Ter, 21/02/2006 - 15:48
O Verão estava a acabar. Aproveitávamos os últimos dias de férias. De manhã levantámo-nos e a minha mãe disse-me: “Apetece-me passear.”. A mim também me apetecia. Depois do almoço saímos as duas de casa, sem rumo certo. Encaminhámo-nos para o extremo da aldeia e enveredámos por um caminho que nos levava em direcção ao monte. A pouco e pouco afastámo-nos das casas, mas a minha mãe conhecia bem o caminho. Nessa tarde, ela levou-me a conhecer rochas muito famosas na aldeia como a fraga dos Amores. Diz-se que quem conseguir acertar com uma pedrinha numa reentrância da fraga terá o amor garantido. Estivemos muito tempo a atirar pedrinhas. Umas acertavam outras não. Levou-me, também, a conhecer a Fraga da Serpente e a Fraga do Cuco, cheia de cavidades por baixo, onde as andorinhas e outras aves fazem o ninho, património destas espécies, pelos vistos…
Contou-me que, quando era da minha idade, ela e as amigas, no Verão, muniam-se de uma panela, de três pernas, de leite em pó, arroz, açúcar e água e, numa rocha plana, faziam uma fogueira para cozer o arroz doce. Quase sempre ficava cru, no entanto, o convívio e a alegria faziam com que o doce fosse um manjar dos deuses. Acompanhei-a por um trilho que, com as amigas, tinha calcorreado inúmeras vezes, no entanto, os anos e o desuso fizeram com que silvas e outras plantas afrontassem o caminho dificultando muito a passagem. Foi então que nuvens negras se começaram a formar no céu e ouviram-se trovões ao longe. Como estávamos bastante afastadas da aldeia estugámos o passo com medo de apanhar a trovoada. Também o ar tinha refrescado e nós estávamos com roupas leves. Felizmente, só começou a chover quando entrámos na aldeia. Este foi um dia bem passado que há-de ficar sempre bem guardado nas gavetinhas da minha memória e que sempre recordarei com saudade.
Ana Catarina Lourenço Ribeiro