Empresários falam em prenúncio de morte na restauração e comércio com recolher obrigatório

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Ter, 10/11/2020 - 12:31


Com a entrada em vigor do novo Estado de Emergência, em 121 concelhos com risco elevado de transmissão da Covid-19, está proibida a circulação na via pública, em dias de semana, entre as 23 e as 5 horas e nos próximos dois fins-de-semana a partir das 13 horas.

No distrito estas medidas aplicam-se em Alfândega da Fé, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Vila Flor. Há excepções, como deslocações em trabalho, no regresso a casa, situações de emergência, passeio higiénico ou de animais de estimação. Inicialmente não estava prevista a permissão para sair na tarde de sábado e fazer compras, mas o governo voltou atrás na decisão. Também os trabalhadores do sector agrícola, pecuário e das pescas podem deslocar-se para realizar trabalho, mas, tal como os restantes trabalhadores, necessitam de uma declaração, neste caso de compromisso de honra a atestar a necessidade de se deslocarem para o trabalho. Outras medidas, implementadas em todo o território nacional, incluem a possibilidade de medição da temperatura corporal no acesso a locais de trabalho, estabelecimentos de ensino, meios de transporte e espaços comerciais, culturais e desportivos. A partir de hoje e até dia 23, também é possível exigir testes rápidos para a Covid-19 em estabelecimentos de saúde, lares, escolas, à entrada e saída do território nacional e em estabelecimentos prisionais. Com o novo estado de emergência, o governo vai poder requisitar recursos, meios e estabelecimentos de saúde dos sectores privado e social. Será também possível mobilizar recursos humanos para reforçar a capacidade de rastreamento, como trabalhadores em isolamento profilático, trabalhadores de grupos de risco, professores sem componente lectiva e militares das Forças Armadas. O Estado de Emergência pode ser renovado por mais períodos de 15 dias.

Restauração e comércio contra horário de confinamento

As novas medidas impostas com o Estado de Emergência não agradam à restauração e ao comércio. Os proprietários destes estabelecimentos contestam em particular o recolhimento após as 13 horas aos sábados e domingos nos próximos dois fins-de-semana. Luís Portugal, que tem um restaurante em Bragança, considera que a medida terá efeitos desastrosos e teme que muitos restaurantes não consigam resistir. “É desastroso para a restauração, é anunciar a morte da restauração em Portugal, porque as medidas estão a ser tomadas sem base científica. O sector tem um peso enorme na economia nacional e a nível local e estamos com quebras na ordem dos 95%”, explicou. Luís Portugal lamenta que já tenha sido “tirado um fim-de- -semana que tinha um impacto muito significativo, o dos Santos” e que agora, “ao tomar a posição de encerramos à uma da tarde, nos próximos dois fins-de-semana, é a mesma coisa que dizer aos restaurantes para encerrar”. O empresário recorda que a maior fatia da facturação corresponde ao fim-de-semana. “Temo que para grande parte da restauração vai ser uma autêntica desgraça nos próximos tempos”, afirmou. Maria João Martins, proprietária de uma pastelaria em Bragança, fala de uma crise que começou há meses e que estas medidas ajudam a aprofundar. “A nossa preocupação não vem só de hoje, já se arrasta desde Março, mas temo-nos aproximado a passos largos de uma crise muito grande no sector da restauração. Apesar de nos manterem abertos querem “fechar os clientes” e não sobrevivemos sem eles”, frisa. A empresária diz que “é de lamentar o que se vai passar” nos próximos dois fins-de semana. “Sábado e domingo à tarde são momentos em que ainda se faz algum negócio e assim vai complicar-se ainda mais aquilo que aparentemente já não tem salvação. Estamos a caminhar a passos largos para a ruína do comércio tradicional”, entende mesmo. Dina Mesquita antevê que as reservas na unidade hoteleira que gere em Bragança sejam canceladas e não vai abrir o restaurante nos próximos dois fins-de-semana, porque entende que não compensa. “As medidas implicam fechar ao fim-de-semana, não é exequível ter uma porta aberta com duas horas de trabalho no máximo e ter o restaurante a trabalhar tem sempre custos elevados. Acho que as pessoas vão ficar em casa e fazer um recolher obrigatório durante todo o fim-de-semana”, afirma. Apesar de ter a hipótese de trabalhar a servir comida para fora acredita que não cobriria as despesas. “Em princípio não vamos abrir, porque o take- -away só pode ser feito até à uma da tarde a partir daí tem de ser feito em regime de entrega em casa e as encomendas não são suficientes para manter a porta aberta”, referiu. A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Bragança também já demonstrou a sua preocupação com estas medidas, que apelida de absurdas. A presidente da ACISB, Maria João Rodrigues, considera que as restrições contribuem para “a morte lenta” do comércio e da restauração. “A economia vai sofrer muito, nomeadamente a restauração e o comércio, vão ter quebras enormes de vendas. Não deveriam ter sido impostas medidas tão restritivas nestes horários, porque estes empresários já estão no limite. A lufada de ar fresco que tiveram nos meses de Junho a Agosto, esvaiu-se em Setembro e Outubro, agora é impensável continuar”, afirmou. Já na semana passada, depois de ter sido anunciado que, nestes 121 concelhos, os cafés e restaurantes teriam que fechar às 22h30, os proprietários de alguns estabelecimentos, em Bragança, tinham manifestado o seu descontentamento. André Guedes, proprietário de um café e bar, falou de prejuízos que iriam rondar os três mil euros por mês, devido a esta medida. “A partir das 22h30 é quando se factura mais. Vai ser uma diferença de entre dois a três mil euros. Não vai ser a mesma coisa, nem nada que se pareça”, referiu, acrescentando que reduziu “ao máximo” o número de funcionários, tendo em conta a quebra de vendas nos últimos meses. Também Magno Gonçalves é proprietário de um café, em Bragança. Tal como André Guedes referiu que o negócio tem estado “uma miséria” e frisou ainda que, com esta medida, vai verificar-se uma maior quebra de vendas. “As coisas já não estavam bem, agora vão piorar. Tenho quebras de mais de 40 ou 50%”, disse. Nos restaurantes a situação não está muito melhor. Rosa da Veiga tem um restaurante e uma confeitaria, também em Bragança, e vê cada vez menos movimento desde que foi proibida a circulação entre concelhos no fim- -de-semana dos Finados. “As pessoas estão bastante assustadas e evitam mesmo ir aos restaurantes”, disse, acrescentando que é “muito complicado” manter um negócio nestas condições e também os postos de trabalho. Os empresários dizem ainda que os instrumentos de apoio, anunciados na semana passada pelo governo, não se ajustam às necessidades das empresas, por um lado porque se trata de linhas de crédito, o que pode contribuir para um maior endividamento do comércio e restauração e porque as empresas só podem aceder se não despedirem funcionários.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro