Distrito perdeu mais de 13 mil pessoas em dez anos e autarcas culpam políticas centrais

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Ter, 03/08/2021 - 15:22


Segundo os resultados preliminares dos Censos 2021, em dez anos o distrito de Bragança perdeu 9,8% da população, ou seja, 13 419 pessoas

Segundo os resultados preliminares dos Censos 2021, em dez anos o distrito de Bragança perdeu 9,8% da população, ou seja, 13 419 pessoas. A nível percentual, o concelho de Torre de Moncorvo foi o que perdeu mais população no distrito e o terceiro a nível nacional, com menos 20,4%. “A política local tem sido sempre feita para conseguirmos dar o melhor a todos os munícipes que fazem parte dos nossos territórios”, afirmou o presidente de Torre de Moncorvo. Nuno Gonçalves considera que o problema está nas políticas nacionais, que fizeram com que serviços públicos e hospitais fechassem no Interior e houvesse poupança de dinheiro na política de remodelação da justiça. “Tudo foi feito para tirar toda a capacidade que o Estado devia ter, de povoar o seu território. Este Estado centralista o que fez foi despovoar o território, criando grandes metrópoles”, criticou. Como exemplo, o autarca deu a criação de centro de verificação de facturas, que criou 300 postos de trabalho, mas que ficou sediado em Lisboa, quando poderia ficar em qualquer parte do Interior. “É o próprio Estado que incentiva a que as pessoas abandonem o Interior”, disse. O autarca fez ainda críticas à falta de ensino secundário em regiões do Interior, nomeadamente nos concelhos de Vimioso e Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, e evidenciou ainda o envelhecimento da população. “Se não fizermos nada vai ser pior nos próximos dez anos. Ou o Estado central começa a pensar naquilo que quer ou desaparece o Interior”, apontou. Nuno Gonçalves concluiu relembrando alguns dos problemas que já são antigos na região, como a falta de cobertura móvel e internet. “O 5G devia ter começado nestes territórios, mas como se grande parte dele nem sequer fibra tem? Quando o eixo que nos liga, o IC5, não tem, a maior parte dele, condições para fazer um telefonema ou uma chamada de socorro? Quando as pessoas dizem que estão em teletrabalho, temos que lhe dar condições para isso. Ninguém fica aqui em teletrabalho se não tiver uma boa rede de cobertura”. Mais foi o concelho de Mirandela que, em termos absolutos, foi o que perdeu mais pessoas, com menos 2 461, mas que equivale a 10,3%. Já Bragança perdeu apenas 761 pessoas, ou seja, 2,2% dos seus residentes. Apesar de este ter sido um número muito abaixo em comparação às restantes capitais do Interior, o presidente da Câmara Municipal de Bragança reconhece as medidas que têm sido tomadas no sentido de atrair investimento, criar emprego e redução de impostos não foram suficientes para inverter o decréscimo populacional. “A perda que houve a nível distrital é uma perda enorme porque nos enfraquece cada vez mais. Bragança não perdeu tanta população, mas os outros concelhos perderam imensa e isso cria- -nos problemas até ao nível da representatividade política”, disse Hernâni Dias. O autarca, que esteve à frente do executivo em oito dos dez anos, criticou também as medidas tomadas pelos governos, que disse “não serem suficientes” e “ajustadas” e que levam à concentração de pessoas no Litoral em detrimento do Interior. “A nível municipal fazemos aquilo que é possível dentro dos meios e competências que temos, mas claramente que reclamamos do governo central uma política diferente que inverta este ciclo e esta tendência”, afirmou, acrescentando que para isso são precisas novas políticas de apoio à natalidade e melhores condições de emprego. Hernâni Dias pede que se “faça mais” e se tome “medidas ajustadas e efectivas” para o Interior, concluindo que, caso seja reeleito presidente da autarquia, irá olhar para os próximos quatro anos de forma diferente e que é possível a médio prazo, junto do poder central, tomar medidas para reverter a perda populacional. Quanto a Alfândega da Fé perdeu 783 pessoas, ou seja, 15,3%, Carrazeda de Ansiães perdeu 879, ou seja, 13,8%, Freixo de Espada à Cinta perdeu 565, o que corresponde a 14,9% da população, Macedo de Cavaleiros tem menos 1 524 residentes, isto é, 9,7%, Miranda do Douro perdeu 1 016, ou seja, 13,6%, Mogadouro tem menos 1 238 residentes, o que corresponde a 13% da população, Vila Flor perdeu 633 pessoas, o que equivale a 9,5% dos seus residentes, Vimioso tem agora menos 515 pessoas, isto é, menos 11% e Vinhais perdeu 1 294 residentes, ou seja, 14,3% da sua população. Portugal tem actualmente 10 347 892 pessoas, só na região Norte estão 3 588 701 pessoas, menos 100 981 mil que em 2011. Distrito de Bragança com menos bebés Segundo dados divulgados pelo Instituto Ricardo Jorge, no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, registaram- -se menos 4 474 testes do pezinho, realizado entre o terceiro e sexto dia do bebé para detectar doenças graves. O distrito de Bragança, a par do de Portalegre e Guarda, foi o que registou menos bebés rastreados, ou seja, 253 nos primeiros seis meses do ano. Durante o ano inteiro de 2020, o distrito registou 596 testes do pezinho, menos 33 do que em 2019.

Jornalista: 
Ângela Pais