Ter, 31/10/2006 - 16:10
Bragança oitocentista sofreu, na Fundação Os Nossos Livros, uma radiografia industrial, perante uma mesa que denotou a ausência do habitual moderador o bispo diocesano D. António Montes. Deste modo coube ao presidente da Câmara Municipal de Bragança, Jorge Nunes, a apresentação da conferência e do projecto.
O orador convidado retratou um cenário febril da paisagem sócio – económica do distrito bragançano, destacando, sobretudo, a indústria têxtil. De facto, Bragança primava pela a actividade agro-pastoril, advindo, daí, a consequente matéria-prima para a transformação nas fábricas. A Indústria era, na sua maioria, para um mercado local, para uma sociedade nordestina muito desurbanizada.
Mesmo assim, o Nordeste teve, no início da contemporaneidade, prodigiosas indústrias, mas, a mais preciosa foi a da sericultura, que albergava quase mil trabalhadores. A verosimilhança de Bragança no universo industrial da seda ocorreu em perfeita harmonia, numa hermenêutica vistosa entre agricultura e indústria. Na altura, a indústria da seda era visionária, comparada, hoje, com a indústria automóvel, pois era o topo de um bem utilitário e chique.
A Moda e a peste ditaram a fuga das indústrias para o litoral, principiando a assimetria regional em grande escala
O Marquês de Pombal regionalizou como ninguém Portugal e deu a Bragança a oportunidade de ser auto-suficiente numa economia de mercado já competitiva. A geografia nordestina especificou ainda os panos de Alfândega, Sambade, Moncorvo, o linho da Vilariça e a Chapelaria de Freixo.
Entre 1780 e 1800, Portugal, e Bragança naturalmente, teve o seu grande saldo comercial positivo, fruto da escassez das importações. Contudo, a revolução industrial inglesa findou a crescente transformação de matéria-prima em Bragança, pois era mais competitiva e denotava já princípios de estandardização. A moda, uma arte que emergia a grande velocidade, também desgastou os produtos de vestuário nordestinos, pois apostava em matérias-primas inexistententes em Portugal e por conseguinte em Bragança. O desaparecimento deveu-se também à falta de manutenção, essência capitalista e à grande peste que infectou Bragança em 1804.
Para ter uma ideia da romaria industrial em Bragança, existiam duzentos teares na fábrica de seda, segundo documentos de Ribeiro de Castro, o que tornava esta terra “por detrás dos montes” pioneira no sector.
Em suma, números exactos do passado, que foram relembrados por José Monteiro e desencadeantes de um discurso revoltoso e saudosista por parte do moderador.