de arribar. É certo que estamos perante movimentos grevistas no sentido de conseguir enfrentar a senhora Ministra da Educação, mas até quando e qual o resultado? Certamente que nenhum.
Este movimento de greves e enfrentamento até podia ser uma pequena abertura para chegar a algum lado. A janela entreabria-se aqui e talvez se conseguisse algum entendimento. Mas não acredito. Poderia ser uma saída, ou uma entrada, mas para quem? Uma entrada para os sindicatos e uma saída para o governo. Talvez, mas com que resultados?
Os professores estão a ser tratados abaixo de cão, como soi dizer-se e, o mais interessante, é que ninguém se importa. Porquê? Porque infelizmente há mais pais do que crianças! Pois é! E até os pais são professores. E algumas das medidas que estão a ser tomadas agradam aos pais, professores ou não, mas agradam e muito. Por que será? Como o governo é esperto!
E os sindicatos não são espertos porquê? Ou será que não o demonstram ou não querem demonstrar? Têm medo? Possivelmente, mas de quê?
Realmente estão longe os tempos das grandes conquistas! Mas há algo que está a mudar ou, se quisermos, a voltar a esses tempos. Abriu-se uma janela. Não é muito grande, mas o suficiente para fazer pensar quem deve pensar. Começam a juntar-se professores, espontaneamente, para protestar contra o governo e contra a senhora Ministra da Educação. Sem medo! De cara levantada. Um pouco por todo o lado. Ontem em Lisboa, hoje em Guimarães e na Madeira. Amanhã, quem sabe?! Sem sindicatos. Sozinhos, disseram bem alto que queriam a demissão da Ministra da Educação. Viraram-se contra Sócrates e disseram o que tinham que dizer. Demonstraram-lhe que isto está mal. Muito mal. Pior do que ele julga. Ele riu-se. A senhora Ministra também, mas com ar preocupado. Afinal, a janela abriu-se. É uma abertura pequena, mas é uma esperança. Esperança de que a senhora ministra caia em si mesma e faça o que devia fazer: demitir-se. Esperança de que os professores continuem a pedir directamente ao governo que a demita e cesse de fazer na Educação as asneiras que estão a ser feitas.
O avanço tem sido pequeno no que se refere às reuniões entre o governo e os sindicatos. As propostas do governo quase sempre vingam. A muitas coisas, os sindicatos calam-se. Os professores estão pior do que há dez anos atrás. E ficarão piores se nada se fizer. Afinal para onde vai a educação deste país? E quem estamos nós a educar? Onde pára a dignidade?
Esperemos que esta janela pequenina se não feche e que os professores, por aí, façam ouvir a sua voz, o seu grito de liberdade, afirmem a sua dignidade e consigam as conquistas que os sindicatos não estão a conseguir. Por vezes até parece que os sindicatos estão ao lado do governo! É verdade também, que nem tudo, tudo, está mal, mas afinal o que é que está certo?
Pode ser que por esta janela que se abriu, acabe por vir uma lufada de ar fresco! Bem precisa é e urgente!