Retorno a casa depois de emergência hospitalar complica a vida a alguns doentes

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Ter, 12/04/2022 - 13:22


Apenas em algumas situações, o doente pode solicitar ao gabinete de atendimento social apoio para o regresso a casa
O regresso a casa, depois de uma urgência hospitalar, é confuso para vários doentes. Quem é atendido nas urgências do distrito, sendo para lá transportado pelos bombeiros, não tem ideia, muitas vezes, de como voltar a casa. Não é a primeira vez que chega ao Jornal Nordeste relatos de situações em que as pessoas, em especial os idosos, são transportados de emergência para o hospital mas quando recebem alta vêem-se sem solução para regressar a casa e não entendem como podem recorrer a esse serviço.
Segundo o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Bragança, Diamantino Lopes, o regresso a casa não é assegurado pelos bombeiros, porque as ambulâncias têm de ficar disponíveis para outras emergências. “Quando o doente é transportado numa situação de emergência foi posta em campo uma ambulância INEM, para levar o doente do local para o hospital de referência”, explica.
Quando for dada alta ao doente, este tem de voltar a casa pelos seus meios. “A partir do momento que a viatura deixa o doente na urgência tem de ficar disponível para outra emergência. Há situações de vários exames complementares de diagnóstico que têm de ser feitos e ficaria empatado um carro do INEM ali um dia inteiro, quando podia ser preciso para acorrer a um enfarte ou um acidente de viação”, sublinha.
No entanto, em algumas situações, o doente pode solicitar ao gabinete de atendimento social apoio para o regresso. “Habitualmente, o hospital contacta os bombeiros do local onde se encontra o hospital e eles fazem o retorno. Depois o pagamento, de acordo com a avaliação que é feita pelos serviços sociais, ou é feito pelo próprio doente ou pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, afirma Diamantino Lopes.
Segundo informa o site oficial do Serviço Nacional de Saúde, a isenção do pagamento de transporte não urgente aplica-se no caso de insuficiência económica, mas os doentes devem ter incapacidade igual ou superior a 60% e várias condições clínicas incapacitantes, como sequelas motoras de doenças vasculares, transplantados, insuficiência cardíaca e respiratória grave, perturbações visuais graves, doença do foro ortopédico ou neuromuscular, patologia do foro psiquiátrico, doenças do foro oncológico, gravidez de risco, renal crónica, entre outros. O transporte também é gratuito em caso de o doente ser menor com doença limitante e ou ameaçadora da vida. Já quando se trata do transporte de doentes para consultas externas, a corporação de bombeiros aguarda que o doente esteja despachado
para o trazer de volta a casa. “As horas de espera são contabilizadas e são pagas pelo SNS”, afirma.
O transporte de retorno do doente está nas mãos dos bombeiros. É isso mesmo que garantem, pelo menos as corporações de Miranda do Douro e de Mogadouro. Só não está à espera se o doente dispensar o serviço, como no caso, por exemplo, de preferir regressar a casa com um familiar.
Luís Martins, comandante dos Bombeiros Voluntários de Miranda do Douro, explicou que se espera sempre pelo doente, já que assim dita o protocolo. Mesmo que não o ditasse, a corporação diz-se ciente das “dificuldades” em retornar para tão longe. “Chegamos a estar seis ou sete horas à espera, mas temos que estar. Esperamos porque também sabemos as dificuldades dos doentes. Estamos a muitos quilómetros de Bragança e sabemos que se o lá
deixarmos ele poderá não ter como voltar a casa”, assinalou o comandante de Miranda do Douro.
Claro que “tudo isto é complicado” porque, “muitas vezes, fica uma viatura e um motorista todo o dia parados em Bragança, por exemplo”.
Questionado sobre se entende que o protocolo está bem como está, Luís Martins entende que o ideal seria os bombeiros deixarem o doente e seguirem caminho, deixando de estar horas à espera e passando a ter aquela ambulância e motorista disponíveis para qualquer outro serviço que surgisse. “As dificuldades já são tantas e ainda mais esta. O ideal seria que o hospital conseguisse, depois, deixar o doente na freguesia onde reside”, vincou.
José Carrasco, comandante dos Bombeiros Voluntários de Mogadouro, admite que ali o processo é o mesmo. Ninguém fica sem chegar a casa. “Se for um serviço marcado nós esperamos o tempo que for necessário. Imagine-se uma consulta, em Bragança, às dez da manhã. Vamos buscar o doente a casa e vamos para Bragança. Esperamos, o tempo que for necessário e voltamos a levar o doente a casa”, esclareceu o comandante, que vincou que “não se justifica a deixar o doente, regressar a Mogadouro e depois alguém sair novamente de Mogadouro para o ir buscar”. No caso de urgência o caso muda totalmente de figura. Tanto um como outro comandante explicam que não é possível esperar-se pelo doente. Luís Martins esclareceu que “se for uma ambulância INEM o doente fica”. “Mal a ambulância seja disponibilizada nós vamos embora porque sabemos que a qualquer momento poderemos ter que sair para qualquer outra emergência”, vincou ainda o comandante.
Já em Mogadouro tudo se processa da mesma forma. “Numa situação de INEM nós transportamos o doente e apenas fazemos a ida. O regresso tem que ser organizado depois pelo centro hospitalar”, afirmou o comandante José Carrasco.
Ainda assim, há aqui uma pequena diferença. Os bombeiros mogadourenses chegam mesmo a esperar sem ser exames, consultas ou tratamentos marcados. Neste caso, são situações de emergência feita através do Serviço de Urgência Básica (SUB) do centro de saúde de Mogadouro.
“O que nós temos estabelecido é que esperamos duas horas no centro hospitalar. Por exemplo, vamos com uma ambulância para Bragança, às dez da manhã. Até ao meio dia temos que esperar. Passado esse tempo, o motorista fala com a equipa médica tentando perceber a situação e faz uma avaliação, percebendo se é possível esperar mais um pouco porque já não demorará a estar despachado. Essas duas horas nunca são reais. Esperamos sempre mais tempo”, terminou José Carrasco.
Jornalista: 
CA/OTC